Mostrando postagens com marcador cloroquina. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador cloroquina. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 15 de abril de 2020

A MÍDIA TEM QUE FUGIR DA ARMADILHA DA POLARIZAÇÃO CRIADA PELO BOLSONARISMO, POR LUÍS NASSIF

Há que se ter compromisso com a qualidade das informações, mas não o de tomar partido sem analisar todos os argumentos.
Nas grandes discussões públicas, uma das maiores dificuldades é escapar da armadilha da primeira versão, do consenso do grupo. Abandona-se a riqueza do contraditório, da análise e sopesamento das diversas opiniões por uma espécie de MMA intelectual.
Minha caçula, a Dora, descobriu esse viés quando tinha pouco mais de 16 anos. Entrou em um grupo de feministas no Facebook. Quando descobriram sua capacidade de argumentação, passaram a encaminhar para ela textos para serem desconstruídos.
Dora se tornou popular no grupo, recebia likes. Ate que largou tudo, saiu do grupo e fechou seu Face apenas para convidados.
Explicou-me claramente:
– Papai, discussão é para os dois lados aprenderem um com o outro. Aqui, só querem saber de lacrar, lacrar.
Continuou uma ardorosa feminista, mas não mais da turma das “feministas de Facebook”, como se referia ao grupo.
Invisto contra esse efeito manada há muito tempo. Insurgi-me contra a cobertura totalmente enviesada no impeachment de Fernando Collor, apesar de ter sido vítima de suas investidas. Reagi, sozinho em um primeiro momento, contra os massacres na Escola Base e no Bar Bodega. Passei os anos 90 dividido entre a análise econômica e a reação contra as unanimidades da mídia – especialmente nos linchamentos públicos.
Hoje em dia a mídia está disposta a recuperar sua imagem, depois de mais de uma década de discurso de ódio que pavimentou o sucesso do bolsonarismo. Mas continua presa ao mesmo movimento de efeito-manada de outros tempos.
O efeito-manada atual é legitimador. Com respaldo da ciência, enfrenta a besta-fera do bolsonarismo e seus micos amestrados. Mas continua manada. Se a manada caminha para blindar o Ministro da Saúde Luiz Fernando Mandetta, todos blindam. Se o boi condutor muda de direção, todos mudam.
Digo isso a respeito de duas teses centrais: o isolamento social e o uso da cloroquina. Aqui no GGN somos a favor do isolamento, por não enxergar outra alternativa; e – até informar sobre as pesquisas da Prevent Senior – céticos em relação à cloroquina.
Mas como formamos nossa opinião, não sendo especialistas? Lendo os estudos e as declarações dos especialistas e, a partir daí, nos guiando pela lógica dos argumentos e pelo bom senso.
Mas para tanto, tem que se apresentar todos os argumentos consistentes, contra e a favor. Não pode haver uma seleção apriorística da informação, de acordo com os critérios de manada.
Se há argumentos consistentes contra o isolamento, o público tem que ser informado, ao lado dos argumentos a favor do isolamento. Se há pesquisas comprovando a eficácia da cloroquina, não podem ser ignoradas, e têm que ser confrontadas com as pesquisas questionando sua eficácia – desde que ambas estejam respaldadas por estudos sérios.
Se a modelagem estatística do Imperial College estima os mortos na casa dos milhões, em países maiores, há que se abrir espaço para os estudos que questionem a modelagem, para não correr o risco das previsões serem atropeladas pelos fatos desmoralizando a ciência.
Sei que é difícil, ainda mais com a polarização e os fake News do bolsonarismo. Mas se a imprensa endossar o caminho da polarização, não estará cumprindo com sua obrigação de levar todas as informações ao público. Há que se ter compromisso com a qualidade das informações, mas não o de tomar partido sem analisar todos os argumentos.
Se não, corre-se o risco de tornar o bolsonarismo vitorioso, se uma só de suas apostas se revelar correta.
Do GGN

