sexta-feira, 30 de novembro de 2018

"JAIR BOLSONARO É O PIOR REPRESENTANTE DESSE SISTEMA", DIZ LULA

Foto: Ricardo Stuckert
"Esta não foi uma eleição normal", escreveu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de dentro da prisão na sede da Polícia Federal em Curitiba. A nova carta de Lula alerta para todos os riscos, contra avanços do país, do novo governo a partir de janeiro de 2019. E conclama a população a "manter acesa a chama da esperança, o que significa a defesa da democracia, do patrimônio nacional, dos direitos dos trabalhadores e do povo que mais precisa".
"Tudo isso está ameaçado pelo futuro governo, que tem como objetivo aprofundar os retrocessos implantados por Michel Temer a partir do golpe que derrubou a companheira Dilma Rousseff em 2016", lembrou.
"Jair Bolsonaro se apresentou ao país como um candidato antissistema, mas na verdade ele é o pior representante desse sistema. Foi apoiado pelos banqueiros, pelos donos da fortuna; foi protegido pela Rede Globo e pela mídia, foi patrocinado pelos latifundiários, foi bancado pelo Departamento de Estado norte-americano e pelo governo Trump, foi apoiado pelo que há de mais atrasado no Congresso Nacional, foi favorecido pelo que há de mais reacionário no sistema judicial e no Ministério Público, foi o verdadeiro candidato do governo Temer."
Leia a íntegra da carta de Lula:
Companheiras e companheiros,
Do fundo do meu coração, agradeço por tudo o que fizeram neste processo eleitoral tão difícil que vivemos, absolutamente fora da normalidade democrática. Quero que levem meu abraço e minha gratidão a cada militante do nosso partido, pela generosidade e coragem diante da mais sórdida campanha que já se fez contra um partido político neste país.
Agradeço à companheira Gleisi Hoffmann e a toda a nossa direção nacional, por terem mantido o PT unido em tempos tão difíceis; por terem sustentado minha candidatura até as últimas consequências e por terem se engajado totalmente, com muita força, na candidatura do companheiro Fernando Haddad.
Agradeço ao companheiro Fernando Haddad por ter se entregado de corpo e alma à missão que lhe confiamos. Ele enfrentou com dignidade as mentiras, a violência e o preconceito. Saiu das eleições como um líder brasileiro reconhecido internacionalmente.
Agradeço à companheira Manuela D’Ávila e aos partidos que nos acompanharam com muita lealdade nessa jornada.
Saúdo os quatro governadores que elegemos, em especial a companheira Fátima Bezerra, e também os que não conseguiram a reeleição, mas não desistiram da luta nem dos nossos ideais. Saúdo os senadores e deputados eleitos e todos os que, generosamente, se lançaram candidatos, fortalecendo a votação em nossa legenda.
A luta extraordinária de vocês nos levou a alcançar 47 milhões de votos no segundo turno. Apesar de toda perseguição, de todas as tramoias que fizeram contra nós, o PT continua sendo o maior e mais importante partido popular deste país. E isso nos coloca diante de imensas responsabilidades. 
O povo brasileiro nos deu a missão de manter acesa a chama da esperança, o que significa a defesa da democracia, do patrimônio nacional, dos direitos dos trabalhadores e do povo que mais precisa. Tudo isso está ameaçado pelo futuro governo, que tem como objetivo aprofundar os retrocessos implantados por Michel Temer a partir do golpe que derrubou a companheira Dilma Rousseff em 2016.
Esta não foi uma eleição normal. O povo brasileiro foi proibido de votar em quem desejava, de acordo com todas as pesquisas. Fui condenado e preso, numa farsa judicial que escandalizou juristas do mundo inteiro, para me afastar do processo eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral rasgou a lei e desobedeceu uma determinação da ONU, reconhecida soberanamente em tratado internacional, para impedir minha candidatura às vésperas da eleição.
