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domingo, 18 de junho de 2017

Osvaldo das Neves: Meirelles, tão sujo quanto Temer

Em meio à crise instaurada no parlamento, Henrique Meirelles/PSD, atual ministro da Fazenda [Finanças], foi cogitado pelo monopólio de imprensa, por representantes do capitalismo burocrático e siglas do Partido Único [1] como possível nome para ocupar o gerenciamento federal numa eventual saída de Temer/PMDB.

Meirelles, sem nem mesmo ter ocupado o cargo de gerente principal do velho Estado, já acumula uma longa lista de abusos e crimes contra o povo e a Nação. 

Enquanto esteve na presidência do Banco Central durante o gerenciamento Lula, contou com o apoio político irrestrito de seu amigo Antonio Palocci/PT, então ministro da Fazenda – hoje preso preventivamente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sob acusação de favorecer a Odebrecht em troca de propina. 

VINCULADO AO IMPERIALISMO IANQUE 

Seu histórico como presidente internacional do Bank of Boston (Banco de Boston) e FleetBoston Global Bank, de 1996 a 1999, mostra com quais interesses Meirelles está comprometido. O FleetBoston Global Bank, instituição que incorporou por meio de fusões uma série de bancos menores da área de Boston, foi, por sua vez, comprado em 2003 pelo Bank of America por 47 mil milhões de dólares, segundo informações da CNN. 
Luis Nassíf, em artigo sobre a biografia de Meirelles publicado na Folha de S. Paulo em 2002, afirma que "Ele foi nomeado presidente e COO (Chief Operating Officer) [Diretor de Operações, em inglês] do BankBoston em 1996. Reportavam-se a ele todas as áreas de negócios, mercado de capitais, tesouraria, mesa, marketing, operações e sistemas".. 

Denúncias do empresário Luiz Barros de Ulhôa Cintra Filho à Folha de S. Paulo, em 2006, evidenciam a ligação de Meirelles com transferências ilegais de dólares de Miami para o Brasil. O jornalista da Folha afirma que "Luiz Cintra Filho, 64, fez inúmeras transferências ilegais de dólares de Miami (EUA) para o Brasil com a ajuda do BankBoston International e de uma rede internacional de doleiros [2] entre 1991 e 1997". "O MTB Bank foi identificado em 2003 pela Polícia Federal como sendo um núcleo de operações de doleiros. Segundo a PF, a Horten Financial era uma offshore administrada por doleiros", ressalta a matéria. 

Afora os indícios de corrupção em seus tempos de BankBoston, as relações de Meirelles com os EUA também ficam evidentes em dados da matéria da jornalista Daniela Mendes publicados pela [revista] IstoÉ. O referido texto exalta a figura de Meirelles como um "vencedor" e menciona o fato de que ele "recebeu o prêmio de Personalidade do Ano da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos da Flórida". E prossegue com a ficha de Henrique Meirelles, revelando que é membro de diversas "organizações mundo afora", dentre elas o New York City Investment Fund e que "lá, ele dividiu assento com o magnata David Rockefeller". 

A menção a Meirelles para assumir o gerenciamento federal, em substituição a Temer, também se dá por seu posicionamento em defesa das reacionárias contra-reformas previdenciária e trabalhista. Posição esta que fez questão de ladrar aos quatro ventos em entrevista recente: "Com a saída ou não de Temer, as reformas vão ocorrer". 

MEIRELLES E A JBS 

Antes de aceitar o convite de Temer para assumir o Ministério da Fazenda, Meirelles ocupou, entre os anos de 2012 e 2016, cargos importantes no Grupo J&F, controlador da JBS, principal empresa envolvida com a Operação "carne fraca" – acusada de montar um esquema de corrupção entre frigoríficos e fiscais para acelerar a liberação de produtos. Além da "Carne Fraca", o grupo JBS também está sendo investigado nas Operações "Bullish", "Greenfield" e "Cui Bono" que apuram desvios, pagamentos de propina [suborno] e fraudes na liberação de recursos públicos envolvendo ações da holding. 

Além da JBS, a holding J&F também controla as empresas Alpargatas, Vigor, Eldorado Brasil, Banco Original, Oklahoma e Canal Rural. Juntas, todas as companhias somam receitas de R$ 175 mil milhões [€47,2 mil milhões

Meirelles ocupava cargos importantes no Grupo J&F durante os anos em que a empresa repassou cerca de 500 milhões de reais às principais siglas do Partido Único (PT, PMDB e PSDB). Quer dizer, então, que os R$ 500 milhões sumiram dos cofres da empresa durante esse período e Meirelles não viu absolutamente nada? No âmbito da empresa, ele ficava responsável justamente pelo contato com o "mundo político". Joesley Batista era seu patrão, portanto. Apesar das classes dominantes brasileiras terem feito todo um trabalho no sentido de colocar Meirelles acima de qualquer suspeita, ele é tão sujo quanto Temer. 

