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sábado, 17 de março de 2018

Intervenção não é SOLUÇÃO, por Marielle Franco*

Em artigo enviado ao JB horas antes de sua morte, Marielle diz que intervenção não é solução.
Reforma Trabalhista, PEC dos Gastos, Reforma da Previdência. O impacto dessas profundas mudanças, inspiradas em um projeto político retrógrado, alinhado com interesses que servem ao capital internacional e a setores do empresariado, arremessa um contingente de cidadãos e cidadãs para uma espiral de pobreza. 
É neste contexto que tentamos ampliar o olhar sobre a Intervenção Federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro e avaliar sua real intenção, já que o estado está em décimo lugar nos índices de violência, atrás de Sergipe, Goiás e Maranhão — para citarmos como exemplos apontados no Anuário de Segurança Pública. 
Sendo assim, a Intervenção Federal busca se alicerçar numa justificativa que não tem assento na realidade. Nossa pergunta que não quer calar: por que o Rio de Janeiro?
As últimas experiências mostram que a ocupação das Forças Armadas não resolveu o problema de insegurança. Inclusive, é importante que observemos os anos em que o Exército é levado às ruas para “solucionar” uma situação emergencial. O que há em comum não é um episódio alarmante na segurança, mas o fato de que são todos anos eleitorais. O que tivemos como resultado desta política? 
O interventor federal General Braga Netto declarou que “o Rio de Janeiro é laboratório para o Brasil”. E o que vemos é que neste “laboratório” as cobaias são os negros e negras, periféricos, favelados, trabalhadores. A vida das pessoas não pode ser experimento de modelos de segurança. O apontamento das favelas, como lugar do perigo, do medo que se espraia para a cidade, desperta o mito das classes perigosas, como bem ressalta a psicóloga Cecília Coimbra, colocando a favela como objeto principal e inimiga pública. 
No último fim de semana, pelo menos cinco pessoas morreram e quatro ficaram feridas na Região Metropolitana do Rio. Delas, quatro eram mulheres. Alba Valéria Machado morreu ao tentar proteger o filho, em Nova Iguaçu. Natalina da Conceição foi atingida durante confronto entre PMs e traficantes na Praça Seca. Janaína da Silva Oliveira morreu em tentativa de assalto em Ricardo de Albuquerque.  Tainá dos Santos foi atingida por um tiro de fuzil na comunidade Vila Aliança. São as mulheres negras e periféricas que perdem seus filhos para a letalidade. Essa estatística assustadora demonstra que mesmo às vésperas de completar um mês do início da Intervenção, a tão falada sensação de segurança não passa de um discurso político-midiático. E as mortes têm cor, classe social e território. Definitivamente a segurança pública não se faz com mais armas. Mas com políticas públicas em todos os âmbitos. Na Saúde, Educação, Cultura e geração de emprego e renda. 
É premente a necessidade de monitorarmos esse processo, tendo o cuidado de lutar para que os direitos individuais e coletivos sejam assegurados, para que as instituições democráticas sejam preservadas e sigam autônomas. O contrário disso se revelaria algo bem perigoso em uma sociedade que tem uma tradição patrimonialista, pouco afeita ao trato democrático e que tem uma relação histórica violenta com sua população mais vulnerável. 
* Marielle Franco era vereadora da cidade do Rio (PSOL) e relatora da Comissão da Câmara Municipal de Acompanhamento da Intervenção Federal.
Jornal do Brasil

