Dizem
os penalistas que a prova testemunhal é a prostituta de todas as provas. Sem
outras provas, corroborando o testemunho, não é considerada em nenhum processo
sério. No entanto, está na base das denúncias movidas contra Lula e Dilma pela
Lava Jato.
Pode
haver algum exagero na expressão, e um preconceito condenável em relação às
prostitutas, mas é didático como juiz e procuradores da Lava Jato se valem das
“prostitutas” das provas.
Peça 1 – a teoria do choque e as
torturas
Ewen
Cameron e Donald Hebb foram dois psicólogos que desenvolveram métodos de
lavagem cerebral através de eletrochoques. Os estudos foram financiados pela
CIA e incorporados nos seus métodos de interrogatório.
A
Lava Jato não se vale de tortura física, mas o processo de convencimento do réu
é idêntico em ambos os casos. A conclusão principal dos dois psicólogos era a
de que “a privação de estímulos (através da tortura) induz à regressão,
despojando a mente do indivíduo do contato com o mundo exterior e forçando à
regressão”.
Quando
o prisioneiro mergulha em um estado de “choque psicológico”, ou “vivacidade
interrompida”, é sinal de que está mais aberto a sugestões, mais disposto a
ceder.
Em
situações mais brandas, mas nem por isso menos drásticas, mantem-se o réu
detido, sem contato com o mundo exterior, com família, sem acesso a notícias,
até que entre no estado da “vivacidade interrompida”.
Aqui
(https://goo.gl/vZpWOU) você tem uma
explicação mais detalhada do método e das formas de utilização.
É
evidente que a Lava Jato recorre a métodos de tortura psicológica para arrancar
delações. As estatísticas com as quais se defende – a de que a maioria das
delações foi firmada com delatores em liberdade – é primária.
Coloque
dez prisioneiros em uma cela. Torture um deles. E passe aos nove restantes o
exemplo do que poderá ocorrer com eles, se não aceitarem os termos propostos.
Ao contrário, exiba as benesses que esperam os delatores, como Alberto Yousseff
que terá até comissão sobre recursos que ajudar a recuperar.
A
intenção última não é punir a corrupção, mas destruir o sistema político em que
se funda o inimigo, o PT. As empreiteiras não estão sendo destruídas por serem
corruptas, mas por se aliarem a esse modelo.
As
delações principais foram obtidas sob tortura psicológica, de longos períodos
de prisão temporária, até atingir o estado da “vivacidade interrompida”.
Peça 2 – a estratégia da delação
Para
passar no teste da delação, os réus precisam da benevolência tanto dos
procuradores quanto do juiz Sérgio Moro. Quem chia, não leva. Não tem tribunal
superior, não tem STF (Supremo Tribunal Federal) que resolva. Todas as
condições dependem exclusivamente de procuradores e juiz que tem lado e o
objetivo maior de pegar Lula e Dilma.
Em
uma Justiça séria, os tribunais consagrariam a seguinte ementa: "se não
estiverem presentes os requisitos da prisão preventiva ou temporária, a delação
premiada, como medida excepcional e por si questionável sob o prisma da
dignidade humana, não tem valor algum para o processo penal."
O
roteiro é sem-graça, de tão identificável:
1. Identificam-se pessoas
com as quais Lula ou Dilma tiveram qualquer contato.
2.
Coloca-se como condição para a aceitação da delação declarações que comprometam
um ou outro em algum crime. Basta ao réu dizer que Lula sabia isso, Dilma
aquilo, que o Lula falou A e Dilma falou B.
3.
Coloca-se o acusado na situação chamada “prova negativa”, ou seja, a prova de
um fato negativo. É uma prova tão impossível de produzir, que o direito
canônico a batizou de “prova diabólica”, pois só o diabo poderia produzir.
4.
Comprovando que até o diabo brasileiro é primário, parte dos delatados dirá que
não tem como apresentar provas porque Lula os orientou a destruir as provas. E
a falta de provas passa a ser a prova dos crimes de Lula. É o axioma no. 1 da
Lava Jato.
Aí,
intima-se Lula para um interrogatório. Ele admite que se encontrou com o
delator em determinada circunstância, teve determinada conversa, mas em nenhum
momento mandou ocultar provas. Prove que não falou! Não provou? Então é
suspeito de obstrução de Justiça.
