sábado, 30 de setembro de 2017

O ex-presidente Lula em nova pesquisa dispara e vai a 35% no Datafolha mesmo após ser condenado

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se mantém na liderança da corrida presidencial, com grande vantagem sobre os principais adversários, segundo nova pesquisa do Datafolha, divulgada neste sábado. O petista, condenado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro, tem pelo menos 35% das intenções de voto nos cenários testados.

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) e a ex-senadora Marina Silva (Rede) empatam em segundo lugar. Ele oscila entre 16% e 17% e ela varia entre 13% e 14% nos cenários com o ex-presidente no páreo.

Geraldo Alckmin e João Doria, ambos do PSDB, apresentam desempenho equivalente na disputa com Lula, Bolsonaro e Marina, segundo o levantamento. O governador de São Paulo e o prefeito da capital alcançam 8% das intenções de voto. Doria tem viajado pelo país tentando aumentar seu grau de conhecimento e apostando que com isso poderá subir nas pesquisas, mas isso até agora não se concretizou.

Nos cenários testados para eventual segundo turno, Lula pela primeira vez vence todos os adversários. A exceção é um hipotético confronto com o juiz Sergio Moro (que tem descartado concorrer a presidente), em que há empate técnico.

A pesquisa, que será publicada na edição da Folha deste domingo (1º), foi feita na quarta-feira (27) e na quinta (28). O Datafolha realizou 2.772 entrevistas em 194 cidades. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. 

Do 247

Michel Temer negociou lava jato com Rodrigo Janot e foi chantageado por Eduardo Cunha, revela Renan Calheiros

Foto: ABr

O presidente Michel Temer tinha um trato com o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot: nomear ao posto maior do Ministério Público Federal (MPF) um nome de confiança e sucessor de Janot, em troca de a PGR blindar ministros e a cúpula de Temer na Operação Lava Jato, não enviando denúncias.

"Foi por isso que Michel fez aquele pronunciamento, em fevereiro, dizendo que, se um ministro fosse denunciado, seria afastado do governo. Já tinha um acordo": a declaração é de Renan Calheiros (PMDB-AL). Correligionário, mas hoje comandando umas das principais frentes da oposição no Congresso, o senador Renan ameaçou revelar informações sobre o presidente da República, Michel Temer, e o o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. 

Integrante das principais reuniões de cúpula do partido até o início da gestão de Temer no Planalto, Renan acusa o mandatário de tentar "livrar seus amigos na Lava Jato" por meio de articulações na Procuradoria-Geral da República (PGR).

A informação foi divulgada pela jornalista Vera Rosa, do Estadão, que aponta a negociação: ainda antes de fevereiro, a tratativa do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com Temer era manter um sucessor de Janot em troca da não denúncia contra seus ministros. 

Ainda antes de romper com o governo, até o início deste ano, o ex-presidente do Senado e ex-líder do PMDB na Casa, Renan contou que, quando soube da tratativa, alertou Michel Temer de que Rodrigo Janot não era confiável. 

"Eu falei para ele: Michel, você não vai fazer aliança com Janot. Ele já traiu Fabiano [Silveira, ex-ministro da Transparência] e também vai lhe trair na primeira esquina". Fabiano foi gravado em conversa com o senador e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado.

As relações do presidente da República com o ex-PGR não seriam de hoje. De acordo com o parlamentar, Temer teria já negociado com Janot quando ocupava a vice-Presidência. 

"No governo Dilma, queriam nomear Henrique para ministro do Turismo. Dilma disse ao Michel que só nomearia se ele não estivesse na lista de Janot. Michel, então, se encontrou com Janot e pediu a ele para tirar Henrique e também Eduardo Cunha da investigação. Ele livrou Henrique, mas disse que não conseguiu tirar o Eduardo", contou Renan Calheiros.

O rompimento de Renan com Temer dentro das lideranças do partido no Congresso e Executivo foi demarcado naquele momento. O nome do senador para o Ministério do Turismo, ainda no governo Dilma, foi o de Vinícius Lage, que foi ignorado pelo então vice-presidente. "Janot mandou o seguinte recado para mim, por meio de um interlocutor: ‘Diga ao presidente Renan que ele não tem prestígio nenhum com o vice-presidente'", relatou.

Ainda, o senador peemedebista, agora sem nenhum interesse por zelar a nomes do partido a que pertence, disse que Michel Temer admitiu a ele que estava sendo chantageado por Eduardo Cunha, dentro da prisão. Quando Renan pediu a demissão do então ministro da Justiça, Osmar Serraglio, nome de Cunha, o mandatário teria respondido: "Renan, você sabe que estou sendo chantageado".

Ao não seguir com o suposto acordo que tinha com Michel Temer, Rodrigo Janot incluiu na denúncia contra o presidente a grande base de governo peemedebista, como o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro da Secretaria de Governo, Moreira Franco. "Janot fez tanta besteira que criou condições para Michel se salvar. Ele agora está se beneficiando dos erros e dos crimes cometidos pelo Ministério Público", completou Renan.

GGN

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O Xadrez da marcha da insensatez, por Luís Nassif