Nosso adversário criou uma indústria de mentiras no submundo da internet, orientada por agentes dos Estados Unidos e financiada por um caixa dois de dimensões desconhecidas, mas certamente gigantescas. É simplesmente vergonhoso para o país e para a Justiça Eleitoral que suas contas de campanha tenham sido aprovadas diante de tantas evidências de fraude e corrupção. É mais uma prova da seletividade de um sistema judicial que persegue o PT.
Se alguém tinha dúvidas sobre o engajamento político de Sérgio Moro contra mim e contra nosso partido, ele as dissipou ao aceitar ser ministro da Justiça de um governo que ajudou a eleger com sua atuação parcial. Moro não se transformou no político que dizia não ser. Simplesmente saiu do armário em que escondia sua verdadeira natureza.
Eu não tenho dúvida de que a máquina do Ministério da Justiça vai aprofundar a perseguição ao PT e aos movimentos sociais, valendo-se dos métodos arbitrários e ilegais da Lava Jato. Até porque Jair Bolsonaro tem um único propósito em mente, que é continuar atacando o PT. Ele não desceu do palanque e não pretende descer. Temos de nos preparar para novos ataques, que já começaram, como vimos nas novas ações, operações e denúncias arranjadas que vieram neste primeiro mês depois das eleições.
Jair Bolsonaro se apresentou ao país como um candidato antissistema, mas na verdade ele é o pior representante desse sistema. Foi apoiado pelos banqueiros, pelos donos da fortuna; foi protegido pela Rede Globo e pela mídia, foi patrocinado pelos latifundiários, foi bancado pelo Departamento de Estado norte-americano e pelo governo Trump, foi apoiado pelo que há de mais atrasado no Congresso Nacional, foi favorecido pelo que há de mais reacionário no sistema judicial e no Ministério Público, foi o verdadeiro candidato do governo Temer.
Não teve coragem de participar de debates no segundo turno, de confrontar conosco suas ideias para a economia, o desenvolvimento, a geração de empregos, as políticas sociais, a política externa. E vai executar um programa ultraliberal, de entreguismo e privatização, que não foi apresentado aos eleitores e muito menos aprovado nas urnas.
Ele explorou o desespero das pessoas com a violência; a indignação com a corrupção e a decepção com os políticos. Mas não tem respostas concretas para nenhum desses desafios. Primeiro porque a proposta dele para segurança é armar as pessoas, o que só vai aumentar a violência. Segundo, porque Sérgio Moro e a Lava Jato premiaram os corruptos e corruptores da Petrobras. A maioria está solta ou em prisão domiciliar, gozando as fortunas que roubaram. E por fim, Bolsonaro é, de fato, o representante do sistema político tradicional, que controla a economia e as instituições no país.
As mesmas pessoas que elegeram Bolsonaro vão julgá-lo todos os dias, pelas promessas que não vai cumprir e pelo que vai acontecer em nosso país. Temos de estar preparados para continuar construindo, junto com o povo, as verdadeiras soluções para o Brasil, pois acredito que, por mais que queiram, não vão conseguir destruir nosso país.
O PT nasceu na oposição, para defender a democracia e os direitos do povo, em tempos ainda mais difíceis que os de hoje. É isso que temos de voltar a fazer agora, com o respaldo dos nossos 47 milhões de votos, com a responsabilidade de sermos o maior partido político do país.
E como diz a companheira Gleisi, não temos de pedir desculpas por sermos grandes, se foi o eleitor que assim decidiu. Queremos e devemos atuar em conjunto com todas as forças da esquerda, da centro-esquerda e do campo democrático, num exercício cotidiano de resistência.
Temos de voltar às ruas, às fábricas, aos bairros e favelas, falar a linguagem do povo, nos reconectar com as bases, como disse o Mano Brown. Não podemos ter medo do futuro porque aprendemos que o impossível não existe.
Até o dia do nosso reencontro, fiquem com um grande abraço do
Luiz Inácio Lula da Silva.
GGN

