Hoje cedo
recebi o aviso de que o companheiro Marco Aurelio Mello precisava de ajuda
diante de mais uma ação ganha por Ali Kamel, diretor da Globo na Justiça contra
blogueiros.
Ao contrário
do que ocorre com seu homônimo, ninguém irá relativizar uma punição porque
Marco é chefe de família ou cidadão e profissional exemplar.
Ou que não
tem meios espúrios de arranjar uma “mala de dinheiro” para acalmar ninguém.
Mello tem
por si seus companheiros jornalistas, mas precisa de advogados.
Por isso,
deixo que um querido colega, Luiz Carlos Azenha, conte a história de porquê e
como devemos ajudá-lo:
Da importância de, mais uma vez, Marco
Aurélio Mello derrotar a Globo
O ano é
2006. Sou destacado pela TV Globo para acompanhar o candidato do PSDB ao
Planalto, Geraldo Alckmin. É minha primeira cobertura de uma eleição
presidencial no Brasil.
É rotina
bater papo sobre a cobertura nos intervalos do trabalho, em qualquer redação.
As conversas
começam a produzir um consenso entre um grupo grande de colegas, alguns dos
quais permanecem na emissora: a Globo quer evitar a reeleição de Lula e colocar
Alckmin no Planalto.
Desde 2005,
na cobertura do mensalão petista — vejam bem, o mensalão tucano,
um teste regional do esquema, nunca foi chamado assim pela Globo, nunca
mereceu investigação ou manchetes no Jornal Nacional — isso vem se
tornando claro.
Marco Aurélio
Mello, editor de economia do JN, conta que veio do Rio a ordem para “tirar
o pé” das reportagens que mostravam recordes na compra de material de
construção, emprego na construção civil, vendas da linha branca de
eletrodomésticos, etc., assuntos que em tese poderiam beneficiar o presidente
Lula.
Por outro
lado, a principal repórter de economia de São Paulo repete, para quem quiser
ouvir, que o real vai derreter diante da perspectiva de reeleição de Lula.
“Dólar a quatro”, prevê.
Pessoa do
melhor caráter, não faz isso por má intenção: apenas repete o que ouve no
‘mercado’, cujos ‘especialistas’ sustentam as reportagens da Globo, do Bom
Dia Brasil ao Jornal da Globo desancando Lula.
Questiono a
colega, cujas previsões mais tarde vão afundar feito a campanha de Alckmin no
segundo turno.
Na redação
paulista também se fala sobre o fato de a Globo escolher o tema a ser
tratado pelos candidatos naquele espaço reservado à cobertura do dia-a-dia da
campanha.
São 90
segundos para Lula, 90 para Alckmin, 90 para Cristovam Buarque — o
Lulalight financiado pelos tucanos — e 90 para Heloisa Helena.
Se existia
uma denúncia contra Lula ou o governo Lula, o petista acabava desancado: tinha
90 segundos para se defender, contra 270 segundos de pauladados
adversários.
O ‘equilíbrio’,
portanto, era mera formalidade, para inglês ver.
Outra
surpresa: Alexandre Garcia deixa de aparecer apenas em programas estritamente
jornalísticos e é visto, por exemplo, no programa de Ana Maria Braga, nunca
atacando diretamente Lula ou seu governo, mas fazendo avançar ‘pautas’ de
interesse dos adversários do presidente.
A
repercussão das capas de revista aos sábados — sempre aquelas que faziam
denúncias contra o PT — já haviam dado o que falar. A tal ponto que um grupo de
jornalistas marcou reunião com o editor regional de Jornalismo para reclamar.
Como
resultado do encontro, do qual não participei, sou escolhido para fazer uma
reportagem sobre o escândalo das ambulâncias, atribuído ao PT mas que também
envolve o ex-ministro José Serra, agora candidato tucano a governador de São
Paulo.
A produtora
Cecília Negrão é colocada no caso, mas sem qualquer recurso. Não há
autorização nem mesmo para uma viagem a Piracicaba, no interior paulista, onde
o sucessor de Serra no Ministério da Saúde era prefeito.
