Entramos juntos na faculdade, em 1976. Fizemos política
estudantil, perdendo todas as eleições. Rimos e choramos variadas vezes.
Na vida é assim. Celebramos o nascimento de sua filha bem antes da nossa
formatura.
Meu amigo, inteligência vivaz, sempre tinha uma tirada, um
sujeito de espírito. Nunca nos afastamos. Ele foi ser advogado público,
lecionava Civil. Eu, advogado trabalhista.
Tivemos muitas causas em comum, defendendo coletivos
vulneráveis.
Por culpa dele, grande incentivador, voltei para a vida
acadêmica sem abandonar as lutas sociais. Devo-lhe isso. Um grande sujeito.
Sempre houve reciprocidade, entretanto. Quando sua
companheira precisou, eu era dirigente estadual da OAB. Na segunda vez deu
certo. Fui de conselheiro em conselheiro por ela, não como favor. Ela tinha
todas as credenciais e era a melhor opção.
Meu amigo queria ser magnífico, com maiúscula. Novamente me
envolvi por inteiro na pré-campanha. Na última hora, achou melhor não disputar.
Meu amigo não gostava de perder.
Fizemos viagens juntos, pelo Brasil, ao México, à Europa.
Algumas vezes em casais, outras só os meninos, oportunidades em que esticávamos
a prosa no bar dos hotéis. Eu adorava a sagacidade dele. Era um sujeito
adorável sob vários aspectos.
Apoiei-o quando quis ser nomeado, não sem antes enfaticamente
desaconselhar. Dizia-lhe que aquilo lá iria acabar com a vida dele, perderia a
privacidade, a liberdade e teria que conviver com um monte de gente que nada
tem a ver conosco. Sentia-se convocado. Quase como se fosse predestinado. Ele
tanto fez que conseguiu. Cumprimentei-o, explicitando que desta última vez, a
em que ele foi escolhido, meu candidato era outro. Elegante, compreendeu. Era
muito gentil esse meu falecido amigo.
E deste jeito morreu. Não posso dizer que foi surpreendente
seu passamento. Já vinha dando sinais. Não foi uma morte súbita. Mas muito me
entristeceu. A morte tem dessas coisas, ainda que esperada ao cabo de longa
enfermidade ou ultrapassado o limite razoável de anos, deixa um vazio, um
aperto no peito, uma angústia, sei lá. No fundo, até o último momento, ficamos
com a irracional esperança de que a morte não ocorra. Morrendo, só restam as
virtudes. Na morte é assim.
Morreu. Foi um grande amigo. Nunca mais riremos, choraremos,
tomaremos vinho ou chimarrão. E já sinto saudades do meu finado amigo.
GGN