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

AVANÇA A CRIMINALIZAÇÃO DA ATIVIDADE POLÍTICA E O ESTADO EXCEÇÃO, POR DANIEL SAMAM

A prisão do governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), a 30 dias do fim do seu mandato, é mais um capítulo do ativismo político do Poder Judiciário. 
Baseada numa delação de 8 meses atrás que, como de praxe, não foi confirmada por qualquer tipo de prova, acusando o governador de um crime da época em que este era vice-governador. O delator, Carlos Miranda, depois de dizer aquilo que o Judiciário queria ouvir, está em prisão domiciliar. 
Que fique claro, tais acusações não passam de mero pretexto pra pirotecnia do ato da prisão cumprir o propósito de criminalizar a atividade política. 
Essa ação de hoje (29) tem como consequência o fortalecimento da narrativa para a sociedade chancelar uma solução de recorte autoritário que hoje no Estado do Rio tem nome e sobrenome: Wilson Witzel. 
Pra quem ainda tergiversa com o estado de exceção promovido pelos ativistas do Judiciário que se concentram na Operação Lava Jato, cuidado. Lembrem-se que depois do A, vem o B, o C, o D e assim por diante. O próximo pode ser você. 
Daniel Samam é músico e educador. É membro do Instituto Casa Grande e do Coletivo Nacional de Cultura do Partido dos Trabalhadores. 
GGN

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

SUÍÇA ENVIA DOCUMENTOS DE R$ 43,2 MILHÕES DE TUCANO SOBRE CAMPANHA DE SERRA EM 2010

Campanha de José Serra em 2010 - Foto: Arquivo/Divulgação 
Não era apenas o ex-diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), Paulo Vieira de Souza, reconhecido como o operador de propinas do PSDB e também chamado de Paulo Preto, o único tucano que mantinha milhões em contas ocultas na Suíça. O ex-deputado, ex-presidente do PSDB do Rio de Janeiro (1993) e empresário Ronaldo Cezar Coelho admitiu que recebeu 6,5 milhões de euros para atuar na campanha de José Serra à Presidência em 2010. Mas os montantes de todo o esquema poderiam ultrapassar R$ 43,2 milhões. 
A informação não é de agora, mas o nome do empresário estava mantido em sigilo. O correspondente Jamil Chade, do Estadão, revelou ainda em abril o teor do depoimento do empresário à Polícia Federal, admitindo o recebimento da quantia. Agora, as autoridades suíças repassaram todos os documentos e detalhes sobre as contas do empresário para integrar a investigação, que avança em segredo de Justiça, contra o financiamento da campanha de José Serra em 2010. 
Essa cooperação do Brasil com a Suíça vem sendo mantida desde 2014, a comando do procurador-geral do país europeu, Michael Lauber. Em um primeiro momento, estava na mira o ex-diretor da Dersa. No caso relacionado a Paulo preto, provas bancárias também foram enviadas pelos investigadores suíços, apontando R$ 113 milhões em contas ocultas no país.  
Na investigação do considerado operador do PSDB a entrega das provas ocorreu de maneira espontânea pela Suíça, não partindo de um pedido do Ministério Público Federal brasileiro. Até então, Paulo Preto tentava evitar esse envio de comprovantes, desde 2017, o que foi negado pela Suprema Corte da Suíça há dois meses. 
Por outro lado, os investigadores suíços informaram ao repórter Jamil Chade que ambos casos não são uma continuidade, mas apurações separadas. Apesar da relação de Paulo Preto com caciques tucanos, como o próprio José Serra, a investigação do empresário Ronaldo Coelho é direta para acusar irregularidades e esquema de corrupção envolvendo o financiamento de campanha de Serra ao Planalto, em 2010. 
De acordo com os cálculos dos suíços, que bloquearam ativos em contas identificados no país desde 2017, as quantias chegariam a R$ 43,2 milhões, o "equivalente a mais de 10 milhões de francos suíços, valor total pago em uma base de corrupção entre 2006 e 2012", informaram as autoridades daquele país. 
Deste total, alguns repasses ocorreram no valor de R$ 6,25 milhões e outros atingindo 3,75 milhões de euros, entre os anos de 2009 e 2010. A resposta dada pelo empresário sobre essas quantias foi que estes depósitos teriam relação aos gastos de aviões que ele emprestou para a campanha do PSDB à Presidência há oito anos. E o dinheiro seria um "reembolso" do partido pelas viagens a jatos.  
Mas os todos os documentos e comprovantes das quantias foram enviadas agora pela Suíça ao Brasil, para que os procuradores brasileiros prossigam com a investigação sobre o financiamento supostamente ilegal da campanha de José Serra. Ao repórter, o tucano não respondeu. 
GGN

