Ao
contrário dos contos de Cortazar, não será possível manter indefinidamente na
sala o cadáver de um presidente pesadamente envolto com milícias.
Peça 1 – o governo
Bolsonaro
Como
tenho exposto aqui, as circunstâncias políticas atuais, de um presidente da
República pesadamente envolvido com organizações criminosas, traz um grau de
imprevisibilidade extrema. Ao contrário dos contos de Cortazar, não será
possível manter indefinidamente na sala o cadáver de um presidente pesadamente
envolto com milícias.
Além
disso, o governo Bolsonaro se enredou em uma armadilha econômica ao conferir o
poder absoluto da economia a um economista, Paulo Guedes, sem experiência nem
conhecimento para tirar o país do atoleiro em que se meteu.
Os
resultados do PIB do 1o trimestre, divulgados hoje, são fruto direto da
inoperância cia de Guedes, que não conseguiu sequer, aproveitar o bônus que
sempre acompanha os primeiros meses de uma novo governo.
É
incapaz de pensar qualquer ação coordenada, no super-ministério que recebeu
para comandar. Escondeu-se atrás da bandeira única da reforma da Previdência,
como se fosse questão de vida ou de morte. Não tem sequer uma estratégia
adequada para escapar da armadilha da Lei do Teto.
A
reforma da Previdência não vai acrescentar um centavo a mais na arrecadação. No
máximo reduzirá os encargos futuros. Mas o governo continuará à míngua,
contando apenas com a queima de estatais para se manter.Mesmo assim, há
analistas que enxergam a possibilidade de Jair Bolsonaro ir até o fim de seu
governo. E se ter eleições livres em 2022.
As
apostas residem no papel que o Congresso tem assumido, de moderador dos abusos
de Bolsonaro. As reformas sairão a conta-gotas com descontos variáveis.
Pelo
sim, pelo não, as estratégias estão sendo montadas.
Peça 2 – os grupos
políticos
Em
princípio, há quatro grupos que entrarão no jogo em 2022
Grupo
progressista- É o mais forte e o mais articulado. Junta PT, PDT, PSB, PSOL,
PCdoB, governadores nordestinos, de Rui Costa e Flávio Dino a Renan Filho em
Alagoas, entre outros. É a aliança que caminha melhor, sujeita a alguns
tropeços na intemperança de Ciro Gomes. Mas há maturidade suficiente do grupo
para minimizar seus arroubos em nome da unidade.
Os
autênticos do PMDB e PSDB- o grupo de centro-esquerda que preservou as raízes
históricas dos respectivos partidos e que hoje estão sendo expulso do PSDB por
João Doria Jr e o PMDB pelo desmanche. Entram aí quadros históricos do PSDB,
expoentes do velho PMDB, como o ex-senador Roberto Requiao e outros. Mas é um
grupo desarticulado, sem uma liderança unificadora, depois que Marina Silva e
Ciro Gomes aparentemente perderam o poder aglutinador. E João Dória Jr não os
atrai.
Os
liberais- entram aí os liberais clássicos, mais os anarquistas de mercado, como
o Novo, MBL e outros. Não tem ainda muita expressão nem no Congresso nem nas
ruas. E, por vezes, aceitam as estultices bolsonarianas em nome das bandeiras
liberalizantes.
Lideranças-
individualmente, só existem Lula e Bolsonaro, com perto de 20% dos votos e com
poder de mobilização. As manifestações de domingo passado demonstraram que
efetivamente Bolsonaro empoderou politicamente seus eleitores, abrindo campo
para um segmento selvagem, que deixou de ser civilizado pelos partidos
tradicionais e pelos movimentos sociais.
Peça 3 – juntando forças
para 2022
Se
Bolsonaro chegar inteiro até 2022, haverá a seguinte distribuição política.
O
grupo mais liberal em tese teria dois cavalos para encilhar: Joao Dória Jr ou
Luciano Huk. Dória definitivamente aposta na estratégia de bolsonarismo, apresentando-se
como um bolsominion tão truculento quanto o original, mas que sabe comer com
garfo e faca.
Será
insuficiente. Não atrairá a direita civilizada, nem com a malta, que se
identifica com o estilo coçando-o-saco-em-público de seu guru.
Daí
a aposta maior em Luciano Huk. A avaliação de Fernando Henrique Cardoso é que,
no quadro atual de redes sociais, a única alternativa é o personagem
carismático, cinzelado no campo da mídia e das redes sociais. O clube dos
bilionários trouxe paulo Hartung para ser o conselheiro de Huk e trabalha para
prepará-lo para a arena de 2022.
Do
lado progressista, o que se vislumbra é uma disputa entre o bolsonarismo e o
lulismo. As alianças do 2o turno é que decidirão o jogo. Daí, a importância de
buscar uma aproximação gradativa com o chamado centro democrático.
Mas
há o fator Lula.
Peça 4 – o lulismo x
antilulismo
Aí
se entra na armadilha montada pela mídia contra o país: a estigmatização de
Lula. Em qualquer democracia europeia, uma figura como Lula seria preservada
por todos os lados, por se tratar de um ativo nacional, do político capaz de
ser o coordenador ou o interlocutor dos grandes pactos nacionais.
Em
uma democracia selvagem como a brasileira, esse ativo foi jogado fora, deixando
o próprio Lula prisioneiro dessa armadilha. Ele ficou grande demais para
participar do jogo, por falta de um interlocutor de sua dimensão política. E a
correlação de forças atual o mantém como prisioneiro político. Mais que isso, o
antilulismo como único elemento de agregação das forças do golpe.
Compreensivelmente,
Lula luta para voltar ao jogo. Mas insiste em uma aposta perigosa, de atrasar
sua própria sucessão.
E
aí entra-se em um dilema moral, entre o direito de Lula de voltar ao jogo, o
único político brasileiro com dimensão internacional, cuja prisão política é a
mancha maior no atual estágio da democracia brasileira, e o realismo de, sem
sair do jogo, recolher-se à posição de estrategista.
Daqui
até 2022 essa aliança será cada vez mais relevante para redução de danos do
país.
GGN