Para entendermos o que está sendo jogado é
preciso dar mais de atenção ao ex-ministro Antônio Palocci.
Colocar Lula atrás das grades é uma
obsessão não só do juiz Sérgio, mas também – e prioritariamente – das
Organizações Globo. A delação fajuta do empreiteiro Leo Pinheiro, da OAS, vem
ocupando espaços preciosos nos principais telejornais do conglomerado da
família Marinho. Entre os dias 19 e 22, o PT e o ex-presidente mereceram quase
três horas na programação global.
O massacre não se limitou aos meios
eletrônicos, o jornal O Globo, na edição de sábado (dia 22), cravou em um
editorial de meia página que “Lula é o chefe” de uma organização criminosa.
As tênues evidências apresentadas pelo
delator Pinheiro foram apontadas como provas absolutas no jornalão dos
Marinhos. São: o registro de que um carro do “Instituto Lula” teria se deslocado
seis vezes, entre os anos de 2012 e 2014, ao Guarujá (cidade onde foi
construído o tal tríplex) e a agenda pessoal do empreiteiro, na qual foram
anotados encontros dele com o ex-presidente e seus familiares.
Qual a razão de tamanho massacre? Impedi-lo
de voltar nos braços do povo em 2018? Talvez, essa não seja a única razão. Para
entendermos o que está sendo jogado neste tabuleiro de delações e vazamentos é
preciso dar um pouco mais de atenção ao movimento feito pelo ex-ministro
Antônio Palocci no depoimento que prestou ao juiz Moro, no último dia 20.
No levantamento so dite Poder360, uma das
provas da perseguição das Organizações Globo a Lula está no tempo destinado no
Jornal Nacional a falar mal do ex-presidente
Sem pedir qualquer benefício da delação
premiada, ele se prontificou em fazer novas revelações de como se processaram
as contribuições de campanhas de outras empresas através do chamado “caixa 2”.
Presume-se que ele estaria pretendendo falar como o sistema financeiro costuma
se relacionar com os partidos políticos. Mas, não é só isso.
Palocci e muita gente boa que passou pelo
Ministério da Fazenda e pelo BNDES sabem como os Marinhos conduziram
negociações que os salvaram da bancarrota, no início dos anos 2000. Em 31 de
marco de 2002 o balanço divulgado pelas Organizações Globo (Globopar) acusou
uma dívida externa do grupo de 2,6 bilhões de dólares. Dos quais 2,2 bilhões em
moedas estrangeiras.
O editor Mauricio Dias, numa reportagem
publicada sobre a portentosa dívida dos Marinhos, na primeira semana de
novembro de 2002, na revista “Carta Capital” – “Vênus Endividada” -, anotou um
episódio hilário e enigmático ocorrido naquela época. O desavisado apresentador
Fausto Silva no seu programa dominical deixou escapar que a crise na Globo era
tamanha que “estamos usando papel higiênico dos dois lados”.
O Sistema Globo que sempre se posicionou
fortemente contra qualquer tipo de moratória, chegou a suspender o pagamento
das suas dívidas por 90 dias. O que gerou, na época, pressões fortíssimas por
parte de seus credores nos Estados Unidos. As agências internacionais de
classificação – como a Standard & Poor – reduziram a nota da Globo de “B”
para “CC”. Ou seja, devedor de alto risco.
Para sair do buraco e se livrar dos
tribunais norte-americanos onde foi impiedosamente processada por seus
credores, a Globo contou com o ombro amigo do governo federal – e, em especial
do BNDES – que lhe emprestou a juros de pai para filho mais de US$ 1,3 bilhão.
Operações iniciadas no mandato de Fernando Henrique Cardoso e concluídas na era
Lula.
No seu depoimento ao juiz Moro, Palocci
deixou uma frase solta que os leigos não entenderam muito bem. “Às vezes, os
governos são obrigados a ajudar empresas a se recuperarem”.
Será que o “Verdugo de Curitiba” estaria
interessado em ouvir o que Palocci teria a revelar da maneira como a sua grande
aliada – a Globo – conseguiu sair do atoleiro financeiro com préstimos
públicos?
Neste texto, não estamos nem tratando do
rumoroso caso de marotas operações contábeis praticadas, em 2009, pela Globo no
qual um débito fiscal de mais R$ 2 bilhões se transfou em créditos de R$ 300
milhões. Uma confusão tão cabeluda que registra até o desaparecimento do
processo na Receita Federal.
Impedir que um notório inimigo (já deixou
de ser adversário) chegue ao poder em 2018, parece virou um caso de vida ou
morte para a família Marinho. O popular “interesse nacional” que vá às favas!
A verdade é que a prática vergonhosa do
“lawfare” (uso da Justiça com objetivos políticos) e a manipulação escandalosa
da informação pela grande mídia não estão conseguindo, no Brasil, produzir os
efeitos desejados. Lula, para desespero geral, tem crescido nas intenções de
voto para a campanha presidencial de 2018.
O cidadão que revela que votará no
ex-presidente no ano que vem também brada pela moralização do País. Dá a impressão
de ser um contrassenso. Mas, não é. Para sorte de Lula, a formação da
opinião pública no País – e no resto do mundo – já não segue os primados do
século passado. Tanto os meios eletrônicos quanto os impressos vêm perdendo
audiência, credibilidade e robustez financeira. A Internet se encarregou de
tomar isto deles.
Os exaustivos 32 minutos diários de
ataques ao Lula no “Jornal Nacional” ou os furibundos editoriais em “O Globo”
têm conseguido repercussão entre aqueles que sempre foram contra o PT e tudo
que se declare de esquerda.
Só ampliarão sua penetração quando passarem
a fazer jornalismo de verdade. Alimentar-se sempre de vazamentos dados na boca
pelos procuradores e pelo juiz Moro não é jornalismo. Chama-se: “correia de
transmissão”.
Golpes de manchetes e editoriais raivosos
não serão suficientes para transformar Lula em réu. Monocraticamente, o juiz
Moro terá que prestar esse favor aos seus padrinhos do PSDB e da Globo. Nem que
para isso também mande às favas a imparcialidade e a verdade.
P.S: Para quem quiser ter mais detalhes
sobre as agruras globais na área financeira aqui vai o link da deliciosa
matéria publicada, em 2002, por Mauricio Dias, na Carta Capital: “Vênus
Endividada”
Do GGN, por Arnaldo César