Luís Roberto Barroso é uma pessoa horrível, com a alma
marcada indelevelmente pelas cicatrizes da vaidade mais superficial e profunda
que já vi em uma pessoa pública. Superficial porque envolta em um exibicionismo
vulgar, voltado permanentemente para os holofotes; profunda por ter se
incorporado indelevelmente em sua personalidade. É a prova definitiva de que a
ocasião faz o personagem.
Hoje em dia há essa dúvida atroz, supondo que a malta que
emergiu das redes sociais, vociferante, implacável, habitava a alma de cada
brasileiro, e apenas veio à tona no liberou geral das redes sociais.
Barroso – e Luiz Edson Fachin – são as demonstrações cabais
de como, em espíritos mais fracos e/ou mais ambiciosos, o cinzelamento da
personalidade pública se dá de acordo com as oportunidades de mercado.
Houve um tempo em que o mercado demandava sensibilidade
social, solidariedade, defesa dos mais fracos. E ambos aproveitaram o espaço,
Fachin na condição de advogado de movimentos sociais no campo.
Barroso, cuja meta de advogado sempre foi a busca dos grandes
clientes corporativos, o sucesso financeiro pessoal, descobriu nas
atuações pro bono (de graça) em temas morais a maneira de entrar em
círculos internacionais. E, como bom empreendedor jurídico, defendeu teses
polêmicas e moldou a faceta de humanista.
Depois, se valeu do mais brasileiro dos cacoetes – as
demonstrações de falsa intimidade com os grandões – para montar um círculo de
amizades internacionais.
Tempos atrás, foi apresentado a um jurista eminente da
Universidade de Frankfurt. O padrão alemão, na apresentação entre dois
juristas, consiste em cada qual declinar seu nome e sua especialidade. Barroso
apelou ao padrão brasileiro:
- Sou muito amigo do seu colega Fulano de Tal.
E o alemão, impassível:
- Eu também.
Barroso, algo atrapalhado:
- E frequento a associação Tal.
E o alemão:
- Eu também.
E se afastou sem nada a dizer.
Mas foi assim, como anfitrião do reino encantado do Rio de
Janeiro - que até hoje atrai a admiração e a fantasia dos mais velhos -, que,
sem dispor de um estudo significativo sequer, Barroso montou seu círculo de
amizades internacionais. Puro empreendedorismo com pitadas de coaching.
Quando refluiu a maré social e teve início a onda
punitivista, não levou muito tempo para Barroso – e Fachin – se enganchar na
nova onda, coincidentemente logo após sofrerem bulling de blogs de direita,
explorando vulnerabilidades de seus escritórios de advocacia.
Fachin surpreendeu o mundo jurídico ao negar habeas corpus a
uma liderança camponesa detida no centro-oeste. Logo ele.
Ambos votaram pela prisão após segunda instância. Logo após a
votação, estive com Barroso e pude testemunhar o incômodo dos ataques de blog
de direita do Paraná, repercutidos pelos blogs de ultra-direita da Veja, a
respeito da compra de um apartamento em Miami por sua esposa, sem usar o nome
de casada.
De lá para cá, Barroso se tornou o mais implacável dos
juízes, avalizando todas as arbitrariedades. E, dando-se conta do potencial do
tema, lançou-se também na arena política e no mercado de palestras, não sem
antes, demonstrando absoluto destemor em encarar o ridículo, de tratar Joaquim
Nabuco, Ruy Barbosa e San Thiago Dantas como seus antecessores, de juristas que
se tornaram políticos e intérpretes do Brasil.
Armado de leitura de orelha de livro de Brasilianistas,
inclusive das críticas de Sérgio Buarque à falsa intimidade dos brasileiros, ao
jeitinho, à malandragem, e das perorações profundas de Flávio Rocha, Barroso se
tornou um agente da libertação econômica do país. E passou a distribuir senso
comum liberal a torto e a direito, uma filosofia de botequim, perdão, de pub,
sobre sociologia e política.
Ao mesmo tempo, passou a praticar o exercício diuturno do
ódio embalado por maneirismos, um ódio tão visceral, tão primário, tão
ancestral, a ponto de abrir mão até de sentimentos tão antigos quanto a
civilização: o respeito pelo adversário caído.
Sua posição ontem, de não aceitar adiar a prisão de Lula, até
que o HC seja julgado pelo Supremo, é um dos episódios mais execráveis da
história do Supremo, uma demonstração de selvageria só encontrada em tribunais
inferiores, em procuradores sedentos de sangue, em delegados sedentos de
protagonismo, em jornalistas sedentos de escândalo.
Todas as intervenções de Barroso mereceram correções de
outros colegas. De Alexandre Moraes, quando Barroso informou não ter se
lembrado de determinado precedente, e Moraes ter alertado que ele havia votado
em tal questão. Ou da Rosa Weber lamentando a imposição da forma sobre o
conteúdo.
É esse o iluminista? o homem que só faz o bem? o
cidadão que não recorre a espertezas, ao jeitinho, ao oportunismo, como todo
brasileiro apud Barroso? Ou um huno, um visigodo, um justiceiro de periferia,
que executa o adversário caído.
Por tudo isso, apenas os poetas conseguem decifrar o enigma
STF atual. Decifrar Barroso, o Narciso, é mais simples.
Deus me proteja de mim
Chico Cesar
Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa.
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim
Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa.
Da bondade da pessoa ruim
Deus me governe e guarde ilumine e zele assim
GGN