Cena 1 – o descuido com a segurança política
Há uma enorme dificuldade das instituições brasileiras de interpretar desdobramento da crise e entender cada episódio de corte e e suas consequências.
Na montagem da cúpula do Judiciário e do Ministério Público Federal, foi fatal o descuido dos governos petistas, não entendendo o poder desestabilizador da Justiça e do MPF. A segurança institucional e a estabilidade política deveriam ter sido o foco principal nas escolhas. E, por tal, entenda-se avaliar as pessoas em um quadro de stress elevado.
Como se comportaria, por exemplo, uma Carmen Lúcia em uma situação de stress político? E um Dias Toffoli? E um Rodrigo Janot? Um Luís Roberto Barroso? Um Ayres Brito?
Não se tratava apenas de avaliar o conhecimento jurídico, mas a personalidade, o caráter – mais afirmativo, mais tímido -, a coerência, a propensão ao deslumbramento. Vai-se buscar esse histórico junto aos colegas de faculdade, aos colegas de profissão, aos juristas com quem o governo tenha afinidades políticas.
Houve um descuido monumental. Escolheu-se Joaquim Barbosa pela cor e pelo conhecimento e já se sabia, no próprio MPF, do seu comportamento desequilibrado. Ayres Brito já era conhecido pelo comportamento dúbio na ditadura.
Essa cegueira manteve-se durante todo o governo Dilma. O único procurador que enfrentava Gilmar Mendes de igual para igual, no Tribunal Superior Eleitoral, Eugênio Aragão, foi preterido devido a barganhas políticas com Gilmar Mendes.
Peça 2 – a incapacidade de perceber os momentos de corte
Com essa mediocrização ampla dos Poderes, pelo modelo político em voga, e das instituições, pelas escolhas erradas, o resto é consequência: a incapacidade do poder civil de entender os momentos de corte, os episódios que fariam o país ingressar em novas etapas, degrau a degrau rumo à insensatez.
Momento 1 – o mensalão
Ali estava nítida a aliança mídia-Ministério Público Federal, com este ensaiando os primeiros voos fora dos limites constitucionais. A montagem da narrativa pelo Procurador Geral Antônio Fernando de Souza e pelo ex-Procurador e Ministro do STF Joaquim Barbosa, mantida pelo sucessor Roberto Gurgel em cima de uma falsificação: o tal desvio da Visanet que nunca ocorreu.
De certa forma, o mensalão foi um presente dos deuses, pois teria permitido ao governo entender explicitamente as ameaças contidas na total falta de controle do MPF. Mas o sucesso de Lula no segundo governo passou a ilusão de que seu gênio político sempre encontraria meios de contornar as tentativas de golpe.
Depois primeiro escândalo, que levou ao mensalão, foram indicados para o STF a Ministra Carmen Lúcia (2006), Dias Toffoli (2009), Luiz Fux (2011), Rosa Weber (2011), Teori Zavascki (2012), Luís Roberto Barroso (2013), Luiz Edson Fachin (2015).
Em 2009 Roberto Gurgel foi indicado para PGR. Em 2013, Rodrigo Janot. Nem com os sinais claros de que os PGRs já andavam à reboque da opinião pública e da corporação, cuidou-se de uma estratégia clara ou ao menos da indicação de um PGR sólido.
Consequência - São esses personagens que se tornam responsáveis por conduzir suas respectivas instituições no período mais turbulento da história recente.
Corte 2 – a condução coercitiva de Lula e o vazamento de conversas familiares
Esse episódio deflagrou um novo normal, em que a Constituição foi atropelada. Esteve nas mãos do Ministro Teori Zavascki o enquadramento da Lava Jato nos limites legais. Limitou-se a admoestar Sérgio Moro.
Consequência - o grupo da Lava Jato de Curitiba ganhou vida própria e passou a se impor sobre a PGR. A partir dali todos os abusos foram tolerados.
Corte 3 – a prisão de Delcídio do Amaral
Em cima de um grampo armado – possivelmente em uma operação controlada articulada pelo PGR -, com declarações esparsas, o STF endossou a posição de Teori, de mandar prender o senador Delcídio do Amaral. Não apenas isso. Permitiu-se a divulgação de conversas comprometendo Ministros sérios do STJ.
Consequência -  Depois que caiu a ficha, o STF se recolheu. Tornou-se personagem passivo do impeachment.
Corte 4 – o processo contra Eduardo Cunha
O Ministro Teori segurou por meses e meses a autorização para o processo contra Eduardo Cunha. Segundo alegou para amigos, evitava apresentar ao STF por não ter segurança em conseguir os votos necessários. Afinal, havia uma torcida surda pelo impeachment.
Consequência - Esse episódio marcou o ingresso definitivo do Supremo na abulia com que assistiu à consumação do golpe.
Corte 5 – a delação da JBS
Tirou definitivamente a blindagem que a mídia mantinha sobre o PSDB. E escancarou o inacreditável: em pleno exercício do mandato de presidente, Michel Temer indicando um assessor de confiança para receber uma bolada de uma empresa e a principal liderança do golpe negociando propinas em forma de empréstimos.
Consequência – Ali enterrou-se definitivamente a era das grandes passeatas. A opinião pública deu-se conta de que fora enganada no impeachment.
Corte 6 – a declaração do general Mourão
Essa soma de fatores leva a crise institucional ao ponto mais grave: as declarações do general Mourão, sem nenhuma reação do Executivo e do Ministro da Defesa.
O Congresso ficou mudo, o Supremo ficou calado, a ponto de nem a Ministra Carmen, nem o Ministro Barroso exercitarem seu hobby predileto: frases de efeito vazias. Restaram as manifestações isoladas do Ministro Marco Aurélio de Mello e da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, do Ministério Público Federal.
Consequência – as Forças Armadas entraram no jogo. Voltarão as vivandeiras dos quartéis. E qualquer candidatura em 2018 terá que beijar a mão e bater continência ao Estado Maior.
Peça 3 - os episódios desmoralizantes
A entrada do fator militar se dá no momento em que há um conjunto de episódios rocambolescos, capazes de ruborizar o analista mais cínico, sem que os poderes consigam apresentar uma resposta adequada.
Caso Aécio - a impunidade de Aécio é um fator de desgaste extremo. Depois da filmagem do primo levando dinheiro e da irmã negociando, era caso de renúncia imediata ao posto de senador, independentemente de qualquer iniciativa judicial.  Por aqui, Aécio não renunciou e sequer o PSDB tevê força para tirá-lo do cargo.
A teimosia de Marco Aurélio de Mello - que devolveu-o ao Senado como represália pelo fato do STF não ter aceito sua ordem de prisão contra Renan Calheiros - acentuou a impressão de impunidade. E a mídia, com ideia fixa na criminalização de Lula, limitou-se a reportagens episódicas sobre Aécio.
Caso Gilmar - os sucessivos abusos de Gilmar Mendes com o IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), com sua parcialidade, com seus ataques aos colegas e mesmo a defesa meritória do garantismo comprovam que o arrogante engoliu o esperto. Isso, mais o controle absurdo sobre os sorteios do Supremo - que o fizeram relator dos processos envolvendo justamente os três políticos tucanos mais barras-pesadas - Aécio, José Serra e Cássio Cunha Lima - vão cobrar seu preço. Gilmar valeu-se de um vácuo político e no STF para abusos sem fim. Não tem como essa falta de limites não cobrar seu preço no desgaste inédito do Supremo.
Peça 4 – o curto-circuito dos poderes
Essa disputa Supremo Tribunal Federal x Senado,  STF x STF, Câmara x PGR não leva em conta o básico: a crise atinge todas as instituições. Não se trata mais de disputa de espaço institucional entre instituições representativas do Poder Civil, mas de autofagia de instituições doentes, com a ameaça de um governo autocrático na primeira curva da estrada.
Sobrevindo o vendaval, nenhuma escapará. E o que se vê é a insensibilidade de dançarinos no restaurante do Titanic, instituições em frangalhos, incapazes de administrar sequer os próprios conflitos internos.
Executivo - não sei o que é mais desmoralizante, se uma chusma de corruptos assumindo o controle do país, ou se a incrível mediocridade dessa turma. A resposta que deram à entrevista de Rubens Ricúpero não merecia estar nem em jornaleco do interior. O assalto continua sendo perpetrado à luz do dia. Cortes em todos os programas e benesses aos deputados, para garantir a manutenção da quadrilha no poder.
Supremo - uma disputa de egos entre Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, uma presidente incapaz de um gesto sequer em defesa da Constituição e Ministros derrotados em votações insuflando o Congresso a derrubar as sanções contra Aécio Neves.
Ministério Público – uma tropa à deriva, dirigida – finalmente – por uma procuradora de larga experiência na área penal e de direitos humanos. Mas com nenhum traquejo para o jogo das intrigas palacianas, entre instituições e na sua própria corporação.
PT – Tenta compensar a falta de iniciativa durante todo o processo do impeachment, com um ativismo extemporâneo. Não aprendeu ainda que republicanismo e bons modos políticos – como a defesa da legalidade no tratamento de um inimigo – não têm lugar à mesa, nesse grande banquete bárbaro. A nota em defesa do Senado ignorou que há um novo agente na praça.
Aí vem o Globo, que é grande por ser esperta, principal responsável pela ascensão da quadrilha de Temer ao poder, e estampa a chamada maliciosa;
Peça 5 – marcha da insensatez
Essa confusão monumental não permite uma visão otimista do futuro.
O caos amplo abre espaço para uma infinidade de possibilidade, nenhuma positiva – a que implicasse em um pacto entre instituições e partidos visando atender às expectativas da opinião pública.
O que se tem é um avanço da maré conservadora e uma aliança que se torna cada vez mais explícita entre a Lava Jato, a ultradireita, insuflando a maior intervenção militar.
Prova disso é o factoide da carta-arrependimento de Antônio Palocci, com o uso de expressões, como a “peçonha da corrupção” e outras do mesmo gênero, mostrando que os acordos de delação têm um copidesque com bastante afinidade com o linguajar da extrema direita.
Em um momento de bom-senso, o Senado adiou o julgamento da decisão do STF, permitindo a este chegar a alguma solução interna que impeça o transbordamento da crise.
Mas não há nenhuma luz no horizonte próximo.

