No
artigo “Relatório
de indiciamento de Haddad revele omissão e manipulação de provas” a
repórter Cintia Alves demole o trabalho do delegado João Luiz de Moraes Rosa.
Não se vale de informações exclusivas, de análises jurídicas. Simplesmente
submete o relatório ao mais básico dos testes: o de verossimilhança.
Extrai
do relatório as inconsistências, as provas deixadas de lado. Juntando tudo,
tinha-se uma acusação fake. Mesmo nesses tempos em que as fake news foram
erigidas à condição de ameaça nacional, e os jornais se apresentando como
último bastião da verdade, o tal “indiciamento” fajuto pela Polícia Federal (só
o Ministério Público pode indiciar) frequentou as homes dos jornais paulistas
por todo o dia.
Existe
alguma inteligência corporativa na PF para entender os prejuízos que
irresponsabilidades como a de João Luiz de Moraes Rosa traz à corporação? Há
uma luta ingente com o Ministério Público sobre atribuições nos inquéritos. A
Lava Jato demonstrou a extrema fragilidade dessa turma para investigar.
Limitaram-se a forçar delações que preenchessem suas narrativas, e a formular
teses jurídicas estranhas, que já foram desmontadas pelos penalistas de peso.
Aliás,
jogaram um abacaxi considerável para o TRF4, porque, dispondo de todos os
poderes, do poder de prender e de torturar, de arrancar a delação que
quisessem, de buscar dados no mundo inteiro, esperava-se uma denúncia
minimamente consistente no caso do triplex. Não havendo, o pepino terá que ser
descascado pelo TRF4.
Nos
últimos tempos, a PF conseguiu se destacar, checando tecnicamente denúncias
inconsistentes de Rodrigo Janot, entre outras. Mas isso graças a seu corpo
técnico, aos peritos, aos delegados de fora do circuito do show bizz.
A
disputa entre MPF e PF não será resolvida com a mediação da mídia ou de Temer,
mas com a capacidade de cada uma das organizações de demonstrar
profissionalismo, apego aos fatos, respeito aos direitos, inteligência
investigativa.
Um
denúncia como a desse delegado desmoraliza todo o trabalho de recuperação de
imagem da PF. Aquela PF do início dos anos 2.000, orgulhosa de si, sequiosa por
incorporar avanços tecnológicos nas investigações, está sendo sufocada pelos
medíocres, os exibicionistas do vazio, os irresponsáveis que sacrificam a
imagem da corporação por um momento de glória ou por um objetivo político.
GGN