terça-feira, 28 de novembro de 2017

É de ter vergonha do Ministério Público, diz Eugênio Aragão

Sem mais, nem menos, eis que o programa "Fantástico" da Rede Globo exibe imagens de Sérgio Cabral e Garotinho, ex-governadores do Rio de Janeiro, na prisão em que se encontram. Presos estão, sem culpa formada, porque seriam, ao ver de juízes deformados pela tal "opinião pública", tão perigosos quanto Hannibal Lecter, o assassino serial engaiolado no filme "O silêncio dos inocentes".
As imagens dos políticos preventivamente presos teriam sido obtidas com apoio imprescindível de membros do Ministério Público do Rio de Janeiro, aquela mesma instituição que convidou Kim Kataguiri para palestrar sobre "bandidolatria". Desviaram-se criminosamente de sua função de fiscalizadores da execução penal para exporem a intimidade de pessoas presas preventivamente.
Há algo de muito doentio com nossas instituições persecutórias, aí incluído o judiciário com competência penal, porque há muito deixou de ser isento para comungar, com o ministério público e a polícia, a cosmovisão falso-moralista e punitivista. Hoje, quem cai nas garras dessa troika, que não espere justiça. Não espere imparcialidade. Saiba que corre o risco de ser exposto, junto com sua família, à execração pública, conduzido de baraço e pregão diante das câmeras de televisão. Pouco interessa se o caso contra si é frágil ou forte; a gravidade da acusação que pesa é medida pela audiência que possa ser atraída, composta de um público cúpido em se deleitar com a desgraça alheia. Se o suspeito exposto é uma personalidade pública, a audiência vai ao delírio, para regozijo da mídia e, sobretudo, dos meganhas travestidos de juízes, promotores e investigadores.
A Schadenfreude virou sentimento legítimo. Nunca, depois do iluminismo, se festejou tanto, nestas terras, o suplício exposto de alvejados pelo sistema persecutório, quanto nos dias atuais, em tempos de Lava-Jato. Falta só amarrá-los na roda e esquartejá-los em praça pública. E a massa celerada ovaciona o ministério público que lhe proporciona tamanho show. Pouco lhe interessa que o próximo a cair nas malhas dessa instituição sem freio e sem critério pode ser cada um daqueles que ali estão em espasmódico orgasmo de ira descontrolada. Porque, para virar alvo de promotores ou procuradores falso-moralistas e redentoristas, basta estar no lugar errado, na hora errada.
E, em tempos de Lava-Jato, os Dallagnóis da vida assumem abertamente que "sem exposição" não seria possível responsabilizar os alvos de sua sacrossanta operação. Na falta de provas, de argumento técnico, o delírio das massas legitima a repressão. Por isso anunciam, para sua audiência de sádicos psicopatas, que 2018 será o ano da "batalha final" da Lava-Jato, um clímax imperdível, a coincidir com as eleições gerais e, claro, com prometido potencial de influenciá-la em proveito de quem, por juizecos e promotorecos, são tidos como merecedores da confiança popular.
Não escondem que o teatro sórdido montado contra personagens de visibilidade tem finalidade política. Depois de terem virado heróis nacionais por força de midiática atuação à margem da Constituição e das leis processuais, querem se assenhorar do Estado como um todo, avalizando, ou não, quem se candidate a cargo eletivo. Cria-se, assim, o index personarum prohibitorum do ministério público.
Resta-nos prantear essa instituição, que traiu sua mui promissora missão constitucional de promotora dos valores democráticos e dos direitos fundamentais, para se tornar um cínico verdugo a buscar aplauso de uma gentalha embrutecida, sem escrúpulos. Tudo em nome de um primitivo conceito de moralidade que não se sustenta diante dos abusos cometidos, da ambição desmedida e da ganância por desproporcionais vantagens pela função mal e conspiratoriamente exercida.
Triste fim do ministério público a que pertenci em atividade com tanta honra. Vulgarizou-se. Amesquinhou-se. Tornou-se um trambolho, um estorvo para as forças democráticas deste país. Gordo e autossuficiente, deleita-se no seu bem-estar, sem preocupação com milhares de brasileiras e de brasileiros impactados pela baderna política e econômica que causaram; brasileiras e brasileiros que não moram no Lago Sul de Brasília, não moram em Ipanema ou no Leblon do Rio de Janeiro e nem nos Jardins de São Paulo. Não têm recursos para planos de saúde eficientes que nem o Plan-Assiste do Ministério Público da União e nem para colocar filhos em escola privada. Será que os promotorezinhos e os procuradorezinhos pensam que essa população se alimenta de blá-blá-blá moralista? Acabaram os empregos, acabaram-se os direitos — "MAS temos o combate à corrupção!" É esse discurso que vai encher a barriga dos que foram esmagados pelo golpe do "mercado" e de seus interesseiros lacaios? Não acredito...
Um ministério público que precisa de aplauso para trabalhar descarrilhou. A repressão penal, lembra Foucault, por tangenciar perigosamente os fundamentos do Estado democrático de Direito e toda nossa autocompreensão civilizatória, precisa ser levada a efeito, em nossos dias, com discrição e até certa vergonha. Porque se houve grave lesão a bem jurídico fundamental, foi todo o sistema de prevenção que falhou. Falhou a educação, falhou a vigilância, falharam os legisladores e falhou a própria justiça que não soube cumprir seu papel de exemplo.
Claro que é muito mais fácil apontar para um culpado e extirpá-lo para deleite de um público que se diz ofendido, do que perquirir as causas do comportamento desviante e propor medidas concretas para seu enfrentamento, que não seja mais repressão midiática. Mas, preguiçoso trabalha dobrado. A sociedade que se contenta com o atalho da persecução penal e festeja seus verdugos não superará seus vícios, mas afundará na barbaridade e na ignorância e, por isso, será o terreno fértil para aproveitadores inescrupulosos. A corrupção não diminuirá, apenas se organizará para driblar os falso-moralistas. E um dia inexoravelmente cairá a máscara desse ministério público que nada fez a não ser barulho e tanto nos envergonha. Trabalharemos dobrado para nos desvencilharmos desse trambolho e enfrentarmos seriamente a tal corrupção.
GGN

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O Xadrez de Paulo Hartung, o fiscalista que a Globo inventou, por Luis Nassif do Jornal GGN

