Muita gente deve estar fazendo a mesma
pergunta: Cadê Sérgio Moro? O juiz, herói nacional, orgulho do Brasil, sério
candidato a “gênio da raça”, sumiu de repente. Até anteontem, todos os dias ele
estava na mídia, às vezes em vídeos extraindo confissões com seu boticão
judicial, ou em áudio, conduzindo depoimentos com mão de ferro, como o de Lula.
Ademais, fazendo declarações através de notas. E também em conferências, em fóruns internacionais, dando palestras. Abruptamente, e isso já há quase 72 horas, Moro sumiu da mídia. Seu silêncio é um daqueles que, como diria Marx, oprime o cérebro dos vivos. Zumbe como pernilongos num enxame de interrogações em torno da cabeça do brasileiro. Por que o herói se calou?
Ademais, fazendo declarações através de notas. E também em conferências, em fóruns internacionais, dando palestras. Abruptamente, e isso já há quase 72 horas, Moro sumiu da mídia. Seu silêncio é um daqueles que, como diria Marx, oprime o cérebro dos vivos. Zumbe como pernilongos num enxame de interrogações em torno da cabeça do brasileiro. Por que o herói se calou?
A resposta parece ser sua decisão no
episódio das perguntas de Cunha. Sérgio Moro, como se sabe, barrou 21 das 41
perguntas que Cunha dirigiu a Temer.
Conforme se expressou mais tarde, ao se
posicionar contrariamente à libertação de Eduardo Cunha, Moro viu chantagem nas
perguntas formuladas pelo ex-deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados:
“Tais quesitos, absolutamente estranhos ao
objeto da ação penal, tinham, em cognição sumária, por motivo óbvio constranger
o Exmo. Sr. Presidente da República e provavelmente buscavam com isso provocar
alguma espécie intervenção indevida da parte dele em favor do preso”, disse
Moro.
“Isso sem olvidar outros quesitos de
caráter intimidatório menos evidente”, acrescentou.
De fato. Não podemos olvidar. Mas, cá prá
nós, quem pode ser intimidado, constrangido, chantageado ou pressionado por um
malandro corrupto senão um outro tão malandro tão corrupto quanto ele? E parece
que o Exmo. Sr. Presidente da República se enquadra na definição.
Na versão de Sérgio Moro, ficou parecendo
que Eduardo Cunha era o vilão Gargamel e Michel Temer, o bom vovô Smurf. É uma
versão atraente, um pouco infantil, é verdade, mas infelizmente totalmente
desajustada aos fatos. Ouvindo as conversas e assistindo aos vídeos com as
revelações sobre Temer, tudo faz crer que Cunha era um dentre os diversos
operadores de Michel Temer.
Essa virada pela qual Temer foi
desmascarado terá certamente efeitos graves para a credibilidade de Moro. Ficou
parecendo que ele, ao exercer a censura sobre as perguntas de Cunha, garantiu
uma imensa chance de impunidade para Temer.
Basta pensar o seguinte: e se não fossem
as revelações da JBS qual seria a situação de Temer, do nosso Excelentíssimo
Senhor Presidente, agora? Ele estaria com os seus milhões surrupiados, com o
acordo de quase meio bilhão com a JBS, e
com muito mais coisas que não sabemos, que talvez nunca venham à tona. Estaria
muito feliz e alegre, como estava até há alguns dias atrás, fazendo tiradas
debochadas em seus pronunciamentos, como a de que sua política era a de “nenhum
direito a menos”, ou de que “governo tem que ter marido”. Não fosse a JBS, a
recusa de Moro em aceitar as perguntar de Cunha, teria blindado o
Excelentíssimo Temer.
Mas Michel Temer blindado o que significaria?
Nada mais nada menos que a condução do golpe até a consecução de seus objetivos
finais: 1) destruição de todos os direitos dos trabalhadores no Brasil; 2) fim
da previdência e das aposentadorias; 3) destruição da democracia e do estado de
direito. É pouco?
Ah, e ainda tem o Aécio. O amigo com o
qual Moro aparece às gargalhadas numa foto que ficou célebre. Sim, com Aécio,
aquele que surge nos áudios negociando R$ 2 milhões em propina e dizendo que se
delatassem mandava matar. Gargalhadas com Aécio e foto sorridente, em postura
reverencial, com Temer. Já não é mais que suficiente?
Tudo isso talvez explique o silêncio de
Sérgio Moro. Não foi só Temer que recebeu um golpe fatal com as revelações da
JBS. É possível que outras sumidades sejam destronadas junto com ele.
Do Cafezinho