Foto:
Antonio Cruz/EBC
Cemitério
sem inflação - o completo fracasso de um plano econômico
Um plano
econômico que não poderia dar certo ameaça levar ao Brasil a uma depressão
inédita, um dos países de economia historicamente mais dinâmica do planeta
caindo nas profundezas de uma depressão gerada pela política econômica
equivocada, sem lógica, sem nexo e sem ciência, manejada pelo sistema
financeiro em seu próprio benefício.
O DEBATE DA POLÍTICA ECONOMICA
Nos anos 40,
50, 60 e 70, foi intenso no Brasil o debate na academia, na imprensa, nas
associações empresariais sobre política econômica, sobre linhas doutrinárias,
propostas, alternativas, custos e vantagens de cada variante da governança da
economia do País.
Como dizia
Keynes, a história da humanidade é a história do pensamento econômico e pouca
coisa além disso. Discutir a política econômica de um grande País é tema
central dos cidadãos.
Hoje se
verifica um DESERTO completo nessa discussão, a imprensa pelos grandes jornais
e noticiários de TV toma como ÚNICO o caminho apontado pelos “economistas de
mercado”.
Nunca há um
rumo único na política econômica, é uma política e, como tal, permite opções.
Uma safra de
economistas robotizados que nasceu na esteira do Plano Real e que conhece um só
tipo de política econômica, o que é uma fraude, os caminhos podem ser
muitos, a ciência econômica é sempre plural, desde que existe a partir de
Colbert no Século XVIII, o estudo da economia permite um cenário de amplas
discussões sobre custos e benefícios avaliados no contraponto de alternativas,
não há uma ciência econômica una e exclusiva, os modelos das duas maiores
economias do planeta, EUA e China, são completamente diferentes e funcionam
cada qual no seu contexto social e político, economia não é uma equação
matemática.
No entanto
essa imprensa desprovida de conhecimentos louva como uma divindade uma
“equipe econômica” como se, sem ela, o País não sobrevivesse. Um delírio, meia
dúzia de mentes esquemáticas, sem brilho, tocadores de realejos concebidos fora
do Brasil e carentes de formulações mais elaboradas, uma política medíocre e
sem criatividade quando uma coisa é certa: política econômica tem que ser
pensada dentro das condições de cada País, não há uma ciência econômica
universal baseada em fórmulas matemáticas idênticas.
A mídia
brasileira se recusa a participar de debates contraditórios sobre a política
econômica, endossando em branco fórmulas como se fossem verdade divina
revelada. Abstém-se a mídia, por exemplo, de debater clivagens cruciais.
Cito apenas duas:
O catecismo
religioso do plano assegura que, com a queda da inflação, devem cair as taxas
de juros para a economia real. Tal não vem acontecendo desde 2015, as taxas não
só não caem, como sobem, mesmo as que se mantém nominalmente iguais representam
JUROS REAIS muito mais altos porque a inflação descontada agora é menor do que
em 2015, do que resultam JUROS REAIS muito maiores e não menores, como reza a
lógica anunciada da política econômica. Cai a inflação, deveriam cair os juros
como consequência, não é essa a equação apresentada ao público?
MAS não
caíram, os juros reais de hoje são muito maiores do em 2015, tanto
na taxa Selic como nas operações com os tomadores privados, apesar da queda da
inflação, DESMONTA-SE A LÓGICA DO PLANO.
O Banco
Central, dominado pelo sistema financeiro, abriu mão, pela Circular 3.691
de 2013, da FISCALIZAÇÃO E CONTROLE DE C MBIO, o Sistema FIRCE, cujas raízes
têm mais de 80 anos. Agora os bancos se auto controlam, o que significa uma
selva no mercado de câmbio, nem em paraísos fiscais o câmbio é tão
desprovido de controle.
