Folha, demonstra
a nova forma de desqualificação dos trabalhos da lava jato. Trata-se do pente
fino da Polícia Federal sobre as inconsistências das denúncias do MPF e das
delações premiadas.
O que
garantia a blindagem da lava jato, até agora, era o forte espírito corporativo
do Ministério Público Federal, a coesão do grupo de Curitiba e o apoio
incondicional da mídia, enquanto os alvos fossem adversários políticos.
A forte
blindagem da opinião pública, o espírito de manada, inibia todas as críticas.
As avaliações sobre a falta de experiência da banda brasiliense da lava jato,
sobre os exageros da quantidade de delatores de Curitiba, tudo isso ficava
entre quatro paredes. No máximo, eram sussurradas críticas do Ministro Teori
Zavascki sobre a inconsistência técnica de muitas das denúncias, o estilo
panfletário substituindo a apresentação escassa de provas documentais.
Não que não
houvessem provas. O problema é que se criou um vício circular. Numa ponta, o
poder e a ânsia de bater recordes por parte dos procuradores, de fazer da
operação a maior da história, a maior do planeta. De outro, a extrema
facilidade em transformar qualquer frase em manchete condenatória, por parte de
uma mídia que terceirizou a editoria de lava jato para a força tarefa. E,
através da mídia, inibiam a atuação dos tribunais superiores.
Obter mais
de cem delações de uma mesma empresa é uma bobagem ciclópica. Informações não
circulam livremente. Há um grupo restrito na cúpula que controla as informações
e as ações. E, na base, pessoas que assistem os movimentos sem ter noção
completa do todo.
Por isso
mesmo, incluí-los nas delações significa abrir uma enorme guarda para a
exploração de conflitos de interpretação pelos advogados de defesa e, agora,
pela mídia, em sua investida para esvaziar a lava jato.
O
carnaval da Folha de hoje, contra a lava jato, é em cima de um factoide
– da mesma natureza dos factoides plantados pela Lava Jato. A maneira como um
delator relatou o mesmo episódio para o MPF e para a PF é significativa para se
entender como é o jogo de indução na delação, mas, mais do que isso, como é o
jogo de interpretações pela mídia.
Objetivamente,
o delator Cláudio Mello Filho disse que procurou o senador Renan Calheiros
para apresentar pleitos da Odebrecht. Na conversa, Renan teria solicitado
contribuições para sua campanha. Não houve nenhum condicionamento explícito de
apoio às medidas em troca das contribuições de campanha.
O trecho da
delação é o seguinte:
“Em
determinado momento da conversa, ele me disse que seu filho seria candidato ao
governo de Alagoas e me pediu expressamente, que eu verificasse se a empresa
poderia contribuir. Acredito que o pedido de pagamento de campanha a seu filho
ao governo do Estado de Alagoas, justamente no momento em que se apresentavam
os aspectos técnicos relevantes, era uma contrapartida para o forte apoio dado
à renovação dos contratos de energia, inclusive publicamente, e que culminou na
edição da MP n. 677/15. Entendi, na oportunidade, que esses pagamentos, caso
não fossem realizados, poderiam vir a prejudicar a empresa de alguma forma.
(...) Soube
posteriormente que foram doados oficialmente R$ 320 mil a pretexto de campanha,
sendo R$ 200 mil para a candidatura direta e R$ 120 mil através do diretório
estadual do PMDB/AL e depois repassado para a campanha da candidatura, conforme
tabela abaixo”.
(...) Minha
ação foi de transmitir e apoiar internamente o pedido feito pelo Senador Renan
Calheiros, porque era do meu interesse atendê-lo, tendo em vista que a minha
empresa tinha agenda institucional permanente no Senado Federal”.
Ou seja,
Mello não tinha sequer o controle sobre as doações, já que tinha que
defende-las perante o Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht. Se
fosse propina – isto é, pagamento de dinheiro amarrado a uma contrapartida – o
dinheiro seria carimbado.
No
depoimento no inquérito da PF:
"Que
para o declarante a doação foi realmente uma doação eleitoral e não pagamento
de propina"; "Que Renan não condicionou a sua atuação política à
retribuição financeira da Braskem".
A rigor, não
há nenhuma contradição entre o depoimento ao MPF e à PF. A rigor, também não há
uma informação objetiva que justificasse a abertura do inquérito. Mas o PGR e o
MPF tinham suas preferências políticas e sua pretensão de bater recordes
mundiais. É esse o teor do questionamento da PF. Qual a razão para abrir o
inquérito, desperdiçando recursos e dispersando as investigações?
O MPF está
provando, agora, do veneno que criou com os jogos midiáticos. Como passou a
falar para o tribunal da mídia, está sendo condenado agora, pela PF, se valendo
do mesmo tribunal. E será assim, daqui por diante. Do mesmo modo da opinião da
delegada que defendeu a não concessão de benefícios a Sérgio Machado, por sua
delação. Pode até ter razão, mas delegada questionar delação do MPF é da mesma
natureza que procuradores de Curitiba questionarem o Ministro da Justiça.
Provam do próprio veneno.
Na fase
inicial, os jacobinos de Curitiba chegaram a denunciar delegados da PF que
apuravam a autoria das gravações clandestinas colocadas em celas da delegacia.
Os abusos não poupavam ninguém, jornalistas, delegados ou advogados, que também
tiveram seus telefones grampeados.
Por outro
lado, o excesso de protagonismo dos procuradores provocou ciumeira da
corporação da PF. E o desmonte do grupo de trabalho da PF completou a obra. Não
existem mais delegados da lava jato, mas delegados da PF investigando denúncias
apuradas pela lava jato.
Agora, todos
os abusos que serviram para derrubar Dilma, crucificar o PT e condenar Lula
serão utilizados como provas para evitar a condenação de José Serra, a prisão
de Aécio Neves e a queda de Temer.
Simples
assim.
Do GGN