terça-feira, 27 de novembro de 2018

O PREFEITO DOMINGOS DUTRA DE PASSO DO LUMIAR OBTÉM VITÓRIA NO TER/MA POR UNANIMIDADE E SEGUE NO CARGO


Foi encerrado há pouco nesta terça-feira (27), no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o julgamento do processo da Ação de Investigação Judicial Eleitoral que buscava a cassação da chapa do prefeito Domingos Dutra (PCdoB) e da vice Maria Paula Azevedo (SD). Por unanimidade, o pleno do TRE maranhense seguiu o voto do relator e deu o resultado de 6 x 0 pela permanência de Domingos Dutra no mandato de prefeito de Paço do Lumiar.

domingo, 25 de novembro de 2018

ASCENSÃO E QUEDA DA ESCOLA DE CHICAGO, POR ANDRÉ ARAÚJO


Na realidade a “Escola de Chicago” é uma ideologia e não uma teoria econômica, sua aceitação depende de fé tal qual o marxismo, ambos apresentam a mesma pretensão de ciência, sem ser.
“Eles são as trevas do pensamento econômico”, Paul Krugman.
“Chicago economics” ou Escola de Economia da Universidade de Chicago é uma linha de pensamento econômico que acredita que os mercados são resultado da “competição perfeita” e, portanto, é o “mercado” deixado operar livremente o melhor modelo de gestão da economia em qualquer lugar. Acreditam também no rígido controle da moeda, quanto menos moeda em circulação melhor será para o funcionamento da economia. Mercados livres e moeda escassa são os mandamentos da Escola de Chicago, o resto se encaixa como consequência.
A História econômica se encarregou de derrubar essa ficção que é obra de fé, mas os adoradores desse modelo insistem em considerá-lo sagrado, não importa em que lugar, país, região, sob que condições ou estágio, como se o modelo fosse algo cientifico, da física.
Na realidade a “Escola de Chicago” é uma ideologia e não uma teoria econômica, sua aceitação depende de fé tal qual o marxismo, ambos apresentam a mesma pretensão de ciência, sem ser.
O Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, da Universidade de Princeton, é um dos maiores críticos atuais do “Chicago economics”, a quem denominou de “Era das Trevas” do pensamento econômico.
Nos próprios Estados Unidos a Escola de Chicago nunca foi uma unanimidade, as escolas de economia da Costa Leste como Harvard, MIT, Columbia, Yale, Princeton tem visão e angulações bem diferenciadas de Chicago, sem falar na New School de Nova York, que é a antítese de Chicago. Hoje, o Institute of New Economic Thinking de Nova York, onde estão Paul Krugman e Joseph Stiglitz, contestam frontalmente toda a filosofia de Chicago.
Os “new keyneisians”, corrente moderna de seguidores da visão de Lord Keynes, em economia, abominam os pressupostos da Escola de Chicago. Na Universidade da Califórnia em Berkeley, Brad DeLong, diz que a escola de Chicago chegou a um colapso intelectual, significando que parou no tempo e nada mais tem a contribuir no pensamento econômico.
O que restou de crença na Escola de Chicago desabou por completo na crise financeira de 2008, quando o capitalismo americano do “mercado perfeito” ruiu e implodiu, sendo salvo nada mais, nada menos pelo execrado ESTADO. O Tesouro dos EUA despejou US$ 708 bilhões em dinheiro público para salvar o coração desse capitalismo, tanto financeiro, quanto industrial. Salvou o CITIGROUP, a seguradora AIG, maior do mundo, e a GENERAL MOTORS, maior empresa industrial dos EUA e mais outra 200 empresas e bancos.