GGN

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Enquanto mídia discutia recibos, juiz Moro impedia o ex- presidente Lula de produzir provas de sua inocência

Juiz indeferiu pedido para reconstruir o caminho do dinheiro que a Odebrecht, para ajudar a Lava Jato, afirma ter gastado em benefícios ao ex-presidente
Foto: Lula Marques
Enquanto a grande mídia passou o último dia tentando colocar em xeque os recibos apresentados pela defesa de Lula como comprovante de pagamento por anos de um aluguel que a Lava Jato considera vantagem indevida ao petista, o juiz Sergio Moro despachava de Curitiba negando uma série de diligências que poderiam ajudar o ex-presidente a provar que ele não recebeu pagamentos da Odebrecht.
 Um dos principais pedidos barrados por Moro foi feito não só pela defesa de Lula, mas também pelos defensores do advogado Roberto Teixeira, também réu na ação penal que envolve não só o aluguel de um imóvel em São Bernardo do Campo, mas a compra de um espaço que o Instituto Lula nunca usou.
 Eles solicitaram uma perícia para reconstruir o caminho do dinheiro desviado de contratos da Odebrecht com a Petrobras e supostamente empregados na compra do imóvel do Instituto, conforme aponta o Ministério Público. Mas Moro decidiu rejeitar o pedido, alegando que, em seu entendimento, recursos da Petrobras não têm nenhuma conexão direta com a denúncia.
"Não há afirmação da denúncia de que os recursos provenientes dos contratos da Petrobrás com a Odebrecht foram utilizados diretamente para aquisição dos imóveis", reafirmou.
O entendimento já sido questionado pela defesa de Lula, pois se não há conexão entre recursos da Petrobras e as acusações de Lula, o processo não deveria sequer estar tramitando em Curitiba. 
Para Moro, "o que a denúncia afirma é que, nesses contratos, haviam acertos de propinas, que integravam um caixa geral de propinas do Partido dos Trabalhadores com o Grupo Odebrecht, sendo que parte delas foi utilizada para as referidas aquisições."
O juiz ainda disse que "dinheiro é fungível e a denúncia não afirma que há um rastro financeiro e físico entre os cofres da Petrobrás e o numerário utilizado para aquisição dos imóveis, mas sim que as benesses recebidas pelo ex-Presidente fariam parte de um acerto de propinas do Grupo Odebrecht com dirigentes da Petrobrás e agentes políticos e que também beneficiaria o  ex-Presidente."
Dessa forma, Moro indica que, mais uma vez, dará valor a delações premiadas em detrimento de provas materiais. O mesmo ocorreu com a sentença do caso triplex, quando o magistrado utilizou depoimentos da OAS para condenar Lula a 9 anos de prisão, mais pagamento de multas que superam R$ 16 milhões - valor correspondente ao "caixa geral" de propina de Léo Pinheiro com o PT.
Também no caso triplex, Moro usou o fato de os procuradores de Curitiba não terem conseguido reconstruir o caminho do dinheiro que supostamente beneficiou Lula como mais um elemento a atestar a lavagem de dinheiro. O argumento do Ministério Público foi que crimes de colarinho branco, praticados por pessoas experientes, não deixa rastros.
No processo da Odebrecht, Moro afirmou que só vai discutir na sentença "se a ausência desse rastreamento físico é necessária ou não para a caracterização dos crimes de corrupção ou de lavagem."
SISTEMA DROUSYS E MY WEB DAY
No despacho assinado no último dia 27, Moro reafirmou que a defesa de Lula está impedida de extrair cópias dos sistemas de comunicação e registro de propina no exterior da Odebrecht, o Drousys e o MyWebDay. Para a equipe do ex-presidente, o aceddo integral aos sistemas mostraria que Lula nunca foi beneficiado com pagamentos.
Para negar acesso integral e cópias, Moro disse que há dados relativos a outras investigações que não podem ser concedidos à defesa de Lula ou qualquer outro réu. 
Numa canetada só, ele ainda indeferiu que uma análise sobre os requisitos jurídicos da cooperação internacional que trouxe os materiais da Suíça e Suécia ao Brasil, além de impedir que se conheça se os dados dos dois sistemas confirmam ou não as delações da Odebrecht.
Tentando contornar a blidagem ao Drousys e MyWebDay, a defesa de Lula ainda requereu acesso ao processo que origiu o acordo de leniência da Odebrecht. Moro indeferiu. Ele permitiu conhecimento apenas à cópia do acordo final e da decisão pela homologação. "O acesso ao próprio processo é inviável pois, nos referidos autos, são e podem ser juntadas provas relativas a outos fatos e a investigações em andamento."
TRADUÇÃO
Contrariando a defesa de Lula, o juiz indeferiu até mesmo um singelo pedido de tradução de documentos juntados aos autos pelo Ministério Público Federal, que encontram-se em inglês, espanhol e alemão. Pela Código de Processo Penal, segundo Moro, a tradução só deve ser feita se "necessária". Então, o juiz considerou que os termos em lingua estrangeira que estão nos documentos são de "fácil compreensão". "Então em princípio a tradução pretendida é desnecessária, motivo pelo qual indefiro o requerimento, salvo se melhor demonstrada a necessidade ou a dificuldade de compreensão da Defesa no prazo de cinco dias."

