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segunda-feira, 30 de abril de 2018

Carta à juventude, em defesa do Brasil, por Roberto Bitencourt da Silva

"Tudo é colonial na colônia. Tudo é subdesenvolvido no país subdesenvolvido" (Roland Corbisier).
“O Brasil só tem dois partidos: o de Tiradentes e o de Joaquim Silvério dos Reis” (Barbosa Lima Sobrinho).
Minhas amigas, meus amigos, me perdoem se vocês não têm idade inferior a algo em torno de 25 anos. Se desejarem acompanhar as ideias aqui expostas, muito bem, confio no interesse, no pulsar jovial de seus corações e de suas formas de enxergar a realidade brasileira.
Mas, faço a advertência de que esse texto é direcionado aos adolescentes e aos jovens adultos. Convenhamos, nós, que temos especialmente idade superior a 40 anos, fracassamos. Rotundamente. Hoje o País se depara, sobretudo, com a pior geração de líderes já produzida. A menos imaginativa e menos ciosa com os interesses nacionais e populares. A mais impotente e incapaz, em múltiplas áreas de atuação, no Brasil. A mediocridade predomina. O País está entregue, avassalado, por toda sorte de interesses mesquinhos e de personagens antinacionais.
Por isso, tomando como inspiração oportunas e sábias palavras há muito proferidas por Leonel Brizola aos jovens, somente vejo na juventude possibilidades de organização e manifestação futura de indignação com o processo de destruição e desintegração nacional, de incremento da dependência, do colonialismo e do subdesenvolvimento no País. Isso, também, por que a juventude depende, diretamente, dos rumos da Nação.
Infelizmente, o ruído, a espuma e a enganação proliferam. De modo que é completamente compreensível o estado de estupor, passividade e desalento em que se encontra o Povo Brasileiro. Ademais, uma sociedade civil invertebrada é o que prevalece em nossos dias.
A título de exemplo, o próximo dia do Trabalhador terá showmício e sorteio de produtos industrializados pela Força Sindical, “doados” por seus amos das empresas multinacionais. Terá também, pela CUT, muitas lamúrias políticas impotentes e oferta de cestas básicas para os desempregados. Só não teremos mais a CLT do remoto tempo do Dr. Getúlio Vargas, nem propostas e ações em defesa dos trabalhadores e do País. O movimento sindical, entre tantos segmentos da chamada sociedade civil organizada, está rendido e inerte.
Meninas e meninos, isso por que praticamente todos/as – na esfera político-partidária ou em entidades associativas – somente pensam em eleições, posições e boquinhas. A acomodação dá o tom do nosso tempo e mesmo aqueles/as que deveriam se organizar e agir contra o aumento da subserviência do Brasil aos interesses estrangeiros e de seus capitais, bem como contra a escravização da maioria e o fim do direito de oportunidades e expectativas de futuro para a juventude, esses e essas nada fazem. Nem querem fazer.
O sistema político-partidário e demais instituições de poder, privado e público, estão todos carcomidos, apodrecidos. São todos incapazes de ouvir e representar, minimamente que seja, os anseios e as preocupações do Povo Brasileiro. Do sistema nada se pode esperar de bom. Dito isso, quero fazer alguns apontamentos que possam servir para a sua reflexão e o seu debate. Somente vocês, jovens, podem dar o primeiro e grande passo de contestação efetiva contra a violação de direitos e a promoção da indignidade e da colonização aberta do Brasil.
1. O momento que vivemos nada tem que ver com combate à corrupção. O capitalismo, especialmente, periférico e subordinado, sem soberania consistente, é por natureza corrupto. Corrompe o interesse público e o voto por meio da grana das grandes empresas, nacionais e gringas. As leis e os governos são feitos para elas.