A Operação Lava Jato de hoje, no Rio de Janeiro, ao colocar no foco os empresários George Sadala Rihan e Alexandre Accioly, podem ter comprometido a última aventura alternativa para 2018: a candidatura de Luciano Huck.
Na última década, no entorno de políticos jovens, como Aécio Neves, no Rio, e Eduardo Campos, em Pernambuco, vicejou uma jovem plutocracia ambiciosa, que enriqueceu rapidamente no governo Campos. No Rio, o ponto de contato era Aécio, e uma derivação com Eduardo Paes, embora não tenham ficado imune aos afagos do ex-governador Sérgio Cabral. No Espírito Santo, havia Paulo Hartung, da mesma cepa.
A nova fase da Operação Lava Jato, ao prender o empresário Georges Sadala Rihan e colocar no foco das investigações Alexandre Accioly joga um enorme facho de luz sobre o círculo de amigos de Aécio Neves, e sobre a tentativa de lançar Luciano Huck à presidência.
A operação Luciano Huck tem três pilares.
​No primeiro, a visibilidade televisa de Huck. No segundo, montar dobradinha com a suposta modernidade do governador Paulo Hartung, do Espírito Santo, que há tempos vem sendo cevado pela Globo como exemplo de gestor moderno. No terceiro, o pacto com Michel Temer – costurado por Aécio – visando sua futura blindagem, depois que deixar a presidência.
Provavelmente terá vida mais curta.
Uma análise mais acurada do governo Hartung poderá mostrar de forma mais didática esse modelo. Provavelmente, nem Aécio Neves lançou-se à cena política nacional com um passivo tão explosivo de escândalos, como aqueles que rondam Hartung.
Capítulo 1 – o marketing da gestão
Em comum, tanto com o grupo de Campos como com o clube dos amigos de Aécio, Hartung usa o marketing da gestão privada nos negócios públicos, em cima de um conjunto de chavões bem aceitos pelo meio empresarial - gestão, qualidade, eficiência, inovação, responsabilidade fiscal -, e de baixíssima implementação em suas áreas de atuação.
Quem conheceu de perto, sustenta que Campos era, de fato, um grande gestor. Antônio Anastasia poderia ter sido, não fosse atropelado pela interferência deletéria de Aécio Neves.
Mas, no geral, esse marketing oculta simulacros de gestores.
No setor privado, há um medidor de eficiência, o lucro. Mais que isso, ao longo das últimas décadas, as premiações evoluíram, analisando aspectos que vão além dos resultados do exercício, como visão de futuro, ambiente interno das empresas, responsabilidade social e ambiental.
No setor público, o resultado final são os indicadores sociais. Mas o bate-bumbo tem sido apenas em cima dos resultados financeiros. E eles podem ser extremamente enganadores, especialmente devido à dificuldade de analisar estruturas complexas quanto a de um país, um Estado ou mesmo de ume metrópole e da falta de estudos sobre a consistência dos indicadores.
Com isso, surge a figura do Perfeito Idiota Fiscalista, o governador ou prefeito que sai cortando a torto e a direito sem ter a menor noção dos efeitos sobre o resultado final pretendido. Muitas vezes, aliás, sem ter noção sequer sobre os objetivos de uma gestão pública.
Capítulo 2 - o manual do Perfeito Idiota Fiscalista
Critica-se muito um padrão do Perfeito Idiota Latino-Americano, que é o de sacrificar o futuro em favor de resultados eleitorais de curto prazo.
O Perfeito Idiota Fiscalista faz o mesmo, de outra forma.
Em geral, sua estratégia tem duas pernas:
Perna 1 – a manobra da depreciação do ativo
Imagine uma estrada que custou 100 e tem, digamos, 10 anos de vida útil. Para mantê-la eficiente, o estado teria que investir anualmente 10% em manutenção. Ele deixa de investir. No final do ano, aqueles 10 vão compor o resultado fiscal, sendo celebrados como vitória da eficiência. Mas a depreciação da estrada reduzirá a eficiência da economia e jogará um passivo maior para o futuro. E essa esperteza não é captada por uma mídia superficial e pouco ligada em indicadores que não sejam os financeiros.
Aplique o mesmo raciocínio para gastos com educação, saúde e segurança e se terá uma tragédia. O corte na educação, hoje, vai impactar todos os indicadores de educação para a próxima década. O mesmo com os demais setores.
Perna 2 – as experiências de vitrine
Montam-se alguns projetos experimentais de baixíssimo alcance, para colocar na vitrine, visando contornar a carência de políticas universais.
Capítulo 3 – o marketing de Paulo Hartung
Do segundo semestre do ano passado até 4 de fevereiro deste ano, Hartung montou uma verdadeira maratona de palestras visando consolidar uma espécie de “modelo capixaba de gestão”.
No dia 06/10/2016, Paulo Hartung impressionou tanto o Insper, no evento "Projeto Espírito Santo: a reinvenção do Estado", que o notório professor Carlos Mello anunciou a preparação de um e-book contando a "história da destruição e reconstrução" do Espírito Santo.
No dia 10/12/2016 foi a vez de impressionar os clientes do escritório de negócios e consultoria de gestão Bain & Company da América do Sul. Mostrou como reduziu em R$ 1,35 bilhão a peça orçamentária, reduziu as despesas com custeio em 20%. E garantia que o ajuste era estrutural.
A maratona prosseguiu no dia 19/01/2017, com a palestra "Desafios da Gestão e da Inovação do Setor Público em Tempos de Crise", em Seminário no Centro de Debates de Políticas Públicas em São Paulo. Hartung falou da importância do setor público utilizar ferramentas gerenciais avançadas para reduzir o custo da máquina pública e "utilizar a inovação" como solução de desafios e melhoria dos serviços.
No dia 01/02/2017 foi a vez de se apresentar no palco nobre do Credit Suisse. Além dos dados de sempre, sobre o superávit de caixa, Hartung informou que colocou consultoria privada em grandes secretarias, como Educação e Saúde, para reduzir os desperdícios.
Em todos esses eventos, o público viu dados fiscais brutos, não auditados. Não teve como estimar as perdas com depreciação, resultante dos cortes, e teve que confiar na palavra de Hartung sobre o suposto uso da inovação na melhoria dos serviços públicos.
No dia 04/02/2017 o Estadão admitiu que Hartung é um distribuidor de subsídios - faceta que ajudou a crucificar Guido Mantega. Mas, no caso de Hartung, são subsídios do bem. “Quer investir no Espírito Santo? Venha e terá incentivo fiscal. Mas não é pela cara do freguês, não, é setorial, com regras e critérios, não tenho preconceito em conceder incentivos, se é para impulsionar o desenvolvimento do Estado”, explicou o nosso Jack Welch.
E o Estadão terminava gloriosamente:
“Um erro aqui, outro acerto ali, o fato é que o Espírito Santo provou que, mesmo na crise e com o País na pior recessão da história, é possível administrar o dinheiro público com equilíbrio, cortando excessos (espalhados pela gestão pública) e priorizando os gastos na área social”.
Dois dias depois, em 06/02/2017 o Espírito Santo entrava na pior crise da sua história.
Capítulo 4 – o caos instaurado
A Polícia Militar entrou em greve. Explodiram manifestações em toda a Região Metropolitana de Vitória, Guarapari, Linhares, Aracruz, Colatina e Piúma. Pelo Código Militar, os PMs são proibidos de se manifestar ou fazer greve. As portas dos quartéis, então, foram tomadas por familiares dos PMs.
Foram interrompidas as aulas, os atendimentos em postos de saúde, a vacinação. Em um final de semana apenas 22 pessoas foram assassinadas apenas em Vitória.
Hartung estava hospitalizado e deixou para o vice-governador a missão de pedir ajuda das Forças Armadas.
A pauta da PM era o efeito do ajuste: piso salarial de R$ 2.646,12, o menor do país, contra R$ 3.908,00 da média nacional; falta de equipamentos, inclusive de coletes; falta de treinamento.
Mais que tudo, a absoluta falta de diálogo de Hartung, que transformou o funcionalismo público em inimigo, em vez de parceiro.
Como lembrou o jornal A Gazeta, em editorial, as fraquezas da gestão Hartung poderiam ser resumidas no seguinte quadro:
.        Uma insatisfação latente do funcionalismo público estadual, que se sente sacrificado pelo arrocho fiscal implementado (panela de pressão que estava a ponto de explodir a qualquer momento);
·       A fragilidade e a suscetibilidade de instituições fundamentais à ordem pública, como a PMES; o sucateamento e a precarização de serviços públicos essenciais (hoje o grito foi dos servidores da Segurança, amanhã poderá ser os da Saúde e os da Educação, se não se prestar atenção);
·      A dificuldade, a letargia e a demora da equipe de governo em reagir a uma crise de tal gravidade, que pôs a população de joelhos e entregue a um estado de calamidade pública;
·      (...) A vulnerabilidade, enfim, desse pacto social tão frágil sobre o qual se sustenta a nossa vida cotidiana, em qualquer parte do mundo.
