Peça 1 - os fakenews da mídia
Os
fakenews foram introduzidos no mercado de opinião brasileiro pelos grupos de
mídia. Foram eles que criaram notícias falsas, como os dólares de Cuba, a
invasão das FARCS, as contas secretas no exterior, a ficha falsa da Dilma.
Hoje
em dia, há uma preocupação nítida da mídia de restringir os fakenews aos sites
de boatos das redes sociais. E esse trabalho é ajudado pelos sites de checagem
de notícias.
Esses
sites pecam por um problema de conceito, passando ao largo de dois tipos de
manipulação.
Fakenews 1 -
as informações relevantes e falsas que são colocadas no meio de uma reportagem
com informações verdadeiras e irrelevantes.
Fakenews 2
- os títulos
Na
era das informações rápidas das redes sociais, os fakenews são alimentados por
manchetes falsas, que colidem com o próprio texto.
Quando
a Folha coloca em manchete que Fernando Haddad admitiu ter colado no curso de
economia, não a absolve o fato do texto deixar claro que a afirmação foi uma
brincadeira de Haddad. Piora a situação do jornal, porque o leitor não
precisará buscar em outras fontes as provas da falsificação da manchete. Mas a
manchete passará a frequentar todos os veículos especializados em fakenews.
O
mesmo ocorreu quando O Globo colocou as fotos com os R$ 55 milhões de Geddel
Vieira e, logo abaixo, uma manchete com referências a Lula e Dilma.
Peça 2 - os fakenews do Ministério
Público Federal
Uma
das formas mais ostensivas de fakenews são as falsas ênfases. Ou seja, uma
ênfase desmedida a fatos irrelevantes, visando esquentar a matéria.
Dessa
manipulação padece a mídia e padece o MPF/Lava Jato. Quando os jornais insistem
em discutir os recibos de aluguel do apartamento de 2015 e deixam de lado o
fato de que os aluguéis vinham sendo pagos desde muitos anos antes, é um
exercício de fakenews.
Por
omissão, permite os fakenews nas declarações de candidatos à delação, o óbolo
que pagam à Lava Jato para ter direito ao prêmio da delação. Pouco importa se
mais à frente as afirmações serão deixadas de lado, por falta de comprovação. O
objetivo da Lava Jato é eminentemente político.
Peça 3 – o feitiço contra o
feiticeiro
O
próprio MPF sentiu na pele o resultado dessa completa subversão no sistema de
informações, quando, no caso da JBS, apareceu o nome do procurador Marcelo
Miller.
Ele
já estava desligado do MPF e em tratativas com o escritório Trench, Rossi e
Watanabe. Seu nome foi mencionado nas conversas autogravadas de Joesley
Batista. Em princípio, não havia nada que o comprometesse, mas informações de
tratativas de contratá-lo e de conselhos que ele passou aos Batista.
Aí
surge o caso das gravações da JBS.
Até
então, a Procuradoria Geral da República (PGR) tinha muito pouco sobre a JBS,
algumas informações provenientes da Operação Greenfield e Bullish, envolvendo
empresas com pouca dimensão dentro do grupo.
O
tamanho das provas apresentadas fez com que o PGR Rodrigo Janot aceitasse um
acordo de leniência extremamente favorável ao grupo. Quando vieram as críticas,
imediatamente foi lembrada a participação de Miller nas conversas do grupo.
Michel Temer se valeu disso para insinuações sobre a honra de Janot – só no
Brasil um presidente se permite insinuações sem provas. Em pânico, Janot jogou
seu ex-auxiliar ao mar.
Para
esquentar seu furo, o Estadão tratou de transformar Miller em assessor de
confiança de Janot. Uma mera conversa com os procuradores do círculo de Janot
bastaria para desmentir essa ligação. Convocado para Brasília no início da
gestão de Janot, segundo colegas Miller sempre foi arredio aos rapapés da
corte. Praticamente não passava fins de semana em Brasília e não frequentava a
casa de Janot – ponto essencial para conquistar a confiança do chefe.