Em
consequência montou-se um “cartel do câmbio” que está sugando bilhões de Reais
daqueles que precisam comprar ou vender moeda estrangeira, sob o olhar
inexistente do Banco Central, que abriu mão do controle. A Associação
Brasileira de Comércio Exterior está processando junto ao CADE esse “cartel de
câmbio” onde os bancos fixam entre eles taxas de compra e venda com spreads
enormes, muito acima da média internacional, auferindo espantosos lucros com a
manipulação das taxas de câmbio. A ABCE pede um ressarcimento de R$70 bilhões
extorquidos pelo “cartel do câmbio livre”, livre de qualquer controle, operam
como em Cayman ou Mônaco.
Veja-se que
a Associação dos Exportadores NÃO está reclamando no Banco Central e sim no
CADE porque evidentemente não confia na isenção do Banco Central.
A imprensa
brasileira, Globo, Estadão, Folha, Valor, se isentam de dar destaque a esses
dois MEGA FUROS do plano econômico, só possível pelo domínio completo pelos
bancos sobre a Autoridade Monetária, que não existe mais como mecanismo de
governança em nome do País, o Banco Central é dos bancos e de mais ninguém.
TODOS os
diretores do Banco Central que integram o COPOM são aprovados pelo ”mercado”,
não há nenhum de centros de pensamento econômico alternativo, totalmente ao
contrário da diretoria do Federal Reserve, onde cada um dos sete titulares vem
de ESCOLAS DE ECONOMIA diversas, exatamente para haver debate.
O ATUAL PLANO ECONÔMICO
Como
poderíamos denominar esse plano?
Plano
econômico Globo-Itaú? O Itaú, como maior força do mercado, indicou o presidente
do BC, mentor principal do plano e fanático das METAS DE INFLAÇÃO, modelo que
justifica as mais altas taxas de juros básicas e na ponta do tomador entre
qualquer das grandes economias. Taxas de juros que fizeram do Banco Itaú um dos
vinte maiores do mundo em valor de mercado, R$225 bilhões de Reais, o dobro do
que vale o DEUTSCHE BANK, maior banco da Europa e com 200 anos de história.
A GLOBO,
pela alucinada defesa que o maior grupo de comunicação do País faz desta
política, O Plano Depressão do Brasil.
Plano
econômico BOLETIM FOCUS? Nome que se justifica por esse questionário que
consiste em perguntar toda semana ao agiota quanto ele quer de juros para ficar
contente e a partir da resposta o Tesouro paga o que mercado quer de juros, por
isso mesmo os mais altos do mundo, o Boletim FOCUS é a confissão de submissão
do Banco Central ao mercado.
Enquanto nos
EUA o mercado espera ansioso o que o FED vai resolver sobre juros, aqui não é
preciso adivinhar: o mercado já sabe quanto o Tesouro vai pagar porque é ele
quem decidiu.
Na
realidade, é um plano gestado nos departamentos de economia dos grandes bancos
privados para atender seus interesses e objetivos dentro da economia, não é um
Plano Econômico para a população brasileira, suas necessidades e seu futuro.
Miremos no
exemplo dos EUA, o grupo de sete pessoas que administra o banco central
americano, o Board do Federal Reserve System, NÃO tem vinculação com o sistema
financeiro, são professores de economia de alta reputação, independentes
e sempre foi assim, não se aceita banqueiros para gerir o Banco Central. Mais
ainda, esses professores que compõem o Board do Federal Reserve são DE ESCOLAS
DE ECONOMIA VARIADAS para não viciar a direção do FED com uma só linha de
pensamento econômico. Porque é assim?
Porque
banqueiros vão formular um plano em benefício dos bancos, por isso o sistema
não tem banqueiros na direção do FED, política monetária não pode ficar na mão
de banqueiros.
O último
grande banqueiro que geriu a economia americana foi Andrew Mellon,
Secretário do Tesouro de 1921 a 1932, Mellon por uma política restritiva
e ultraconservadora levou os Estados Unidos à crise de 1929, é o pai da Grande
Depressão, saiu execrado da vida pública, símbolo do capitalismo gerindo ele
mesmo sem interesse pela população.
