Mostrando postagens com marcador economistas de mercado. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador economistas de mercado. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 13 de abril de 2020

O QUE É O “XADREZ DOS ENSAIOS DO PRÓXIMO JOGO POLÍTICO”, LUIS NASSIF

Na saúde, há dois discursos claros em jogo: o isolamento social x a varinha mágica da cloroquina. Na economia, há uma enorme confusão.
No ultimo dia 8 publiquei o “Xadrez dos ensaios do próximo jogo político”. Lendo os comentários, percebi que fui muito pouco claro na apresentação das hipóteses.
Haverá dois grupos de digladiando politicamente: o campo bolsonariano, apostando no caos e no terraplanismo; e a oposição, que necessariamente terá que escalar o discurso racional.
O Xadrez em questão se refere exclusivamente aos temas que deverão emergir nesse arco racional de centro, centro esquerda ou centro direita, ao qual estão se candidatando personagens da linha de frente do combate ao coronavirus – do Ministro da Saúde a governadores de estado.
No entanto, não dá para minimizar a força do terraplanismo. A estratégia conjunta dos governos de ultradireita – tão concatenadas entre si, que comprovam a existência de uma cabeça central, provavelmente Steve Bannon – é uma aposta no pós-coronavirus.
O coronavirus impõe uma guerra entre a racionalidade da ciência e o discurso redentorista de cloroquina, gripinha e tudo o mais. Os fatos mostrarão cada vez mais a lógica da ciência se impondo. O momento seguinte é o do enfrentamento da crise econômica – que virá brava. E aí se entra no terreno da subjetividade econômica.
Na saúde, há dois discursos claros em jogo: o isolamento social x a varinha mágica da cloroquina. Por aí se torna relativamente fácil separar a tribo dos seguidores de Jim Jones (o pastor que levou seus fiéis ao suicídio) e o Brasil minimamente racional.
Na economia, há uma enorme confusão. Há um grupo de halterofilistas da economia, que ganhou status no período pré-coronavirus e que continuam apegados ao jogo de interesses simplórios-maliciosos do período anterior: mercado x Estado, setor público x privado, isonomia entre perdas do funcionário público x privado e outras patacoadas. São ideólogos que conquistaram espaço midiático no período pré-coronavirus e não querem abrir mão em hipótese alguma de suas cloroquinas conceituais. Serão tão nefastos no segundo tempo da guerra, espalharão tanta confusão na opinião pública quanto o bolsonarismo no primeiro tempo.
Toda a estratégia atual do terraplanismo é se preparar para o segundo tempo. Afastado o fantasma do coronavirus, a crise do desemprego, da perda de renda virá para o primeiro plano. E, aí sim, haverá espaço para as loucuras da ultradireita, atribuindo a crise aos governadores e reforçando a ideia de um governo autocrático-ignorante para superá-la. Se as loucuras de Bolsonaro, em um caso claro como o do coronavirus, mobiliza seguidores-zumbis, imagine-se quando se entrar no terreno confuso do receituário econômico, há muitos anos contaminado no Brasil pelo jogo de interesses do mercado. Dai o formidável empenho dos bolsonaristas em manter as hostes unidas para o segundo tempo do jogo.
Depressão sempre foi espaço aberto para salvadores da ultradireita com seus discursos de ódio. E é mais fácil um camelo passando pelo buraco de uma agulha do que aparecer no Brasil, nesse território inóspito e selvagem, uma vocação à altura de Franklin Delano Roosevelt ou de um John Maynard Keynes.
Do GGN

quinta-feira, 5 de julho de 2018

REFORMA TRABALHISTA, TETO E O PACTO DE RACIONALIDADE, por Luis Nassif

Lentamente, muito lentamente, o país começa a acordar do longo pesadelo representado pelo governo Temer e por sua equipe econômica.
Esta semana o STF (Supremo Tribunal Federal), através do Ministro Ricardo Lewandowski, tomou a iniciativa de suspender os grandes negócios que estavam sendo armados em torno da privatização da Eletrobras e da Petrobras. Não se sabe por quanto tempo essa posição será válida, com o Congresso submetido ao negocismo mais nefasto. Mas foi uma iniciativa de corte.
Na economia, nos últimos tempos, as únicas vozes de bom senso na economia, entre os chamados economistas de mercado, os ex-Plano Real Luiz Carlos Mendonça de Barros, Pérsio Arida e André Lara Rezende, começaram a se manifestar, podendo impor uma influência mais racional junto ao pensamento liberal.
Anos atrás, aliás, os telespectadores da Globonews se surpreenderam com um debate em que o ex-Ministro Guido Mantega, reconhecidamente um intelectual com limitações, foi imensamente superior ao seu interlocutor Armínio Fraga. Este surpreendeu pelo amplo desconhecimento de características básicas da economia interna a das relações internacionais. Não conseguia enxergar um centímetro além da mesa de operações.
A era Armínio – como guru do mercado – já tinha representado um rebaixamento radical do pensamento liberal, vários degraus abaixo do período Bulhões, Simonsen e da era dos economistas do Real. Armínio levou a simplificação analítica, e os bordões ideológicos liberais, aos níveis mais baixos da história.
Atrás dele, veio a nova geração de liberais, representados pelos inefáveis Henrique Meirelles, Alexandre Tombini, Ilan Goldjan (com Temer), Joaquim Levy, praticando um ideologismo primário que, repercutido diuturnamente pela mídia, desconectou o sistema dos princípios mais comezinhos de gestão econômica.
E foi essa cultura da mediocridade que produziu uma sucessão infindável de aberrações econômicas, pela combinação fatal dos cabecinhas de planilha da equipe econômica, com o baixo clero do Congresso, todos mediados pelo grupo que se apossou do Executivo.
Ontem, foi a vez do economista oficial da campanha de Geraldo Alckmin, Pérsio Arida, disparar contra a Lei do Teto, mostrando ser impossível engessar uma economia, dinâmica por definição, por vinte anos. Sempre foi óbvio.
Também ontem, na CNI (Confederação Nacional da Indústria), o candidato Ciro Gomes ousou criticar a reforma trabalhista, sendo alvo de vaias de alguns grupos. Não recuou. Insistiu que não se constrói um país sem estabilidade e sem renda. Prometeu trazer a bola de volta ao centro do campo para uma discussão plural demonstrando uma característica essencial na reconstrução política brasileira: a capacidade de sustentar propostas nacionais sobre os interesses imediatistas de grupos.
De fato, a legislação em vigor continha amarras incompatíveis com os tempos modernos, em que há a formação de cadeias produtivas integradas para a fabricação do produto final.
Veja-se o caso de Nova Serrana (MG) que se tornou um polo calçadista exemplar. Trata-se de um aglomerado de pequenas empresas, cada qual participando de uma etapa da produção – o desenho, a tintura, o acabamento. Tempos atrás houve uma autuação generalizada contra as empresas, acusando-as de terceirizar sua atividade principal.
Já estavam em andamento negociações visando a modernização da legislação. Tudo foi por água abaixo, atropelado por mudanças enfiadas goela abaixo do país, precarizando de forma radical o trabalho e o emprego formal. Com isso comprometeu-se a arrecadação fiscal e a própria Previdência Social, que sempre foram ancoradas no desconto em folha e que já vinham sendo sangradas pelas desonerações do período Dilma-Mantega.
A grande esperança é que esses pequenos ares de racionalidade se transformem em um vento arejador, ajudando a fortalecer um pacto de racionalidade no país.
Do GGN