À medida em que se aproxima o final do 1º turno das eleições,
é natural a radicalização entre seguidores dos dois candidatos favoritos ao
posto de guerreiro da civilização contra a ameaça Bolsonaro.
Mas seria importante que as cabeças mais esclarecidas, de
lado a lado, impeçam a radicalização e a demonização do adversário de agora,
que poderá ser o aliado de amanhã.
Haddad e Ciro representam o lado mais racional e criativo das
políticas públicas, e estão do mesmo lado. Tem ideias claras sobre os diversos
temas. E estilos diferentes de implementação.
Qualquer que seja eleito, se terá a garantia de interrupção
do processo de desmonte da economia e das grandes negociatas administradas por
Eliseu Padilha, Moreira Franco e Michel Temer.
Ambos buscarão um pacto de governabilidade, mas, aí, com
estilos diferentes.
Há um diagnóstico claro sobre os problemas enfrentados pela
democracia no país.
O mais grave deles é o fato de as instituições estarem
completamente fora de lugar, com procuradores e juízes atuando politicamente,
militares dando pitacos em política, o Supremo exposto a Ministros
oportunistas, que cavalgam as ondas do caos institucional. E, coroando tudo,
uma crise econômica gigantesca.
Seja quem for o eleito, enfrentará o maior desafio político
desde a eleição de Tancredo Neves.
Na largada, Ciro Gomes traz a vantagem de não estar
estigmatizado pelo antipetismo que, hoje em dia, move os poderes e a mídia.
Assumiria o poder com toda a energia, inibindo a atuação dos inimigos da
democracia.
No entanto, o jogo é insidioso e não é corrida de cem metros:
é maratona que exigirá anos para a consolidação do poder democrático. O pico do
poder e da popularidade de um presidente é no primeiro dia de mandato. Depois,
há uma corrosão, no caso brasileiro acentuada crise e pelo papel deletério das
Organizações Globo – que, definitivamente, entraram em um jogo sem saída.
Aqui, um parêntesis.
Haverá material de sobra para os historiadores do futuro, de
como a falta de consciência sobre seu próprio poderio transformou a Globo em
uma excrescência: um poder de Estado, sem ser Estado. Nessa escalada suicida,
só haverá dois desfechos possíveis para esse jogo. Ou ela se torna poder
definitivo, mudando a sede do governo para o Projac, ou será definitivamente
enquadrada pelo poder político, assim que houver uma reorganização. Não haverá
outra saída possível.
Como não há precedentes da história de um grupo de mídia
assumindo o controle de um país, pode-se supor que seus dirigentes foram
tomados pelo mais perigoso dos porres: a miragem da onipotência que,
aliás, parece ter atingido todo seu corpo de jornalistas. (clique aqui).
Se Ciro entusiasma na partida, há dúvidas sobre a estratégia
de chegada. O enfrentamento, de peito aberto, de uma relação imensa de
adversários – do poder político (PMDB/PSDB), partido da Justiça, poder militar
e, por tabela, a mídia – lança dúvidas sobre os resultados do jogo no médio
prazo. Seja qual for o resultado, se manterá o país conflagrado.
No caso de Haddad, o jogo é outro. Terá dificuldades na
partida, devido ao antipetismo radical. Mas toda sua estratégia será em direção
a uma grande coalisão que reponha o primado do poder político e permita a
reconstrução gradativa das instituições. Para tanto, Haddad terá que contar com
a assessoria dos quadros petistas mais experientes, como Jacques Wagner, Sérgio
Gabrielle, Ricardo Berzoini, todos orientados por Lula.
Não há condições, a priori, de definir qual estratégia é mais
viável. No primeiro dia de governo Haddad, o Partido do Judiciário reabrirá a
caçada aos quadros dirigentes petistas. E não há como avaliar, agora, quais as
concessões que serão necessárias para a consolidação do poder do Executivo.
Com Ciro, o jogo de desgaste será a médio prazo com a receita
de praxe: escandalização de qualquer problema administrativo, superexposição de
qualquer deslize verbal. Um de seus trunfos é o discurso anticorrupção. Como
será trabalhado pela mídia, quando confrontado com outro discurso seu, o de
impor limites aos abusos da Lava Jato e do Judiciário? E quando PSDB, PMDB e
centrão se unirem no Congresso contra ele?
De tudo o que foi exposto, só há uma certeza: ambos, Ciro e
Haddad, fazem parte do mesmo campo. E não podem deixar que o fragor dos últimos
dias de campanha inviabilize uma futura aliança.
GGN