Assumindo a
Presidência, Roosevelt reverteu política de Mellon, assim como demitiu seu
chairman do FED, Eugene Meyer, no meio do mandato. Mellon e Meyer estavam
aprofundando a recessão de 1929, que virou a Grande Depressão, faziam uma
política muito similar ao do atual Plano Meirelles, pensavam em reduzir gastos
e não em sair da recessão.
O ESCANDALO DOS JUROS REAIS MAIS
ALTOS DO MUNDO
Juros reais
altíssimos no MEIO DA RECESSÃO, uma irracionalidade completa, a economia
afunda, a inadimplência atinge 61 milhões de brasileiros com o nome sujo,
dezenas de milhares de lojas fechadas pelo País a cada mês, a arrecadação
federal, estadual e municipal caindo mês a mês, para espanto dos arautos desse
plano que se “surpreendem” com a queda de arrecadação provocada por eles mesmos
e já sugerem novos impostos para compensar, o que irá aumentar o rumo negativo
da economia. Como alguém pode se surpreender com a queda da arrecadação, se
isso é uma consequência natural da imposição da política recessiva?
O PLANO ECONÔMICO COMO CAUSA DA
RECESSÃO
O atual
plano econômico METAS DE INFLAÇÃO COM JUROS ALTOS EM PLENA RECESSÃO vai levar o
Brasil a uma depressão profunda. Convoque-se dez Prêmios Nobel de Economia e
nenhum endossará esse atentado contra a racionalidade e a ciência econômica.
PARA SAIR DA
RECESSÃO É PRECISO ESTÍMULO MONETÁRIO, mais dinheiro na rua e não menos, como
faz o plano recessivo, valorizando o Real ao preço de operações que, só
no primeiro semestre do ano passado, custaram R$ 207 bilhões de prejuízos ao
Banco Central, cobrados do Tesouro, em nome de desvalorizar o dólar para atingir
a sacrossanta meta de inflação, ÚNICO EIXO DA POLÍTICA ECONÔMICA, não há nenhum
outro, não há meta de emprego, meta de crescimento, meta de investimentos
públicos, só o controle de inflação.
Não se trata
de escolas econômicas divergentes, é consensual em todas as escolas de
economia, ortodoxas, heterodoxas, do velho e do novo pensamento
econômico.
Não se
bloqueia dinheiro em plena recessão, agravando a crise e aprofundando o
desastre.
Quem formula
e vende ao comando político um plano que agrava profundamente a
crise econômica e social demonstra não ter categoria de economista político,
função que visa ajustar a economia com o menor sacrifício possível e levando em
conta SEMPRE o conjunto da situação política do País, como fez Keynes em 1933, não
só ele, outros grandes economistas souberam casar a realidade com a ciência
para diminuir o sofrimento, do mesmo modo que faz a medicina que evoluiu do
martelo para a anestesia para diminuir e não para agravar o sofrimento dos
doentes.
Os
inventores dessa política econômica que identifica a cura com sofrimento
estão desligados da realidade social do País, operam em cima do boletim FOCUS,
excrescência que pergunta ao carrasco como ele quer manejar a lâmina, pergunta
a quem deve ser regulado quanto ele quer ganhar, quando a função do Banco
Central é liderar o mercado e não ser por ele liderado, o Banco Central não faz
perguntas, o Banco Central dá a direção ao mercado.
Toda a
lógica da política econômica do plano Meirelles é equivocada, centra como maior
problema do País a inflação, quando o maior problema é o emprego que permitiria
a sobrevivência da grande massa de desempregados e subempregados que não tem
renda alguma. Nesse contexto do mal menor, a meta de inflação a níveis que
chegam à depressão é um objetivo que significa menor valor para essa população
do que ter emprego e renda.
A moeda
supervalorizada é ótima para rentistas e nada significa para desempregados.
OS FUROS DO PLANO ECONÔMICO
A DESPESA
maior do orçamento federal é a CONTA DE JUROS, que considera não só o Pagamento
dos juros da dívida em títulos, mas também o carregamento das operações
compromissadas do BC e dos swaps cambiais, todas despesas incorridas com um
mesmo objetivo: atingir a META DE INFLAÇÃO.
