quarta-feira, 31 de março de 2021

ATOS GOPLISTAS SÃO A PROVA DE QUE 2021 NÃO É 64, POR FERNANDO BRITO

Em várias cidades do país, minguados grupos de fanáticos foram à rua comemorar o 31 de março e dar apoio ao atropelo de Jair Bolsonaro sobre as Forças Armadas.

São, como dizia o primeiro ditador, Castello Branco, as “vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar”.

Claro que, pela histeria fundamentalista e pela insignificância numérica, só uma finalidade: a de demonstrar aos militares – e a toda a sociedade – de que a memória de 1964 e o desejo de um regime de força podem ser chamados de qualquer coisa, menos de vontade da Nação.

Invocá-la para dar apoio a uma aventura golpista de Jair Bolsonaro é mais absurdo que, como fez o agora Ministro Walter Braga Netto, dizer que o golpe de 1964 veio “pacificar o País”.

Não há base social para um golpe de essência militar – ainda que chefiado por Bolsonaro – e não há condições para uma quartelada de oficiais e, também, não há sinal de viabilidade de um levante da média-baixa oficialidade, de inspiração bolsonarista.

Bolsonaro, aparentemente, só colheu prejuízos com o ato de força que praticou sobre as Forças Armadas.

A foto com os novos comandantes, meramente protocolar, é a formalidade que comprova a artificialidade destas escolhas, ao menos para a vontade presidencial.

Não teve condições de fugir da solução tradicional da ordem antiguidade dos oficiais generais (excetuando apenas os que cairão na idade limite de passagem para a reserva) e, sobretudo no Exército, colocar no comando um general que lhe fosse mais simpático.

A correria com que se deu posse aos novos comandantes é uma antevisão do que os novos comandantes deverão fazer: submergir.

O que não quer dizer a cessação dos perigos, mas deixa as tensões mais entre os comandos e Bolsonaro mais que entre os militares e as instituições.

Tijolaço.

terça-feira, 30 de março de 2021

“COISA DE BANDIDO” ESPALHAR QUE GOVERNADORES ESTÃO ESCONDENDO VACINA, DIZ FLÁVIO DINO

Segundo governador do Maranhão, criminosos espalharam que governadores estão escondendo vacinas, omitindo que vacinação é executada por municípios.

Flávio Dino (Foto: Agência Secap/MA).

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), criticou nesta terça-feira (30), em suas redes sociais, a disseminação de notícias falsas sobre o trabalho dos governadores para combater a pandemia do novo coronavírus. Ontem, Dino e outros 15 governadores assinaram uma carta em que pediam o fim das mentiras e das agressões aos chefes do Executivo nos estados.

Hoje, o governador alertou para mais uma notícia falsa que vem circulando. “Criminosos espalharam que governadores receberam trilhões de reais e não gastaram no combate à pandemia, o que é mentira. E estão agora espalhando que governadores estão escondendo vacinas, omitindo que a vacinação é executada pelos municípios. Fake news é coisa de bandido”, comentou.

Dino também criticou quem alimenta um clima de guerra contra os governantes estaduais. “A quem interessa um clima de guerra permanente contra os governadores? Aos que gostariam de ‘demitir’ governadores, como se fossem seus auxiliares. Como não é possível, ameaçam, usam fake news, agridem. E tentam engajar corporações militares e policiais nessa guerra delirante”, concluiu, fazendo referência ao episódio ocorrido nesta segunda em Salvador (BA).

Ontem, políticos bolsonaristas usaram a morte de um policial militar que teve um episódio de surto psiquiátrico para pedir desobediência às medidas sanitárias de combate à pandemia. O cabo da PM Wesley Goés foi abatido porque começou a atirar contra os colegas. No entanto, políticos compartilharam áudios e vídeos em que retratavam a atitude de Wesley como um “ato heróico”.

Entre os que compartilharam o conteúdo estava a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Após a repercussão negativa, a deputada apagou o post.

Vermelho.

OS MOVIMENTOS DE BOLSONARO PARA RADICALIZAR A POLÍTICA, POR LUIS NASSIF

De qualquer modo, haverá fogos de artifício no dia 31 de março, com Bolsonaro radicalizando uma vez mais o seu discurso.

Os principais episódios de tomada de poder pela ultradireita, no século 20, mostram uma lógica repetitiva.

1. O candidato a ditador explora grupos de seguidores alucinados, criando o movimento que o leva ao poder.

2. No momento seguinte, institucionaliza-se, com alianças com o poder econômico e a cooptação das Forças Armadas, e deixa os primeiros seguidores ao léo.

3. Em alguns casos – como no episódio da noite dos longos punhais, no regime nazista – o ditador simplesmente elimina as lideranças dos primeiros movimentos.

O desgaste de Bolsonaro em manter um personagem claramente estúpido, como Ernesto Araújo, comprova que não conseguiu sair da primeira fase dos ensaios autoritários, de dependência dos seus primatas. Ou seja, caminha para 2022 contando exclusivamente com o apoio de grupos terraplanistas.

Este é o ponto central, antes de entrar na análise das mudanças ministeriais de ontem.

Elas têm uma lógica exclusivamente defensiva. Enfraquecido pelo fracasso na luta contra o Covid-19, Bolsonaro atua em duas frentes sensíveis, a frente política e a frente armada.

Na frente política, para impedir qualquer tentativa de impeachment no Congresso, fortalece o Centrão, trazendo para o centro do governo uma deputada federal do grupo.

Em relação à frente armada, coloca um Policial Federal à frente do Ministério da Justiça e demite o Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. O alvo final parece ser o comandante do Exército, general Edson Pujol que sempre obstou as tentativas golpistas de Bolsonaro.

Em maio passado, Bolsonaro claramente ensaiou um golpe, estimulando as manifestações contra o Supremo Tribunal Federal em frente à sede do Exército. Não prosperou devido à posição firmemente legalista de Pujol.