GGN

TRF4 volta a acusar Moro de condenar réu sem provas

As condenações do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto por Sergio Moro não obedeceram a critérios jurídicos, mas publicitários. Sem acusar e até prender o ex-tesoureiro petista, não seria possível construir toda a narrativa do magistrado-promotor-meganha de Curitiba para prender Lula pelo resto da vida.
Nesse aspecto, chama atenção a SEGUNDA  absolvição de Vaccari pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) de absolver Vaccari novamente.
Segundo informações da Folha de SP, o novo julgamento que absolveu o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto expôs diferenças de entendimento de magistrados da Lava Jato sobre os processos que envolvem depoimentos de delatores como principal prova.
Os mesmos três juízes que julgaram Vaccari em junho voltaram a julgar nesta semana e, assim como na vez anterior, absolveram-no por dois votos a um.
Mais uma vez, o juiz João Pedro Gebran Neto age como Moro e dispensa provas para condená-lo, usando como base as meras declarações dos criminosos que fizeram acordo para acusar quem a Lava Jato quer em troca de impunidade.
Gebran Neto é manifestamente antipetista e antilulista. Em seu currículo tem apoio à condução coercitiva ilegal de Lula, o impedimento de sua posse como ministro de Dilma, a quebra do sigilo telefônico da então presidente Dilma e decisões de primeira instância de juízes militantes do antipetismo como aquele que mandou fechar o instituto Lula…
Essa, porém, foi a segunda condenação de Vaccari revertida pela oitava turma do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em Porto Alegre, pelo mesmo motivo: a maioria dos juízes entendeu que as provas são insuficientes para justificar a condenação do ex-tesoureiro.
Para Moro e Gebran, as provas contra Vaccari eram suficientes para prendê-lo para sempre. Mas o revisor Leandro Paulsen e o juiz Victor Laus discordaram. Em seus votos, destrincharam os depoimentos dos delatores para descartar as falas como passíveis de condenação.
Por exemplo, em relação ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, Paulsen disse: “o depoente afirmou ter visto pessoalmente João Vaccari em apenas uma oportunidade, em um restaurante, e jamais ter discutido qualquer assunto envolvendo pagamentos ilícitos com ele. É uma prova fundada, portanto, em ‘ouvi dizer'”, afirmou o magistrado.
Detalhe: contra Lula há muito menos evidências do que contra Vaccari pelo simples fato de que o tesoureiro esteve ligado diretamente a arrecadações de doações eleitorais pelo PT que estão sendo postas em cheque. Os magistrados Paulsen e Laus teriam que contrariar a si mesmos para condenar Lula.
Pelo menos em tese, claro.

Do Blog da Cidadania

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Sérgio Gabrielli diz que depoimento de Antonio Palocci sobre encontro com o ex-presidente Lula é mentiroso

O ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli enviou uma carta à Globo rebatendo a declarações escritas pelo ex-ministro Antonio Palocci em um manifesto endereçado ao PT nacional. Palocci pediu a desfiliação do partido após ser questionado sobre o depoimento que prestou a Sergio Moro no início do mês, alegando que Lula tinha um "pacto de sangue" com a Odebrecht.
No pedido de desfiliação, Palocci diz que não pode dar detalhes das afirmações que fez pois elas fazem parte de uma negociação com o Ministério Público que está sob sigilo. Porém, garantiu que tudo que disse sobre os encontros com Lula, Dilma Rousseff e Gabrielli para tratar de propina em obras da Petrobras era "verdade".
Gabrielli, em nota, desmentiu o pretenso delator da Lava Jato e ainda acrescentou que Palocci ofereceu uma data descabida para o encontro com os petistas.
Leia, aqui, a carta de Palocci.
Abaixo, a nota completa de ergio Gabrielli para a Globo.
Em relação a vergonhosa carta de Palocci que assume falsamente minha potencial concordância com suas posições:
1. Nunca tive qualquer reunião com o Presidente Lula e Presidenta Dilma para discutir atos de corrupção relativas as sondas para o Pré Sal brasileiro.

2. As reuniões que tive tratavam dos desafios de montar estas sondas no Brasil, que não as tinha feito anteriormente, buscando formas de organização empresarial e estruturas financeiras que as viabilizassem.

3. Sabíamos que os desafios da implantação de uma nova indústria envolviam uma curva de aprendizagem que impossibilitaria a geração de qualquer excedente extraordinário nos fluxos de caixa previstos.

4. Há uma confusão de datas nas falsas alegações de Palocci, uma vez que a pretensa reunião mencionada pelo delator teria ocorrido em 2010, mas os contratos das sondas só efetivamente foram assinados em 2011.

Do GGN

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Com recibos, lava jato tenta transformar doações legais ao Instituto Lula em crime

O delator Marcelo Odebrecht, réu em processo contra Lula e condenado em outras ações da Lava Jato, agora afirma que as doações lícitas feitas pela empresa ao Instituto Lula sairam do chamado departamento de propinas.

Odebrecht entregou recidos de R$ 4 milhões em doações e e-mails que supostamente ligam os valores ao setor de propinas da empreiteira ao Ministério Público. Por sua vez, os procuradores anexaram os documentos à ação penal em que Lula é acusado de receber vantagens indevidas.

A reportagem do Estadão não divulgou imagens do e-mails, mas publicou a seguinte mensagem que teria sido trocada pelos executivos da Odebrecht: “Italiano [Palocci] disse que o Japonês [Paulo Okamotto] vai lhe procurar para um apoio formal ao inst de 4m (não sabe se todo este ano, ou 2 este ano e 2 do outro). Vai sair de um saldo que o amigo de meu pai ainda tem comigo de 14 (coordenar com HS [Hilberto Silva] no que tange ao Credito) mas com MP no que tange ao discurso pois será formal."

Ainda de acordo com o jornal, esse material foi convenientemente entregue aos investigadores na semana passada. A desculpa é que eles não foram localizados antes: "Segundo o empresário – que cumpre prisão em Curitiba –, os e-mails só foram entregues agora porque não haviam sido localizados quando ele fechou seu acordo de delação."

Para o Estadão, a mensagem confirma parte da delação de Antonio Palocci. O ex-ministro disse não só que as doações ao Instituto Lula eram um acerto em propinas, como ainda acrescentou que o montante fazia parte de um acordo envolvendo R$ 300 milhões.

Na noite desta terça (26), a defesa de Lula emitiu uma nota indicando que a Lava Jato quer criminalizar as doações oficiais ao Instituto.

"Somente a tentativa de manter ou ampliar benefícios que a Lava Jato concede a delatores justificam que o Sr. Marcelo Odebrecht, após reconhecer a realização de doações oficiais e com impostos recolhidos ao Instituto Lula, esteja, agora, querendo transformar essas mesmas doações em atos ilícitos para envolver o ex-presidente Lula."

A lava jato não apresentou outros indícios de que as doações, de fato, tenham sido provenientes de recursos ilícitos.

