A simples
sabujice de acreditar na tese de Lula culpar Dona Marisa já seria uma prova
incontestável de falta de caráter e desapreço pela verdade factual e histórica
por parte de qualquer jornalista ou ser humano.
Mas elevar o
gesto de barbárie ao cúmulo de tornar Lula responsável pela "segunda"
morte da mulher é de uma canalhice só possível nesse país de cretinos completamente
indiferentes a sinais de humanidade.
É transpor
todo limite do tolerável e do absurdo na tarefa diuturna de tentar destruir, a
qualquer preço, a biografia de um migrante nordestino pobre alçado aos braços
da história como o presidente mais importante e popular do Brasil.
Uma
investida nefasta de compensar no campo da intimidade familiar - como tem sido
feito desde a sordidez da campanha de 1989 - o fracasso retumbante de um
processo judicial só válido nas manchetes, na atuação ignóbil do judiciário e
no fígado da elite verde-amarela.
Durante a
perseguição midiático-jurídica contra o ex-presidente e a família, os cães
amestrados aplaudiram e divulgaram conversas privadas da família do petista sem
qualquer conexão com a investigação judicial, nunca recriminaram a invasão
domiciliar e o sequestro dele pela Polícia Federal.
Ampliaram,
assim, a sanha contra o petista e a família a ponto de levar a óbito Dona
Marisa, mulher com vastos serviços prestados à sociedade brasileira. Duvidou-se
da morte e até se criticou o ex-presidente por, à beira do caixão, chorar a dor
da esposa falecida.
A morte
sequer arrefeceu o desejo de macular a imagem dela: o juiz encarregado do
processo se recusa a declará-la inocente, como manda a lei, amparado em uma
turba de torquemadas da imprensa cuja única missão é criminalizar tudo ligado a
Lula. Após o depoimento do petista a Moro, a "criminosa" Marisa é
transformada em vítima, sob o súbito surto de preocupação midiática, somente
para corroer a imagem do marido.
Que jornalismo
é esse capaz de nutrir e sorver um ódio desmedido contra uma figura pública
cuja trajetória registra a retirada de milhões da pobreza, o aumento do emprego
e a melhoria geral do padrão de vida do país?
Que
jornalismo é esse capaz de fingir preocupação social enquanto estimula com
sadismo e mentiras a atual destruição diária de direitos básicos no trabalho,
na previdência, na educação, no campo, nas terras indígenas?
Como dorme
esse jornalismo depois de maquiar a piora econômica com mensagens otimistas de
uma situação só interessante ao capital especulativo e aos barões de sempre
dessa elite burra e mesquinha?
Como pode
esse jornalismo praticar essas desumanidades sem perceber o impacto delas na
vida da pessoa simples, do desfavorecido, da vítima do arbítrio policial,
jurídico, dos menos abastados?
Como esse
jornalismo pode cobrar o direito à vida com plena dignidade - missão básica da
profissão - se estimula a destruição contínua de reputações, alimenta o ódio,
adula o poder, rasga leis, reproduz inverdades, persegue inimigos e se esforça
em criar uma narrativa sustentável para os mais ricos esfolarem os mais pobres
e manter, assim, a desigualdade secular brasileira?
A caçada
desenfreada a Lula apenas evidencia o exercício de um trabalho cuja rotina em
nada lembra jornalismo.
E cujos
profissionais em nada lembram seres humanos.
Do GGN, por
Tiago Barbosa