Capítulo 5 – o custo dos incentivos “do bem”
O segredo do incentivo fiscal está no chamado deferimento. Ou seja, concede-se o incentivo a um empreendimento que não viria, sem ele. Com o tempo, esse empreendimento gera um retorno em tributos, emprego e produção que compensa o que o Estado perdeu com o incentivo. Se a conta é bem-feita, o Estado ganha. Se é mal-feita, afunda.
O governo Paulo Hartung foi acometido de uma febre de incentivos, sem nenhuma análise mais aprofundada.
Entre 2003 e 2010, o Invest-ES resultou em 209 acordos, representando uma isenção fiscal de R$ 19,8 bilhões.
O Invest-ES previa três metas básicas: geração de empregos; atividade econômica não existente e uso de matéria prima, bens e serviços locais.
Três empresas, já instaladas no Estado, receberam mais de 70% dos deferimentos e não houve sequer a implantação de projetos ou a geração de empregos prometido.
As três maiores contempladas ficaram com 70% dos incentivos e criaram apenas 12% do total de vagas, ou 3.628 empregos diretos.
Em contrapartida, 167 projetos beneficiados, cada um gerando menos de 100 empregos, ficaram com apenas R$ 3,77 bilhões embora gerassem cerca de 5 mil vagas de emprego.
Entre 2004 e 2007 o Estado deixou de arrecadar em torno de R$ 19,3 bilhões de ICMS. É mais do que a arrecadação total de quatro anos de ICMS do governo Hartung.
Estudos feitos pelo Sindipúblicos revelam que empresários podem deixar de arrecadar até 70% do imposto devido em vários tipos de operação.
As estatísticas de vendas do comércio e receita de ICMS demonstram o custo da aventura. As vendas sempre cresceram acima da receita de ICMS. A diferença reflete, em parte, o preço dos subsídios. A sonegação, outra parte.
Estudos do Sindicato do Pessoal do Grupo de Tributação, Arrecadação e Fiscalização do Espírito Santo estimou uma sonegação da ordem de R$ 5,4 bilhões, equivalente a 44% da Receita Corrente Líquida do Estado. Os dados foram corroborados por entidades empresariais.
Segundo os cálculos do Sindifiscal, há apenas 122 servidores da área dedicados exclusivamente à fiscalização, ou um para cada 656 empresas ativas do Estado. A Secretaria da Fazenda dourou as estatísticas incluindo todo o quadro de auditores, o que significaria um servidor para cada 253,9 empresas. Pelo ajuste fiscal sacrificou-se até os setores que poderiam melhor a arrecadação.
Capítulo 6 – os sinais da má gestão
Um dos pontos centrais do desperdício estadual foi a febre por projetos, que acabaram engavetados.
Os desperdícios em projetos
Apenas em 2015, segundo o Século Diário, Hartung gastou R$ 270 milhões em despesas sem empenho – um pecado capital para os defensores da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A lei exige que qualquer despesa pública só poderá ser lançada após o empenho. Desse total, o jornal apurou R$ 56 milhões de despesas não justificáveis.
Um dos casos de maior repercussão foi o do posto fiscal de Mimoso do Sul, obra que consumiu R$ 25 milhões, e sequer passou a fase da terraplanagem.
As obras foram iniciadas em setembro de 2005, porém, a fase de terraplanagem só foi concluída em julho de 2009 – um mês depois de Hartung ter baixado um decreto acabando com seis postos fiscais, entre eles o de Mimoso do Sul.
Mesmo assim, o então governador autorizou uma licitação para a conclusão das obras no valor de R$ 2,9 milhões, encerradas em janeiro de 2010.
Cais das Artes
No final do seu segundo mandato, Hartung decidiu construir seu palácio, sua Cidade da Música, espelhando-se em César Maia. Contratou o premiadíssimo Paulo Mendes da Rocha para assinar o projeto. A obra foi iniciada em abril de 2010, com previsão para ser entregue em 18 meses.
Até hoje está incompleta.
Foi orçada em R$ 115 milhões. Já consumiu R$ 126 milhões. Hartung prometeu retomar as obras em 2018. E precisará colocar mais R$ 80 milhões.
O resultado em cima da depreciação
NO dia 23/02/2017, O Globo publicou um artigo de Tyago Hoffmann, economista e Secretário da Casa Civil no governo Renato Casagrande, antecessor de Hartung, dissecando esse estilo de gestão, de fazer caixa em cima da depreciação dos ativos do Estado.
O que aconteceu no Espírito Santo foi um corte linear de investimentos e custeio, e reajuste zero para os servidores. Isso pode ser comprovado por relatórios disponíveis na Secretaria do Tesouro Nacional e na Fazenda estadual (...) Ao arrefecer a crise econômica nacional e retomados os investimentos, bem como a recomposição salarial dos servidores pelas perdas inflacionárias, voltaremos ao mesmo patamar de despesas orçamentárias de antes. E, numa eventual nova crise, as ações de hoje não garantirão equilíbrio das contas.
Levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT), este ano, mostrou que 81% das estradas estaduais possuem irregularidades. No ano passado, 52,9% das estradas eram classificadas como regular, ruim ou péssima. Este ano, subiu para 60,5%.
O desmonte da política de segurança
Mais que isso, houve o desmonte de várias políticas públicas.
Em 2010, o estado foi denunciado à ONU como o segundo mais violento do país. As condições carcerárias motivaram condenação internacional.
A partir de 2011, no governo do antecessor Renato Casagrande, criou-se o Programa Estado Presente, visando a redução de homicídios. Havia duas diretrizes: reestruturação da força policial e a ampliação dos investimentos sociais em áreas com maior incidência de crimes contra a vida.
A ONU reconheceu o programa brasileiro mais efetivo no enfrentamento à criminalidade. Com a volta de Hartung ao governo, houve o desmonte.
A incapacidade de uma revolução gerencial na PM
No caso da Polícia Militar, um gestor moderno trataria de discutir a fundo seu modelo de organização e atuação, para aumento da eficiência. Como a redução dos níveis hierárquicos, o esforço na profissionalização do PM, trabalhando em período integral; o planejamento de ações. Esse é o compromisso fundamental da verdadeira gestão.
Nada disso ocorreu, segundo o estudo “As Faces da Gestão da PM no Espírito Santo”, dos pesquisadores José Dirceu Pereira, Hélio Zanquetto Filho, Alfredo Rodrigues Leite da Silva e Gelson da Silva Juquilho.
Os oficiais fazem vistas grossas ao duplo emprego dos soldados, devido à precariedade dos salários, comprometendo um princípio básico de gestão: o profissional exclusivo.
As promoções por mérito, que deveriam ser a base de toda organização eficiente, foram relegadas a segundo plano, mantendo-se o estilo burocrático de promoção por tempo de serviço.
Um dos pontos principais da boa gestão, o foco no cliente jamais foi considerado. Hoje em dia até os chamados “cidadãos de bem” temem a PM. E a escassez de recursos deixou nas mãos da PM definir o que é prioritário. Com isso, abandonaram um dos pontos essenciais para a paz social: a mediação de conflitos e o patrulhamento preventivo.
A manipulação dos indicadores
Não apenas isso. Um dos predicados do bom gestor é o respeito absoluto aos indicadores.
Para cumprir com os percentuais obrigatórios de gastos com educação, Hartung incluiu na conta da manutenção e desenvolvimento do ensino, despesas de R$ 615 milhões com aposentadoria de professores, atropelando dispositivos constitucionais. A ponto do Procurador Geral da República Rodrigo Janot protocolar uma Ação Direita de Inconstitucionalidade contra ato do Tribunal de Contas do Estado, permitindo esse malabarismo fiscal.
Pouco antes da explosão da PM, a truculência fiscal já havia se manifestado na educação, com o fechamento de escolas rurais e de Conselhos Escolas, pelo Secretário de Educação do Estado. Até o final de 2016, 50 escolas rurais foram fechadas, sem consulta qualquer aos Conselho Escolares ou aos alunos, com a desculpa de concentrar os alunos em escolas-polo maiores. Segundo o governo do Estado, o fechamento se baseou em um estudo sobre a “viabilidade econômica das escolas” (!).
Houve aumento na evasão escolar, devido às dificuldades de locomoção dos moradores do campo.
O descaso com a Previdência
Apesar de apregoar insistentemente a necessidade de uma reforma na Previdência estadual, apesar das três gestões como governador, em nenhum momento Hartung tratou de enfrentar o problema, com a criação de um fundo financeiro ou mesmo de uma estrutura capaz de montar estudos atuariais adequados, conforma apurou estudo do Ministério Público das Contas do Estado do Espírito Santo.
Deixou tudo por conta da palavra mágica: “reforma”.
Capítulo 7 - Os casos suspeitos
Na última campanha eleitoral, foi revelado que logo após Hartung deixar o governo, a Éconos (Economia Aplicada aos Negócios), empresa da qual ele é sócio, junto com o ex-Secretário da Fazenda José Teófilo recebeu quase R$ 6 milhões em três anos, de empresas que tiveram alguma forma de benefício do estado.