O conjunto
das despesas chega a R$650 bilhões por ano, MUITO MAIS que qualquer outra
despesa do orçamento federal, incluindo a previdência, é MUITO SUPERIOR ao
déficit orçamentário federal que é a OBSESSÃO dos Mansuetos e Samueis. Só no
primeiro semestre de 2016, o BC teve prejuízo de R$207 bilhões por causa dessas
operações, custo repassado ao Tesouro, NENHUMA citação desse custo pela equipe
econômica, mas citam incessantes despesas muito menores com benefícios sociais
como se fossem o grande problema e não os juros pagos pelo Tesouro.
Para ajustar
o orçamento federal pode-se seguir dois caminhos: cortar cada vez mais,
inclusive despesas essenciais e obrigatórias como ameaça Mansueto de
Almeida OU pode-se aumentar a arrecadação federal através da recuperação da
atividade econômica, processo mais racional do que a estupidez do corte linear.
A equipe
Meirelles-Goldfajn ideologicamente prefere matar o País com corte de despesas e
não aumentar a arrecadação pela reativação da economia.
Essa opção é
ideológica, esse tipo de ECONOMISTA identifica como boa política econômica
aquela que exige SACRIFÍCIOS, se não houver SACRIFÍCIO a política não é
virtuosa, aí existe um conteúdo religioso do SACRIFÍCIO como redenção dos
pecados.
Os
economistas ortodoxos da Grande Depressão pensavam a mesma coisa, é preciso
PURIFICAR os pecados, punir os ímpios pelo sacrifício, pela pobreza, pela
miséria, só assim se pune os malefícios dos gastadores, dos que usufruem
de bolsa família e seguro desemprego sem trabalhar.
A PURGAÇÃO PELO SACRIFÍCIO
A reativação
da economia por ESTÍMULOS MONETÁRIOS faz elevar a arrecadação e com isso
reequilibrar as contas, mas isso não serve para os ECONOMISTAS DO SACRIFÍCIO,
se não houver punição pelos gastos sociais que pagam a vagabundagem dos pobres,
a política de ajuste não vale moralmente, é preciso que o povo sinta na pele a
dor do sacrifício porque foram parceiros dos gastos dissipadores da Bolsa
Família, da saúde gratuita dos SUS, das merendas nas escolas, tudo isso foi
IRRESPONSÁVEL, segundo a visão ortodoxa, é preciso oficiar para expiar o mal da
PURGAÇÃO no altar do neoliberalismo de mercado para que eles, os punidos
pela crise sejam sacrificados em nome dos financistas ricos no altar das
oferendas em honra da AUSTERIDADE FISCAL, de preferência à moda grega, o mesmo
programa que levou países europeus a grande desemprego e gerou crises sociais e
políticas profundas.
A ironia é
que aqueles países não tinham recursos, precisam importar comida e petróleo,
enquanto o Brasil tem alimento e energia em abundância, não depende do exterior
para sobreviver, como a Grécia, que sem crédito não consegue comer e gerar
energia.
Não há maior
algoz de pobre do que outro pobre, nada existe de mais patético do que POBRE DE
DIREITA, um coitado que defende os privilegiados e os rentistas por convicção.
O atual
PLANO ECONÔMICO é um desastre ideológico, nada justifica paralisar um País rico
de recursos naturais em função de uma referência estatística que atende pelo
nome ridículo de METAS DE INFLAÇÃO, um País jogado no abismo em benefício de
uma estatística de frações de um por cento, coisa de mentes miúdas, de gente
pequena, medíocre, canhestra, pedestre, pigmeus intelectuais, anões de cultura
e de conhecimento do pensamento econômico renovado de nossos dias, a “política
de ajuste” que eles pregam está FORA DE MODA até no Fundo Monetário
Internacional, hoje com uma visão crítica do ajuste grego e já sensível à
renovação do pensamento econômico pós-2008 que atingiu até a outrora catedral
do monetarismo, a Universidade de Chicago, onde um plano como esse não seria
aprovado por calouros, tal a insensatez e insanidade de propor ações
pró-recessão em um dos pais mais ricos do mundo em recursos naturais, agrícolas
e energéticos.
