Que Lula, Dilma e outros petistas
estejam na segunda lista de Janot não é ser surpresa para ninguém. Enquanto a
Lava Jato esteve circunscrita à República de Curitiba, os petistas foram seus
fregueses preferenciais. E os tucanos, os intocáveis. A presença de
peemedebistas graúdos também é muito óbvia, seja por terem sido sócios do PT no
governo até optarem pela derrubada de Dilma, seja pelas conhecidas práticas do
partido que, sem ganhar eleições, nunca saiu do poder federal.
A cereja do bolo que o procurador-geral
Rodrigo Janot está servindo ao Brasil é representada pelos grão-tucanos
nela incluídos - Aécio Neves, José Serra e Aloysio Nunes - e outros
menos cotados que ainda vão aparecer. Janot, como Sérgio Moro, já foi
benevolente com os tucanos mas agora, além de cuidar da biografia, não havia
como fugir da revelação da Odebrecht: na política do Brasil, desde
sempre, todos são iguais perante o caixa dois e a corrupção.
Uma das muitas serventias da lista de
Janot é a de confirmar o que disse o PT quando foi posto no pelourinho com a
descoberta de seus esquemas “não contabilizados”. “Fizemos o que todos
sempre fizeram, diziam os petistas”. Fizeram o que nunca deviam ter
feito, entrar no jogo que prometeram combater, mas está claro que em nada
inovaram. Não inventaram a pólvora nem o caixa dois, nem foram os primeiros a
vincular o caixa dois aos contratos das grandes empresas no setor público.
Mas vale lembrar que, neste tempo todo,
desde 2005, os petistas apanharam sozinhos, tendo no máximo a companhia de
peemedebistas mais exagerados. O PSDB ficava lá, posando de vestal,
apontando o dedo e desancando os petistas, imerso num forte sentimento de
intocabilidade. Agora que a blindagem ruiu, o jeito foi ingressar no
esforço em curso para igualar o passado de todos, anistiando o caixa dois como
biombo de outras coisas mais graves.
Nestes quase três anos de Lava Jato,
muitas foram a blindagens proporcionadas por Moro, Ministério Público e pelo
próprio Janot aos tucanos. Janot poupou o senador mineiro algumas vezes,
especialmente ao ignorar sua citação na delação de Alberto Yousseff como
beneficiário do esquema Furnas. Moro jamais levou adiante as citações a
tucanos, com foro especial ou não. A construtora Camargo Correia terá que
refazer sua delação premiada porque, cotejada com a da Odebrecht, viu-se que
omitiu informações preciosas sobre superfaturamento e pagamento de propina em
obras dos governos tucanos no estado de São Paulo.
Em verdade, portanto, devemos aos 77
delatores da Odebrecht, e não exatamente a Janot, este grande passo para a
mudança nos costume políticos, confirmando o que todos sempre soubemos: no
governo, todas as obras são previamente acertadas, todos os fornecedores
superfaturam, todos os partidos e políticos fazem caixa. Inclusives os
outrora impolutos tucanos. Disso, sempre souberam todos que convivem no
meio político. Mas era de ouvir falar, não de ler confissões como as da
Odebrecht. Se tudo isso servirá para mudar a cultura política, veremos. Para
tanto, teremos primeiramente que reinventar o sistema político-eleitoral.
Do 247