Peça 3 – a mercearia e os advogados
amigos
Com
a quantidade de delações em curso, e com a possibilidade de terem co-autoria no
roteiro, a Procuradoria Geral da República, a Lava Jato e o juiz Sérgio Moro
montam uma verdadeira mercearia, com condimentos para qualquer receita de bolo.
Tem especiarias da Índia, da China, do Japão, einsbein da Alemanha, hot dog dos
EUA, o que o freguês precisar, a mercearia fornece.
O
senhor deseja um processo que mostre que a ex-presidente Dilma Rousseff sabia
do caixa 2? Por enquanto, não temos, porque nenhum executivo da Odebrecht se
dispôs a bancar essa denúncia. Mas temos a dona Mônica Moura, que pode servir.
Como
o advogado precisa ser da estrita confiança da Força Tarefa – e como os
honorários não são nada desprezíveis – ao lado dos grandes penalistas nacionais
entram os amigos da família.
No
caso de Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, uma prova documental
sem nenhum valor para a denúncia contra Dilma – fac-símile de um suposto e-mail
enviado por Dilma, que não tinha sequer remetente e destinatário, com um texto
que não significava nada – permitiu levantar provas contra... a Lava Jato.
O
escritório Delivar de Mattos Advogados Associados tem como sócio Rodrigo Castor
de Mattos, irmão de Diogo Castor de Mattos, procurador da Lava Jato. Segundo
informou a Lava Jato, o escritório só entrou com pedido para ser representante
legal dos marqueteiros no dia 17 de abril de 2017. A delação foi concluída 30
dias antes.
Mas
o tal e-mail foi registrado em cartório em de 30 de julho de 2016. E a pessoa
que registrou era estagiário do mesmo escritório. Ou seja, o escritório do
irmão do procurador já atuava informalmente para Mônica oito meses antes da sua
delação, ajudando a construir provas documentais.
Esse
mesmo espírito de compadrio transformou um advogado enrolado – Marlus Arns – no
advogado da delação de Eduardo Cunha. Até então, o maior feito de Marlus era o
controle sobre as ações das APAEs no estado, que lhe eram passadas pela
diretora jurídica da Federação, esposa de Sérgio Moro.
Peça 4 – a conspiração do
Judiciário
·
Pesquisas de opinião dando Lula como favorito em 2018.
·
As mesmas pesquisas dando conta do desmanche do PSDB.
·
Greve geral que se espalha por todo o país.
·
Manifestantes tomando as ruas de Curitiba em solidariedade a Lula.
·
Interrogatório de Sérgio Moro e da Lava Jato, com o juiz assumindo
ostensivamente o lado da acusação.
·
Resultado final favorável a Lula, no interrogatório movido por Moro.
Com
a quitanda fornida, monta-se o contra-ataque, um exercício concatenado capaz de
enrubescer um magistrado britânico, mas plenamente aceito por esses cantos.
Movimento
1 - juiz Ricardo Leite dos Santos
Na
mesma semana do interrogatório de Lula, o juiz brasiliense ordenou o fechamento
do Instituto Lula - sem ter sido solicitado pelo Ministério Público Federal - e
a condução coercitiva de mais de 30 funcionários do BNDES.
Movimento 2 - o Ministro Luiz Edson
Fachin
Segurou
durante semanas os depoimentos de João Santana e esposa e deu publicidade em
cima da bucha, colocando mais lenha na fogueira da inquisição.
Movimento 3 – o Procurador Geral
Eleitoral
Com
base nas delações dos marqueteiros, o PGE pede a condenação de Dilma e a
absolvição de Michel Temer, porque os marqueteiros só mencionaram Dilma. “É
possível concluir que a representada tinha conhecimento da forma como a
Odebrecht estava financiando sua campanha eleitoral, dos ilícitos praticados em
benefício da sua candidatura, com eles anuindo. Tendo ciência dos
acontecimentos, bastava à representada coibir ou censurar a prática de tais
condutas”.
Segundo
o bravo procurador eleitoral, os dois marqueteiros afirmaram
"textualmente" que Dilma prevaricou. Para enfatizar melhor a
relevância da prova, deveria informar que nem usaram teleprompter.
O
fato de executivos da Odebrecht terem afirmado que negociaram valores em uma
reunião no próprio Palácio Jaburu, presente Michel Temer (portanto em pleno
exercício do mandato de vice-presidente), não tem importância. Vá que ele
resolva acabar com a lista tríplice para a PGR.
PS
- Há pouco, foi divulgado o parecer do PGE, pela impossibilidade de separar
Dilma de Temer no julgamento.
