Aliás,
o pecado fatal de Bolsonaro não é acreditar no terraplanismo, mas em Paulo
Guedes.
Trata-se
do mais expressivo depoimento de autoridade econômica de que tenho notícia, uma
transparência ingenuamente exemplar, comprovando que a prioridade de Paulo
Guedes jamais foi a de tirar o país da recessão, mas valer-se da destruição
criadora da economia para impor suas preferências ideológicas..
Os
desdobramento da recessão estão aí, aos olhos de todos: índices explosivos de
desemprego e desalento, crescimento não apenas da economia informal mas do
poder econômico das organizações criminosas, ampliação do ódio, exacerbação da
intolerância, e todos os sintomas das doenças graves que germinam em economias
sem perspectiva. No plano político, queda acentuada de popularidade do governo,
crise fiscal, desmantelamento da educação, saude, meio ambiente.
Mas
o que diz o ilustre neto do ilustre Campos
1.
O avião tem duas turbinas, uma do setor público, outra do setor privado.
Queremos parar a turbina do setor público para o setor privado ocupar o espaço.
2.
Aí descobrimos que a recessão é decorrente da paralisação da turbina do setor
público.
3.
Mas, em vez de reativar os gastos públicos, vamos manter o aperto, manter as
taxas reais de juros elevadas porque a maneira do setor privado ocupar o espaço
público é ter segurança no desemprenho futuro da inflação. Se houver confiança,
automaticamente o capital privado ocupará o espaço do setor público.
E
emendo: se o avião cair, Bolsonaro que se vire.
Ou
seja, tenho o diagnóstico sobre a crise, o caminho óbvio para destravar a
economia – aumentando os gastos públicos -, mas vou manter tudo onde está
porque meu objetivo final não é recuperar a economia, mas tirar o Estado
definitivamente do jogo.
Qual
o mérito da entrevista de Campos Neto? Expor de maneira crua a
irresponsabilidade e os objetivos finais do modelo Guedes. Guedes não está
minimamente interessado em recuperar a economia. Seu objetivo final é
aproveitar a crise para destruir da maneira mais rápida o “inimigo”, o Estado.
Pouco importa o custo econômico, social e político.
Aliás,
o pecado fatal de Bolsonaro não é acreditar no terraplanismo, mas em Paulo
Guedes. Seu governo será abreviado pelas estratégias de Guedes que, ao final,
voltará para seu habitat, o mercado. E é até possível que, nas noites mais
alegres, conte histórias escabrosas sobre a maneira como engabelou um
presidente fundamentalista e e fundamentalmente ignorante.
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