Logo, se conclui que, com as mudanças nas Forças Armadas, Bolsonaro ambiciona um Estado Maior que convalide suas intenções golpistas. Se conseguirá a adesão ou não, são outros quinhentos.

A LÓGICA DAS FORÇAS ARMADAS

Nas movimentações de ontem, fica claro que Bolsonaro não conseguiu ampliar o círculo de militares para além do seu restrito círculo de oficiais da reserva. Houve apenas um remanejamento de cadeiras.

Além disso, encontrará dificuldades para indicar Ministros militares submissos a ele. Há regras tácitas de promoção das Forças Armadas, que não poderão ser atropeladas com a mesma facilidade com que o governo desrespeita listas tríplices de Universidades federais.

Mesmo assim, há outros fatores em jogo:

* a resistência dos militares contra Lula.

* o fato dos militares terem provado do fruto proibido, a interferência no setor civil, inaugurada pelo deplorável interregno de Michel Temer.

* a simpatia por Sérgio Moro e a Lava Jato.

* a constatação de que a ligação com Bolsonaro é veneno na imagem das FFAAs.

Por enquanto, não parece haver massa crítica para qualquer tipo de interferência maior. Mas há um cadinho levado ao fogo brando, de montagem gradativa de um discurso de legitimação dos militares no setor civil. Depois que Temer deixou sair da garrafa o militarismo, jogou um problemaço para a frente.

De qualquer modo, Bolsonaro não aparenta ter conseguido apoio crítico das FFAAs para aventuras maiores.

De qualquer modo, haverá fogos de artifício no dia 31 de março, com Bolsonaro radicalizando uma vez mais o seu discurso. E continua esquentando em fogo branco dois instrumentos bolsonaristas: o estímulo às rebeliões das policiais militares estaduais e a insuflação de suas milícias armadas, os clubes de tiro e caça.

Ontem, 16 governadores divulgaram carta endereçada a Bolsonaro e aos presidentes da Câmara e do Senado, condenando a tentativa de autoridades bolsonaristas de manipular agentes de segurança dos estados.

Some-se às ameaças sofridas pelo governador paulista João Dória Jr para se ter um ensaio da radicalização das próximas semanas.

GGN.

BOLSONARO E O EXÉRCITO PARA CHAMAR DE SEU, POR FERNANDO BRITO

Perdoem-me pela crueza os arrependidos, os que “não sabiam” que Jair Bolsonaro é um fascista, um autoritário e alguém que cuida do poder como de uma empresa familiar, se há algo que não se pode dizer do atual ocupante do Planalto é que ele deixa bem claro o que é e o que quer.

Pouca gente deu a devida importância quando, dias atrás, falando às suas falanges de fanáticos, referiu-se a “seu” Exército.

Pois é esta ideia de instrumento pessoal de poder que Bolsonaro tem das Forças Armadas, não a de serem “instituições de Estado”, como frisou ontem em seu “bilhete de despedida” o agora ex-ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva.

Igor Gielow, repórter da Folha com amplo convívio com os militares, diz que os comandantes do Exército, Marinha e da Aeronáutica já “colocaram seus cargos à disposição” do general Braga Netto, um militar cuja carreira “disparou” quando foi escolhido por Sérgio Etchegoyen, chefe do GSI de Michel Temer e pelo comandante do Exército, então, Eduardo Villas-Bôas.

Diz Igor que Braga Netto estaria disposto a manter, ao menos provisoriamente, os comandantes da Marinha e da Aeronáutica, deixando alfange apenas para o comandante do Exército, general Edson Pujol, que está em desgraça com Bolsonaro por, exatamente, recusar que o Exército funcione como a mão armada do Presidente da República.

Braga Netto, é claro, conhece estes planos. E, das duas uma: ou concorda com eles ou, esperto, quer surfar nos desejos do capitão para completar, como Ministro da Defesa, a sua meteórica ascensão no poder.

Não está assumindo – e isso é claro – para manter a (curta) distância que Azevedo e Pujol, a duras penas e dolorosas concessões, tentaram manter dos planos de uso das Forças Armadas como o “Exército de Bolsonaro”, com o evidente propósito de fazê-lo ferramenta para evitar as medidas sanitárias que os já quase 320 mil mortos exigem do país.

É possível que muitos oficiais das nossas Forças Armadas não percebam, mas está em curso – e faz tempo – a associação dos militares ao genocídio em curso no país. Muitos, mas não todos, até porque são pessoas capazes de imaginar o que sobre isso se escreverá nas páginas da História.

Porque o exército, imenso, enorme, apavorante que tem este país são as centenas de milhares de brasileiros e brasileiras que caíram e estão caindo diante dos que juraram defendê-los e que não têm a coragem de dizer que se recusam a participar disso.

Tijolaço.

OS MILITARES PROVAM DE SEU PRÓPRIO VENENO COM BOLSONARO, POR FERNANDO BRITO

O domingo terminou com um PM louco atirando de fuzil contra os seus, em Salvador.

A segunda terminou com um psicótico atirando contra os seus, em Brasília.

Seja qual for – ficar ou sair – a decisão dos chefes militares de direito – os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica – eles terão perdido a batalha.

O general Braga Neto assume o ministério da Defesa com ordem expressas – e aceitas – para esmagá-los.

As Forças Armadas não podem mais ter uma coluna dorsal ou comportamentos próprios, institucionais.

As forças militares de Jair Bolsonaro são, como ele próprio é, de baixo escalão: polícias militares e unidades militares dominadas pelo radicalismo (e não são poucas) dispostas a moverem-se à voz de comando do chefe supremo.

Agora ganhou o controle total da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança, além do de quase todas as polícias militares dos Estados, das quais tem indubitável lealdade.

Pode até ter razão o general dissidente Santos Cruz, ao dizer à Piauí, que “não se imagine que se possa lançar as Forças Armadas em uma aventura (golpista)”.