Leia, abaixo, a nota completa:
Somente a tentativa de manter ou ampliar benefícios que a lava jato concede a delatores justificam que o Sr. Marcelo Odebrecht, após reconhecer a realização de doações oficiais e com impostos recolhidos ao Instituto Lula, esteja, agora, querendo transformar essas mesmas doações em atos ilícitos para envolver o ex-presidente Lula.
Em 04/09, o Sr. Marcelo prestou depoimento perante o juiz Sérgio Moro e quando questionado pela defesa de Lula confirmou que “são doações oficiais, com recibo e imposto recolhido”.

Não bastasse, na cópia do Sistema Público de Escrituração Digital – SPED — da Construtora Norberto Odebrecht S/A — ou seja, na contabilidade oficial da companhia —, apresentada no processo nº 5063130-17.2016.4.04.7000/PR em 14/07/2017 pelo MPF, constam expressamente os lançamentos relativos às doações realizadas em 16/12/2013, 31/01/2014, 05/03/2014 e 31/03/2014 ao Instituto Lula. Ou seja, esses documentos mostram, de forma inequívoca, a origem lícita das doações (veja documentos anexados).

O Instituto Lula é entidade sem fins lucrativos, com administração própria, e não se confunde com a pessoa do ex-presidente Lula.

Lula não praticou qualquer crime antes, durante ou após exercer o cargo de Presidente da República.

Do GGN

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O agravamento da crise e Lula como saída, por Aldo Fornazieri

Foto Ricardo Stuckert

Duas pesquisas publicadas nos últimos dias confirmaram a tese que defendemos no artigo publicado na semana passada: a de que houve um efeito saturação com as denuncias e ataques a Lula. A pesquisa CNT mostra que Lula venceria as eleições de 2018 em todos os cenários. E a pesquisa Ipsos mostra que a rejeição de Lula cai e que aumenta a rejeição do juiz Moro, de Dória, Bolsonaro e vários outros políticos. A falta de materialidade de provas contra Lula reforça a ideia de que ele é alvo de um ataque persecutório por parte de Moro. Dória vem se evaporando no ar por diversos motivos. Já, Bolsonaro, começa a assustar os eleitores na medida em que, de sua boca, saem investidas de cavalaria.

A crise política e institucional, contudo, parece não ter chegado ao apogeu e a complexidade e incertezas que ela suscita tendem a aumentar. O fato é que o golpe desorganizou o funcionamento institucional e já não há governo, não há Congresso e não há Judiciário funcionando nos parâmetros da normalidade democrática e institucional. Nem o Judiciário e nem o Congresso mostram-se capazes de solucionar a crise. A questão central é essa: há um governo ilegítimo, sem nenhum apoio social, cujo presidente da República é chefe de uma organização criminosa, nas conclusões da Procuradoria Geral da República. O presidente e as instituições estão desmoralizados e sem legitimidade.

O povo brasileiro está posto de joelhos em face da incapacidade da oposição de produzir um movimento de massas para tirar o presidente. O presidente, por força da Constituição, é comandante-em-chefe das Forças Armadas. Não é normal que as Forças Armadas de um país, com os seus padrões de disciplina, hierarquia, ordem, sensos de honra e moralidade, sejam comandadas por um chefe que, ao mesmo tempo, é chefe de uma organização criminosa, conforme conclusão de investigações. É neste contexto que deve ser compreendido o pronunciamento de militares, agora da ativa.

O pronunciamento dos militares faz crescer o impasse da crise. Se, por um lado, é correto que eles não podem aceitar como comandante alguém que chefia uma organização criminosa, por outro, há um claro limite constitucional para a sua ação política. Eles não podem agir como poder interventor acima da Constituição. Mas ao mesmo tempo, o Judiciário e o Congresso mostram-se incapazes de solucionar a crise, ao menos parcialmente, com a remoção do presidente ilegítimo.

Ao impasse militar e ao impasse do Congresso e do Judiciário, soma-se um terceiro impasse: A investida de vários setores na sanha quase cruenta para impedir a candidatura de Lula à presidência. Esses setores são legionários do caos, estimuladores da desobediência civil, engendradores de rebeliões. Se o Brasil, a República, as instituições e o sistema político estão destroçados e carentes de legitimidade, como tirar do processo eleitoral o líder com maior legitimidade? E como tirá-lo a golpes arbitrários, sem provas cabais de ter cometido os delitos de que é acusado? Como tirar do jogo eleitoral justamente o líder que pode reconfigurar a legitimidade institucional? Na verdade, esses setores, estão armando um ciclone de grandes  proporções no horizonte da política brasileira.

A hora do confronto
A crise brasileira só poderá ter um início de solução pacífica se o processo eleitoral for marcado pela legalidade e legitimidade, o que implica permitir que Lula dispute as eleições. Se este é o requisito condicional de uma eleição democrática, as forças progressistas e de esquerda precisam se organizar e organizar linhas de defesa desde já para salvaguardar a democracia. Os líderes progressistas atuais terão seus nomes inscritos na ignominiosa histórica da covardia se agirem como agiram na derrubada de Dilma, na aceitação de fato de Temer e na falta de reação na votação da reforma trabalhista.

Alguns analistas, inclusive de esquerda, afirmam que Lula é passado, que faz parte do arranjo que emergiu da Constituição de 1988 e que este arranjo desmoronou porque expressava a conciliação e esta não tem mais lugar a partir do golpe. Nisso tudo, apenas a última afirmação é verdadeira. Na verdade, há uma enorme incompreensão na avaliação de que Lula é passado. Ocorre que o movimento positivo do país que nasceu com a nova Constituição e que teve nos governos Lula seu ponto mais alto, teve sua trajetória interrompida e o Brasil está passado por um grave retrocesso nos direitos, na cidadania, na democracia, na ciência e tecnologia, na soberania, na pluralidade, na convivência, na cultura etc..

Lula é o único líder, neste momento, capaz de interromper este retrocesso, pois as forças democráticas e progressistas estão desorganizadas e desorientadas. O país não vive nenhuma situação revolucionária. Pelo contrário, o memento é de resistência para impedir uma destruição maior. Este momento requer unidade das forças progressistas e capacidade de liderança e comando. O conteúdo que o movimento em defesa da candidatura Lula e de sua possível candidatura vierem a assumir dependerá do grau de unidade e de engajamento das esquerdas, dos democratas e progressistas nesses esforços. Trata-se de um conteúdo em disputa, que dependerá da força política o organizacional que os setores progressistas dispuserem para barganhar no programa  ser construído e nas políticas públicas que poderiam vir a ser implementadas.

A fragmentação das forças progressistas as despotencializará, reduzindo o número de deputados, senadores e governadores eleitos. Dividir e fragmentar significa ser a esquerda que a direita quer. A unidade tem que ser com Lula ou sem Lula, se ele for impedido. Se o momento é de resistência e de recuperação terreno tomado pelo inimigo, trata-se de ser prudente, econômico nas expectativas e severo nas advertências, pois os riscos de novas derrotas são significativos. Lula terá que ter a  sabedoria e a humildade para conduzir essa unidade e o PT terá que deixar de lado o seu costumeiro exclusivismo, fazendo concessões justas ao seus aliados.

