O
que se tem, nesse exato momento, é um vácuo político amplo no cenário
brasileiro.
A
grande lambança do impeachment esgotou os templários, que guerrearam na linha
de frente. A terra começa a se assentar. E, agora, em cima da terra arrasada,
observa-se um saque indiscriminado, com os órgãos de controle inertes, sem
condições políticas e institucionais de agirem.
Os
principais personagens do impeachment estão no seguinte estágio:
Superior Tribunal Federal - STF
Sem
comando, sob a presidência frágil de Carmen Lúcia. Aliás, desde o primeiro
momento se sabia da sua fraqueza. Mas a realidade virtual se impôs tanto sobre
o mundo real, que a Globo chegou a apostar em Carmen Lúcia como alternativa
política.
O
STF está sendo agredido por todos os lados. E, internamente, não tem coesão
para reagir. A cada dia, mais um Ministro ensaia seus voos solos, liquidando
com a ideia de colegiado. Agora, é o inacreditável Alexandre de Moraes que vem
se juntar ao onipresente Gilmar Mendes e ao diáfano Luís Roberto Barroso.
O
único avanço que ocorreu foi uma pausa nas manipulações dos sorteios, muito
mais por estar dando na vista do que por qualquer medida saneadora.
Conselho Nacional de
Justiça - CNJ
O
comando passou às mãos suspeitíssimas do corregedor João Otávio Noronha.
Trata-se de um antigo advogado do Banco do Brasil, que chegou ao Superior
Tribunal de Justiça por conta de ligações políticas e que coleciona uma enorme
fieira de sentenças polêmicas.
Valendo-se
da fragilidade de Carmen Lúcia, Noronha deu início a uma campanha macarthista
no âmbito do CNJ, contra juízes de pensamento político diferente do seu.
A
Ministra que se vangloriava de defender os seus - "onde um juiz for
atacado, lá estarei para defendê-lo" - isenta Aécio Neves e permite o
ataque aos juízes que não compactuam com o pensamento do corregedor.
Imprensa/Mídia
Perdeu
totalmente o rumo. O poder de que se revestiram é proporcional à crise
econômica que assola os principais grupos.
Ficaram
à reboque da Lava Jato. E valem-se de seu poder de pautar e serem pautados para
vender proteção. Hoje em dia, os repórteres estão proibidos de mencionar os
problemas de grandes anunciantes. É o que explica o estardalhaço da Operação
Acrônimo ter se limitado à Odebrecht, e Gol e CAOA ficarem de fora.
Operação lava jato
A
perseguição a Lula se tornou escandalosa até para os veículos mais alinhados
com o impeachment. Cada martelada na legalidade expõe a parcialidade da Justiça
e a impotência do STF.
Governo Temer
À
vontade. Uma organização criminosa explícita que expõe, com notável didatismo,
a hipocrisia dos sistemas de poder no país. Eliseu Padilha desnuda a alma
nacional em toda sua crueza: qual é o preço? Eu pago. E paga com emendas,
portarias, leis, vendas de estatais, perdas de direitos.
A vontade nacional
Alguns
dos negócios afetarão a vida do país por décadas, mas o país está dividido por
corporações em todos os níveis.
Juízes,
advogados, procuradores, imprensa se valem da máxima: mexeu com um, mexeu com
todos! Em todos os núcleos institucionais, talvez seja a palavra de ordem mais
ecoada. E não há uma força sequer para defender interesses nacionais ou
interesses dos vulneráveis acima dos interesses corporativos menores.
No
CNJ, a Ministra Carmen Lúcia anunciou a recriação de um grupo de trabalho para
resguardar a liberdade de imprensa, exclusivamente dos grupos de mídia.
Os
setores desorganizados ou vulneráveis ficam expostos a toda sorte de abusos.
Nesse
período do impeachment e do pós-impeachment, recaíram ameaças sobre juízes e
procuradores que ousaram se manifestar contra o golpe. Enquanto os setores
majoritários gozam de liberdade para toda sorte de protagonismo político.
A legitimidade e a
política
Por
mais selvagem que seja o jogo político, por mais primário que seja o sentimento
civilizatório nacional, não há jogo que se mantenha sem uma nesga de
legitimidade.
É
bobagem achar que a falta de reações imediatas seja aceitação dos absurdos que
estão sendo cometidos. De escândalo em escândalo, de impotência em impotência
vai-se pavimentando a próxima etapa política, na qual inevitavelmente aparecerá
um Bonaparte.
A
única incógnita é sua extração política, mas será inevitável que o espaço seja
ocupado por uma personalidade política autoritária, tais as disfunções do
aparelho institucional brasileiro.
GGN