Basta paralisá-las, coloca-las sob comando omisso, deixa-las serem arrastadas pelo golpe de fato.

Jair Bolsonaro estourou os miolos do comando ativo das Forças Armadas ao acabar com a lealdade na cadeia de comando.

Quem quiser, nas Armas, agora, formar ao lado de seus comandantes está “no desvio” e receberá, como dizem os gaúchos, a “marca na paleta”. Pior, terá de silenciar ante seus oficiais subalternos, que encaram o ex-capitão como modelo de militar.

O delírio em que se meteram nossos militares, ao desejarem empalmar o poder político e administrativo trouxe-lhes o desastre em que estão metidos por conta de absorverem a perfídia, a traição, a deslealdade que há na política, mas com a atenuante de que são desarmadas.

De alguma forma, acharam que era um dos seus um psicopata capaz de, na sua sede de poder, abrir fogo contra eles, como o alucinado de Salvador.

Tijolaço.

domingo, 28 de março de 2021

‘A CONTA DO DESASTRE BOLSONARO JÁ CHEGOU PARA A ELITE’, DIZ PAULO NOGUEIRA

“Não chegou da mesma maneira que chegou para o pobre, óbvio, porque as elites têm condições de se proteger mais. Mas todo mundo está correndo risco agora”, afirmou à TV 247 o economista em meio ao caos que vive o Brasil por conta da pandemia. Ele também comentou a provocação feita por Lula ao G20. Leia e assista.

Jair Bolsonaro e Paulo Nogueira Batista Jr (Foto: Reuters | Brasil247).

O economista Paulo Nogueira Batista Jr., ex-vice-presidente do Banco dos BRICS, afirmou à TV 247 que as elites brasileiras já estão pagando o preço por terem apoiado a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018.

Com o desastre bolsonarista na condução da pandemia de Covid-19, mesmo os mais ricos não têm garantias de que conseguirão tratamento médico adequado caso contraiam a doença. A conta da eleição de Bolsonaro às elites, segundo o economista, “não chegou da mesma maneira que chegou para o pobre, óbvio, porque a classe média brasileira, as elites têm condições de se proteger mais. Mas todo mundo está correndo risco agora. Os hospitais da elite também estão com UTIs lotadas, falta de material, falta de pessoal, falta de insumos essenciais”. Ele também destacou o fracasso da política econômica de Bolsonaro, mais um fator que já faz a classe média se arrepender.

Para Paulo Nogueira Batista Jr., a elite achou que poderia controlar Bolsonaro após sua chegada ao Palácio do Planalto, assim como a direita alemã acreditou no passado que poderia controlar Adolf Hitler. “O pessoal da ‘escolha difícil’ achou que apoiando o Bolsonaro, evitaria o PT, e que acabaria conseguindo controlá-lo, algo muito semelhante ao que aconteceu na Alemanha em 1933, quando a direita tradicional apoiou a formação de um governo com Hitler na frente na expectativa de que conseguiria controlar aquele sujeito. O Bolsonaro se mostra incontrolável. Ele não permitiu o surgimento de nenhum superministro. O Bolsonaro é incontrolável. Eu não tenho a menor expectativa de que a gente possa enfrentar os problemas do país com esse sujeito na presidência. Quando é que a direita tradicional brasileira, essa que se autointitula ‘centro’, vai compreender isso? Vai compreender que o preço que eles vão pagar, também, mas sobretudo o povo mais pobre, a população em geral, é alto demais?”.

Lula e a convocação do G20

Paulo Nogueira Batista Jr. comentou ainda a provocação feita pelo ex-presidente Lula em entrevista à CNN norte-americana e depois ao jornal francês Le Monde aos presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, da França, Emmanuel Macron, e da Rússia, Vladimir Putin, para a convocação de uma reunião do G20 para acelerar a vacinação contra Covid-19 da população global.

Segundo o economista, Lula sabe da importância que o grupo teve na articulação da crise internacional de 2008 e tem consciência de que uma nova cooperação entre os países pode mitigar os efeitos da pandemia. “Essa sugestão do Lula foi muito interessante. Veja a sagacidade dele: falando com a CNN dos Estados Unidos, ele se dirigiu ao presidente Biden e disse a ele que está na hora de convocar uma reunião extraordinária do G20 para tratar exclusivamente do tema da vacinação, reconhecendo que esse problema da pandemia é um problema que transcende as fronteiras nacionais e exige a cooperação internacional. Poucos dias depois ele foi entrevistado pelo Le Monde e se dirigiu ao Macron também fazendo a mesma sugestão”.

“O Lula tem a memória do que foi o G20 na crise anterior, na grande crise internacional anterior a essa, de 2008 e 2009. Nesse contexto, o Lula teve um papel muito importante na transformação do G20, que já existia, em um foro presidencial, de líderes. Ele tinha uma relação boa com o George W. Bush, que era o presidente norte-americano naquele momento, e em diálogo com o Bush conseguiu que ele encampasse essa ideia de transformar o G20 em um foro de líderes, em substituição ao G7. Agora estamos enfrentando a segunda grande crise, e o G20 não tem tido papel visível. Então o Lula pensou: ‘por que o G20, que foi tão importante na crise anterior, não pode agora, em uma crise muito mais grave, atuar de maneira coordenada?’”, completou. Vídeo a seguir:

247.

sábado, 27 de março de 2021

NO RITMO ATUAL, 400 MIL MORTES CHEGAM NO FIM DE ABRIL, POR FERNANDO BRITO

Não é “alarmismo”. É só aritmética e encarar os fatos sem a tentação da “esperança imotivada” que a todos nos faz “torcer” por soluções espontâneas.

Tivemos mais 3.500 mortes de ontem para hoje, o que levou a média semanal para 2.543 por dia.

Ainda que não suba mais – e vai subir, ao menos nos próximos dias – basta “manter isso aí” e teremos 397 mil mortes no último dia de abril.

