No meu início de carreira no jornalismo econômico,
impressionava-me a operosidade que parecia vir de alguns Ministros em Brasilia
– ou Secretários em São Paulo. Paracanã questão, tinham respostas, tipo
“estamos providenciando”, “montamos um grupo de trabalho para a questão” e
coisas do gênero.
Não foi necessário muito tempo para perceber o uso do
chamado embromation.
Após a redemocratização, o embromation ampliou-se,
porque ampliaram-se os personagens políticos. Pouco a pouco fui entendendo os
truques. A mídia aborda um fato e não dá continuidade. Com um mero “estamos
tomando providência” aplaca-se a expectativa gerada pelo fato. E só depois de
muitos meses o não-cumprimento da promessa resultará em alguma matéria de pouco
destaque – a não ser que o governante seja inimigo político do jornal.
Vamos a um balanço deles nessa história da intervenção no Rio
de Janeiro.
Truque 1 – o já mencionado “grupo de
trabalho” anunciado pelo Moreira Franco, sinal de que nada foi feito até então.
O Ministro Moreira Franco diz: somos uma equipe experiente. Já trabalhamos
nisso há tempos. Provavelmente se referia ao trabalho do lado de lá. Se tem do
lado de cá, é só mostrar.
Truque 2 –
relançar medidas já existentes.
Hoje foi anunciado que o governo incumbiu o COAF (Conselho de
Controle das Atividades Financeiras) de rastrear o dinheiro do crime.
Fantástico! Quer dizer que até então ele não rastreava? O COAF foi criado
exclusivamente para rastrear dinheiro de origem desconhecida. No seu site, está
clara a missão: ˆProduzir Inteligência Financeira e promover a proteção de
setores econômicos contra a lavagem de dinheiro e o financiamento ao
terrorismo”. Daqui a pouco o governo anunciará a criação do Sisbin (Sistema
Brasileiro de Inteligência), que existe há mais de dez anos.
Truque 3 – mostrar
a parte pelo todo
O governador Paulo Hartung, do Espírito Santo, é craque
nisso. Monta poucas unidades de escolas-modelo e apresenta à opinião pública
como se fosse o todo. É por isso que, a partir dos anos 2.000 multiplicaram-se
os indicadores de desempenho. Mas a mídia não recorre a eles.
Nos próximos dias haverá uma sequencia de factoides, invasão
de favelas, de presídios, prisão de alguns lambaris, criando a sensação do
universo em movimento. Como os indicadores são matéria estranha para a mídia,
levará algum tempo para se dar conta da irrelevância desses fatos.
Aliás, pelo menos uma vantagem o prefeito de São Paulo João
Doria Junior trouxe para a cobertura. Os jogos-de-cena eram tão primários que
avacalharam com os mandamentos da embromation.
GGN