terça-feira, 14 de abril de 2020

XADREZ DAS PESQUISAS DA PREVENT SOBRE O USO DA CLOROQUINA, POR LUIS NASSIF

Os resultados das pesquisas já foram enviados para academias e publicações científicas e aguardam análise para publicação.
Peça 1 – sobre os testes de consistência das notícias
O GGN foi o primeiro veículo a publicar o áudio em que o dono da Prevent Senior alertava para os efeitos devastadores da Covid-19 sobre seus pacientes, incluindo a própria mãe.
Na época, houve críticas devido ao fato da Internet estar coalhada de fake News. E se fosse apenas mais um fake News? Decidimos dar o áudio fundado nas seguintes evidências:
No áudio, ele se refere ao nome do interlocutor, Alan. A fonte que me repassou o áudio mencionou um conhecido empresário de nome Alan, que faz parte de seu círculo de relações.
O nível de detalhes da gravação exigiria uma sofisticação incomum em praticantes de fake News.
A nota saiu. A reação da Prevent foram algumas explicações titubeantes sobre o fato, mas nenhum desmentido sobre o conteúdo. O áudio serviu para acender a luz vermelha sobre os perigos da coronavirus.
Nos dias seguintes, houve uma enxurrada de ofensivas contra a Prevent, devido ao número de mortes registrados: Prefeitura, Estado e uma insólita declaração do Ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, em rede nacional, crucificando a empresa. Todas com ampla cobertura da mídia.
Quando baixou a poeira, tinham-se os seguintes fatos concretos:
Fiscalização da Secretaria da Saúde que confirmou que a empresa seguia rigorosamente os protocolos médicos.
Investigação do Ministério Público Estadual que constatou que a empresa agiu corretamente.
Depoimentos de clientes atestando sua seriedade, inclusive uma pessoa da minha família.
A confirmação da existência da pandemia em São Paulo e o fato de todos os clientes da Prevent serem de grupos de risco – pessoas com mais de 60 anos, alguns com comorbidade.
De qualquer modo, na guerra do dia-a-dia da cobertura, a Prevent ficou de lado. Havia apenas menções vagas de que estaria pesquisando a doença.
Peça 2 – as pesquisas atuais da Prevent Senior
Ontem, procurei a assessoria da empresa para uma entrevista com o presidente Fernando Parrillo sobre o tema do custo dos planos de saúde. Qual seria o modelo de negócios montado por ele para oferecer um produto mais barato aos seus clientes, em um cenário em que as mensalidades para idosos, em outros planos, ascende a cifras exorbitantes?
Na entrevista, para minha surpresa, Parrillo mencionou as pesquisas do grupo com pacientes afetados pelo coronavirus.
Uma delas foi com 360 pacientes com coronavirus – um universo apreciável -, ao contrário do que parecia ser um universo restrito da médica Nise Yamaguchi. Segundo ele, a injeção de cloroquina nos dois primeiros dias reduziu consideravelmente sua exposição à doença, permitindo que, com os demais remédios ministrados, saíssem curados do tratamento.
Uma segunda – cujos resultados estão sendo mantidos em sigilo até sua publicação em revista científica – com mais de mil pacientes que já tomavam cloroquina para outras morbidades.
Os resultados das pesquisas já foram enviados para academias e publicações científicas e aguardam análise para publicação.
Por que o relato deve ser levado a sério?
O grupo tem o histórico de doença de todos os clientes e os dados clínicos de atendimento às vítimas de coronavirus. Aliás, o segredo da redução de custos está no acompanhamento pari-passu de todos os clientes para implementar políticas de prevenção.
Além disso, graças ao fato de sua clientela ser de grupos de risco, teve acesso a um universo de pesquisa que poucas instituições teriam acesso, com todos os dados de saúde e diagnóstico previamente organizados e catalogados.
Finalmente, porque não dá para blefar, já que as informações serão abertas para as instituições científicas analisarem as pesquisas.