2. Experimentamos uma nova e grave etapa de colonização do Brasil. A ditadura civil-militar instalada em 1964 entregou a indústria para os gringos. Nos anos 1990 e depois, todos os governos estimularam, direta ou indiretamente, a maior participação do capital estrangeiro na economia nacional, controlando o setor de serviços. O golpe de 2016 teve e tem em vista entregar o que resta dos principais meios de riqueza, trabalho e produção, também para os gringos: terras, energia, infraestrutura e mais serviços públicos para o grande capital internacional.
3. Isso significa dizer o seguinte: tudo que for necessário em termos de conhecimento e trabalho mais exigente em formação, vem e virá mais ainda de fora do País. Todos os equipamentos e máquinas serão comprados, adquiridos de fora.
4. O efeito, que já se apresenta, é a desnecessidade completa da oferta de educação, principalmente pública e nos ensinos médio e superior. Para a juventude brasileira, cada vez mais, abre-se o horizonte – para os filhos dos trabalhadores marginalizados, subempregados e desempregados aumenta – da inexistência de expectativas e chances de emprego e trabalho criativo. Somente as formas de emprego mais rudimentares e, com menos direitos, são e serão oferecidas. Muitos jovens, desde o ensino fundamental, há muito se perguntam: para que estudar? Essa pergunta irá se estender por mais setores da nossa juventude.
5. Colonização significa que o País não deve ter conhecimento, cultura, tecnologia, nem destino próprio. Trata-se apenas de um objeto gerador de riquezas para fora.
6. O que domina a política, os meios de comunicação, a justiça e o empresariado brasileiro é o entreguismo. Trata-se de uma abjeta maneira de ver o Brasil, tratando o seu Povo como incapaz e incompetente para desenvolver suas próprias coisas, equipamentos, saber, produtos etc. Tudo o que é de fora é que se valoriza e se vê como competente e bom. Com isso, tem que submeter a sorte do Povo Brasileiro e os rumos e as riquezas da Nação aos interesses do capital estrangeiro. Há bastante tempo Raul Seixas deu sua contribuição para desmascarar o entreguismo, como se vê na música abaixo.
7. Todos esses grupos e personagens que hoje se dizem “patriotas” – Bolsonaros, MBLs, Vem pra Rua etc. – batem continência e defendem os interesses estrangeiros. Tudo contra o Brasil, já que são entreguistas de marca maior. Não são poucos os que chegam a ser beneficiados com dinheiro de fora, para agir contra os interesses nacionais e do Povo Brasileiro. São vendilhões da Pátria. Querem te enganar.
8. Todos os grandes partidos abertamente liberais e conservadores são entreguistas: DEM, PSDB, PMDB etc. São todos colonizados que representam os seus amos estrangeiros e, com isso, conseguem muito dinheiro para viver de modo suntuoso.
9. O PT tentou conciliar os interesses mínimos do Povo Brasileiro – não passar fome e ter emprego, em especial – com o entreguismo. Os seus governos duraram pouco e demonstraram que essa equação não dá certo. Corresponde a um partido incapaz sequer de alertar e mobilizar o Povo Brasileiro contra os inimigos da Pátria. Entregou o governo calado e pretende se acomodar ao poder vigente. Mais confunde do que auxilia na compreensão do significado terrível do golpe, deixando despreparado e inerte o Povo Brasileiro. A prisão de Lula é só mais uma demonstração da passividade do PT frente ao processo de colonização do Brasil. O ex-presidente deveria buscar asilo político, para denunciar ao mundo o que se passa na Pátria. Rendeu-se por nada.
10. PDT, PSB, PC do B, Rede etc., outros partidos chamados de centro-esquerda são mais ou menos parecidos, no essencial, com o PT.
11. Em boa medida, as pequeninas esquerdas, particularmente organizadas em partidos, sobressaindo o PSOL, não entendem o Brasil. Assim como as direitas entreguistas – grosseiras ou light – são também colonizadas. As direitas pensam com a cabeça da cultura política dos Estados Unidos. As esquerdas, em elevado grau, têm sempre um Foucault embaixo do braço. Enxergam o Brasil com os óculos da Europa. Esquecem que o País, diferentemente dos europeus, tem que lidar com um sistema duplo de dominação: as burguesias e os ricos de fora e de dentro do País.
