A crise do combustível
é a comprovação prática dos males do pensamento monotemático na economia,
temperado com uma dose excessiva (por isso suspeita) de ideologismo, do qual o
presidente da Petrobras Pedro Parente tornou-se o caso mais simbólico.
A visão desse pessoal é
que, se cada ponto se concentrar na sua própria busca de eficiência, o
resultado final será uma economia mais eficiente. A de Parente é mais tosca.
Ele lembra CEOs dos anos 90, capazes de comprometer o futuro da empresa apenas
para salvar os resultados trimestrais.
Especialistas em
petróleo sabem que a lógica econômica de uma petroleira reside na interação das
diversas atividades que compõem a cadeia produtiva: prospecção, refino,
distribuição e transporte.
Com uma commodity
exposta à volatilidade das cotações, a problemas políticos internacionais e aos
problemas internos - administrando um preço-chave da economia – a lógica
econômica é reduzir a vulnerabilidade através da integração dos diversos
setores.
Nem esse princípio foi
seguido por Parente, que passou a desmontar a empresa, vendendo-a em pedaços.
Pior.
Com o petróleo em alta,
teoricamente aumentam seus lucros, pelos ganhos com a produção interna e pelo
refino. E vice-versa. A queda dos preços do petróleo reduz o valor dos seus
ativos. Tanto assim que o grande prejuízo da Petrobras, em 2015, foi decorrente
da reavaliação do balanço, em função da redução dos preços dos derivados – que
obrigou a reduzir contabilmente o valor dos ativos da empresa – e não da
corrupção, conforme foi ventilado na época.
Surpreendentemente,
Parente definiu a seguinte estratégia, conforme revelado
por estudos da Associação dos Engenheiros da Petrobras:
A partir de outubro de
2016, passou a praticar preços mais altos para os combustíveis, viabilizando a
importação de derivado.
Com essa política, a
Petrobras perdeu mercado e a capacidade ociosa das refinarias saltou para 25%.
Com menos refino,
explodiram as exportações de óleo cru e as importações de derivados.
O maior beneficiado
foram os Estados Unidos: enquanto as importações de diesel se multiplicaram por
1,8 desde 2015, a importação de diesel dos EUA dos EUA aumentou 3,6 vezes.
Passou de 41% em 2015 para 80% do total de importados pelo Brasil, ao mesmo
tempo em que a Petrobras abria mão da refinaria de Pasadena.
Os grandes ganhadores
foram os “traders” internacionais, dentre as quais o maior é a Trafigura, a
gigante que montou o maior esquema de corrupção da história de Angola, estava
envolvido até o pescoço com os escândalos da Petrobras e foi surpreendentemente
liberada pelos procuradores da Lava Jato e pelo juiz Sérgio Moro.
A política de preços de
Parente acabou provocando uma crise política de proporções, com o blackout dos
caminhoneiros. A saída encontrada pelo governo Temer foi garantir o lucro dos
investidores com recursos orçamentários.
Primeiro, pensou-se em
eliminar os tributos sobre a gasolina; depois, a de ressarcir a Petrobras pela
redução de ganhos que viesse a ter com a diminuição dos preços dos
combustíveis. Ou seja, o país imerso em uma crise fiscal gigantesca, criando
uma enorme conta fiscal para impedir a redução dos dividendos dos acionistas da
Petrobras.
Não há outra
explicação, que não a suspeita de corrupção da grossa.
Do GGN