400 mil mortes, portanto.

Se é alarmismo, alarmista em boa companhia, a do médico Dráuzio Varella, que escreve na Folha:

Os médicos, os sanitaristas e os epidemiologistas que alertavam para as dimensões da tragédia em gestação eram considerados alarmistas e defensores de interesses políticos escusos.
Deu no que deu: 300 mil mortos, hospitais com UTIs sem leitos para oferecer aos doentes graves, milhares de pacientes morrendo à espera de uma vaga.
O que acontecerá nas próximas semanas? Chegaremos a 400 mil mortes?

Sim, chegaremos.

É por isso que o moderadíssimo médico, não hesita em dizer que é “deprimente ver os malabarismos circenses do novo ministro da Saúde, ao justificar que ficava a critério da liberdade milenar do médico prescrever o tratamento precoce com drogas inúteis.

Como assim, ministro? Enquanto a medicina foi praticada como o senhor defende, os colegas que me antecederam receitavam sangrias e sanguessugas. Finalmente, sob pressão, o presidente convocou os três Poderes para um convescote político, com o pretexto de criar um comitê para gerir a crise sanitária. Incrível, não? Imaginar que uma equipe comandada por ele será capaz de nos tirar dessa situação é acreditar que mulher casada com padre vira mula sem cabeça.

Os “lockferiados” adotados por quem não tem coragem de adotar “lockdown” estão mostrando seus resultado nos engarrafamentos-monstro em busca das cidades de veraneio.

Dráuzio Varela diz que “só podemos contar com nós mesmos” diante de uma pandemia que “saiu de controle”.

Desculpe, doutor, mas não foi a pandemia que saiu de controle, foi o negacionismo e o individualismo que há anos é incutido mas pessoas que levaram à perda de controle da pandemia.

Somos um país prostrado, onde são poucos – e malditos – os líderes que têm coragem de dizer que devemos nos proteger do bombardeio, para vencer uma batalha.

Tijolaço.

 

sexta-feira, 26 de março de 2021

O GOVERNO ESTÁ NAS CORDAS, MAS DIREITA (AINDA) NÃO TEM ALTERNATIVA, POR FERNANDO BRITO

Jair Bolsonaro está no corner, encostado nas cordas e, pela primeira vez desde que tomou posse, tendo de aguentar apanhar sem devolver com mais forças os golpes.

A questão é que quem o encurrala não é a oposição de esquerda, mas a direita não-bolsonarista e o grupo do Centrão do qual o próprio Bolsonaro achou que se adonara ao patrocinar a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado.

O primeiro quer tomar as rédeas da orientação político-econômica do governo. O segundo, quer devorar a própria máquina do governo.

Bolsonaro, ao menos temporariamente, perdeu seu pé de apoio nos militares (o grupo palaciano de generais enfraqueceu-se) e na maioria conservadora do Congresso, que não está disposta a acompanha-lo no desastre do (não)debate à pandemia.

Mas nenhum dos dois, ao menos até agora, tem alternativa a Bolsonaro no processo eleitoral.

Sua opção mais viável, Sergio Moro, já vinha avariada há tempos e, com a declaração de suspeição, parece ter sido torpedeada abaixo da linha d’água. João Dória, mesmo com a bela atuação que teve no caso da vacina chinesa (que responde por 85% da pouca vacinação que temos) carrega a maldição do “Bolsodória” e não se viabilizou nacionalmente e nem mesmo no PSDB. Mandetta sequer regionalmente se destaca. Huck é a mais velha novidade da política e está na pista há quatro anos sem decolar. E Ciro…bem, Ciro está se “marinando” e virando apenas uma alternativa de solução partidária que Carlos Lupi, hábil como ele só na sobrevivência política, conduz com inteligência.

E como não têm um nome alternativo, também são prisioneiros do impasse tal como Bolsonaro. Podem acerta-lo apenas com “jabs”, miná-lo, enfraquecê-lo, mas não derrubá-lo.

Ernesto Araújo, o pazuélico chanceler é o alvo da vez. Bolsoná-lo evita entregá-lo, para sustentar suas falanges, mas pode vir a fazê-lo se isso não representar dobrar o joelho. Por isso, já se especula a indicação do Almirante Flávio Rocha para o posto de chanceler. O Centrão derruba, mas a ala militar leva.

Ainda é cedo para dizer se, apesar de seu núcleo importante de apoio nas falanges idiotizadas, Jair Bolsonaro aguentará a sessão de pancadas. Diria que sim, com os elementos que se tem agora, mas governo, quando entre em colapso, vira caixa de surpresas.

E tomara que a genial charge do admirado Aroeira, cheia de significado, não se torne realidade, nem para Putsch da Cervejaria na Baviera ou, mais improvável, para a instituição do Reich.

Ali, também, a direita não tinha alternativa.

Tijolaço.

ROMPE BARRAGEM NA MAIOR RESERVA DE OURO DO PAÍS E FECHA ENTRADA DE GODOFREDO VIANA NO MARANHÃO

Principal acesso ao município de Godofredo Viana está interditado por conta da lama derramada.

Imagem publicada por moradores na internet neste dia 25 mostra rio Tromaí atingido por resíduos da barragem - Foto: Reprodução.

De acordo com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), uma das barragens da comunidade de Aurizona, em Godofredo Viana, no extremo oeste do Maranhão, a 338 quilômetros de São Luis, rompeu, na manhã desta quinta-feira (25). Os rejeitos teriam contaminado o rio Tromaí.

A operação, de responsabilidade da mineradora Aurizona, pertence ao grupo privado canadense Equinox Gold. Trata-se da maior reserva mineral de ouro do Brasil e uma das principais do mundo.