Foi a segunda vez que o ESTADO salvou a economia americana. A primeira foi em 1933 quando a Reconstruction Finance Corporation, estatal criada por Roosevelt, emprestou dinheiro para resgatar 8.000 bancos e empresas na esteira da Grande Depressão, quando o “crash” da Bolsa de Nova York quase liquidou para sempre a economia americana e mundial.
Em 1929 e 2008 o ESTADO mostrou que é infinitamente maior como instrumento da economia do que o “mercado perfeito”, mas nem isso mudou as mentes dos fanáticos de Chicago. 
O DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE CHICAGO
Financiado desde seu início pelo magnata do petróleo John Rockefeller, em torno de 1890, a escola de economia da Universidade de Chicago tem longa história baseada em dois eixos: a competição perfeita que vem dos mercados livres do Estado e o rígido controle do fluxo de moeda, teoria que teve duas fases. A primeira, de Irving Fisher, desaparecida com a crise de 29, quando Fisher, um economista de reputação nacional disse em entrevista que a “economia americana nunca esteve tão sólida”, isso duas semanas antes da implosão da Bolsa em 24 de outubro de 1929. Com essa profecia furada foi-se embora também o monetarismo de Fisher que renasceu nos anos 60 com Milton Friedman, nova onda nascida nos cofres do CITIBANK, que financiou as palestras e a revista de Friedman, história que descrevo com detalhes em vários capítulos de meu livro de 2005, MOEDA E PROSPERIDADE, edição Top Books, 900 paginas, hoje esgotado, é um romance, como se constrói uma teoria econômica de interesses.
No livro de Lanny Eberstein, uma monografia sobre a Escola de Chicago, de 2015, ele destaca um fenômeno muito perceptível, a “apropriação” que economistas medíocres formados em Chicago fazem de seu credo que NÃO é exatamente o neoliberalismo político que se prega em alguns países. Friedman, por exemplo, inventou o conceito de “bolsa família”, ele achava que os muito pobres tinham sim que ser amparados pelo Estado, algo que os seguidores preferem esquecer. No livro, Eberstein fala das preocupações sociais de Friedman e Hayek, esquecidas pelos seus seguidores, que selecionam na teoria o que lhes interessa.
O livro é “CHICAGO ECONOMICS : THE EVOLUTION OF CHICAGO FREE MARKET ECONOMCS”.
O fato é que a “escola de Chicago” criou uma visão de economia para o mundo anglo-americano, inaplicável para países de estrutura econômica onde o Estado historicamente tem um papel muito maior do que na Inglaterra e Estados Unidos. Países de raiz mercantilista, como França e Alemanha e mais ainda países com outras culturas econômicas como Rússia, Índia e China. A loucura é pretender, como alguns sectários, aplicar o “Chicagonomics” em países de outra tradição, sociedade e formação, como o Brasil, onde desde o nascimento do País, o Estado tem um papel central na economia, que nunca teve na Inglaterra ou nos EUA.