KEYNES E A RECESSÃO
Na obra que
o consagrou, a “Teoria Geral”, Lord Keynes demonstra que em ciclos de
profunda recessão o mercado não tem a capacidade de auto-ajuste, o mercado não
tem essa ferramenta de reverter um ciclo continuado de queda da atividade
econômica.
Nesta
situação, só o Estado pode aumentar a demanda agregada que justifique novos
investimentos em produção. Keynes especificamente apontou que a noção de que
com a baixa da inflação e dos salários consequente ao desemprego, isso levaria
a um estímulo para os empresários investirem, exatamente o que apregoam os
“economistas de mercado” que sustentam o plano Meirelles. Keynes
demonstrou como isso é falso, que os empresários não vão investir se não
há demanda para seus produtos. É exatamente o ponto onde se encontra o Brasil
hoje. A equipe econômica aparentemente não leu e não aprendeu as lições de
Keynes, operam com noções de uma economia ortodoxa desmentida pela Grande
Depressão, tudo o que estão fazendo e pregando NÃO vai levar os empresários
investirem e não vai tirar o País da recessão, esses cérebros são economistas
pré-keynesianos, não sabem ou não aprenderam a lição da História econômica de
crises recessivas anteriores da história do capitalismo.
O pano de
fundo intelectual e ideológico desse plano de AJUSTE COM JUROS ALTOS E METAS DE
INFLAÇÃO não é da formulação do Ministro da Fazenda, ele não tem bagagem para
formular um plano econômico, é apenas um executivo de banco mediano, a
formulação vem de outras cabeças, um pequeno círculo de economistas
anacrônicos, fora do tempo e do espaço, formados muito antes da crise de 2008,
com um pensamento monetarista démodé superado por outras reflexões sobre como
lidar com economias em crise.
OS ERROS DO GOVERNO DILMA
A moeda de
troca oferecida por esse pequeno grupo é reverter os erros da assim intitulada
“Nova Matriz Econômica” do governo Dilma, algo que nunca existiu como política
econômica consistente, não havia nenhuma política econômica, só uma série de
improvisos ao sabor da conjuntura, essa “Nova Matriz” não era uma política
construída e sim uma soma de medidas não articuladas. Os desacertos do
governo Dilma foram reais MAS não foram eles a causa principal da longa
recessão estrutural que se projeta agora para mais de CINCO ANOS.
O conjunto
desses erros poderia ser revertido a curto prazo, não teriam o poder de
prolongar por tanto tempo a recessão a eles atribuída. Política de preços de
combustíveis e de energia pode e já foi revertida e nem por isso a recessão se
abateu, o déficit orçamentário de Dilma continua no governo sucessor, sem que
se possa colar nele a recessão. A maioria dos governos do mundo, a começar pelo
dos EUA, têm déficits por anos seguidos sem por isso entrar em recessão. O que
faz e alimenta a recessão é a POLÍTICA MONETÁRIA do Banco Central.
A CAUSA REAL DA RECESSÃO
A causa
estrutural da recessão é a DOMINÂNCIA do conjunto da política econômica pelos
interesses exclusivos do mercado financeiro, centrado na imposição CONTRA A
LÓGICA ECONÔMICA MAIS ELEMENTAR, de juros reais CINCO VEZES a média
internacional, não só em relação a juros pagos por países ricos mas também em
relação a JUROS PAGOS POR PAÍSES EMERGENTES, menores e com menos reservas
cambiais em relação ao PIB do que o Brasil.
O Peru, por
exemplo, paga juros reais em sua dívida pública que são MUITO ABAIXO do Brasil,
assim como a Colômbia, México, Índia, Paquistão, o Brasil está fora do
passo em relação a maioria dos países emergentes, com relação aos países ricos
o Brasil está pagando juros reais de QUATRO A CINCO vezes maiores, sem
explicação à luz da teoria econômica.
