Não tenho
motivos pessoais para gostar de Guido Mantega. Pequeno, mesquinho, inseguro,
foi o primeiro Ministro da Fazenda, desde que iniciei a carreira de jornalista
econômico, a me colocar na lista negra. Ele e Alexandre Tombini, presidente do
Banco Central.
Mas
não bate bem esta história de Antônio Pallocci, de que Mantega montara uma
central de vazamento de informações financeiras.
Vamos
entender um pouco mais esse jogo.
Desde que se
criou o chamado Open Market brasileiro – venda diária de títulos públicos e
privados – há vazamentos de informação. No governo Sarney, Maílson da Nóbrega
tinha um esquema de vazamento de informações, não apenas no Banco Central, mas
na Receita Federal – que dispunha de um índice de correção.
No governo
Collor, era comum o presidente do Banco Central, Ibrahim Eris, receber colegas
de mercado fora do expediente.
No governo
Fernando Henrique Cardoso, sempre questionei a história do vazamento de
informações sobre os leilões cambiais para os bancos Marka e Cindam. Pouco
antes do estouro, almocei com Salvatore Cacciola, o deslumbrado presidente do
Marka. No almoço, ele se vangloriou da equipe de renda fixa que acertava
praticamente todos os leilões do BC.
Quando
explodiu o escândalo do câmbio, insisti para que analisassem
probabilisticamente a participação do Marka nos leilões de títulos do BC: ali
estava a jogada, não no câmbio. Para jogar no câmbio, Cacciola se valia de um
contrato com a Tendência Consultorias, do próprio Maílson. Para entrar no mercado,
o BC dava ordens de comando para a Gerof (Gerência de Operações Financeiras).
Era de lá que vinha o insider da Tendências. No dia em que o BC decidiu sair do
mercado, não houve ordem alguma. Por isso, Marka e Fonte-Cindam quebraram.
De nada
adiantaram os alertas. O máximo que consegui foi um discurso do Eduardo Suplicy
chamando a atenção para a denúncia.
No período
Antônio Palocci-Henrique Meirelles na Fazenda e no Banco Central, os índices de
acerto do então Banco Pactual chamaram a atenção do mercado. Basta o MPF
(Ministério Público Federal) valer-se das técnicas probabilísticas onde elas
cabem, e não no besteirol levantado por Deltan Dallagnol.
Não apenas
isso. Na ocasião, o Pactual planejava comprar as operações brasileiras da
Goldman Sachs. Mas tinha uma enorme pendência fiscal no âmbito do CARF
(Conselho Administrativo de Recursos Fiscais). Se as investigações caminharem
na direção do CARF e dos acertos do antigo Pactual nos leilões do BC,
encontrará o caminho das pedras.
Não boto a
mão no fogo por Mantega-Tombini. Por diversas vezes critiquei o método Tombini,
de manter reuniões a portas fechadas com o mercado em São Paulo. Mas se há
suspeitos nesse jogo, é o próprio Palocci e o BTBG Pactual.
Nos arquivos
da Folha devem estar, ainda, as diversas colunas que escrevi em 2005, até ser
impedido de continuar.
GGN