Defesa
afirma que ex-presidente deixou de responder perguntas de Moro e do Ministério
Público por 3 razões. Entre elas está a possibilidade de adulteração em
documentos usados pela acusação.
Tão
logo os vídeos do segundo depoimento de Lula a Sergio Moro caíram na internet,
na tarde de quarta (13), parte da grande mídia fez questão de destacar em
manchetes que o ex-presidente não quis responder a "várias perguntas"
do juiz e dos procuradores de Curitiba. Só esqueceram de dizer que a defesa deu
3 razões para isso, e uma delas é que Lula foi abordado com documentos
possivelmente falsos.
"Foram
feitas perguntas com base em papéis que a defesa questionou. Já haviamos
apontado a existência de indícios de falta de origem ou adulteração dos
documentos e até o momento não existe nenhuma resposta sobre se os documentos
são idôneos", disse o advogado Cristiano Zanin.
Durante
coletiva de imprensa concedida logo após a audiência com Moro, Zanin informou
que orientou Lula a ficar em silêncio em 3 situações: quando as perguntas eram
repetidas, quando não diziam respeito à ação penal em andamento e quando
estavam relacionadas a documentos apócrifos ou que podem ter sido
adulterados.
Um
desses documentos é citado numa pergunta do Ministério Público, que tenta
arrancar de Lula detalhes sobre um suposto encontro com Emílio Odebrecht para
discutir a "relação com Petrobras x importância do diretor PR". Na
visão dos procuradores, "PR" é o ex-diretor da estatal e delator da
Lava Jato, Paulo Roberto Costa.
A
pergunta foi motivo de bate boca entre Zanin, Moro e o Ministério Público. Isso
porque o advogado queria impedir a realização de perguntas feitas com base em
documentos que foram "objeto de incidente de falsidade", ou seja, de
um alerta e pedido para que o magistrado determine uma perícia sobre a
idoneidade dos materiais usados pela acusação.
Moro
informou que a apuração está em andamento, mas foi permissivo com o Ministério
Público e continuou permitindo que o interrogatório de Lula fosse recheado de
questões problemáticas.
Segundo
Zanin, há mais "papéis apócrifos, juntados aos autos no último dia 30 pelo
Ministério Público Federal e por Marcelo odebrecht, apontados como se fossem
uma agenda de executivos da Odebrecht. Papel apócrifo não pode ser lido como
agenda. E há indícios de adulteração nesses papéis. Pedimos apuração sobre
autenticidade e origem desses papéis."
O
GGN e o DCM fizeram uma parceria inédita para investigar a indústria da delação
premiada na Lava Jato. Quer colaborar? Clique aqui.
Zanin
também declarou, à imprensa, da repetição de perguntas - uma estratégia
utilizada contra Lula no primeiro depoimento a Moro, no caso triplex.
"Mais
uma vez, tanto Moro quanto os procuradores fizeram sucessivamente perguntas
repetidas a Lula e isso evidentemente não pode ocorrer. A pessoa está lá para
dizer a verdade, mas não pode responder sobre o mesmo tema sucessivamente. Em
determinado momento, a defesa orientou que a pergunta estava respondida."
Segundo
o advogado, Moro também repetiu um expediente adotado no caso triplex ao fazer
perguntas estranhas ao processo. Naquele caso, o juiz interrogou Lula sobre o
mensalão e sobre o sítio de Atibaia - assuntos sem nenhum conexão com a
história do apartamento no Guarujá.
"Nós
também orientamos que não houvesse a resposta por uma simples razão: a lei
assegura isso. O interrogatório serve para o acusado se defender na presente
ação", explicou Zanin.