Uma das
consequências da dominância do mercado financeiro sobre o governo foi a
extraordinária mudança de posição dos bancos privados em relação aos bancos
públicos.
Nas três
décadas nas quais o Brasil teve o maior crescimento econômico do planeta, de
1945 a 1975, o Banco do Brasil era maior que os dez maiores bancos privados
somados.
Os grandes
Estados tinham cada um seu banco estadual para financiar a produção regional,
São Paulo tinha o poderoso BANESPA, de expressão internacional, Minas Gerais
tinha três bancos públicos, a Guanabara tinha o riquíssimo BEG, que tinha
tantos depósitos que não conseguia aplicar no Rio de Janeiro, outros Estados
tinham seus bancos públicos.
Na histeria
privatista do Plano Real quase todos os bancos estaduais foram vendidos, a
maioria para o Itaú, alguns com o preço inferior ao crédito tributário que
carregavam, todos sob o pretexto falso de que estavam quebrados, o valor da
rede de agências não estava no balanço.
Hoje o BANCO
ITAÚ vale no mercado R$225 bilhões e o Banco do Brasil um terço disso, R$75
bilhões, uma extraordinária transferência de capital bancário público para
banqueiros privados, resultado óbvio do domínio do mercado sobre o Estado.
Esse
processo levou à cartelização do sistema bancário privado, o Brasil tinha 600
bancos em 1975 e hoje basicamente três bancos dominam o mercado privado. Com
esse processo esterilizou-se o crédito, caro e seletivo, os bancos se voltam
para o mercado “exclusivo” para a classe média alta, afastando-se cada vez mais
da economia real.
A DOMIN NCIA FINANCEIRA SOBRE A
POLÍTICA ECONÔMICA
Ora, não há
no mundo dos grandes países nenhum governo tão dominado pelo dito “mercado” na
escala em que se encontra o Brasil. O “mercado” tem interesses específicos, que
não são os da população como um todo. Nos EUA, a dominância excessiva do
mercado levou à crise de 2008, salva pelo Estado e não pelo mercado, hoje o
mercado perdeu peso, prestígio e importância no sistema de governança dos EUA,
a eleição de Trump é uma resultante disso.
No Reino
Unido, o “mercado” jamais optaria pela saída da União Europeia, isso
prejudicaria extraordinariamente os negócios financeiros de Londres. Mas a
população pensou de outra maneira e o “mercado” não foi atendido, o BREXIT foi
contra o mercado.
O Brasil é
hoje um caso único entre os grandes países do G-20, nenhum outro tem sua
política econômica de tal forma dominada pelo “mercado”, que não fala pela
população, fala apenas pelos rentistas e especuladores, pelos “gestores” de
fortuna e banqueiros.
Essa
dominância é INEXPLICÁVEL para um País com as dimensões do Brasil. O “mercado”
não está preocupado com o desemprego, a desindustrialização, a perda da
independência econômica, a miséria e o crime nas periferias das grandes e
médias cidades, a precariedade dos serviços de saúde e saneamento, a
fragilidade da educação fundamental, a falta de oportunidade para toda uma
geração de jovens entre 14 e 24 anos, onde o desemprego é de 30%, o dobro da já
alta média nacional de 15%.
Nada disso
diz respeito ao mercado, mas é ele que hoje rege a economia do País.
É
inexplicável que um Estado poderoso como o brasileiro se deixe dominar pelo
“mercado” de forma tão submissa, levando o País a uma recessão inédita na sua
História, nem a crise de 1929, que abalou o mundo, atingiu de forma tão
profunda a economia brasileira da época.
NOVAMENTE OS ERROS DO GOVERNO DILMA
COMO JUSTIFICATIVA
Para o
diagnóstico correto da atual recessão é fundamental encontrar sua raiz, a
nascente de onde parte o impulso negativo que leva a economia a andar para
trás. É encontrando sua fonte que o remédio pode ser receitado, essa análise é
necessária para a cura.
Não se use a
desculpa que a recessão de hoje é ainda resultado dos erros do governo Dilma.