Mas tudo isto é possível? A resposta a esta pergunta é mais de dúvida do que de certeza. A esquerda é madrasta de sua própria desgraça. Lutar para afastar Temer, mobilizar para garantir a candidatura Lula e construir a unidade democrática e progressista são as três principais tarefas da conjuntura. Mas o que se vê nos partidos, movimentos e organizações sociais e de esquerda é mais confusão, dispersão, falta de unidade e de rumos.

A fragmentação que está se armando caso Lula não possa concorrer poderá produzir uma nova derrota devastadora: nenhum candidato progressista no segundo turno das eleições presidenciais. Este seria o preço a ser pago pela ausência de responsabilidade histórica e pela ambição inconsquente dos partidos e de potenciais candidatos do campo progressista.  A incapacidade de perceber o momento histórico-político do país faz com que partidos e grupos mirem os seus egoísmos particulares ao invés de olharem para o sofrimento do povo e suas necessidades.

Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP). 


Do GGN

domingo, 24 de setembro de 2017

O neoliberalismo acabou na crise de 2008 mas a notícia não chegou ao Brasil, por André Araujo

O Neoliberalismo não é uma escola de economia e sim um ciclo de relançamento  das ideias da Escola Classica como reação aos excessos do Estado do bem estar que se seguiu à Segunda Guerra, o Neoliberalismo foi então entendido como um contraponto às ideias intervencionistas de Keynes iniciadas antes da Guerra e implantadas na Europa no pós guerra.
 Esse ciclo se iniciou com o Governo Thatcher no Reino Unido em 1979 e teve seu fim na crise financeira dos EUA de 2008. O ciclo neoliberal afetou de forma diferente alguns paises emergentes. Nos EUA o neoliberalismo teve pouco espaço porque esse Pais nunca foi um Estado de bem estar social e toda sua economia sempre foi privada  MAS teve um efeito na desregulamentação do mercado financeiro promovida pelo Presidente Reagan sob influencia de Margaret Thatcher  que assumiu  uma Inglaterra que no pós guerra teve implantado o mais amplo Estado de Bem Estar Social a partir do governo trabalhista de Clement Attlee em 1945 e das ideias de seu ideólogo, Lord Beveridge, pai do conceito do Welfare State.
Processos parecidos com diferenças pontuais foram implantados na Europa continental.
 Tanto no Reino Unido como no continente , especialmente na  França e Italia, as grandes empresas de serviços públicos e transportes, além da siderurgia e petróleo, eram  estatais, a economia inglesa era 55% estatal. A partir do governo Thatcher quase tudo foi privatizado e a economia sob controle estatal foi desregulamentada.
Foi essa desregulamentação que criou as bases para a crise financeira de 2008. Antes dela e por causa da crise de 1929, os bancos americanos não podiam sair de seus Estados e em alguns Estados só podiam ter agencias em sua cidade sede. Os bancos comerciais não podiam ter ligação com bancos de investimentos e nenhum deles com seguradoras e nem com corretoras, tudo deveria ser bem separado. Reagan acabou com todas essas “paredes” e deixou misturar tudo, o que facilitou a criação dos títulos “subprime”, raiz da crise de 2008. Essa crise foi emblemática para o fim da crença de que o mercado resolveria seus próprios problemas e que o Estado deveria se afastar do mercado para não atrapalhar.
O neoliberalismo pregava o “Estado mínimo” e tinha mesmo um desprezo pelo Estado porque considerava o mercado um ente superior ao Estado em moral e eficiência.
Por essas ironias do destino o laboratório onde foi gestada a crise do subprime foi a firma GOLDMAN  SACHS, que inventou esse titulo de mercado, a mesma Goldman Sachs que inventou o acrônimo  BRICs e onde foi montado  (através do Institute of International Finance) o bordão  CONSENSO DE WASHINGTON,  que soou como musica aos economistas tucanos do Brasil, o grupo que ao implantar as ideias neoliberais no Brasil em 1994 afastou como se fosse entulho o pensamento desenvolvimentista brasileiro, uma escola de pensamento criativa, inovadora com sólidos fundamentos teóricos à qual o Brasil deveu na segunda metade do Seculo XX o MAIOR INDICE DE CRESCIMENTO DO PLANETA, entre 1945 e 1975, 7% ao ano em media. Os “economistas de mercado” de 1994 implantaram politicas mal copiadas do centro neoliberal que produziram no Brasil, de 1994 a 2017 um serie de fracassos de politica econômica e de baixo crescimento que desembocaram na atual recessão.
No caminho as politicas neoliberais liquidaram com boa parte da indústria brasileira que em 1994 produzia 23% do PIB e hoje mal chega a 9% do PIB. A liquidação da indústria nacional  não foi a única obra do neoliberalismo à brasileira. Na sua conta também estão o desemprego estrutural,  a rebaixa de salários e da renda real da população abaixo da classe media alta, um plano de pais bom para 30 milhões de pessoas, com o abandono dos demais brasileiros.
E não se diga que nos anos do Governo do PT essa politica não prevaleceu. O PT fez uma aliança tácita na AREA ECONOMICA FINANCEIRA com o mesmo  grupo de economistas de mercado que vinha do governo anterior, economistas esses que comandaram o Banco Central desde então, apenas a tinta do governo do PT era de esquerda, o pulmão era neoliberal.
 Esse conjunto de cardeais, títulos, rotulos e slogans do neoliberalismo de almanaque forma jogados ao mar pela crise dos subprime  de 2008 que levou à quebra um dos mais sólidos e tradicionais bancos americanos,  Lehman Brothers e que SÓ não quebrou outros gigantes como o mega CITIGROUP e a maior seguradora dos EUA, AIG,  bem como a maior empresa industrial daquele Pais, a GENERAL MOTORS,  porque o Tesouro dos EUA salvou esses símbolos do capitalismo privado com o apoio financeiro imediato de US$780 bilhões através de uma programa criado em três dias, o TARP, por iniciativa do Presidente Obama, que nunca foi adorador do mercado como ideologia de Governo mas por uma ação inteligente o salvou.
O resgate pelo Estado do capitalismo americano e global dissolveu em ácido o neoliberalismo dos anos 70 e 80, não só pelo CHEQUE DA SALVAÇÃO emitido pelo Tesouro dos EUA como pelo fato incontestável de que a crise de 2008 foi causada exatamente pelo neoliberalismo que  patrocinou  a desregulamentação dos mercados pelo Presidente Reagan,  que era uma das metas  do neoliberalismo, a  outra eram as privatizações.
O neoliberalismo de Hayek foi sepultado pelos escombros de 2008,  a noticia todavia não chegou ao Brasil e muito menos ao grupo de ECONOMISTAS TUCANOS que dominam a governança da economia brasileira desde o Plano Real, pode-se também chama-los de “economistas de mercado”, praticamente todos nascidos no mesmo ninho da chamada “equipe do Real” , cuja alma mater é a escola de economia da PUC Rio e que que  desde então se entrincheiraram no Banco Central mesmo nos governos petistas, é um GRUPO COESO E ARTICULADO, quando não estão em Brasilia estão em Washington no FMI ou no Banco Mundial, como estão os dois últimos hierarcas econômicos do Governo Dilma, Joaquim Levy e Alexandre Tombini,  cada nomeado puxa outros da mesma patota para o “locus” onde se senta, seja no BC, no BNDES, na Casa das Garças, na FIRJAN, na FGV, no BID, no Banco Mundial, no FMI, na Secretaria de Politica Economica do MF.
Um exemplo marcante no governo  Dilma foi a nomeação para diretor de assuntos internacionais do Banco Central de Tony Volpon, banqueiro de investimentos residente no Canada há muitos anos, um ultra neoliberal em pleno governo da ala esquerda do PT.
OS ORFÃOS DO NEOLIBERALISMO
A questão dos grandes acidentes de percurso do neoliberalismo foi tão grave que desmontou as premissas ideológicas de sua construção intelectual nascida na celebre conferencia de Mont Pelerin, na Suiça, em plena guerra, 1944, e no livro O CAMINHO DA SERVIDÃO, de Hayek, que via o mercado como um ente sempre superior ao Estado na organização da economia. Na realidade a pregação de Hayek , apresentada como novidade, já era uma reciclagem da Escola Classica que  TINHA FRACASSADO  MISERAVELMENTE na crise de 1929, de raízes muito parecidas com a crise d 2008, excessos de mercados desregulados e falta de limites pela soma descontrolada de ganancias dos operadores privados, ninguém controlando o todo.
 O mercado, ao contrario da tese dos classicos, NÃO se auto regula, não tem como evitar crises, estas historicamente SÓ SÃO RESOLVIDAS PELO ESTADO, é a lição da Historia.