Um dos sócios da empresa, Felipe Saade Oliveira, foi nomeado Consultor de Finanças Públicas do Tribunal de Contas do Estado. As suspeitas de escândalo povoam toda a vida pública de Hartung.
Venda de terrenos para empresas beneficiadas
Os terrenos foram adquiridos pela Agropecuária Limão ME. Revendidos para a BK Investimentos e Participações Ltda e para a ZMM Empreendimentos e Participações Ltda que, por sua vez, revenderam para a Ferrous Resources do Brasil, empresa premiada pelo Invest-ES .
Quando se abria o mapa de participações acionárias, revelou-se uma trama suspeita.
Paulo Hartung é o governador do Estado e criador do Invest-ES.
José Teófilo de Oliveira era seu Secretário da Fazenda, co-idealizador do Invest-ES.
Felipe Saad Oliveira é filho de Teófilo
Fabrício Cardoso de Freitas – um advogado ligado a Paulo Hartung. Além do escritório de advocacia, aparece como sócio de 9 outras empresas. Aparece como sócio de Teófilo na BK e participa também da Agropecuária Limão Ltda. Na venda dos terrenos a participação foi da Agropecuária Limão ME, mais restrita.
Paulo Sardenberg – é corretor imobiliário, o homem que traz as oportunidades de terrenos.
Marco Novaes – ex-vereador e ex-secretário de Presidente Kennedy, envolvido em vários problemas de terras na cidade. Os demais são parentes.
O Século Diário confirmou com a direção da Ferrous Resources do Brasil, a participação do Éconos nas negociações para conseguir terrenos e deferimentos fiscais para a instalação de uma planta industrial em Presidente Kennedy.
Segundo a Polícia Federal, na Operação Lee Oswald, "todas as operações realizadas, num período de 90 dias, resultaram, estimativamente, em um lucro de R$ 50 milhões para os envolvidos".
O inquérito levantou a cronologia do negócio: "No Cartório de Registro Geral de Imóveis de Presidente Kennedy, em 09 de julho de 2008, uma área de 61,9 alqueires foi avaliada por R$ 180 mil, no dia 16 de julho de 2008, a área foi comprada pela empresa paulista Tríade Importação por R$ 600 mil, no dia 25 de julho de 2008 a mesma área foi comprada pela ZMM por R$ 12 milhões, no dia 04 de agosto de 2008, quatro dias depois do protocolo de intensões selado em Palácio, a ZMM vendeu a área para a Ferrous por R$ 27,9 milhões. O terreno teve uma valorização de 150 vezes do seu valor inicial em apenas 25 dias". 
A explicação do ex-Secretário Teófilo é que se afastou do cargo de Secretário da Fazenda em 4 de abril de 2008 e só no mês seguinte tomou conhecimento do Projeto Ferrous. E isso porque foi espontaneamente procurado pela empresa para identificar área de 10 mil m2 para implantação da empresa.
Consultoria para empresas beneficiadas
Documentos em poder do Tribunal de Contas do Estado, divulgados pelo site Congresso em Foco, mostram que várias empresas que prestavam serviços ao Estado repassavam pagamentos mensais à Econos.
O mecanismo de pagamento consistia na emissão de notas para a mesma razão social. O site teve acesso a nove notas fiscais emitidas por Hartung e José Teófilo em nome de uma empresa de construção. Isso apenas entre junho de 2011 e fevereiro de 2012. Outro lote de notas, emitidas entre junho de 2011 e janeiro de 2012 revelaram sete delas em nome da mesma empresa.
O caso do juiz assassinado
Trata-se de um episódio cabeludo, e ainda não elucidado.
O juiz Alexandre Martins filho foi assassinado em 2003. Pouco antes de sua morte, disse à sua personal trainer, Júlia Eugenia Fontoura, que temia ser assassinado por Paulo Hartung. O juiz era membro de missão especial que investigava o crime organizado e apurava o envolvimento de Hartung em atos de corrupção na prefeitura de Vitória, quando foi prefeito.
O depoimento de Júlia Fontoura foi tomado no dia 24 de março de 2003. O juiz foi assassinado em frente a sua academia. Segundo ela, o juiz contou-lhe um encontro com Paulo Hartung, no qual foi-lhe oferecido uma escolta. Segundo ela, o juiz lhe teria confidenciado que temia ser morto a mando de Hartung, pois se não aceitasse tiraria a responsabilidade dele sobre o que pudesse lhe acontecer.
Segundo seu depoimento, o juiz dizia possuir dez cópias de fitas com conversas gravadas entre Paulo Hartung e o ex-governador José Inácio Ferreira – denunciado e afastado do governo por corrupção.
Pode ter sido apenas paranoia do juiz, que sabia estar mexendo em vespeiro.
No entanto, durante as investigações para apurar a morte do juiz, o governo do Estado comprou um equipamento Guardião, de escuta telefônica, o mesmo utilizado pela Polícia Federal. Em 2005 descobriu-se que o Secretário de Segurança teria autorizado o grampo nos telefones do jornal A Gazeta, de Vitória. Não se sabe o que ocorreu entre o jornal e o governador, mas acabou vingando a tese de que o “grampo” tinha sido por engano. Ora, pode-se enganar na definição do número do aparelho grampeado. Mas depois da primeira conversa gravada, se constataria o engano. E o grampo prosseguiu até ser denunciado.
O coronel Luiz Sérgio Aurich, que era chefe da Casa Militar quando o juiz foi morto, chegou a sugerir a federalização do caso com base em quatro motivos:  1) ter sido informado que o coronel da reserva da PM Walter Gomes Ferreira estava fazendo ligações do Acre para o ES; que os promotores já sabiam da transferência de Ferreira antes da decisão do juiz Alexandre; que o então secretário de segurança Rodney Miranda tinha relatado que pessoas importantes do estado estavam envolvidas no crime e, por último, o depoimento da personal trainer Júlia Eugênia, que envolvia o governador à época, Paulo Hartung, num esquema de corrupção na Prefeitura de Vitória, quando ele era prefeito da Capital”.
Não apareceram provas materiais que comprovassem a ligação de Hartung com o crime.
O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) intimou o governo Paulo Hartung a dar explicações sobre acusações de fraude envolvendo o projeto BRT. O consórcio contratado para gerenciar o projeto de corredores exclusivos para ônibus não cumpriu o contrato, gerando prejuízo de R$ 12 milhões para o Estado.
Em sua nota, o BNDES informou não ter sido notificado pelo governo do Estado sobre as fraudes. No mesmo momento, a Secretaria de Estado de Transportes e Obras (Setop) garantia que já tinha informado o banco sobre as fraudes.
A censura a blogues
Além do grampo no jornal A Gazeta, nas últimas eleições “Hartung conseguiu junto ao Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo a censura de matéria publicada no veículo ES e no blog do jornalista Elmar Cortes, sobre a venda de um apartamento de luxo em bairro valorizado de Vitória”, segundo o Congresso em Foco.
Foi uma transação imobiliária de 2011, que Hartung escriturou a propriedade no valor de R$ 48 mil e no mesmo dia vendeu-a por R$ 2,1 milhões. A denúncia é que a supressão de valores visava encobrir discrepâncias na declaração de bens de Hartung à Justiça Eleitoral. Segundo sua declaração, ele teria “empobrecido” R$ 300 mil entre 2006 e 2014.
A mansão escondida
Outro problema imobiliário é a mansão na qual mora Hartung – que nada fica a dever, em suntuosidade, à casa de campo de Sérgio Cabral. Segundo o Século Diário, o terreno foi comprado por Hartung e esposa em agosto de 2011 por R$ 120 mil. A construção é imponente, com alto padrão de acabamento e materiais de última geração, segundo o jornal. Fontes do mercado estimaram seu preço em mais de R$ 2 milhões.
Segundo a matéria, o Ministério Público Estadual estaria investigando a alienação de um terreno em Vila Velha do governo do Espírito Santo para uma empreiteira cliente da Econos. Segundo as investigações, o grupo adquiriu a área por R$ 1,9 milhão, cinco vezes menos que o valor de mercado praticado na época naquela região.
Conclusão
Apesar de se estar na era da informação, ainda há barreiras quase intransponíveis para se avaliar determinados personagens políticos. O caso Aécio Neves foi um deles. Mesmo o caso Eduardo Campo terminou encoberto, apesar de seu notório envolvimento do episódio dos precatórios do estado, quando governado por seu avô.
O caso Fernando Collor, quando governador de Alagoas, foi outro. Na época, a Folha foi o único jornal com coragem para desvendar seu histórico.
Agora, nenhum parece ter coragem de dissecar nenhum personagem que faça parte do seu campo político.
Paulo Hartung é um desses casos que atestam a baixa capacidade dos grupos de mídia de fazer circular informações relevantes sobre personagens públicos.
As informações acima foram obtidas pesquisando sites, blogs, inquéritos da Polícia Federal e do Tribunal de Contas, e a cobertura de A Gazeta, de Vitória.
GGN