::Não ficaria surpreso com outro desastre em barragens no Brasil, diz ex-relator da ONU::

Em nota, a companhia canadense não confirmou o rompimento. “Não houve qualquer impacto sobre a sua estrutura operacional como barragens e outras instalações, que estão intactas e operando normalmente. Ou seja, não houve qualquer alteração na segurança e estabilidade das estruturas operacionais, principalmente na barragem de rejeitos.”

Porém, moradores postaram, durante todo o dia, imagens que mostram o município tomado por lama. Além disso, o vazamento teria bloqueado o acesso à única entrada do município, deixando diversas pessoas sem conseguir entrar e sair da cidade.

“A contaminação de minério deste tipo em corpos hídricos pode acarretar uma série de impactos sociais e ambientais na vida da população atingida, como a ocorrência de diversas doenças, além do aumento da pobreza e da desigualdade social, como ocorreu em Brumadinho, Minas Gerais”, afirmou o MAB.

Brasil de Fato.

GUEDES QUER QUE TODOS PAGUEM PELA VACINA DOS RICOS, POR FERNANDO BRITO

O Brasil parece ser a prova viva do ditado que usava a minha avó: “de boas intenções, o inferno está cheio”.

Falta apenas acrescentar que as boas e cândidas intenções são, claro, a ele de cordeiro que encobre o lobo.

Vejam a linda e comovente “compra da vacina por empresas privadas apara ajudar o SUS”.

De uma só tacada, em 24 horas, temos a vacina clandestina dos donos de empresas de ônibus de Minas Gerais, a Justiça Federal derrubando obrigatoriedade de doação ao SUS de metade das vacinas compradas por entidades privadas e o próprio Ministro da Economia propondo que se dê “isenções fiscais” – isto é, que se pague as doses com dinheiro público para um grupo privado de pessoas.

“Dizem que um grupo de empresários de Minas conseguiu ir lá fora comprar, já se vacinaram. Por enquanto, isso é ilegal. Agora, se a gente permitir que isso seja feito de forma legal e que eles façam doações… E aí você pode dar isenções para as doações que eles fizerem”, disse Guedes em audiência virtual do Senado, relata a Folha.

“Por enquanto, isso é ilegal”.

É ilegal e é imoral, ministro.

Em primeiro lugar, porque está escrito na Constituição brasileira que “saúde é um direito de todos e um dever do Estado” e, portanto, não pode estar sujeita à circunstância de que alguém trabalhe na empresa A, B ou C, ou que seja um desempregado.

Pior ainda se todos vão pagar, via isenções tributárias, o preço das vacinas que só poderão ser tomadas por alguns. Ou, ao menos, que metade delas só sejam tomadas por alguns.

Mais: se há vacinas para vender à iniciativa privada, porque não as há para vender ao governo brasileiro?

Ainda mais se são, como diz Guedes, “sobras de vacina no exterior” que pertencem, ao que se sabe, a outros governos nacionais.

Ou há um “mercado negro” de vacinas, onde, por exemplo, os donos de empresas de ônibus conseguiram as suas doses. Vamos comprar de atravessadores, como aqueles que nunca foram expostos, quando começou esta história de “vacina privada”.

Temos um governo canalha e, infelizmente, também uma elite – na política e na mídia – que não se revolta diante de uma proposta semelhante a haver um elevador social e outro de serviço para alcançar o direito à vida.

Tjolaço.

quarta-feira, 24 de março de 2021

A IM(P)UNIDADE DO DINHEIRO, EMPRESÁRIOS SE VACINAM SEM O MENOR PUDOR, POR FERNANDO BRITO

Thays Bilenky, na revista Piauí, faz o primeiro retrato repugnantes – não duvide, haverá outros – do resultado da famosa “ajuda da iniciativa privada” comprando vacinas para a Covid 19.

Donos de empresas de ônibus – como sabemos, flores do jardim empresarial – compraram, não se sabe de quem, vacinas da Pfizer e, num “posto de vacinação” dentro de uma de suas empresas, vacinaram a “categoria” e suas famílias.

“Categoria”, claro, são os donos das empresas, não seus trabalhadores que se expõem, todos os dias, para transportar centenas de milhares de pessoas.

Em questões como vacina, não pode haver transigências e “flexibilizações” para o poder econômico, porque isso significa privilégio “na veia”.

Se já é difícil controlar os “fura-filas” quando a vacinação é pública, é totalmente impossível ter qualquer controle sobre a vacinação privada.

Quem vai dizer que “não está nos critérios de prioridade”.

O patrão é na hora, o peão é se sobrar.

Tijolaço.

terça-feira, 23 de março de 2021

TEMOS UM GENOCÍDIO EM MARCHA NO BRASIL, POR FERNANDO BRITO

Não há nada mais desagradável que teimar com verdades duras, ainda mais para os que, por décadas, vivemos para proclamar esperanças, progressos, visões de uma vida melhor.

Sinto isso, a toda hora, com meus amigos de mais de 40 anos, companheiros de uma vida inteira, que vejo agarrarem-se à parca, ainda que tocante, alegria de ver pai ou mãe, ou ainda amigo mais velho, sendo vacinado e ganhando a esperança de sobreviver.

Mas sei que estou errado em contaminar-me deste pequeno raio de sol enquanto vejo dezenas ou centenas de seres humanos indo para a morte sufocante, da falta de ar, da solidão absoluta, que não se abrande sequer com um afago final aos corpos mortos.

Esta é a aziaga realidade e, ainda que funesta, nefasta, está diante de nós.

As projeções mais modestas já nos dão “de barato” 400 mil mortes. Há quem fale – e acho otimista, em meio milhão de vidas perdidas.

Sem contar, é claro, o quanto de vida que nós, sobreviventes, perdemos vendo este quadro.

Há 14 meses estamos batalhando para que se dê à pandemia o zelo que ela merece, por seu perigo.

Perdendo leitores, por, talvez, nos ocuparmos pouco tempo com “tretas” e pequenos escândalos, destes de fácil digestão e nenhum efeito.

