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Após cinco
horas de depoimento, defesa de Lula revelou que Moro quis abordar assuntos que
não têm conexão com a ação penal do triplex. Ex-presidente foi orientado a não
responder questões sobre política, disse Zanin
A defesa de
Lula revelou, na noite desta quarta (10), que o juiz Sergio Moro extrapolou o
escopo da denúncia do caso triplex e fez uma "cena política" ao
questionar o ex-presidente sobre o julgamento do Mensalão e o caso do sítio de
Atibaia, que sequer é objeto de uma ação penal.
O advogado
Cristiano Zanin Martins disse, em coletiva de imprensa, que Moro ainda
perguntou a Lula sobre programas que o petista criou em sua passagem pelo
Palácio do Planalto, numa clara demonstração de "perseguição
política". "São perguntas que não buscavam avaliar o caso triplex,
mas as políticas do seu governo, políticas da presidência da República, e
quando isso acontece, você não está em um estado democrático de Direito",
avaliou.
"É
evidente que não cabia a Lula, na audiência de hoje, ao prestar depoimento em
uma ação que teve objeto circunscrito pelo juiz, jamais ter sido perguntado
nessa linha de dar opinião sobre um julgamento no Supremo Tribunal Federal e
políticas realizadas no seu governo. Isso mostra que o que estava em discussão
não era o triplex, é a instituição Presidência da República e o governo que
Lula fez após ter sido democraticamente eleito para essa finalidade."
Lula passou
quase cinco horas depondo na Vara Federal dominada por Moro, em Curitiba. Só as
perguntas do magistrado, de acordo com o Estadão, duraram mais de duas horas e
meia.
O ex-presidente
é acusado, nesta ação penal, de ter recebido a propriedade oculta de um
apartamento da OAS, situado no Guarujá, além de doação para o armazenamento do
acervo presidencial. Em troca, a OAS teria conquistado três contratos de obras
com a Petrobras.
"Nós da
defesa técnica orientamos que só respondesse o que era objeto da ação. Ele não
tem que dar nenhum explicação sobre temas que são estranhas à ação e de
natureza política, que não estão sob julgamento de Moro e nem podem
estar", disse Zanin.
"Lula
esclareceu absolutamente tudo. Esclareceu que não é dono do triplex nem teve
atuação sobre o acervo. Agora, sobre outros temas, nossa atuação foi de
preservar o estado de direito e a democracia, impedindo que Moro possa julgar o
governo de quem foi democraticamente eleito", acrescentou.
A advogado
Valeska Teixeira Martins disse que a força-tarefa da Lava Jato não só não
conseguiu levar aos autos do processo provas das acusações que fez contra Lula,
como simplesmente ignorou as evidências produzidas pela defesa.
"Não
existem provas contra Lula, mas em relação à sua inocência, tem provas cabais
no processo. A sensação que se tem é que os procuradores pararam no tempo e
ignoram as provas de Lula. Nós ja provamos que o triplex não pertence a
ele", disse.
A defesa
iniciou a coletiva destacando que, no papel, o dono do triplex é a OAS.
Inclusive, a empresa usou o imóvel como sua propriedade para emitir debêntures.
PARIDADE DE ARMAS
"Com
relação à Petrobras", disse Valeska, "não conseguimos ter acesso aos
documentos que provam que Lula não teve acesso [ao esquema de corrupção]. Quero
perguntar por que não tivemos acessos às provas, às atas, e por que hoje uma
ata de reunião de diretoria da Petrobras é utilizada e nós da defesa não
tivemos acesso, enquanto todos os acusadores tiveram. Nós precisamos ter o
mesmo acesso, a mesma igualdade que a acusação teve. Isso esta sendo negado à
defesa."
"ME MOSTREM AS PROVAS"
O advogado
Roberto Batochio disse que, "após cinco horas de intenso bombardeio por
parte de Moro e dos procuradores, o balnaço que se pode fazer dessa colheita é
absoltuamente zero. Investiga-se há quase 2 anos a propriedade desse
apartamento, que a imprensa batizou de triplex", e nada foi encontrado,
afirmou.
Segundo
Batochio, "Lula disse: 'Pelo amor de Deus, vocês estão me acusando de ser
proprietário de um apartamento que nunca foi meu. Pelo amor de Deus, me mostrem
a prova de que eu sou o proprietário'."
Ainda
segundo ele, Lula esclareceu que não teve acesso aos contratos de armazenamento
do acervo. "É um despropósito processar um ex-presidente alegando que ele
recebeu propina para o acervo. Com relação a isso, a prova é nula, zero,
inexistente, não se encontra no comportamento de Lula qualquer fato que possa
ser considera delituoso."
CONSPIRAÇÃO
Batochio
ainda apontou que é muito estranho que Moro seja o juiz máximo da Lava Jato,
até para um processo em que está em xeque um apartamento situado no litoral de
São Paulo. Para ele, a Lava Jato manobrou para centralizar as acusações na mão
de um magistrado que não é imparcial.
Do GGN