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Sócio de Luciano Huck e compadre de Aécio Accioly, e mais quatro são alvos de operação da PF na Lava Jato

A Polícia Federal prendeu, na manhã desta quinta-feira (23), ex-chefe da Casa Civil do Rio Régis Fichtner. A ação é mais uma fase da Operação Lava Jato no Rio e um desdobramento das investigações da Operação Calicute, desencadeada em novembro do ano passado e que resultou na prisão do ex-governador Sérgio Cabral. Também foi preso o empresário George Sadala.
Além de Fichtner e Sadala, também estão sendo cumpridos outros três mandados de prisão, sendo dois para o mesmo suspeito. Os agentes também visam cumprir mandados de condução coercitiva e de busca e apreensão.
Os agentes chegaram ao endereço de Fichtner, um dos prédios mais luxuosos da Avenida Vieira Souto, em Ipanema, pouco antes das 6h. O empresário Fernando Cavendish também foi conduzido para prestar depoimento.
George Sadala é um dos empresários que aparece em uma foto com o ex-governador Sérgio Cabral em um restaurante em Paris. A foto ficou conhecida como Farra dos Guardanapos. Sadala era um dos sócios de empresas suspeito de explorar o serviço Rio Poupa Tempo e também era representante de um banco que fazia empréstimos consignados para servidores públicos.
Quem mora no mesmo prédio é Alexandre Accioly, empresário que é dono de uma rede de academias, que vai ser intimado a depor. Ainda não se sabe qual é o tipo de ligação que Aciolly tem com o esquema de corrupção que o Ministério Público investiga.