Finalmente, tem explicações convincentes para o fato de outras pesquisas terem mostrado riscos para os pacientes – como a de Manaus (que divulgamos ontem), com 11 pacientes, suspensa após um deles ter falecido por problemas cardíacos.
Devido ao caráter experimental do tratamento, Ministério da Saúde e órgãos de medicina recomendam utiliza-lo apenas em pacientes já intubados, em estado grave – e, portanto, com os pulmões já afetados e com alta probabilidade de morbidade. E há também a dosagem ministrada, que não pode ser exagerada.
Já os procedimentos da Prevent Senior foram com pacientes até o segundo dia de manifestação da doença. Segundo Parrillo, este é o momento adequado porque, depois dos pulmões tomados pela doença, não haveria mais como a cloroquina reverter o quadro.
Quando chega no hospital para se tratar, informou Parrillo, os pacientes já estão no quinto ou sexto dia do aparecimento dos sintomas. Para aplicar o remédio até o segundo dia, foi montado um serviço de tele atendimento para identificar os sintomas e ministrar a droga antes mesmo que o paciente chegue no hospital.
De qualquer modo, há que se aguardar o veredito das instituições centíficas para quem as pesquisas foram submetidas.
Peça 3 – as consequências
Se confirmadas, as pesquisas trarão consequências políticas, científicas e médicas relevantes.
Do lado político, o inconsequente Jair Bolsonaro tem se valido da retórica da cloroquina para combater o isolamento social. Sem isolamento social, haverá um desastre, com ou sem cloroquina.
A politização imposta ao tema – por ele e por seu guru Donald Trump – fará com que a vitória da cloroquina seja considerada vitória da anticiência sobre o pensamento científico. Haverá uma exploração política intensa, com Bolsonaro tentando ocultar sua ciclópica incompetência na aposta no medicamento. Esse é o dilema maior: sendo boa para os pacientes, a mística da cloroquina será um horror para a política.
E, se as pesquisas forem confirmadas, a cloroquina apenas melhorará as condições iniciais dos pacientes, sem prescindir da retaguarda de leitos médicos e de UTI.
O estardalhaço que se seguirá provocará uma nova corrida do público às farmácias, mesmo daquelas pessoas sem sintomas de coronavirus. Será mais um efeito negativo da politização imposta por Bolsonaro.
Do lado científico, haverá a necessidade de se acelerar as análises das pesquisas e grandeza para despolitizar o tema, sabendo que poderá significar o fortalecimento dos dois governantes mais irresponsáveis e inconsequentes da história de seus respectivos países.
Do lado médico, se confirmados os efeitos positivos da cloroquina, haverá riscos no uso excessivo da dosagem ministrada. Daí o fato de não prescindir de acompanhamento médico.
Peça 4 – as políticas a serem aplicadas
Se confirmadas as pesquisas, não será tarefa fácil administrar a cloroquina.
O primeiro passo será a montagem de sistemas de identificação em massa dos sintomas do coronavirus na população. Haverá a necessidade de se utilizar recursos de tele atendimento.
Depois, a centralização do medicamento nas mãos do SUS, impedindo movimentos especulativos e privilégios para os detentores de renda.
Haverá a necessidade de um sistema tão amplo quanto o da vacinação. E um enorme esforço geral para impedir que a adesão à cloroquina seja confundida com o fim do isolamento social.
Além disso, a cloroquina é apenas a fase inicial do tratamento, que não prescindirá de estrutura hospitalar. Sorte do país é que a implementação ficará a cargo do SUS, e não do Paulo Guedes.
Peça 5 – não se briga com os fatos
Todos esses pontos foram pesados no GGN, antes da publicação da entrevista de Fernando Parrillo. Mas não cabe aos jornalismo brigar com os fatos. Mas será importante que todos os agentes envolvidos – políticos, médicos e científicos – se preparem para mudanças na discussão pública do tema, caso as pesquisas sejam confirmadas.
Mesmo assim, manteremos o “se confirmados” até a confirmação final pela ciência.
Do GGN