1ª quinzena/Junho/2017

[1] O autor refere-se aos três partidos – PT, PMDB e PSDB – que têm governado o Brasil.
[2] Doleiro: traficante de dólares. 


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/.

GGN

quinta-feira, 4 de maio de 2017

O porquê da perseguição a Dirceu. Paulo Nogueira

A vida é complicada para quem desafia a plutocracia
Originalmente publicado em março. Republicado agora por motivos óbvios.

Um jornalista americano escreveu uma coisa que me marcou profundamente.

Ele disse que num certo momento da carreira ele era convidado para programas de tevê, recebia convites seguidos para dar palestras e estava sempre no foco dos holofotes.

Num certo momento ele se deu conta de que tudo isso ocorria porque ele jamais escrevera algo que afrontasse os interesses dos realmente poderosos.

Foi quando ele acordou. Entendeu, por exemplo, as reflexões de Chomsky sobre as grandes empresas jornalísticas.

Para encurtar a história, ele decidiu então fazer jornalismo de verdade. Acabou assassinado.

Assange, Snowden, Falciani: não é fácil a vida de quem enfrenta o poder.

Tudo isso me ocorreu a propósito de José Dirceu. Tivesse ele defendido, ao longo da vida a plutocracia, ninguém o incomodaria.

Mas ele escolheu o outro lado.
E por isso é alvo de uma perseguição selvagem. É como se o poder estivesse dizendo para todo mundo: “Olhem o que acontece com quem ousa nos desafiar.”

É à luz de tudo isso que aparece uma nova rodada de agressões a Dirceu, partida – sempre ela – da Veja.

Quis entender.
Os dados expostos mostram, essencialmente, uma coisa: Dirceu não pode trabalhar. Não pode fazer nada.

O que é praxe em altos funcionários de uma administração fazerem ao deixá-la?

Virar consultor.
Não é só nos governos. Nas empresas também. Fabio Barbosa fatalmente virará consultor depois de ser demitido, dias atrás, da Abril.

Foi o que fez, também, David Zylbersztajn, o genro que FHC colocou na Agência Nacional do Petróleo. (Não, naturalmente, por nepotismo, mas por mérito, ainda que o mérito, e com ele o emprego, pareça ter acabado junto com o casamento com a filha de FHC.)

Zylbersztajn é, hoje, consultor na área de petróleo. Seus clientes são, essencialmente, empresas estrangeiras interessadas em fazer negócios no Brasil no campo da energia.

Algum problema? Não.
Quer dizer: não para Zylbersztajn. Mas para Dirceu a mesma posição de consultor é tratada como escândalo.

Zylbersztajn ajuda empresas estrangeiras a virem para o Brasil. Dirceu ajuda empresas brasileiras a fazerem negócios fora do Brasil, com as relações construídas em sua longa jornada.

O delator que o citou diz que Dirceu é muito bom para “abrir portas”. É o que se espera mesmo de um consultor como Dirceu.

Zylbersztajn, caso seja competente, saberá também “abrir portas”.
Vamos supor que a Globo, algum dia, queira entrar na China. Ela terá que contratar alguém que “abra portas”.

Abrir portas significa, simplesmente, colocar você em contato com pessoas que decidem. Conseguir fechar negócios com ela é problema seu, e não de quem abriu as portas.

Na manchete do site da Veja, está dito que o “mensaleiro” – a revista não economiza uma oportunidade de ser canalha – faturou 29 milhões entre 2006 e 2013.

São oito anos. Isso significa menos de 4 milhões por ano. Do jeito que a coisa é apresentada, parece que Dirceu meteu a mão em 29 milhões. Líquidos.

Não.
Sua empresa faturou isso. Não é pouco, mas está longe de ser muito num universo de grandes empresas interessadas em ganhar o mundo.
Quanto terá faturado a consultoria de Zylbersztajn entre 2006 e 2013? Seria uma boa comparação.

No meio das acusações, aparece, incriminadora, a palavra “lobby”. É um estratagema para explorar a boa fé do leitor ingênuo e louco por razões para detestar Dirceu.

Poucas coisas são mais banais, no mundo dos negócios, que o lobby.
Peguemos a Abril, por exemplo, que edita a Veja. Uma entidade chamada ANER faz lobby para a Abril e outras editoras de revistas. A ANER da Globo se chama ABERT.

Você pode ter uma ideia de quanto as empresas de jornalismo são competentes no lobby pelo fato de que ainda hoje elas gozam de reserva de mercado – uma mamata que desapareceu virtualmente de todos os outros setores da economia brasileira.

E assim, manobrando e manipulando informações, a mídia mais uma vez agride Dirceu.

As alegações sempre variam, mas o real motivo é que ele decidiu, desde jovem, não lamber as botas da plutocracia.

Do DCM