Amigo de Aécio,– ele é padrinho de um dos filhos do senador –, e de Luciano Huck, de que é sócio na rede BodyTech, Accioly também foi citado pelo ex-diretor da área de energia da Odebrecht, Henrique Serrado do Prado Valladares, como intermediário de vantagens indevidas pagas ao político mineiro, com uma conta em Cingapura. “Nunca recebi depósito em favor de terceiros em conta alguma no Brasil ou no exterior”, disse em nota divulgada em abril, quando o caso foi divulgado.
DCM

domingo, 1 de abril de 2012

Rio de Janeiro reúne cerca de 6.000 pessoas em Passeio ciclístico, veja

Cerca de 6.000 pessoas participaram neste domingo da edição carioca do World Bike Tour, considerado o maior passeio ciclístico do mundo. A largada foi na avenida Atlântica, em Copacabana e a chegada no Parque do Flamengo, em um trajeto de 11 km.
Ciclistas no Rio
O passeio, organizado por uma agência portuguesa de eventos esportivos, com parcerias governamentais, tem como objetivo conquistar adeptos para o uso da bicicleta como meio de transporte saudável e não poluente.
Os participantes foram escolhidos por sorteio entre 60 mil inscritos e mediante o pagamento de uma taxa de inscrição de R$ 200, receberam uma bicicleta e um kit completo do evento, com capacete, camiseta, mochila dorsal e cartão de acesso.

Para os deficientes físicos e visuais que participaram do passeio foram fornecidas bicicletas adaptadas.

Um desses participantes foi o atleta paraolímpico Clodoaldo Silva, ganhador de várias medalhas na natação. Ele fez o trajeto em uma handbike (bicicleta de mão, adaptada para cadeirantes).

"Fiquei muito feliz de participar deste evento, onde todos são tratados com igualdade. Não podemos esquecer que o Rio vai ser sede das Olimpíadas e das Paraolimpíadas, e temos que estar preparados para receber todos de braços abertos".

O World Bike Tour foi criado em 2006 em Lisboa e está em sua 19ª edição. Já passou por cidades como São Paulo, Madrid, Lisboa e Porto.

Da folha

quarta-feira, 28 de março de 2012

MILLÔR FERNANDES MORRE NO RIO DE JANEIRO AOS 88 ANOS

O desenhista, jornalista, dramaturgo e escritor Millôr Fernandes morreu na noite de terça-feira (27), aos 88 anos, em sua casa no Rio. De acordo com a família, ele sofreu falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca.
Millôr Fernandes
O velório será realizado na quinta (29), das 10h às 15h no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio. Depois, o corpo será cremado em cerimônia restrita à família.

Em novembro de 2011, Millôr Fernandes recebeu alta depois de quase cinco meses internado na Casa de Saúde São José, situada em Botafogo, zona sul do Rio --em fevereiro do ano passado, ele sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) isquêmico.

Millôr deixa dois filhos, Ivan e Paula, frutos de seu relacionamento com Wanda Rubino. Dois de seus irmãos são vivos: Ruth, que mora no Equador, e Hélio, proprietário do jornal "Tribuna da Imprensa".

Nascido no bairro do Méier, no Rio, Millôr nasceu Milton Fernandes em 23 de agosto de 1923, mas foi registrado em 27 de maio de 1924. Anos mais tarde, quando foi ver sua certidão de nascimento, reparou que o "T" tinha aspecto de "L" e o "N", inconcluso, parecia um "R", sugerindo a grafia Millôr em vez de Milton. Assumiu-se, então, Millôr.

Millôr perdeu os pais ainda criança -- o pai morreu de intoxicação quando ele era bebê e a mãe, vítima de câncer, quando ele tinha dez anos.

Em 1938, aos 14, Millôr entrou no Liceu de Artes e Ofícios e começou a trabalhar profissionalmente na revista "O Cruzeiro". Naquele momento, se tornaria um dos principais nomes do jornalismo e das artes no Brasil. Registros constatam, inclusive, que, no período em que ele ficou no "Cruzeiro", as vendas subiram de 11 mil para 750 mil exemplares.

Foi também um dos criadores do jornal "O Pif-Paf". Apesar de ter durado apenas oito edições, a publicação é considerado o início da imprensa alternativa no Brasil. Ele foi ainda um dos colaboradores de "O Pasquim", reconhecido por seu papel de oposição ao regime militar.

Com diversas aptidões --para o desenho, a prosa, a poesia, o teatro, a literatura--, raramente se sentia frustrado. Foi premiado como desenhista (dividiu com seu ídolo Saul Steinberg [1914-1999] o primeiro lugar na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, em 1955), requisitado como tradutor (de Shakespeare, Molière, Sófocles, Bernard Shaw), autor de peças célebres como "Liberdade, Liberdade" (1965), uma das obras pioneiras do teatro de resistência ao regime militar, feita em parceria com Flávio Rangel e encenada pelo Grupo Opinião, com Paulo Autran e Tereza Rachel.

Publicou mais de 50 livros a partir de 1946, boa parte compilando textos humorísticos e desenhos feitos para a imprensa, dentre eles "Fábulas Fabulosas" (1964) e "A Verdadeira História do Paraíso" (1972). Veja outras de suas publicações "[aqui]".http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1068385-veja-cronologia-e-algumas-obras-de-millor-fernandes.shtml.

Entre os múltiplos talentos de Millôr também estava o de roteirista. Foram mais de dez roteiros criados para o cinema, individualmente --"Modelo 19" (1952, mais conhecido como "O Amanhã Será Melhor"; "Amor para Três" (1960), "Ladrão em Noite de Chuva" (1960); "Esse Rio que Eu Amo" (1962), "Crônica da Cidade Amada" (1965), "O Menino e o Vento" (1967) e "Último Diálogos" (1995)-- ou em parceria, como "O Judeu" (1995), com Geraldo Carneiro e Gilvan Pereira, e "Mátria" (1998), com Carneiro e Jom Tob Azulay. Em "Terra Estrangeira" (1995), dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas, participou com diálogos adicionais.

Millôr foi uma das primeiras personalidades brasileiras a ter espaço na internet, inaugurando seu site, que segue no ar até hoje, no ano 2000. No Twitter, tem mais de 368 mil seguidores.

POLÍTICA E JORNALISMO
Seu humor crítico e inclemente lhe traria problemas também com governantes, desde o presidente Juscelino Kubitschek (que censurou seu programa "Treze Lições de um Ignorante", na TV Tupi Rio, após uma piada com a primeira-dama) até os militares que atacaram "O Pasquim" --jornal que ele ajudou a criar-- durante a ditadura.