Janot
acabou jogando-o ao mar e expondo-o a toda sorte de espertezas, inclusive do
presidente da OAB-RJ, Felipe Santa Cruz, espécie de Cristovam Buarque da
advocacia, rompendo com seu padrinho, deputado Wadih Damous, e aproximando-se
do PMDB do Rio de Janeiro, buscando pavimentar suas ambições políticas.
Antes
de qualquer investigação e julgamento, tratou de cassar a licença de Miller
para advogar, lembrando os tempos em que essas arbitrariedades eram praticadas
e, entre as vitimas do estado de exceção, estava seu próprio pai.
Peça 4 – os dados disponíveis
Os
e-mails e conversas divulgados até agora mostram que, entre a JBS e Miller,
havia tratativas de contratação que não se concretizaram.
Até
que apareçam fatos rebatendo, vale a versão até agora apresentada por Miller.
1.
Ele vinha negociando com a amiga Fátima Tórtima a contratação pela Trench Rossi
e Watanabe. Seria para diretor de complience.
.
2.
Já tinha praticamente fechado com a Trench, quando apareceu a JBS, também
através de Fátima Tórtima, interessada em dois cargos, visando resgatar a
imagem da empresa pós-acordo: um diretor de inspeção sanitária e um diretor
de complience. O de inspeção sanitária foi contratado nos Estados Unidos,
um ex-alto funcionário do setor.
3.
Miller não aceitou o convite de Francisco de Assis, o advogado de JBS. Mas como
a empresa também queria contratar a Trench, aceitou operar como uma espécie de
segunda opinião no acordo de delação. A JBS pretendia fazer uma emissão de
ações nos Estados Unidos e queria saber tudo sobre as formas de coordenação das
delações no Brasil e nos EUA.
Pediu
demissão do MPF, demorou um pouco mais para sair, para poder gozar férias
acumuladas e fazer uma pequena cirurgia. Por aí pode-se pegá-lo por algum
atropelo a normas administrativas. E, de alguma forma, ajudou a acelerar a ida
da JBS para Trench, conforme se depreende dos bônus que recebeu da empresa.
No
entanto, pelas próprias gravações e e-mails divulgados, fica claro que a JBS
tinha pouca visibilidade sobre o que ocorria do outro lado do balcão, a PGR.
Segundo
documentos da PGR do Rio de Janeiro e da PGR de Brasília, desde julho de 2006
Miller não mais participava dos trabalhos da Lava Jato.
Na
verdade, o grupo inicial acabou se afastando da Lava Jato por não se adaptar ao
estilo de Janot, bastante centralizador e pretendendo o controle de tudo -
provavelmente em função dos impactos políticos da operação.
Havia
uma equipe original experiente, justamente a que foi investigar Eduardo Cunha,
composta pelos procuradores Andrei Borges, Fabio Magrinelli,
Bruno Calabrich e Miller.
Era
uma equipe experiente, mas com algumas características que desagradavam a
Janot: era independente, não compunham com as prioridades políticas de Janot. A
saída encontrada por Janot foi inchar a equipe inicial com outros procuradores
com menos história e menos experiência no MPF.
A
intenção de controlar os trabalhos em Brasília se devia, também, à falta de
controle de Janot sobre a Lava Jato de Curitiba. As estripulias de Curitiba
chegavam a escandalizar Janot, mas este admitia não ter legitimidade política
para intervir nos trabalhos pelos meios administrativos.
Peça 5 – as peças do próximo jogo
Por
tudo o que se levantou até agora pode-se acusar Janot de medíocre, desastrado,
burocrata. Mas não há nenhuma evidência de desonestidade financeira – para
separar da intelectual.
Do
mesmo modo, pode-se imputar a Miller comportamento pouco ético. Mas nada indica
que tenha vendido segredos ou explorado o cargo em favor dos Batista.
Por
isso mesmo, a tentativa de constrange-los via CPI já nasce sob o signo da
chantagem. Pode aplacar algumas sedes de vingança, de assistir os persecutores
provando do próprio veneno.
Mas
não há ganho nenhum nem para a democracia nem para os bons costumes.
Do
GGN