Mas mesmo no seu berço de origem, o modelo de Chicago já foi sepultado. No último enterro o coveiro foi o banco Lehman Brothers. O estranho é que, com todos esses resultados à vista de qualquer indivíduo de mediana inteligência, ainda há fanáticos da privatização e da moeda escassa, mesmo depois de tantos desmontes desse modelo fracassado. Como muito bem expõe o livro de Eberstein, o “quantitative easing” acabou com o monetarismo na Europa e nos EUA, ele sobrevive apenas no Banco Central do Brasil, tão atual como Templo Positivista de São Lourenço, em Minas Gerais, onde a filosofia Positivista desaparecida da França há cem anos ainda é cultivada com carinho. Os saudosos do monetarismo de Friedman são convidados a visitar o museu do Banco Central em Brasília, onde se lembrarão do mestre e reverenciarão o único lugar do mundo onde se pratica o culto à moeda escassa como religião.
Os visitantes aproveitarão a viagem para conhecer o país do mundo onde se pratica o “monetarismo” religioso de Friedman, sob a regência do Banco Central. É isso que garante aos bancos brasileiros o maior lucro do planeta sobre ativos, graças exatamente à escassez de moeda que, ao mesmo tempo, garante os lucros extraordinários do sistema financeiro e proporciona uma recessão que dura quatro anos e uma monumental taxa de desocupação de um terço da população economicamente ativa, maior índice desde a Grande Depressão de 1929 na Europa e os EUA. No Brasil, a Grande Depressão mundial provocou muito menos desemprego do que a recessão de 2014, sob a regência de Joaquim Levy.
Desocupação, desemprego e recessão não preocupam minimamente os seguidores de Chicago nos Estados Unidos e muito menos no Brasil. Esses fenômenos nem fazem parte de seus manuais. Milton Friedman teria mais sensibilidade do que seus alunos, era um monetarista com algumas preocupações sociais, de visão mais ampla que seus seguidores e com a capacidade da verdadeira inteligência, a de reconhecer erros e voltar atrás, fez isso no fim da vida em conversas com Alan Greenspan, seu amigo mas adversário intelectual.
Como é comum em tantas filosofias, ideologias, religiões, crenças e teorias, os seguidores fora de seu berço são mais fanáticos e radicais, enquanto no ninho original a crença morre ou se recicla, na sua projeção para fora a seita se estratifica, se mumifica no túmulo do fracasso.
Hoje nos EUA, até na própria Universidade de Chicago, os preceitos do “Chicagonomics” têm menor fidelidade. O legado de Friedman foi desmoralizado pela crise de 2008 e se mudou para a Universidade Carnegie Mellon de Pittsburgh, onde seu herdeiro intelectual Alan Meltzler, falecido no ano passado, lecionava. Agora o Brasil pode ser a nova rampa de re-relançamento do “Chicagonomics” embalsamado, o único dos grandes países emergentes outrora conhecidos como BRICS onde essa seita pode caminhar fora do merecido túmulo, enquanto Rússia, Índia e China crescem longe de teorias anglo-americanas e praticando o dia a dia da politica econômica de circunstância, sem metas de inflação, privatizações, preocupação com dívida em moeda nacional e com bancos centrais a serviço do crescimento e não da estagnação. O Brasil sai dos BRICS e vira área de serviço de Washington, é a História.
GGN