A política também causaria o fim de seu primeiro período (1968-1982) na revista "Veja", quando se negou a cessar o apoio público a Leonel Brizola nas eleições para governador do RJ em 1982.
Em setembro de 2004, voltaria à "Veja", mas sairia cinco anos depois --seu contrato não seria renovado após Millôr questionar (a princípio extrajudicialmente) a publicação de suas colunas antigas na edição digital da revista.

Na Folha, Millôr Fernandes assinou uma coluna semanal, no caderno dominical "Mais!", entre julho de 2000 e agosto de 2001.

Foi nesse período que escreveu texto que lhe rendeu processo do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), após dizer que seu projeto de restringir termos estrangeiros na língua portuguesa era "uma idioletice".

Com informações da Dolha

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

AS MULHERES QUE MIJAM NA RUA CRESCE 304% NO RIO, VEJA

Não adiantou a Prefeitura do Rio de Janeiro ampliar de 13 mil para 15 mil o total de banheiros públicos no Carnaval, ao menos do ponto de vista feminino.
Desde o período pré-Carnaval até terça-feira (20/1 a 21/2), o número de mulheres detidas por fazer xixi na rua aumentou quatro vezes em relação ao Carnaval anterior: de 26 para 105 (crescimento de 304%).Já o de homens "mijões" ficou praticamente estável, passando de 751 para 782 (mais 4%).
Ao todo, 887 pessoas foram detidas por fazer xixi nas ruas do Rio (14% a mais), sendo quatro estrangeiros. Em 2011, foram 777 --seis "gringos".
Os detidos são encaminhados para a delegacia, onde o delegado de plantão decide o procedimento a ser adotado. Normalmente, são autuados por ato obsceno.
Os dados são preliminares, já que a prefeitura considera que o Carnaval carioca só termina no domingo.
O número pode ser considerado pequeno se levado em conta os mais de 4 milhões de foliões que brincaram no período na cidade. Até domingo, segundo a Riotur, o total de participantes deverá ultrapassar 5 milhões, contra 4,9 milhões em 2011.
Uma boa notícia deste ano é que a prefeitura recolheu menos lixo do que em 2011: 642 toneladas contra 849.
Com informações da folha

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

ESCOLA DE SABMBA BEIJA-FLOR HOMANAGEIA MARANHENSE


Campeã do carnaval do Rio em 2011, a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis desfilou na Marquês de Sapucaí um tributo a Joãosinho Trinta, carnavalesco que integrou a escola por 15 anos e morreu em dezembro do ano passado. Para a homenagem, a agremiação fez menção a uma das mais marcantes criações do carnavalesco: o polêmico "Cristo Mendigo", do enredo do carnaval de 1989 "Ratos e urubus, larguem minha fantasia" e que, na ocasião, entrou na Avenida coberto por um plástico preto.

Desta vez, debaixo da cobertura preta se escondia uma gigantesca estátua de Joãosinho, revelada durante a passagem da Beija-Flor na primeira noite do carnaval carioca.
 A escultura veio no carro "A histórica São Luís e a arte do gênio João", último a passar pela passarela do samba, e que fazia mais uma referência ao carnavalesco: trazia um trono vazio, marcando a ausência de Joãozinho no desfile desta noite. A Beija-Flor completou o desfile com 1h14.
A Beija-Flor busca o 13º título do carnaval com o enredo "São Luís, o poema encantado do Maranhão". Para contar a história da capital maranhense, que completa 400 anos, a atual campeã carioca não mediu esforços: levou para a Sapucaí cerca de cinco toneladas de búzios. Além disso, para desenvolver o enredo, a comissão de carnaval fez várias visitas a São Luís do Maranhão. A agremiação contou a história da ilha nordestina habitada por índios tupinambás, que foi disputada por franceses, holandeses e portugueses.
A evolução da escola de Nilópolis foi levada pela voz mais tradicional do carnaval carioca: não faltou o grito "Olha a Beija-Flor aí gente", do puxador Neguinho da Beija-Flor, que canta os sambas da agremiação há 36 anos.
Exuberantes em fantasias douradas com plumas amarelas e levantando o público da Sapucaí, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Claudinho e Selminha Sorrizo dança junto desde 1992, quando estrearam na Estácio de Sá. Estão há 17 anos na Beija-Flor.
A rainha de bateria da Beija-Flor, Raíssa Oliveira, de 21 anos, está na escola desde os 12 e completa dez à frente da bateria. "Até hoje antes de entrar na Avenida ainda sinto um friozinho na barriga", diz.
A ex-BBB Jaqueline Faria, musa da Beija-Flor desde os 14 anos de idade, encarnou uma rainha feiticeira na passarela.A rainha de bateria da Beija-Flor, Raíssa Oliveira, de 21 anos (Foto: Alexandre Durão/G1)
Em vez de um carnavalesco, a Beija-Flor tem uma comissão de carnaval: Laíla, Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Vitor Santos e André Cesari.  O grupo não conta mais com Alexandre Louzada, que estava na escola desde 2007 e estreou à frente da Mocidade este ano.
Um dos destaques da escola foi a cantora Alcione, que desfilou com familiares no penúltimo carro da agremiação e se sentiu honrada com a homenagem à cidade natal, São Luís.
A cantora Alcione, que desfilou pela Beija-Flor. (Foto: Carolina Lauriano/G1)
"Não emocionou só a mim, mas a todos os maranhenses. Só pelo que eu sei são 700 desfilando aqui hoje", afirmou. Ela sairá de destaque em um carro com familiares. "A Sapucaí está muito bonita. Cabe mais gente agora."
O pássaro símbolo da escola de Nilópolis foi um dos destaques do carro abre-alas, que exibia uma quimera gigante e dourada de três cabeças e uma cauda de serpente, representando as culturas europeias que invadiram a ilha que hoje é São Luís.
A Ala “Angústia dos Grilhões" trouxe um navio cheio de escravos acorrentados, representados pelos componentes da escola e por esculturas que revestiam o carro. Outros 360 componentes deram vida aos negros que ajudaram a construir a capital maranhense na ala “O mercado de dialetos africanos", décima a entrar na Avenida. Passistas mascarados representaram os pretos-velhos, que atuavam como guias dos negros encarnados.
O primeiro campeonato conquistado pela Beija-Flor foi em 1998, quando empatou com a Mangueira. As outras vitórias foram obtidas em 2003, 2004, 2005, 2007, 2008 e 2011.
Com informações do G1