A justiça
praticada no Brasil seria cômica se não fosse trágica.
Não há quem
não saiba que ela é demorada, cara, e tenha lado, o dos mais poderosos, é claro
- um leão com os ratinhos; um ratinho com os leões.
Exercida
desde sempre pela turma que ocupa o topo da pirâmide social, enxerga os dos
andares de baixo como inferiores, exatamente da mesma maneira que seus
companheiros de estamento.
Nossos
"doutores" vivem em casas luxuosas, andam em carros luxuosos, vestem
roupas luxuosas (compradas em Miami, segundo o atual secretário de Educação
paulista, desembargador aposentado), vivem, enfim, no luxo reservado a 1%
da população brasileira.
Intocáveis,
consideram-se seres especiais, e exigem ser tratados como tais.
O Judiciário
e o Ministério Público brasileiros são a maior caixa preta que existe.
Seus
próprios integrantes se encarregam de fiscalizá-los - de protegê-los, na
prática.
E de tempos
para cá, resolveram assumir um protagonismo na vida nacional absolutamente
incompatível com suas funções.
Falando
português claro, querem mandar no país.
Se
intrometem em tudo, desde a definição da velocidade do trânsito de veículos em
vias públicas até o estabelecimento de uma cruzada destinada a erradicar a
corrupção.
Nesse último
caso, resolveram até mesmo ir além dos textos legais e criaram uma legislação
própria.
Segundo
esses novos cânones, o acusado tem de provar que é inocente, quando, no mundo
todo, a norma é justamente o oposto - o ônus da prova cabe a quem acusa.
Fora isso,
boatos, rumores ou fofocas são aceitas como verdades, desde que elas digam o
que os acusadores querem, e prisões preventivas ou temporárias duram meses e
anos, como forma de torturar os acusados.
E - acredite
quem quiser! - juízes não só julgam, como são parte preponderante da acusação.
Na semana
passada um dos mais claros exemplos dessa nova e inusitadaJustiça à brasileira
veio a público - a peça acusatória de um dos processos contra o ex-presidente
Lula, mais de 300 páginas sem nada de concreto que sustente a tese de que ele é
o maior corrupto do universo.
O texto, por
si só, é a mais eloquente defesa do ex-presidente, tal a sua inconsistência e
banalidade.
O mais
interessante, porém, é constatar que a acusação de que Lula é o dono oculto de
um apartamento triplex no Guarujá, parte da propina que teria recebido de uma
empreiteira, tem a assinatura de um quase imberbe procurador da República que
não acha nada demais ter comprado dois apartamentos subsidiados pelo programa
Minha Casa, Minha Vida, como investimento - os dois, se vendidos, proporcionam
lucro superior a 60%.
A justiça no
Brasil, como se vê, não é apenas caolha: ela é também canalha.
Do GGN