As
delações de Joesley Batista produziram na nossa surrada república uma situação
que beira o surrealismo. A Rede Globo, destino principal da publicidade do
gigante que é a JBS, aderiu, ao lado do seu mega-anunciante, protagonismo de
aliado, contra o já impopular governo Temer, filho seu.
Ferido
de sua imensa impopularidade e ilegitimidade esse governo Temer ruma
inevitavelmente para o abismo. Essa derrocada se dá de forma espetacular, uma
rara implosão pública catastrófica, que consegue colocar em segundo plano o
mergulho aos abismos do próprio Aécio Neves, senador e presidente do PSDB,
partido que comandou a cassação de Dilma por pedaladas fiscais. Mas não apenas
o senador mineiro ficou em segundo plano nesse cenário de guerra total que a
rede Globo abriu contra Temer. Citados e
sem identificação formal, há a figura de dois juízes comprados pela JBS.
Ontem Paulo Henrique Amorim perguntava quem seriam esses juízes.
Relegado
à especulação, transcrevo abaixo o áudio pelo qual o sr. Joesley informa a
Temer que tem dois juízes no bolso. Nele algumas esparsas informações são
agregadas, contextualizando o trabalho da ou das varas onde trabalham esses
juízes e dando pistas que são como um quebra-cabeças onde não conseguimos
enxergar a imagem, mas...
Vamos
à transcrição:
“Temer:
Tem que manter isso, viu...
Joesley:
Todo mês, também, eu estou segurando as pontas, estou indo. Esse processo, eu
estou meio enrolado, assim, no processo assim...
Temer:
[inaudível]
Joesley:
Isso, isso, é, investigado. Eu não tenho ainda a denúncia. Então, aqui eu dei
conta de um lado do juiz, dá uma segurada, do outro lado o juiz substituto que
é um cara que ficou...
Temer:
Está segurando os dois...
Joesley:
É, segurando os dois. O, eu consegui um [inaudível] dentro da força tarefa que
tá...
Temer:
Tá lá...
Joesley:
...Também tá me dando informação. E lá que eu estou para dar conta de trocar o
procurador, que está atrás de mim. Se eu der conta tem o lado bom e o lado
ruim. O lado bom é que dá uma esfriada até o outro chegar, e tal. O lado ruim é
que se vem um cara como...”
Ora,
a JBS tem processos em diversas varas e ontem muitas especulações apontaram
como alvo para juízes vinculados à 10a
vara de Brasília onde a JBS tem diversos processos em andamento.
Entretanto,
no áudio transcrito, Joesley discorre sobre uma situação em especial, que ele
sequer se dá o trabalho de citar, pois está sendo bastante bem compreendido por
Michel Temer. Mas no trecho há o seguinte indício indireto sobre a que vara se
refere: “Isso, isso, é, investigado. Eu não tenho ainda a denúncia. ”
Então
os juízes que ele comprou cuidam de algo que está numa fase anterior à de um
processo, está em fase de inquérito, e não se converteu em denúncia. Portanto
ele está “segurando” dois juízes numa vara onde ele não tem processo, mas
inquérito.
Pode
ser que seja a 10a vara de Brasília, mas nesse contexto ele não parece estar
preocupado com os processos em curso, mas com um inquérito novo. Pode não ser.
Há,
no momento, um procurador preso oriundo de uma força tarefa, o que coincide com
os áudios. Esse procurador atuava numa vara onde correm processos contra a JBS,
o áudio, porém, se refere a uma investigação. Além disto, apesar do afastamento
de um Senador e de um inquérito em cima de um Presidente da República, nenhum
juiz foi molestado.
Ora,
apesar do judiciário tender a uma espécie de autoproteção, é justo
questionarmos se o procurador preso é o mesmo a que se refere Joesley ou se é
outro, cuja prisão esteja relacionada a fatos não narrados nos áudios. Nesse
caso, nem o juiz citado e nem o procurador teriam ainda sido alcançados pelas
medidas tomadas até agora. Talvez, inclusive, a prisão de um procurador da 10a
vara de Brasília seja um fator de confusão para a correta interpretação do
áudio, afinal, ele não foi acompanhado de um juiz e no áudio haveria, na mesma
vara, um trabalho de equipe entre o magistrado e o promotor nos favores à JBS.
Ao
mesmo tempo, a voracidade com que a Rede Globo vem se lançando sobre a carcaça
do governo Temer, de fato um filho seu, me parece suspeitíssima num contexto em
que há uma imensa quantidade de informações não reveladas, que podem ser motivo
de muita cortina de fumaça.
Santayana
propõe para isso a hipótese de que seriam duas Torres por um Rei, uma busca
ostensiva de legitimidade para o golpe final sobre Lula. Mas o que de pior pode ainda ser feito contra
um Lula que até aqui nada tem de comprovado contra si? A sua prisão ou
condenação para inviabilizar a sua candidatura em 2018 é variável que coincide
com o Estado de exceção em curso e não haveria necessidade, por arbitrária que
é, de qualquer entrega de torres. O poder, por exemplo, assentado em 54 milhões
de votos, foi safadamente roubado, sem dó, nem piedade.
O
certo é que a essa altura o ministro Fachin e o sr. Janot já sabem a que juízes
e promotor Joesley se referiu no áudio.
Com
um Presidente da República investigado e a ponto de cair e um Senador,
ex-candidato à presidência da república e presidente do PSDB afastado de suas
funções, não é apropriado que os juízes e o promotor alvos das delações sejam
poupados da identificação.
-
Ministro Fachin, quem são?
Do
GGN