Os equívocos
do governo Dilma são a explicação POLITICAMENTE conveniente da atual recessão,
que se agravou após a queda de Dilma com mais 2,5 milhões de desempregados, mas
esses erros foram conjunturais, os problemas estruturais da economia brasileira
vem de muito mais longe, o tumor é mais profundo do que erros pontuais e o
déficit público que já existe há décadas na economia brasileira, déficit que
também existia em anos de grande crescimento,
NÃO é a
causa da atual recessão, ao contrário, o déficit existe porque a arrecadação
vem caindo e a maior parte das despesas são fixas e irredutíveis com a atual
Constituição.
O maior de
todos os déficits vem da conta de juros, que faz parte da atual política e essa
conta é considerada intocável pela equipe econômica atrelada a essa política.
A raiz da
recessão é mais profunda, vem da política monetária já praticada no governo
anterior, recessiva por causa de juros reais muito acima do necessário e mais
do que a economia pode suportar, juros praticados por um Banco Central descolado
da economia real e capturado pelo mercado financeiro no seu âmago, o BC nunca
esteve a serviço do conjunto da economia e sim a serviço do sistema financeiro,
processo que vem desde o Plano Real.
O governo
Dilma não teve uma política econômica firme e com objetivos racionais, foi uma
política hesitante e oscilante, com medo ancestral do mercado, a política
já era a de METAS DE INFLAÇÃO, a mesma política que agora foi RADICALIZADA por
fanáticos da deflação como ideologia e modus operandi, como crença e porque não
sabem operar a economia de maneira mais racional e criativa, é mais confortável
atender ao mercado do que enfrentá-lo.
A dominância
da política econômica pelo “mercado” se consolidou no primeiro Governo Lula,
com a entrega sem condições do Banco Central ao “mercado” na pessoa de Henrique
Meirelles, essencialmente um delegado do mercado e não um formulador econômico.
Foi o
maior erro do Governo Lula e a causa do desastre final da política econômica
nos doze anos do PT. O ovo da serpente da recessão de hoje estava sendo chocado
com esse arrendamento do BC ao Boletim Focus como práxis e ideologia, o ponto
de partida foi a gestão Armínio Fraga no BC, quando se inicia o Boletim Focus e
a dominância do mercado.
Lula tinha
capital eleitoral para seguir uma política muito mais independente, mas
preferiu o comodismo de entregar por completo a política monetária e a política
cambial ao arbítrio exclusivo do mercado sem reserva de poderes para
contraditar a gestão do BC ou influir na política econômica. Deu certo no
início porque as expectativas eram muito piores para seu governo e pelo
favorecimento do ciclo de explosão de preços das commodities.
No Governo
FHC até a gestão Armínio não havia essa dominância, tanto que a política
cambial foi mudada por completo quatro vezes sem ser determinada pelo mercado,
era o Governo que decidia o câmbio e não o mercado. Parece coisa simples, mas
não é, o Governo FHC usava o mercado mas não era dominado por ele, o Governo se
reservava o poder de decisão sobre o câmbio, isso começou a mudar com a gestão
Armínio e o acordo com o FMI.
O Governo
Lula, seguido pelo Governo Dilma, entregou POR COMPLETO E SEM RESTRIÇÕES, o
Banco Central ao mercado, Meirelles jamais foi um estrategista como Gustavo
Franco ou Armínio Fraga, apenas delegado do mercado no BC para atender o
sistema financeiro daqui e de fora, seu papel é o de “representante” do mercado
no BC. Ele é produto do mercado.
No governo
Dilma trocou-se o presidente do BC, mas manteve-se o modelo com uma diretoria afinada
com o mercado. Quando Dilma quis intervir na política de juros, caiu o mundo e
ela teve que voltar atrás, já não tinha mais poder de enfrentar o mercado. Não
foi a queda de juros reais imposta por Dilma que deu início à recessão, mas sim
o retorno às taxas de juros reais várias vezes acima da média internacional.
Essa baixa e volta à alta foi um desastre de percepção nos rumos da economia,
somado a erros evidentes no tabelamento dos combustíveis e no desmonte do setor
energético, atos irracionais sob qualquer ponto de vista.
