No
mesmo documento, Miller admite que o interesse dos acordos da PGR era Lula:
como ponto de argumentação para que os procuradores aceitassem a colaboração,
disse que a JBS teria dados contra "Temer, Aécio, Dilma, Cunha,
Mantega", mas contra Lula "por certo ângulo"
Nas
polêmicas envolvendo a atuação do ex-procurador da República Marcello Miller,
um novo documento apreendido revela que o ex-membro do Ministério Público
Federal (MPF) e advogado do escritório que fechou a colaboração da JBS preparou
um roteiro sobre como os executivos e advogados da empresa deveriam se portar
para conseguir o acordo. A informação contraria manifestações de Janot e
levanta irregularidades.
Em
reportagem publicada em setembro deste ano, o GGN havia
adiantado alguns dos e-mails de Miller, indicando que em março, a JBS
já negociava com oa Procuradora-Geral da República. A informação não somente
mostrava possível irregularidade da atuação do ex-procurador no caso, como
também aponta a contradição e omissão de Rodrigo Janot, ex-PGR, que havia
informado que foi procurador pela JBS apenas em abril deste ano.
Marcello
Miller solicitou a exoneração do MPF em fevereiro, mês em que teria sido
convidado pela JBS a ocupar o cargo de diretor global de compliance da
companhia, no departamento anticorrupção. Decidiu permanecer no escritório
Trench, Rossi e Watanabe Advogados, e teria atuado na negociação do acordo da
JBS com o MPF antes de deixar o posto, conforme revelam as mensagens.
Ainda,
Janot havia emitido a informação de que o acordo com a JBS não seria ilegal,
explicando que foi procurado pelos irmãos Batista para a negociação somente em
abril deste ano.
Em
entrevista concedida a Roberto D'Ávila, da GloboNews, em julho, o jornalista
questionou: "Essa gravação [da conversa de Michel Temer com Joesley
Batista, no dia 7 de março] foi combinada com o Ministério Público?". E
Janot respondeu: "De jeito algum. Toda colaboração tem que ser espontânea,
tem que ser voluntária. Se o Ministério Público provoca colaboração, ele está
anulando toda a colaboração. Essas gravações foram feitas uns 30 dias antes de
que a gente começou a entabular as negociações com essas pessoas".
Agora,
um novo docuemtno reitera o que o GGN revelou em setembro: as
negociações já caminhavam em março. E-mail datado do dia 9 de março deste ano,
dois dias depois de o empresário Joesley Batista grampear o presidente da
República Michel Temer no Palácio do Jaburu, que depois se tornou um dos
principais pés de acusações contra o mandatário, Miller explica passo a passo
como a JBS deveria conduzir as negociações com a PGR.
O
texto, que teria sido enviado por Miller ao seu próprio e-mail, traz tópicos
enumerados pelo ex-procurador: "1) Perfuntar por que o MPF postulou a
prisão temporária do ex-sócio, se a empresa já se apresentou à
colaboração", é o primeiro trecho, que adianta que a JBS já havia
manifestado o interesse da colaboração antes do dia 9 de março deste ano.
Miller
havia instruído, também, que uma das estratégias da empresa para que a PGR
fechasse o acordo seria fechar internacionalmente, com as autoridades
norte-americanas, o que seria uma "alavanca".
No
e-mail, Marcello Miller também levanta os atrativos da cooperação da JBS para
os investigadores do MPF: "Estamos trazendo pela primeira vez BNDES, que
era a última caixa-preta da República". Ainda, o ex-procurador admite no
correio que o interesse do MPF era o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
apontando que a JBS teria como inferir, ainda que indiretamente, sobre Lula.
"Estamos
trazendo fundos, Temer, Aécio, Dilma, Cunha, Mantega e, por certo ângulo,
também Lula", diz o trecho do e-mail, acrescentando imediatamente depois:
"Temos elementos muito sólidos de corroboração".
GGN