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segunda-feira, 10 de julho de 2017

DIEESE/CUT: não há o que celebrar quando a baixa da inflação ou deflação vem de forte depressão

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), em conjunto com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), divulgou um comunicado no qual faz uma crítica à comemoração do governo pela baixa inflação.

"Não há nada para se comemorar quando a taxa baixa de inflação é resultado de uma forte depressão", diz trecho da nota, que explica que "a deflação (variação negativa dos preços) de 0,23% registrada no IPCA de junho, a primeira desde o mesmo mês de 2006, é resultado da profunda crise que o país atravessa. É uma amostra clara e robusta de como a economia brasileira está imersa num lodo no fundo do poço sem qualquer perspectiva de saída no curto prazo".

Leia a íntegra:

Deflação e crise econômica no Brasil

Não há nada para se comemorar quando a taxa baixa de inflação é resultado de uma forte depressão.

A deflação (variação negativa dos preços) de 0,23% registrada no IPCA de junho, a primeira desde o mesmo mês de 2006, é resultado da profunda crise que o país atravessa. É uma amostra clara e robusta de como a economia brasileira está imersa num lodo no fundo do poço sem qualquer perspectiva de saída no curto prazo.

Ao contrário de vários outros países, o Brasil trabalha no regime de metas de inflação a partir do "índice cheio" do IPCA, ou seja, considera a variação completa do índice, que inclui tanto preços administrados (gasolina, energia elétrica, água), como os sazonais (alimentos, passagens aéreas e despesas com educação) ou ainda os vinculados ao "mercado livre" e concorrenciais (cabeleireiro, serviços em geral) e de produtos.

Nos EUA, a taxa é um núcleo da inflação que inclui apenas os preços concorrenciais. Essa distinção é importante porque quando se considera os diferentes tipos de preços de forma separada torna-se mais efetivo o diagnóstico de inflação típica de demanda, onde uma política monetária de aumento de juros poderá ser mais eficiente a um custo menor.

Como no Brasil trabalhamos com um índice cheio dentro de um ano calendário (janeiro a dezembro), em um sistema de metas de inflação, os únicos instrumentos de política monetária são os vinculados ao combate de uma inflação de demanda, mesmo que o aumento do índice não seja vinculado a esse tipo de aumento inflacionário.

Ou seja, forma-se há um "tarifaço" (aumento de preços administrados), como ocorreu no início de 2015, ou ainda uma crise climática que eleva os preços dos alimentos, somente "sobra" para a política monetária atuar os preços livres, mesmo que estes, efetivamente não estejam promovendo o "choque inflacionário" e não sejam as fontes primárias dos aumentos de preços.

Um aumento de juros tem efeito direto na demanda interna (afetando diretamente os "preços concorrenciais") além de promover uma possível valorização do câmbio, efeito indireto que diminui o preço dos insumos importados ("populismo cambial") e auxilia a reduzir a pressão inflacionária.

A calibragem dos juros no Brasil precisa ser muito mais potente porque considera todos os preços, porque a queda de preços livres precisa compensar também a aceleração dos preços nos mercados administrados e sazonais, mesmo porque não se pode normalizar o regime de chuvas com aumento de juros. Não pode haver controle desses preços pelos juros.

Por isso, mesmo com uma recessão brutal, a lógica de manutenção da política de juros altos reais (descontado a inflação) permanece. E juros altos reais neste caso (os mais altos do mundo), além de ter efetividade questionável no combate à inflação, por outro lado gera desemprego, aumento da dívida pública e reduz o consumo e o investimento.

Deflação é deterioração econômica

No caso brasileiro, a deflação é uma combinação de elementos, todos apontando o cenário de deterioração econômica em que nos encontramos.

Senão, vejamos: Enquanto em 2015 a inflação foi mais em função dos preços administrados (energia elétrica e gasolina) e sazonais (alimentos), fatores exteriores ao mercado de "preços livres" e, portanto indicando que não se tratava de uma inflação de demanda que poderia justificar uma política monetária austera, o índice desse mês – livre das influências dos preços administrados e dos sazonais – demonstrou claramente o tamanho da crise, registrando uma deflação, ou seja, um movimento já de redução de preços dada demanda enfraquecida.

