Não é
difícil imaginar como vai acabar a relação BNDES-JBS por causa da Lava Jato, se
por exemplo for tomada a devassa que a operação promoveu, em parceria com a
mídia, na Petrobras e nas grandes empreiteiras do País. É com essa preocupação
em vista que a reportagem do Fantástico sobre o banco, veiculada no último
domingo (22), deve ser revisitada.
O programa
dominical da TV Globo dedicou quase que a edição inteira a relembrar as
revelações que Joesley Batista fez sobre Michel Temer e Aécio Neves na última
semana. E, em reportagem de quase 4 minutos e meio, contou a história de um
suposto funcionário do BNDES que poderia ter favorecido o grupo JBS em
transações bilionárias.
Para dar
dimensão ao suposto escândalo, o Fantástico cita o volume de recursos que o
BNDES "injetou na JBS" durante o governo Lula (2007-2010): 8,1
bilhões de reais, dando a entender que todo esse montante foi fruto de
operações ilícitas.
Contraponto
a essa informação é a própria delação do Joesley Batista, na qual o dono da JBS
nega repasses irregulares a qualquer agente do BNDES.
Ao contrário
disso, ele afirmou à Lava Jato que nunca pagou propina por qualquer projeto do
BNDES, e que tudo que recebeu de financiamento do banco para expansão da
empresa foi dentro das normas rigorosas da instituição. Por não encontrar mais
burocracia do que a que já existe é que Joesley diz ter criado, em acordo com
Guido Mantega, um caixa virtual para o PT, formado por duas contas no exterior,
de onde supostamente tirou os recursos que investiu em campanhas políticas, em
2014. O GGN tratou do assunto nesta matéria aqui.
Essa
declaração, que o Fantástico omitiu, consta no vídeo da delação de Joesley
divulgado na semana passada. Sobre ela, o Valor publicou: "Joesley faz
questão de reforçar, no depoimento, que a relação da empresa com o BNDES sempre
foi técnica, sem nenhum comportamento ilícito. “Minha relação sempre foi difícil
com o banco. Acho até que eles eram mais rigorosos comigo que com meus
concorrentes. Não sei se era para me obrigar a pagar propina”, ponderou em sua
delação."
Outro dado
usado pelo programa para lançar suspeitas sobre o BNDES é o fato do funcionário
José Cláudio Rego Aranha ter ocupado dupla função no período citado: foi chefe
do departamento do mercado de capitais do banco e conselheiro da JBS.
O Fantástico
tratou Aranha como responsável por "favorecer", no BNDES, a JBS em
três operações financeiras, envolvenda a fusão com o grupo Bertin e a compra da
Natural Beef e da Smithfield (gigantes do mercado de carne nos EUA). O
investimento, nos dois últimos casos, giraram em torno de quase R$ 1 bilhão.
Especialistas entrevistados pela equipe da Globo disseram que, no mínimo,
Aranha tinha um grande conflito de interesses nesses casos.
Nota do
próprio BNDES ao Fantástico esclarece que, pela norma praticada à época, Aranha
não cometeu nenhuma irregularidade. A participação de funcionários do banco no
Conselho de Administração da JBS, aliás, era protocolar, já que ambos são
sócios.
Fantástico
ainda citou que parte dos projetos nos EUA não saiu do papel como se a hipótese
clara fosse de que dificuldades foram criadas para propiciar pagamento de
propina.
Ocorre que a
transação sobre a Natural Beef e Smithfield não foi concluída em 2008 por
entrave imposto pelo governo dos EUA, que queria frear a entrada da JBS no
mercado daquele País. Se o grupo brasileiro tivesse comprado as duas empresas
estrangeiras, ameaçaria o reinado da número 1 em produção de carne nos EUA. A compra
da Smithfield acabou ocorrendo em 2010. Essa informação, Fantástico também
não veiculou.
Já a fusão
da JBS com o grupo Bertin virou alvo oficial da Lava Jato na semana passada,
quando foi deflagrada a operação Bullish, que alega corrupção nessa transação.
O Citibank tem
interesse nessa empreitada. Funcionários do BNDES foram levados coercitivamente
para depor, sem que tivessem sido convidados a colaborar antes. A Associação
dos Funcionários do BNDES repudiou o expediente. O Fantástico citou apenas a
condução coercitiva de Aranha.
Outra
informação que o programa não esclareceu é que os R$ 8,1 bilhões injetados pelo
BNDES na JBS garantiram ao banco a participação de pouco mais de 20% nos lucros
da empresa de Batista. Por isso, o BNDES tem direito a duas cadeiras no Conselho
de Administração da JBS.
Somente após
a chegada de Temer ao poder foi que a a cúpula do banco alterou as normas
internas e, agora, indica conselheiros que não fazem parte do seu quadro de
funcionários.
Do GGN