A vida se torna um inferno, mas quem diz que ela não é suportável assim é taxado de radical, pessimista, alarmista.

Será que se pode dizer isso de quem não aceita 60 mil mortes por mês?

Peço aos leitores que repassem o que se disse aqui e veja onde houve exagero.

Há um genocídio em execução, porque não é possível chamar de outra forma a morte em massa que estamos metidos.

As instituições republicanas podem até – tomara – criar obstáculos aos projetos homicidas e autoritários de Jair Bolsonaro, mas não podem derrota-lo politicamente.

É necessário compreender que é preciso desfazer a suposta legitimidade do atual presidente, que se alcançou pela via eleitoral, por ela é que se desfará.

E o que há de mais agudo para atingi-lo tem um nome: Lula.

Tijolaço.

segunda-feira, 22 de março de 2021

PROJETO DE LEI TENTA SALVAR PROTEÇÃO À AGRICULTURA FAMILIAR DURANTE E APÓS PANDEMIA

Bancada do PT apresentou novo PL em que tenta resgatar trechos de proposta parcialmente vetada por Bolsonaro.

Com crise sanitária que se desenrola desde 2020, agricultores familiares pedem incentivos para produzir alimentos - Mapa/Divulgação.

Depois de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetar parcialmente, no ano passado, a proposta que previa ações de socorro a agricultores familiares durante a pandemia, uma nova iniciativa legislativa veio à tona e tenta resgatar trechos negados pelo chefe do Executivo.

Assinado pela bancada do PT na Câmara, o Projeto de Lei (PL) 823/21 propõe a adoção de medidas emergenciais não só durante a pandemia, mas até 31 de dezembro 2022, por conta da elasticidade dos estragos causados pela crise sanitária.

“A gente não tem previsão de quando vai terminar a pandemia, por isso é um projeto que deve ter continuidade, que pode extrapolar o tempo de um ano contábil, de um ano orçamentário”, argumenta o deputado Pedro Uczai (PT-SC).

O PL se baseia no PL 735/2020, que foi aprovado pelo Congresso em agosto e convertido na Lei 14.048/20, mas com vários pontos retirados por Bolsonaro. Agora, o PL 823 pede, por exemplo, um fomento emergencial para trabalhadores do segmento que estejam em situação de pobreza e extrema pobreza.

Em termos legais, os trabalhadores do ramo são aqueles que praticam atividades rurais utilizando mão de obra do próprio núcleo familiar e não possuem área maior que 4 módulos fiscais.

O fomento seria de R$ 2,5 mil para cada unidade de produção, sendo de R$ 3 mil quando se tratar de mulher camponesa. A proposta prevê uma contrapartida: a ideia seria o agricultor se comprometer a implementar um projeto de estruturação de unidade produtiva familiar. Se o projeto for de cisternas ou outras tecnologias de acesso à água, a ajuda pode chegar a R$ 3,5 mil.

O PL fixa que os valores seriam pagos em parcela única e o governo federal ficaria responsável por canalizar verbas para que a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) financie a assistência técnica a ser dada pelas entidades que irão assistir os trabalhadores. Serão R$ 100 pela assistência a cada projeto.  

Com custo total estimado em R$ 550 milhões, o PL 823 prevê ainda a concessão do benefício Garantia-Safra aos camponeses, desde que se comprove, por meio de um laudo técnico de vistoria, que houve perda de safra durante a pandemia.

A proposta também fixa linhas de crédito rural no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O objetivo é financiar a produção de alimentos básicos até julho de 2022 dentro de um teto de financiamento de R$ 10 mil para cada beneficiário. O foco é atender agricultores com renda mensal de até três salários mínimos que tenham cadastro em entidade de assistência técnica.

Entre outras coisas, a oposição tem argumentado que os camponeses realizam um trabalho essencial ao país pelo fato de produzirem gêneros alimentícios de caráter fundamental para a população, que hoje enfrenta um cenário de alta dos preços. Diante do contexto, o grupo entende que o segmento precisa de ações de incentivo.

Em termos legais, trabalhadores do ramo são aqueles que praticam atividades rurais utilizando mão de obra do próprio núcleo familiar e têm área rural de até 4 módulos fiscais / Fundação Itesp / Fotos Públicas.

“O auxílio emergencial deste ano é de pequeno valor e por pouco tempo. Também vai atingir apenas parte da população que foi atendida ano passado. Estamos falando de mais de 20 milhões que não serão atingidos pelo novo auxílio emergencial”, afirma Uczai.  

OUTRAS AÇÕES

O PL cria ainda o Programa de Atendimento Emergencial à Agricultura Familiar (PAE-AF) para a compra de alimentos produzidos por camponeses. A proposta é doar esses produtos a pessoas que estejam em situação de insegurança alimentar e nutricional.  

Esse trecho do PL fixa teto de R$ 6 mil para cada unidade de produção ou R$ 7 mil no caso de se tratar de uma mulher agricultora. A verba utilizada seria proveniente dos recursos orçamentários previstos para o enfrentamento da crise sanitária no país.

Por fim, os petistas pedem que sejam prorrogadas as dívidas rurais da agricultura familiar para um ano após a última prestação. A regra é para parcelas vencidas até dezembro de 2022 e fixa a suspensão de cobranças judiciais, entre outras coisas.

BdeF. 

domingo, 21 de março de 2021

‘NEGACIONISTAS DO B’; POR FERNANDO BRITO

Ainda estão vivas na memória as explicações, frequentes em 2018, de que o lado estúpido, boçal, xucro, e desumano de Jair Bolsonaro era uma retórica eleitoral e que – a expressão foi usada na época, por Merval Pereira, o FHC da crônica política – seria contido, no poder, pelas “instituições”.

Era menos um raciocínio e mais uma auto-indulgência que a turma da que se diz liberal praticava para tentar demonstrar que a aliança com a barbárie poderia dar a um governo de direita a base política e social para que, afinal, se pudesse prosseguir no desmonte de direitos sociais e patrimônios nacionais que se interrompera (ou quase) nos governos petistas.