Movimento 4 - a mídia
O
colunista Merval Pereira propõe a prisão de Dilma Rousseff, reeditando
personagens célebres dos anos 60 e 70, como Amaral Neto, José Maria Marin e
Cláudio Marques – comentarista que fez campanha sistemática pela TV Bandeirante
para a prisão de Vladimir Herzog.
Veja solta
uma capa com dona Marisa, trazendo de volta o jornalismo de esgoto que a
consagrou.
Todos
esses movimentos tentam reeditar o mesmo clima de caça às bruxas que marcou o
terrível período da campanha do impeachment.
Movimento 5 - a Polícia Federal
Hoje,
um indiciamento ridículo (porque indiciamento da PF não tem o menor valor
legal) de Lula, pela aprovação da Medida Provisória 471, da indústria
automobilística, aprovada no governo Dilma com o voto de todas as lideranças
partidárias.
Movimento 6 – o Supremo
E
aí se chega ao Supremo a última trincheira da Constituição e dos direitos
individuais.
O
melhor exemplo é o decano Celso de Melo. Depois que o pleno do Supremo
autorizou prisão após a 2a instância, Celso concedeu um habeas corpus,
indo contra a posição majoritária da casa. Agora, com Lula, diz que seguirá
entendimento da maioria.
Peça 5 – o fracasso da estratégia
positiva
No
mercado, realização do prejuízo se refere ao investidor que cansou de esperar
pela recuperação das suas ações e as vende, mesmo tendo prejuízo.
O
sistema entrou em processo de realização de prejuízo com as lideranças tucanas
nas quais investiu nas últimas décadas. Aécio, Serra e Alckmin estão fora
do jogo. Haverá a tentativa de construir perfis alternativos.
Tudo
poderia se constituir em mais um caso clássico do golpismo latino-americano,
não fosse o elemento novo contemporâneo: com as redes sociais, o tempo político
tornou-se tremendamente rápido: não se constroem mais mitos como antigamente.
Antes,
a velocidade das notícias era lenta. Criava-se um fato político, a imprensa
ficava ruminando durante dias e dias, como boi no pasto. Aí surgia outro fato,
e mais um período lento de ruminação. Era possível traçar estratégias golpistas
e mantê-las sob relativo controle.
Além
disso, os padrões tecnológicos de outros tempos – com pouca exibição pública
dos personagens políticos – permitiam a construção lenta no imaginário popular.
Poucos viam Jânio Quadros em carne e osso. As idas a botecos, os lances de
marketing entravam no circuito da notícia e se espalhavam como lendas urbanas,
criando um personagem mágico porque apresentado em pequenas doses.
Havia
um processo de crescimento e queda dos políticos, curvas de popularidade e
fastio, bastante perceptíveis e previsíveis. Mesmo o meteoro Fernando Collor
teve uma exposição muitíssimas vezes menor do que a teria nesses tempos de
redes sociais.
Hoje
em dia, não. João Dória entrou na era das redes sociais com hiperdosagem de
visibilidade. Seus filmetes diários, com biquinho de jovem sexagenário
emburrado, com seus factoides de fantasia, confundindo má criação com
determinação, estão virando o fio mal começaram . A hiperdosagem potencializa os
defeitos. Para conseguir manter o fogo alto, terá que ampliar em muito sua
imaginação.

Portanto,
o lugar do tertius em breve voltará a ser vago.
Cena 6 - o difícil caminho do
consenso
Os
becos sem saída de uma conspiração descerebrada abrem a possibilidade - ainda
distante - de começar alguma articulação para uma tentativa de candidatura de
consenso.
Infelizmente,
o país padece de uma ignorância coletiva que não poupa nenhum extrato social.
Não é à toa que exibe recordes mundiais de violência. Seja por herança da
colonização portuguesa, do empreendedorismo selvagem das primeiras bandeiras,
seja pelo sangue latino, há uma tendência de resolver tudo "no
braço", de partir para o tudo ou nada, como se fosse possível a uma nação
da dimensão da brasileira conviver com metade do país derrotado e sob vara.
Ora,
a construção de um país moderno não pode prescindir de nenhum dos atores sociais
e econômicos. E será impossível essa junção sem a coesão social, com pactos que
administrem os conflitos distributivos, abram espaço para o empreendedorismo,
para o trabalho digno, para o fortalecimento das empresas nacionais, para a
contribuição das multinacionais.
Do GGN