A nomeação
de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, nome indicado pelo mercado, agravou
rapidamente o erro de ida e volta na política de juros e nessa gestão começa o
ajuste fiscal improvisado, cujo único alvo foram as despesas mais essenciais de
funcionamento do governo e os investimentos públicos, uma vez que as despesas
com pessoal ativo e inativo são fixas.
Enquanto
houver essa dominância pelo mercado da política monetária que necessariamente
se atrela a política cambial, o Brasil não sairá da recessão, para o sistema
financeiro cartelizado a depressão é ótimo negocio, baixa o preço dos ativos e
o juro real sobe.
A ALTA CONTINUADA DOS JUROS REAIS E O
NAUFRÁGIO DO PLANO MEIRELLES
Hoje os
JUROS REAIS NO BRASIL são muito mais altos do que em 2015 e 2016, ao contrário
do que dizem as Miriams e os Sardenbergs, os JUROS ESTÃO SUBINDO DESDE QUE
COMEÇOU A RECESSÃO, tanto na taxa básica Selic como para tomadores privados.
O pior é que
a leitura que se faz no Brasil sobre os rumos da economia mundial está
defasada.
A economia
mundial pós-2008 não é a mesma de antes, mas no Brasil se opera como se fosse.
A
globalização financeira está sendo contestada por novos ativismos políticos que
resultaram no BREXIT, na eleição de Trump, na revisão dos conceitos de ajuste
fiscal pelo FMI e no nascimento de um novo pensamento econômico a partir da
crise de 2008, que diminui a importância e o peso político do mercado
financeiro sobre as economias e faz revisões contínuas de conceitos como o do
“ajuste fiscal linear” que deu errado na Grécia.
Essas novas
correntes de pensamento mudaram o foco e as teses das escolas de economia mais
influentes, como a de Chicago e de Stanford e se cristalizaram em um novo e
influente think-tank, o Instituto para o Novo Pensamento Econômico de Nova
York. Nada disso afetou a cabeça dos “economistas de mercado” brasileiros,
formados nos anos 90 e que não evoluíram em conhecimento de novas linhas
econômicas, continuam atrelados fanaticamente ao velho monetarismo de Friedman,
que já evoluiu na sua matriz intelectual, a Universidade de Chicago.
Políticas
monetárias e orçamentárias mais flexíveis, como em Portugal, deram mais certo
do que o brutal ajuste grego, que é o mesmo que se anuncia praticar no Brasil.
A preguiça
mental e acomodação intelectual dos economistas brasileiros da linha PUC
Rio, Insper, FGV, todos atrelados ao “mercado” via consultorias e empregos e
por reflexo pelo espaço que a GLOBO dá a essa ideologia “mercado-dominante”
através da formidável massa de publicidade de bancos e gestoras financeiras,
não apresenta nenhuma proposta que não seja mais ajuste, mais juros altos e
mais Real valorizado, mais fanatismo na perseguição a uma meta abaixo de 3%
mesmo que disso aumente os escombros da economia real.
Os
“padrinhos da recessão” estão em descompasso com o mundo, nossa política
econômica virou uma jabuticaba rara, uma fruta genuinamente nacional, daquele
tipo que só tem no Brasil, marchamos fora da partitura do mundo caminhando para
o cadafalso da Grande Depressão, versão brasileira pela Globonews.
Um desafio
lançado: que o Governo promova no Brasil um SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE POLÍTICA
ECONÔMICA, convide nomes consagrados, alguns Prêmio Nobel de Economia com boa
mescla de nomes de várias tendências, linhas e escolas, e proponha a eles
sugestões sobre a economia brasileira. Muitos Bancos Centrais fazem isso
continuamente, faz parte das funções de um banco central, que não pode ser
caudatário de uma só visão de economia.
O próprio
Prêmio Nobel de Economia é uma criação patrocinada pelo Banco Central da
Suécia, gente que não tem medo de ouvir críticas e sugestões e não se
consideram sábios inatacáveis.
Do GGN, André Araújo