O Regime Judicial de Exceção vem fazendo de tudo
para impedir a vitória do PT na disputa presidencial. Sistemático e articulado,
esse esforço atua em confronto direto com os interesses de Lula. Desde as penas aumentadas no TRF-4 até a proibição de
visitas ao cárcere, passando pelas manobras do STF, não há um gesto das cortes que fuja ao roteiro.
Correndo para anular de vez a candidatura de Lula, o TSE
seguiu a intuição de ser este o caminho que mais prejudicava o petista. A
rapidez do julgamento não era inevitável, nem se baseava em jurisprudências ou
normas. Tampouco no respeito a prerrogativas processuais, já que não houve
tempo hábil para que as alegações da defesa fossem analisadas.
Em suma, os membros do TSE não adotariam a celeridade ritual
caso suspeitassem que ela beneficiava Lula e o PT. Não depois do Regime
apressar a condenação na segunda instância e atrasar o
julgamento dos últimos recursos. Não depois de mantida sua prisão política e
inconstitucional por um “crime indeterminado”.
O próprio antipetismo justiceiro admite, portanto, a eficácia
dos planos petistas de levar o impasse até o limite do prazo legal. E, numa
coincidência divertida, fez o que muita gente pedia ao PT, em nome do combate
ao fantasma reacionário. Mas como entender essa harmonia de aspirações
supostamente antagônicas?
A tática dos impugnadores togados é coerente. Evita que a
polêmica da candidatura se aproxime da etapa em que a maioria dos eleitores
decide seu voto. Dá justificativa para os institutos omitirem Lula nas pesquisas, fornecendo à direita vestida de centro (Marina Silva e Geraldo
Alckmin) o apelo do voto útil. E esvazia logo a aura resistente que blindava a
campanha petista e garantia visibilidade ao líder preso.
Também faz sentido a afoiteza dos círculos não-petistas.
Querem tirar Lula do núcleo simbólico que dá coesão ao antifascismo,
dispersando os eleitores do favorito para que seu partido não protagonize o
polo democrático no segundo turno. A negação da centralidade do lulismo
desagrega o campo progressista visando reconfigurá-lo. Cálculo pragmático sim,
mas de um pragmatismo que não antagoniza apenas com a ameaça ultraconservadora.
Repito ser ociosa uma discussão estratégica sobre a insistência petista.
O problema ultrapassa tanto a esfera eleitoral quanto a jurídica. Lula é
apoiado por dezenas de milhões de brasileiros. Líderes políticos, religiosos e
acadêmicos do mundo todo o endossam. Jamais existiu alguém de tamanha
relevância que desse legitimidade voluntária a seus algozes.
Na falta de base técnica para adivinhações de qualquer
tipo, soa mais racional explorar uma imagem que aglutina 40%
dos eleitores. E parece indiscutível que o crescimento dessa popularidade está
em sintonia com a postura combativa do PT. Ademais, sua propaganda sofrerá
censura de qualquer modo, e talvez coisa pior, independentemente da chapa
registrada.
As circunstâncias reduzem as margens de manobra do lulismo,
que terminará seguindo as imposições do TSE. Mas o Regime ainda não terá
vencido. E sua insatisfação servirá de excelente sintoma dos acertos do PT.
Resta saber como reagirão os organizadores da fraude se os
eleitores também decidirem contrariá-los.
GGN