Ainda assim,
conseguimos colocar em pé uma reportagem demonstrando que a grande maioria das
ambulâncias superfaturadas entregues enquanto vigia o esquema o foi quando
Serra era ministro, não no governo subsequente do PT.
Portanto, o
escândalo que a mídia muitas vezes atribuiu exclusivamente aos petistas tinha
tido origem “no governo anterior”, que é como William Bonner se referiu ao
período de Fernando Henrique Cardoso certa vez, numa notícia que poderia
comprometer o Príncipe.
Minha reportagem
citando Serra não foi ao ar no dia previsto, Jornal Nacional de uma
sexta-feira, não foi ao ar no sábado apesar de nossas reclamações — e até hoje
ocupa uma gélida gaveta.
Com Lula
reeleito, a dissensão interna na Globo teve duas consequências: o repórter
Rodrigo Vianna não teve o contrato renovado, o editor Marco Aurélio Mello foi
demitido e eu pedi rescisão antecipada de meu contrato, optando por aperfeiçoar
meus conhecimentos sobre a internet num período sabático em Washington.
Por outro
lado, todos aqueles que apostaram as fichas nas omissões e manipulações da
Globo tiveram ascensão meteórica.
Mas… Ali
Kamel perdeu. No que realmente interessa, a Globo foi derrotada.
O que era do
conhecimento de um pequeno grupo de profissionais da emissora tornou-se
assunto nacional, denunciado por quem estava lá e testemunhou tudo nos
bastidores.
O que no
passado foi assunto de acadêmicos — as manipulações da Globo — tornou-se
tema debatido por milhões de brasileiros, ganhou as ruas como nunca nos
cartazes dos movimentos sociais e é hoje uma das pautas mais importantes diante
da sociedade brasileira.
As ações na
Justiça contra desafetos foram a consequência lógica desta derrota política.
Seria
ingenuidade imaginar que um Marco Aurélio Mello ficaria de bico fechado.
Olhem um
trecho do currículo dele:
1. Prêmio
Vladimir Herzog — 1993 (Programa Olhar Brasileiro)
2. Prêmio
SENAI/CNT — 2004 (Novo Emprego)
3. Prêmio
CNT de Jornalismo — 2005 (Série Transportes – Jornal Nacional)
4. Grande
Prêmio Globo de Jornalismo — 2005 (Morte do Papa)
5. Melhor
Cobertura Prêmio Globo — 2005 (Morte do Papa)
6. Menção
Honrosa Prêmio Globo de Jornalismo — 2005 (Crise Política)
7. Prêmio
Vladimir Herzog — 2008 (Saúde Pública, Salve-se Quem Puder)
8. Prêmio
CNT de Jornalismo — 2010 (Cadê Meu Carro? – Jornal da Record)
9 Prêmio
Direitos Humanos de Jornalismo — 2012 (Doutor Marcelo, Diário do Inferno)
10. Prêmio
Direitos Humanos de Jornalismo — 2013 (Perseguidos)
11. Grande
Prêmio Petrobras de Jornalismo — 2013 (Vidas Sem Lar)
Trata-se, na
verdade, de calar a dissensão interna.
De fazer
estalar a chibata para servir de exemplo — ah, os métodos da Casa Grande são
sempre os mesmos…
É uma forma
de deixar claro aos colegas de Marco Aurélio que ficaram na Globo que é muito
mais confortável tocar a vida sem se importar com as maquinações dos irmãos
Marinho. Que não vale questionar, nem denunciar.
Os
R$ 40 mil reais que Marco Aurélio foi condenado a pagar a Ali Kamel —
por um texto ficcional! — tem, assim, também um caráter político.
Cabe,
portanto, derrotar a Globo mais uma vez.
Como?
Demonstrando
solidariedade, com a doação de pequenas quantias, para que ao final do processo
um grande número de pessoas diga a Ali Kamel e à Globo: o Marco Aurélio não
está só, nós sabemos o que vocês fizeram no verão passado e nem com todo o seu
poder na Justiça, no Congresso e no Executivo, nem com seus bilhões de reais
vocês serão capazes de comprar nosso silêncio.
Para
derrotá-los nesta pequena batalha, clique aqui.
Do Tijolaço