E, claro, proseguir-se na marcha de usurpação do poder político que um governante tosco lhes daria, legitimando a transferência para as tais instituições do poder do Executivo que, afinal, precisava ser contido.

Em escala muito menor, claro, depois dos espetáculos de selvageria explícito a que assistimos nestes 27 meses de (des)governo Bolsonaro, a ânsia desmedida desta gente ainda sobrevive e contam que criando resistências cenográficas vão poder ainda conter a Besta (de domar, claro, já desistiram) porque ela, afinal, vai hesitar em romper as correntes política e constitucionais que proíbem o caminho da aventura totalitária do ocupante do Planalto.

Está cada vez mais claro quem flerta com este perigo e tem toda a razão o artigo de hoje, na Folha, de Bruno Boghossian:

Ainda há quem espere mudanças. No auge da crise, o presidente do Senado disse que é hora de “sentar à mesa” e pediu “a coordenação do presidente da República”. O chefe da Câmara afirmou que é preciso “evitar essa agonia e esse vexame internacional”. Os dois estão atrasados.
No STF, Luiz Fux telefonou para o Planalto ao saber que Bolsonaro havia citado um cenário de estado de sítio ao ameaçar uma “ação dura” contra governadores que implantaram medidas de restrição. O autor da bravata disse que aquilo não era verdade, e o ministro se deu por satisfeito. Bolsonaro sabe que os negacionistas vão deixar por isso mesmo.

Preciosa a escolha da palavra pelo articulista: são, de fato, negacionistas (não importa se por ilusão ou ambição), porque negar que Jair Bolsonaro ponha a sua perpetuação no poder como a maior, senão única, preocupação que o move, sem qualquer limite é tão estúpido quanto acreditar que a Terra é plana.

E se não é por serem estultos, é por serem ambiciosos.

Nenhum deles, porém, é mais que o próprio Bolsonaro, que tem uma maneira bem herege e auto-referenciada no seu “Deus acima de Tudo”.

Tijolaço.

sábado, 20 de março de 2021

O BRASIL PODIA PARAR PELO DIESEL, MAS NÃO PELA COVID, BOLSONARO? FERNANDO BRITO

Se Jair Bolsonaro respondesse a perguntas de jornalistas, em lugar de “dar um chilique” e encerrar seguidamente suas entrevistas, bem que algum repórter poderia perguntar-lhe porque, em 2018, achava que o país podia ser paralisado por 10 dias, pelo bloqueio dos caminhoneiros para baixar o preço do óleo diesel, movimento que ele apoiou abertamente, mas não pode reduzir ao mínimo as atividades econômicas durante alguns dias para salvar milhares de vida.

Naquela ocasião, até a entrega de alimentos às cidades foi interrompida, o preço dos gêneros essenciais disparou, muita gente perdeu o “pão dos seus filhos” por não ter mercadoria para vender e tudo o mais com que hoje Bolsonaro invoca para opor-se ao remédio universalmente reconhecido como a única ação de curto prazo para deter a escalada da pandemia, que hoje levou mais 2.500 brasileiros.

Preocupado com os efeitos do apoio aberto ao bloqueio de estradas que infernizou o país, Bolsonaro acabou amenizando suas declarações.

Acabará fazendo o mesmo agora, numa situação inversa, porque as principais regiões metropolitanas do país estão fechando, embora façam malabarismo para fugir da expressão lockdown e “temperem” decisões corretas com flexibilizações absurdas.

É tarde pare evitar a hecatombe de março, que nos levou esta semana a quase 16 mil mortes e fechará o mês com nada menos de 60 mil vidas perdidas.

Mas, ainda que tardia, poderá impedir que isso se repita em abril e maio, nos levando a mais de 400 mil mortes e talvez, a meio milhão de óbitos até julho, quando finalmente teremos uma parcela de brasileiros vacinados grande o suficiente para fazer diferença nos danos da pandemia.

Tijolaço.

sexta-feira, 19 de março de 2021

BOLSONARO CUIDA DE CRIAR SEU SLOGAN: GENOCIDA; POR FERNANDO BRITO

Velho amigo deste blog o genial cartunista Renato Aroeira, em entrevista à TV247, mata a óbvia charada do que vão conseguir os lambe-botas do governo em iniciar processos pela “Lei de Segurança Nacional” quem chama Jair Bolsonaro de “genocida”: um tiro – e um tirambaço – em seu próprio pé.

Em primeiro lugar, porque são processos que, desde que o país saiba deles e se proveja assessoria jurídica de qualidade – quem tem, como os blogs progressistas que enfrentar processos de natureza política, sabe o quanto isso custa – não darão em coisa alguma.

Em segundo lugar, porque está tornando “popular” uma expressão e um conceito que, de outra forma, seriam quase ilegíveis para o grande público e passaram a ter uma leitura em que o próprio nome Bolsonaro passa a ser dispensável: escreva-se genocida e tudo estará dito e “improcessável”.

A menos que se queira, como ironiza Aroeira, prender e processar 10, 50, 100 mil “subversivos” perigosos como o youtuber Felipe Neto.

A esta hora, estão-se fazendo faixas, camisetas, adesivos e, sem o sujeito da expressão, nenhum deles dirá menos do que diz “Bolsonaro Genocida”.

Uma espécie de “Ele, não” 2.0, agora que todos já sabem porque “Ele, não”.

Porque ele, sim, é o maior responsável por um genocídio que já está chegando – semana que vem – a 300 mil mortos.

Tijolaço.

quinta-feira, 18 de março de 2021

O GENOCÍDIO É EVIDENTE E ESTÁ CONSOLIDADO. QUEM SERÁ CÚMPLICE? POR FERNANDO BRITO

O Estadão, para velhas gerações de jornalistas, era o “vetusto jornal” paulistano, sobre o qual de duas coisas se tinha certeza: a fleuma e o conservadorismo inabaláveis.