A deflação comprova a grave recessão que vivemos, mostra um completo desbalanceamento das políticas monetárias ao manter os juros reais nas alturas mesmo nesse cenário (aprofundando a recessão e o desemprego) e mostra o completo distanciamento de Temer e sua equipe econômica comandada por |Henrique Meirelles e Temer com a realidade da população brasileira.

GGN, Subseção DIEESE/CUT Nacional, 07 de junho de 2017

terça-feira, 6 de junho de 2017

Neoliberalismo, mercado financeiro e cegueira institucional, Marcio Pochmann

Foto: FLICKR CC

Neoliberalismo, mercado financeiro e cegueira institucional

Impõe-se a cada dia outro caminho a ser liderado por quem melhor compreender a convergência que se forma em torno da contrariedade ao receituário neoliberal.

A crise global de 2008 abriu uma nova perspectiva de reorganização geopolítica mundial. Até então, o receituário neoliberal predominava desde o fim do acordo de Bretton Woods, que havia fixado a regulação do mundo das finanças a partir do fim da Segunda Guerra.

Por força disso, as finanças mundiais seguiram a cartilha regulacionista entre os anos de 1945 e 1975, o que permitiu importante ênfase do Estado na defesa do crescimento econômico com inclusão social. Essa fase, então, passou a ser reconhecida como sendo a dos trinta anos gloriosos do capitalismo.

Com o esgotamento do acordo de Bretton Woods, a partir da primeira metade da década de 1970, transcorreu o reposicionamento do papel do Estado em conformidade com o retorno da centralidade dos interesses nas finanças globais. Assistiu-se, assim, o agigantamento das corporações transnacionais em detrimento do apequenamento dos Estados nacionais e da regulação das instituições multilaterais internacionais.

O resultado disso terminou sendo, em geral, o retorno das desigualdades, com perdas significativas para o mundo do trabalho, deslocamento da produção industrial do Ocidente para o Oriente, esvaziamento das classes médias assalariadas e uma significativa fragilização das políticas públicas voltadas para o crescimento econômico com inclusão social.

O questionamento à ordem neoliberal governada pelas altas finanças vem gradualmente ganhando corpo desde a crise global de 2008, uma vez que as forças motoras da globalização passaram a perder potência. Entre os anos 1980 e 2008, por exemplo, o comércio externo, que representava quase um terço do PIB mundial saltou para cerca de 50% deste, enquanto em 2016 situou-se próximo de dois quintos, ou 40%, da produção global.

O atual descenso relativo do comércio externo na produção mundial tem sido também acompanhado do esvaziamento da participação dos ativos financeiros. Em contraste, a China imprime o projeto do cinturão econômico em torno da antiga rota da seda, cujo orçamento de 26 trilhões de dólares até o ano de 2030 envolve a participação de 65 nações que respondem por quase dois terços da população mundial.

Para além desses indicadores econômicos de esvaziamento da globalização neoliberal emergem simultaneamente as insubordinações políticas de significativa relevância, como a vitória do Brexit no Reino Unido, a negação das reformas liberalizantes de Renzi na Itália, a eleição de Donald Trump, o enorme apoio à Frente Nacional na França, entre outras. De maneira geral, levantam-se cada vez mais fortes as vozes contrárias à combinação do endividamento predatório das altas finanças, o livre comércio, a austeridade fiscal, as reformas degradantes da sociedade e o avanço do trabalho precário.

Todas essas manifestações tendem a apontar para o rechaço da ordem atual do capitalismo financeiro global. No Brasil, isso não parece ser diferente, uma vez que as manifestações populares, cada vez maiores, colocam-se em oposição à “Ponte para o Futuro” do governo Temer e seus aliados neoliberais.

Neste caso, uma inegável expressão de cegueira institucional, quando a elite que domina se nega a ver a força da realidade. Tal como avestruz, procura esconder a sua cabeça do todo, imaginando superar, assim, os seus problemas.

Mas eles aumentam e impõem, mais dias, menos dias, outro caminho a ser liderado por quem melhor compreender a convergência que se forma em torno da contrariedade ao receituário neoliberal. Neste campo, a força da esquerda não se encontra só, pois também a extrema direita possui o seu leito próprio de crescimento em disputa no interior da sociedade.

Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas

Do GGN