Foto:J.Batista/Câmara
dos Deputados
Nos debates
em torno da proposta no Congresso, nem sempre os parlamentares usaram dados de
forma correta.
Durante as
discussões da reforma trabalhista proposta pelo governo Michel Temer (PMDB),
deputados e senadores da base aliada e da oposição dispararam uma série de
dados para apoiar ou criticar o projeto. Nem sempre as informações estavam
corretas. Ao longo dos últimos meses, o Truco –
projeto de fact-checking da Agência Pública –
analisou sete argumentos usados pelos parlamentares. Veja quais são os fatos
por trás das frases usadas pelos políticos.
1. O Brasil
não é campeão mundial em processos trabalhistas.
O argumento
falso de que o Brasil é o maior recordista em ações trabalhistas tem sido
repetido insistentemente no Congresso e na imprensa. A afirmação foi encontrada
pelo Truco no relatório da reforma trabalhista analisado na comissão
especial da Câmara que debateu a proposta, elaborado pelo deputado federal
Rogério Marinho (PSDB-RN). Nossa checagem mostrou que não há nenhum
levantamento mundial ou pesquisa que comprove isso. Especialistas não
recomendam comparar países com legislações completamente diferentes nessa área.
Além disso, o grande número de processos não ocorre por falhas na legislação
atual.
2. A
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é alterada constantemente.
Pelo menos
53 leis, decretos e medidas provisórias alteraram a CLT desde que foi criada,
há 74 anos. As alterações serviram para complementá-la, regular alguns dos
pontos ou modificar outros. Por isso, é falso dizer que se trata de uma
legislação que ficou parada no tempo, como insinuou o senador Ricardo Ferraço
(PSDB-ES), em relatório apresentado na Comissão de Assuntos Sociais. O próprio
parlamentar entrou em contradição no documento, que lista várias das mudanças.
3. O
desemprego jamais chegou a 4,8% no governo Lula.
Ao comparar
os índices de desemprego do governo Temer com os registrados nos dois mandatos do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado Caetano (PT-BA)
exagerou e disse que a taxa era de 4,8% na administração do seu companheiro de
partido. Embora a quantidade de desempregados tenha diminuído ao longo dos oito
anos de Lula, a menor média anual foi de 6,7%, atingida em 2010, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os índices de
desemprego foram mais baixos no governo Dilma Rousseff (PT), com a taxa média
caindo a 4,8% em 2014. Mas logo depois começaram a aumentar progressivamente.
4. A
informalidade não prejudica 45% dos trabalhadores.
A parcela de
trabalhadores na informalidade é realmente muito alta no Brasil. De acordo com
estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base
em dados do IBGE, o porcentual está em 45%. Mas não está certo dizer que todas
essas pessoas sofrem por estarem nessa condição, como fez o senador Romero Jucá
(PMDB-RR) no relatório apresentado à Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ) do Senado. Ainda que pequena, uma parte dos informais sem carteira
assinada ou que trabalha por conta própria consegue rendimentos superiores a
cinco salários mínimos.
5. A reforma
trabalhista não muda a Constituição, mas retira direitos.
Por se
tratar de um projeto de lei, a reforma trabalhista não tem o poder de alterar a
Constituição. Há, no entanto, direitos que só são garantidos pela CLT e por
leis complementares e eles não estão protegidos. Foi o que afirmou corretamente
o senador Paulo Paim (PT-RS) no relatório apresentado à Comissão de Assuntos
Sociais do Senado. A proposta do governo torna muitos desses direitos
negociáveis, às vezes diretamente entre patrão e empregado. Para especialista
na área ouvida pelo Truco, haverá precarização se a lei for aprovada.
6. O PT não
deixou 14 milhões de pessoas desempregadas.
O desemprego
começou a crescer no segundo mandato de Dilma, mas é distorcido dizer que todos
os desempregados que existem hoje vêm do governo petista. Checado pelo Truco,
o deputado federal Pauderney Avelino (DEM-AM) fez essa afirmação no plenário da
Câmara. Diferenças na metodologia impedem de comparar os números do final do
governo PT com os dados do IBGE de 2003, quando Lula assumiu, ou de 2011,
quando Dilma iniciou seu primeiro mandato. Quando foi aprovado o impeachment,
havia 12 milhões de desempregados. Ainda assim, todos os governos anteriores
sempre tiveram um contingente variável de pessoas à procura de trabalho. O
número nunca foi zero – e isso impede que todo o grupo seja colocado na conta
de um presidente ou partido.
7. Força de
trabalho potencial não pode ser somada ao total de desempregados.
Para inflar
o contingente de pessoas desocupadas, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) somou
o número de desempregados com outro dado, o da força de trabalho potencial.
Segundo o IBGE, são “pessoas que gostariam de trabalhar, mas não procuraram
trabalho, ou que procuraram, mas não estavam disponíveis para trabalhar”. Com
isso, a conta passou de 14 milhões para 21 milhões de brasileiros. O instituto
alerta que é errado fazer esse tipo de cálculo, por se tratarem de grupos
diferentes. A medição serve para traçar um retrato mais fiel do mercado de
trabalho.
GGN