Instituição
conta a história do genocídio de seis milhões de judeus pelos Nazistas e, mais,
explica didaticamente que o regime liderado por Adolf Hitler era de extrema
direita e nacionalista.
Foto:
Fernando Frazão/Agência Brasil
No
terceiro dia de visita oficial ao governo de Israel, esta terça-feira (02), o
presidente Jair Bolsonaro conheceu o centro de memória do Holocausto Yad
Vashem, em Jerusalém.
O
local conta a história do genocídio de seis milhões de judeus pelos Nazistas e,
mais, explica didaticamente que o regime liderado por Adolf Hitler era de
extrema direita e nacionalista. A exposição sobre a história do Museu contraria
a visão defendida pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que
também estava na comitiva que acompanhou Bolsonaro na visita ao memorial.
Em
um artigo publicado no sábado (30) no seu blog pessoal, Araújo afirmou que o
nazismo é um movimento de esquerda. “Livres dessa inibição, podemos facilmente
notar que o nazismo tinha traços fundamentais que recomendam classificá-lo na
esquerda do espectro político”, escreveu o chanceler.
Em
uma recente entrevista ao canal do YouTube Brasil Paralelo, da mesma linha
ideológica de Olavo de Carvalho, Araújo disse ainda que “fascismo e nazismo são
fenômenos de esquerda”.
Em
seu site oficial, o centro de memória do Holocausto Yad Vashem traz um breve
histórico sobre a ascensão do partido nazista na Alemanha, entre a Primeira e a
Segunda guerras mundiais.
A
instituição lembra que as principais potências europeias, ao assinar o Tratado
de Versailles para selar a paz na região, considerou a alemanha a principal
culpada pelos conflitos, obrigando o país a aceitar uma série de imposições que
levando os alemães a perderes parte de seus territórios, zonas de exploração mineral
e colônias.
“Essa
frustração, junto a intransigente resistência e alertas sobre a crescente
ameaça do Comunismo, criou solo fértil para o crescimento de grupos radicais de
direita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista”, explica o
museu. E esse é o cenário dá origem à criação do Partido Nazista, em 1920.
Um
dos principais pontos de apoio para quem argumenta que o Partido Nazista era de
esquerda está no nome completo da sigla “Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães”.
Trecho
no site do museu Yad Vashem dizendo que o Partido Nazista surgiu como uma
reação às ameaças do comunismo na Alemanha entre a Primeira e Segunda grandes
guerras.
Em
entrevista à BBC News Brasil, Izidoro Blikstein, professor de Linguística e
Semiótica da USP e especialista em análise do discurso nazista e totalitário,
rebate esse argumento usado nos debates da internet.
“Me
parece que isso é uma grande ignorância da História e de como as coisas
aconteceram. O que é fundamental aí é o termo ‘nacional’, não o termo
‘socialista’. Essa é a linha de força fundamental do nazismo – a defesa daquilo
que é nacional e ‘próprio dos alemães’. Aí entra a chamada teoria do
arianismo”, explica.
Em
setembro passado, o embaixador alemão no Brasil, Georg Witchel, em entrevista
ao jornal O Globo chamou de “besteira” afirmar que o nazismo foi um movimento
político de esquerda.
“É
uma besteira argumentar que o fascismo e o nazismo são movimentos de esquerda.
Isso não é fundamental, é um erro, é simplesmente uma besteira”, analisou.
“Isso
é um fato bem fundamentado na História. É um consenso entre os historiadores da
Alemanha e do mundo que o nazismo foi um movimento de extrema direita”,
completou.
Sobre
a confusão que se criou, especialmente em grupos radicais de direita no Brasil,
de que o Nazismo é de esquerda, a professora de História Contemporânea da
Universidade Federal Fluminense (UFF), Denise Rollemberg, disse em entrevista à
BBC News Brasil que quando surgiu, o partido Nazista também se apresentou
contra o capitalismo liberal que existia na época.
“Não
era que o nazismo fosse à esquerda, mas tinha um ponto de vista crítico em
relação ao capitalismo que era comum à crítica que o socialismo marxista fazia
também. O que o nazismo falava é que eles queriam fazer um tipo de socialismo,
mas que fosse nacionalista, para a Alemanha. Sem a perspectiva de unir
revoluções no mundo inteiro, que o marxismo tinha”, completou.
Do
GGN