A crise de 1929 teve reverberações  geopiliticas, sob seus escombros  nasceu o nazismo na Alemanha e criou-se o terreno para uma doutrina antagonica à Escola do livre mercado, aquela que encontrava no ente Estado as ferramentas para organizar a economia em uma COMBINAÇÃO de mercado e Estado, cada um com sua parte MAS sob a regência geral do Estado, portanto na premissa de que O MERCADO NÃO SE AUTO REGULA. Já na crise de 1929 e seus desdobramentos cataclísmicos nos anos 30 se comprovou o erro da ideia de que o MERCADO DEIXADO LIVRE FAZ TUDO de bom na economia. Simplesmente não faz.
A hsitoria das crises econômicas mostrou que só o Estado tem o poder e as ferramentas para desatar crises econômicas, algo que não se admite na recessão de hoje no Brasil, a equipe econômica e seus arautos na mídia creem que o próprio mercado vai acabar com a recessão.
O noliberalismo de Hayek, que é do pós Guerra, tentou fazer rebrotar aquilo que levou à crise anterior de 1929, foi tomado como algo novo quando era apenas uma tentativa de remontagem, um refogado aproveitando matéria prima vencida pela Historia, usando de ideias velhas e derrotadas anteriormente. As recicladas ideias de Hayek não pegaram logo depois da publicação do CAMINHO DA SERVIDÃO em 1945 mas rebrotaram no fim dos anos 70 e deram origem a uma roupa de brechó reformada, o “neoliberalismo”, incorporado no cardapio das universidades americanas como doutrina politica charmosa acoplada a seu instrumental monetário, o monetarismo de Friedman, também uma reciclagem de outro monetarismo derrotado, o de Irving Fischer,  maior economista americano dos anos 20 que a duas semanas da crise de Outubro  de 1929 disse alto e bom som que “ não havia risco algum de crise no horizonte”, crise essa que explodiu na sua cara e destruiu sua reputação e a de primeira Escola monetarista. Friedman reciclou o monetarismo de Fisher, bancado pelo Citibank, uma longa historia que narro em 900 paginas de meu ultimo livro, o monetarismo nasceu nas entranhas do Citibank, na época maior banco do mundo,  o CITI bancou a campanha e a  a revista de divulgação de Friedman e suas múltiplas conferencias que divulgaram o credo monetarista por todos os EUA, virando a tese da moda dos anos 90.
O rescaldo das politicas neoliberais e seu instrumento, a globalização financeira,  foi de um lado a concentração do capital pela permissividade de fusões e aquisições e como contrapartida o desemprego, a precarização do emprego e o rebaixamento de salários em todo o mundo, a começar pelos EUA, com a criação de uma classe media com renda estagnada ou rebaixada há 20 anos, isso gerou Trump como vingança anti-sistema,  um  sinal de revolta de uma classe media empobrecida pela destruição da indústria americana via globalização.
A resultante histórica desse quadro é o populismo politico com salvadores da pátria, em 1933 foi Hitler na Alemanha e assemelhados em outros paises.
O NEOLIBERALISMO NO BRASIL
As ideias do neoliberalismo chegaram ao Brasil, como tanta coisa ruim, através de cursos em universidades americanas. Uma geração de economistas, muitos com bolsa pagas pelo governo brasileiro, estudou  em escolas de economia nos EUA  nos anos 80 e 90 e trouxe na bagagem de volta uma fanática crença nessas cartilhas neoliberais. Muitos desses economistas formaram o núcleo da chamada “equipe do Real” de 1994 e desde então, SEM INTERRUPÇÃO, comandam a politica econômica brasileira. A base de seu comando foi a infiltração no Banco Central,  os governos petistas  nunca honraram economistas desenvolvimentistas e se amarraram nos neoliberais acreditando que assim comprariam a simpatia do mercado.
A entrega da politica econômica de forma “porteira fechada” ao comando dos neoliberais nos governos do PT fez com que de 1994 até hoje o Brasil está submetido a essas politicas mesmo depois de sua desmoralização completa nos EUA e no resto do mundo, aqui a noticia da batalha onde o neoliberalismo foi vencido, a “batalha de Nova York” de 2008, não chegou na academia, no governo e na mídia. Todos acreditam que abraçando o neoliberalismo ficam “moderninhos”. A prova é uma nova onde privatizações quando a privatização saiu de moda no mundo inteiro bem como caiu na vala das teses amaldiçoadas o “ajustismo fiscal à la grega”, condenado até pelo Fundo Monetario Internacional como simples e  má solução para um problema complexo que exige mais inteligência do que fidelidade à cartilhas.
Cerebros de primeira ordem como o Premio Nobel de Economia de 2015, o escocês Sir Angus Deaton e o presidente  da maior consultoria empresarial do mundo, Mc Kinsey & Co. o canadense Dominic Barton chamam a atenção pela queda da qualidade de vida de 70% dos habitantes dos paises ricos ,chamados de “órfãos da globalização “ e chamando a atenção pelos efeitos maléficos da globalização para a grande maioria dos habitantes do planeta.
OS CUSTOS SOCIAIS DO NEOLIBERALISMO
Chegamos nesse ponto a uma avaliação dos benefícios do neoliberalismo e de sua ferramenta operacional, a globalização  comercial e financeira. Enquanto para as corporações globais há um inegável aumento de eficiência através do processo  de integração das cadeias produtivas, seu custo social junto aquela maioria da população que não participa desses ganhos mostram o neoliberalismo global produzindo  estragos e abalos na sobrevivência de grande maioria das populações. Pergunta-se então, qual o ganho MACRO dessa politica econômica para o conjunto da população ? Ou seja, quais as consequências sociais do neoliberalismo?
De que adianta aumentar os lucros das corporações e a concentração de renda se no rastro do processo se produz mais pobreza nos que ficaram para trás? A existência de bilhões de “órfãos da globalização” explode os custos sociais que ao fim são custos macro de cada Pais e de cada sociedade  e no conjunto, do planeta. O ganho é particular mas os prejuízos são públicos.
Então para que 500 grandes corporações ganhem mais pela eficiência da globalização, 6 bilhões de pessoas ganham menos e geram no conjunto maiores gastos públicos  pelo desemprego e consequente depreciação do capital humano de um Pais por desgastes físicos e mentais, pelo desajuste nas famílias , pela perda de habilidades e conhecimentos para quem fica desempregado por muito tempo, pela pressão sobre os sistemas públicos de saúde.
pelo aumento exponencial da criminalidade, da droga, do suicídio, pelo desalento dos jovens que não conseguem o primeiro emprego mesmo após graduados em boas escolas.
A conta final é negativa para os paises que acolheram o neoliberalismo e a globalização, INCLUSIVE PARA OS EUA E REINO UNIDO, inventores do neoliberalismo global.
O processo NÃO TROUXE LUCROS ás populações na conta final. Mais brinquedos eletrônicos acompanhado de menos empregos e piora da qualidade e da renda dos empregos restantes.
Melhorou a vida dos CEOs, dos advogados de compliance,dos  banqueiros de investimento, dos gestores de fortuna, à custa da rebaixa da qualidade de vida da maioria  da população.
Logo ao fim da Segunda Guerra um operário americano ganhava o suficiente para manter uma boa casa, um carro novo, sua esposa não precisava trabalhar e seus filhos tinham expectativa de ganhar mais que os pais. Hoje o operário americano, quando tem emprego, não consegue ter e manter uma boa casa,  muitos moram em trailers, sua esposa precisa trabalhar para ajudar  a sustentar a família e a perspectiva de vida de seus filhos é pior do que a de seu pais. Quem ganhou com a globalização?
Esse DESARRANJO SOCIAL nos EUA produziu Trump, na Inglaterra o BREXIT, no resto do mundo produzirá populismos, salvacionismos e aventureirismos de vários tipos e matizes.
Não é uma ideia apenas minha, pensadores de varias culturas chegaram  mesma conclusão, Sir Angus Deaton, Dominc  Barton, Thomas Pikety e muitos outros chegaram à mesma conclusão, o neoliberalismo produz ganhos para poucos e perdas para muitos.
No entanto o Brasil, que sempre foi inovador em ideias econômicas, prefere afundar com uma politica econômica neoliberal medíocre e  derrotada do que usar a inteligência para aproveitar seus imensos recursos naturais, preferimos a velhice medíocre de uma politica econômica fracassada do que as ideias inovadoras que sempre foram um característica do Brasil.
Infelizmente há uma tendência na psique brasileira de adotar modismos acriticamente, há pouca reflexão pensante nos núcleos de poder, muitos acham que se valorizam parecendo modernos, mesmo quando o moderno por eles imaginado  jé está no arquivo e aquilo que parece moderno já é na verdade um mundo ultrapassado.
Hoje os conflitos globais de todos os tipos levam a um novo protagonismo do Estado na economia e na sociedade, só o Estado e a centralização do poder pode resolver conflitos agudos, o desemprego e o desarranjo social no Brasil é um dessas mega conflitos que exigem mais Estado atuando, não é a bolsa de valores que vai resolver o drama social.

