João
Doria Jr é um bem sucedido homem de negócios. Por tal, não se entenda o
empreendedor convencional, ou o gestor. Toda a carreira empresarial de Doria
foi feita no campo dos patrocínios, permutas e lobbies, colocando empresários
em contato com autoridades através dos múltiplos fóruns da LIDE[1]. A missão da LIDE é montar
eventos que permitam a empresários e autoridades estreitar relacionamentos, a
exemplo da Cyrella.[2]
As
autoridades vão porque querem um público de empresários e CEOS. E estes vão
porque querem contato direto com as autoridades.
Simples
assim. Em cima dessa fórmula, Doria montou inúmeros filhotes da LIDE, tanto
setoriais – LIDE do agronegócios, da exportação etc – quanto regional, com
filiais inclusive na América Latina.
Agora,
está completando a inovação tornando a Prefeitura uma filial da LIDE. E aí
entra em um terreno pantanoso, principalmente se os Ministérios Públicos
fizerem a ligação entre os eventos da LIDE e as ações de Doria na prefeitura.
É
como se ele acenasse para os membros da LIDE: o coroamento do investimento de
vocês é que, a partir de agora, não será mais necessário investir em
relacionamento: vocês serão as autoridades.
É
o que aconteceu com essa nomeação escandalosa de Claudio Carvalho de Lima,
vice-presidente executivo da Cyrella para a Secretaria das Subprefeituras.
A
Prefeitura é a agência reguladora do setor de construções e incorporações de
edifícios de São Paulo. Tudo passa pela Prefeitura, do inicio ao fim da obra, o
relacionamento com a Prefeitura é essencial para uma grande incorporadora, do
alvará ao HABITE-SE, da mão de transito a permissão de estacionamento e Zona
Azul, do ISS na construção, zona de alta arbitragem à altura de prédio.
Cabe
à Prefeitura defender a lógica do zoneamento, para impedir abusos e distorções.
A
Cyrella é a maior empresa do setor. E as subprefeituras são a principal
moeda de troca com vereadores. Agora entrega-se essa moeda de troca a um
executivo da Cyrella, que tem enormes interesses que dependem da Câmara
Municipal, a começar pelo caso do Parque Augusta. Mesmos os piores prefeitos
que passaram pela cidade não ousaram uma esbórnia tão ampla, assim, entre
interesses públicos e privados.
É
uma audácia sem desconfiômetro, típico da ambição sem limites de Doria, para
suas investidas políticos-financeiras.
Através
da Câmara, e usando as Subprefeituras como moeda de troca, será possível
alterar zoneamentos fixados pelo Plano Diretor, permitindo às incorporadoras a
jogada óbvia: comprar terrenos em Zona 1, vedadas a construção de edifícios e,
em seguida, alterar as condições da região.
GGN
[1] Empresa
de consultoria de propriedade de Dória prefeito de São Paulo, que reúne empresários
e gestores públicos para negociarem.
[2]
Uma das maiores empresas paulista do ramo imobiliário (incorpora, projeta, constrói, vende, aluga etc.).