12. As faixas burguesas internas se organizam, hoje, para retirar mais das classes médias e trabalhadoras, já que há um aumento na apropriação da riqueza nacional pelo capital internacional. Desse modo, são duas bocas parasitárias, e não uma (como entre os europeus), que o Povo Brasileiro se vê forçado a sustentar. Nesse sentido, as esquerdas partidárias, significativamente, são, como o PT e correlatos, impotentes e alienadas.
13. O capitalismo, enquanto forma de organização e distribuição da produção de bens, serviços e rendimentos, dotado de um mínimo de soberania nacional, somente pode ser mantido se existirem burguesias com alguma preocupação e interesse nacional. Na inexistência desse tipo de burguesia, só resta um capitalismo subordinado às potências estrangeiras, com o maior grau de exploração do Povo, já que as burguesias de dentro agem apenas como defensoras de interesses estrangeiros.
14. Esse é exatamente o caso do Brasil hoje. Todos os grandes empresários defendem colocar uma apertada coleira no pescoço da pequena burguesia – assalariada ou pequena proprietária de algum negócio – e dos trabalhadores, tratando-os pior do que cachorros.
15. Essas burguesias jogam contra o Brasil e atuam para a colonização pelos gringos.
16. O nacionalismo é a defesa dos interesses nacionais. Hoje o nacionalismo brasileiro só pode representar os interesses combinados da pequena burguesia e dos trabalhadores, humildes ou bem remunerados. Desse modo, o nacionalismo precisa ser articulado com o socialismo, entre outros motivos, na exata medida em que deve proteger os interesses nacionais e populares e desenvolver tecnologias e indústrias próprias (encerrando o controle que vigora nas mãos das multinacionais). Isso se o País quiser ter condições de manter e melhorar a educação, oferecer oportunidades de vida e trabalho para a maioria da população.
17. Mantendo-se o capitalismo, somente restará o aumento da colonização, da subalternidade nacional frente aos interesses estrangeiros e o desalento e a falta de esperanças para o Povo, sobretudo a juventude.
18. O Brasil deve superar uma síndrome que se assemelha a um distúrbio psiquiátrico chamado “transtorno dismórfico corporal”. Muitos, especialmente os detentores do poder econômico e político, acreditam e difundem a imagem e a ideia distorcida que somos um País medíocre, sem recursos, sem capacidade, pequeníssimos.
19. Muito pelo contrário, acreditem, somos grandes e temos muitas possibilidades. Possuímos imensas riquezas naturais, grande número de pessoas qualificadas e que querem se qualificar, portadoras de capacidade criativa e engenhosa para desenvolver a economia, conhecimentos, produtos, máquinas e equipamentos. Gigantesca capacidade de autossustentação: técnica, econômica, cultural.
20. Mas, precisamos controlar e ter o domínio sobre as nossas riquezas. Precisamos nos valorizar. Manter, aqui mesmo, os frutos do nosso trabalho e o dinheiro obtido com o consumo da nossa grande população. Para isso, temos que investir em nós mesmos e acabar com as inúmeras regalias concedidas às burguesias de dentro e de fora, que mal pagam impostos e crescem – até o gigantismo de algumas multinacionais – com o dinheiro aqui obtido e enviado para os seus países e contas secretas.
Existem muitos outros problemas que poderiam ser mencionados. O espaço não comporta e já me estendi demais. Peço apenas reflexão e ousadia para organizarem-se e mobilizarem-se. Sem a juventude de vocês e já com certas preocupações tipicamente pequeno burguesas da idade e da vida profissional, mesmo assim, cerraria fileira, como tantos outros mais velhos e com muito prazer, em suas potencias e necessárias ações patrióticas. O futuro de vocês depende dos rumos do País. Mas, o Brasil precisa, e muito, de vocês.
Roberto Bitencourt da Silva – é historiador e cientista político. 
Do GGN