 Do GGN

A nova pesquisa Ipsos aponta Moro no caminho de virar o político mais rejeitado do Brasil. Por Kiko Nogueira do DCM

Moro vê a si mesmo no cinema: já deu

nova pesquisa Ipsos traz um dado revelador e previsível acerca de Sergio Moro e sua nêmesis: enquanto a desaprovação do juiz sobe, a de Lula cai.

O prazo de validade de Moro expirou.

A tendência é de alta. No levantamento do mês passado, essa taxa subira nove pontos percentuais, de 28% para 37%. Agora foi para 45%. A série histórica do instituto teve início em agosto de 2015.

Segundo o Estadão, os dados foram colhidos entre os dias 1.º e 14 deste mês. Ou seja, antes e depois do depoimento de Palocci, considerado por toda a imprensa escrita, televisada e togada como a bala de prata na testa de Lula.

Fica claro o recado: o Brasil real cansou de Moro. O sucesso da caravana de Lula e sua ascensão nas sondagens eleitorais são um atestado de que a perseguição não deu o resultado esperado. O jeito vai ser um tapetão.

Mas vai ser fácil? Vai ser tranquilo como o esquilo? Suave na nave?

Ninguém suporta por tanto tempo uma operação extrajudicial que escolheu um culpado e há anos se dedica a tentar confirmar uma tese, sem trazer provas, somente convicções.

Há um desgaste da imagem. Nem Lady Gaga suporta esse excesso de exposição.

As inúmeras irregularidades envolvendo Moro e seus homens têm sido denunciadas aqui no DCM. Os rapazes da República de Curitiba se coçam em busca de um plano B.
O filme da Lava Jato é um fracasso de público. Os livros saíram das listas dos mais vendidos. A fila anda.

Deltan Dallagnol admitiu que foi procurado por partidos e não descarta uma candidatura. Carlos Fernando dos Santos Lima deve ir pelo mesmo caminho. No momento é comentarista de Facebook, afrontando diretamente o STF.

Ambos foram sondados pelo Podemos para concorrer a uma vaga no Senado.

Moro nega que pretenda disputar a presidência, mas ele já é político lato sensu. Para que arriscaria um teste frustrante na democracia se tem licença para matar em seu posto, protegido pelas instâncias superiores?

Contratado para terminar o serviço de Joaquim Barbosa, Moro encarnou o papel que lhe deram. Abusou.

Ganhou trofeu das mãos de um dos Marinhos, foi estrela de convescote da corrupta Istoé, palestrou em evento de João Doria, tirou foto com o rostinho colado no do jagunço Aécio Neves.

Não fez questão de manter o decoro e de fingir imparcialidade. Ficará como um dos protagonistas de um dos períodos mais vergonhosos da Justiça brasileira.


Seu julgamento já está sendo feito. Como eu escrevi, Moro é Gilmar amanhã. Duas figuras que saíram das sombras para os holofotes e que cada vez menos gente suporta assistir. 

Do DCM