Proposta
propõe abrir diálogo permanente sobre a situação política do país e ouvir os
problemas que afligem as localidades e seus moradores, em todos os estados da
federação.
Foto Dino Santos/ Frente Brasil Popular
Dialogar com a população: movimentos iniciam atividades para o
Congresso do Povo, Por José Eduardo Bernardes
Iniciativa da Frente Brasil Popular servirá também para expor
ao povo o momento político brasileiro.
A Frente Brasil Popular, entidade que reúne movimentos
populares, centrais sindicais e partidos políticos, lançou nesta sexta-feira
(2), as bases que nortearão a criação do Congresso do Povo.
A iniciativa irá propor à população brasileira um diálogo
permanente sobre a situação política do país e, principalmente, irá ouvir os
problemas que afligem as localidades e seus moradores, em todos os estados da
federação.
Durante a reunião, que aconteceu na Escola Nacional Florestan
Fernandes, espaço formativo do Movimento das Trabalhadoras e dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), no interior de São Paulo, lideranças políticas
decidiram um cronograma de atividades que desembocarão em um congresso
nacional.
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A atividade nacional deverá acontecer em meados de julho
deste ano, e buscará, em conjunto com toda a população, as saídas para a crise
que afeta o país desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a criação
de um projeto brasileiro baseado na soberania nacional, no respeito à
democracia e no combate às desigualdades sociais.
O Congresso do Povo retoma trabalhos de diálogo com as bases
populares realizados, por exemplo, pelas Comunidades Eclesiais de Base, no
início da década de 1960, quando leigos, padres e bispos, debatiam os problemas
locais e apontavam suas soluções, em comunidade. As CEB’s, como ficaram
conhecidas, foram as responsáveis por formarem algumas das mais importantes
lideranças políticas do país.
A construção de um Congresso do Povo é um passo importante
para dialogar com o povo brasileiro as consequências do golpe, o contexto em
que acontecerão as eleições deste ano e o que está acontecendo com o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, explica Eliane de Moura Martins, do
Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD).
"Todos esses temas precisam ser transformados em um
diálogo acessível, compreensível, do ponto de vista do nosso povo, da classe
trabalhadora, especialmente esta que vive na pele, na carne, os ataques de todo
o desmonte do estado brasileiro. O Congresso do Povo é para ser essa
ferramenta, essa mediação, entre essa realidade, a complexidade dos elementos
da política que nós estamos vivendo no país e todas as consequências delas, com
as massas trabalhadoras", disse.
Método Paulo Freire
O diálogo com a população, segundo Martins, deve ser
realizado com base em métodos de escuta das questões do povo. Ela destaca que
essa é uma herança resgatada dos ensinos do educador Paulo Freire.
"Nós estamos nos provocando aqui a nós retomarmos esses
princípios na nossa prática. Ou seja, partir da realidade. Para isso temos que
ter uma sensibilidade muito grande com a escuta, com a capacidade de não
imediatamente jogarmos nossas verdades sobre as pessoas, inclusive no seu senso
comum, nas suas leituras que podem vir mediadas por visões que são
contrabandeadas pela Rede Globo, por exemplo", explicou.
Para Nalu Farias, da Marcha Mundial de Mulheres (MMM), a
iniciativa deve, de fato, partir da experiência e da realidade das pessoas.
"Isso implica também em um processo muito mais horizontal, que não é essa
ideia de que um fala e o outro escuta, mas que todos possamos falar e nos
escutar. Implica a gente criar formas de intervenção, que explore outras
linguagens, além da fala, de formas culturais que respeite cada região, como o
pessoal do nordeste trabalhava com cordéis", pontuou.
Ponta pé
Os diálogos com as comunidades locais já são uma realidade em
diversos cantos do país. Em Alagoas, no nordeste brasileiro, entidades que
compõe a Frente Brasil Popular estão preparadas para a criação dos congressos
municipais e estaduais, como lembra Gustavo Marinho, do setor de comunicação do
MST.
"Em Alagoas, a gente já tem feito um debate em torno do
Congresso do Povo e todo mundo está bastante ansioso com essa possibilidade de
a gente construir esse processo rico de trabalho de base e mobilização com o
conjunto da sociedade alagoana. O que a gente já vem construindo, do ponto de
vista da unidade das organizações, tem colocado para a gente um grande desafio
de conseguir chegar no conjunto do povo da classe trabalhadora alagoana",
disse.
Os diálogos com a população brasileira devem se intensificar
até o começo de março quando deverão acontecer os primeiros congressos
estaduais.
GGN