Afaste-se, por isso, qualquer suspeita de sensacionalismo da capa de hoje, onde o ‘COLAPSO’ em maiúsculas dimensiona graficamente o que se quer apresentar ao leitor.

Não se trata, portanto, de sensacionalismo ou – impensável ali – alarmismo esquerdista contra o Governo.

HÁ UM COLAPSO NACIONAL.

Mas é, ou deveria ser, alarme, pois o perigo – literal, vital – está por toda a parte e exige dos meios de comunicação que cumpram seu papel de gritar à população que a morte escapou de controle e o governo brasileiro só tem a oferecer o espetáculo dantesco de milhares morrendo enquanto um mau militar, estufado de vaidade e grosseria, desfila sua inutilidade apenas para “enquadrar” o sucessor – o miniministro Queiroga – na posição de seu “terceirizado”.

Porque só o silêncio e a afetada “neutralidade” que alguns fazem questão de manter podem dar sustentação à crueldade que tomou o comando do país.

O Brasil deliberadamente está sendo entregue a um morticínio e – é preciso que se diga com todas as letras – por dinheiro.

Não é “o pai de família ter um pão para levar para o filho”, como estes miseráveis alegam. Se é, porque o auxílio aos mais pobres, que todos sabiam desde o final do ano continuar a ser necessário, até agora nem sequer tem a regulamentação para ser pago?

É pouco, desgraçadamente pouco, mas é este pão, pelo qual o pai de família não pode por necessitar ser levado à morte asfixiante.

Há um genocídio e há genocidas, portanto e são os homens do “dinheiro uber alles“, aqueles para os quais o país é só e apenas fonte de enriquecimento.

Estão matando o povo que é a galinha dos ovos de seu ouro, a fonte de sua riqueza e contam com duas forças para isso: o Exército e o Mercado.

Este governo não se sustenta se os dois sinalizarem que não apoiarão mais a mortandade.

Se não sinalizam, tornaram-se cúmplices do monstro e suas falanges.

Tijolaço.

quarta-feira, 17 de março de 2021

MARANHÃO ASSINA CONTRATO DE COMPRA DE 4,5 MILHÕES DE DOSES DA VACINA SPUTNIK V

Compromisso foi firmado na manhã desta quarta-feira (17). Entrega deverá ser iniciada em abril.

Caso governo federal não declare interesse nas vacinas, o estado do Maranhão vai fazer a compra independente - Divulgação.

O governador do maranhão, Flávio Dino (PCdoB), anunciou na manhã desta quarta-feira (17) a assinatura de contrato que prevê a aquisição de 4.582.861 doses da vacina russa contra a Covid-19, Sputnik V.

O imunizante será produzido pelo instituto russo Gamaleya em parceria com a farmacêutica brasileira União Química e, segundo estudos publicados na revista The Lancet, tem eficácia de 91,6% contra as formas sintomáticas da doença.

A princípio, o contrato prevê a aquisição das vacinas para compor o quantitativo total de vacinas a nível nacional, mas o governador declara que caso não seja interesse do governo federal, o próprio estado assumirá o negócio e a operação, e o início das entregas está previsto para abril.

"Se o Ministério da Saúde desejar, portanto, incorporar as vacinas ao Plano Nacional, nós iremos cumprir aquilo que a lei manda e não iremos oferecer qualquer oposição em relação a isso. Caso o Ministério da Saúde entenda que não vai utilizar a vacina Sputnik, nós vamos concluir todo o processo e vamos receber a vacina no Maranhão, exclusivamente”, explicou Flávio Dino, em vídeo divulgado em suas redes sociais (veja abaixo).

Dino declarou ainda que caso a entrega das vacinas seja feita exclusivamente ao Maranhão, elas serão destinadas aos grupos prioritários, em especial à área da educação:

“Nesse momento, sem dúvida, colocamos nas prioridades a situação da educação, porque as nossas crianças e os nossos jovens já estão muito tempo sem aulas presenciais. Vamos aguardar o posicionamento do governo federal. O contrato está assinado e ele prevê que essas entregas serão feitas em etapas, a partir do mês de abril, chegando até o mês de julho”.

A vacina russa já é utilizada em mais de 40 países, inclusive vizinhos como a Argentina / Agustin Marcarian/Reuters.

Os esforços para a compra de vacinas vêm desde 2020, quando o governo do Maranhão entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para que os estados pudessem adquirir vacinas diretamente de outros países, levando em consideração o atraso do plano nacional de imunização e a emergência sanitária.

Em dezembro de 2020, o secretário estadual de Saúde, Carlos Lula, anunciou que o estado já dispunha de R$ 50 milhões reservados para a aquisição de imunizantes, mas esbarrava nas diretrizes do Plano Nacional, que não permitia a compra, além disso, criticou a posição de negação do governo federal a outras vacinas, a exemplo da Sputnik V.

Somente depois, neste mês de março de 2021, foi confirmado que a negação do governo Bolsonaro à vacina russa se deu por pressão dos Estados Unidos, à época governado por Donald Trump.

Leia mais em: EUA assumem pressão em Bolsonaro contra vacina russa, e Putin pediu ajuda a Lula.

No entanto, como os governadores do Nordeste declararam interesse em lotes da vacina ainda em 2020, poderão adquirir os imunizantes a preço menor do que o que será pago pelo governo federal.

Em entrevista para a CCN, o governador Wellington Dias (PT), do Piauí, declarou que governadores do Nordeste deverão pagar US$ 9,95 por dose em lote de 39 milhões de doses da vacina Sputnik V. Já o governo federal vai pagar US$ 13 por dose e com a limitação de compra de 10 milhões de frascos.

O vídeo completo com divulgação da assinatura de contrato de compra por parte do governador Flávio Dino pode ser visualizado abaixo.

Brasil de Fato.