sábado, 24 de novembro de 2018

XADREZ DA CONFORMAÇÃO DA REPÚBLICA FUNDAMENTALISTA DE BOLSONARO, POR LUIS NASSIF

As peças do jogo
Não se iluda com a bateção de cabeça na equipe de transição de Bolsonaro. Como um caminhão carregado de abóboras, a cada tranco as abóboras vão se ajeitando e redefinindo a nova conformação.
Das mensagens de Twitter, entrevistas, declarações algo caóticas do governo de transição, extraem-se os seguintes elementos sobre os grupos de poder.
Núcleo 1 – o grupo religioso
A afirmação de Jair Bolsonaro de que o maior problema do Brasil não é a corrupção, mas os vermelhos; as indicações de Ernesto Araújo para Ministro das Relações Exteriores, e de Ricardo Velez Rodrigues para Ministro da Educação, confirmam a influência do núcleo religioso do governo, centrada nos três primeiros-filhos e em Olavo de Carvalho e seus seguidores. Haverá um fundamentalismo religioso que terá em Bolsonaro o grande animador.
Núcleo 2 – A entrevista do general Hamilton Mourão à Folha de S. Paulo, reforçando a imagem de âncora do núcleo racional do governo.
Núcleo 3 – o controle de Paulo Guedes sobre a área econômica, com algumas posições que entram em conflito com as noções de segurança nacional do general Mourão.
Núcleo 4 – Sérgio Moro montando as bases do estado policial, com uma variante mais sútil da guerra ideológica, o chamado direito penal do inimigo.
A partir dessas peças, é possível compor melhor o que poderá ser o jogo no governo Bolsonaro.
Peça 1 – a República fundamentalista
Havia duas expectativas de abreviar o governo Bolsonaro:
Loucuras na economia, decorrentes da falta de senso de Bolsonaro, passando a sensação de destruição econômica do país.
A reversão de expectativas dos eleitores, fato que poderia ser acelerado pelas declarações continuadas de Bolsonaro, revelando seu baixíssimo preparo intelectual e sua incapacidade de articulação política ou midiática.
As asneiras ideológicas de Bolsonaro, com repercussões econômicas, foram contidas. Ele voltou atrás nas declarações sobre a China, sobre a mudança da embaixada de Israel para Jerusalém, nos ataques ao Mercosul, no alinhamento automático com Donald Trump etc.
Parece ter caído a ficha de sua total incapacidade de se manifestar sobre qualquer tema relevante. E terceirizou esse trabalho para o vice-presidente general Hamilton Mourão.
Declarações como a de que “precisamos dar certo, se não eles voltam”, indicam qual foi a argumentação de Mourão. Deixe o trabalho pesado por nossa conta e faça o que você sabe fazer: a guerra moral-ideológica. Com isso libera Bolsonaro para se concentrar no discurso tatibitate que ele domina como poucos.
Por isso mesmo, a reversão de expectativas da opinião pública será enfrentada no melhor modelo da guerra fria: o combate sem tréguas ao inimigo vermelho, aquele que não permite que esta terra cumpra seu ideal.
Fica cada vez mais nítida a tentativa de implantação de uma república fundamentalista. E há condições objetivas de se montar uma estrutura nacional superior a de qualquer outro partido, explorando os baixos instintos que explodiram em todo o país durante a campanha eleitoral e a expansão fulminante das igrejas evangélicas conservadoras. A eclosão da direita radical tornou-se fenômeno nacional e o agente aglutinador simbólico é o próprio Bolsonaro.
O gabinete inicial para a guerra ideológica está fincado no Planalto, nas Relações Exteriores, com o alinhamento com a ultradireita mundial; e na Educação, em torno do tema escola sem partido.  A eles se agregarão as secretarias e ministérios comandadas por ruralistas e evangélicos com implicações em questões de terra, meio ambiente e movimentos sociais.
É um novo modelo, no qual o papel do Estado será se abster de qualquer ação moderadora, e de liberar as tropas na base.
No movimento estudantil, a estratégia delineada consiste em se valer das adesões ao MBL e à Escola Sem Partido para atacar o modelo UNE de organização.
No plano educacional, a ideia será fragmentar a supervisão educacional, jogando o controle das escolas para os municípios. E, aí, insuflar os grupos conservadores e as igrejas fundamentalistas a fazer pressão na ponta. Na campanha, foi o maior fator de mobilização da tropa bolsonariana.
Junto aos movimentos sociais, e setores recalcitrantes, haverá uma guerra surda envolvendo os setores partidarizados do Judiciário e do Ministério Público, sufocando os inimigos com montanhas de denúncias . No caso dos movimentos sociais, a polícia se valendo também da coerção física.
Peça 2 – as vacinas contra as loucuras
Um fator de vulnerabilidade do governo Bolsonaro, como já se disse, é o conjunto de declarações estapafúrdias.
Essa vulnerabilidade está sendo trabalhada pelo vice-presidente, general Mourão. Pela entrevista dada à Folha, Mourão se consolida como a voz da razão no grupo Bolsonaro ou, como alguém mencionou, no único adulto no playground. Aparentemente, ele convenceu Bolsonaro a se abster de temas de peso, com o argumento de que a não abertura de frentes de desgaste é essencial para a grande missão de salvar o país da sanha dos vermelhos.
Não se trata de uma estratégia de unificação do país. Fosse assim, Mourão entenderia a importância do MST (Movimento dos Sem Terra) e do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) para a paz interna, suprindo o papel do Estado e abrindo oportunidades de trabalho e renda para seus integrantes.
O combate incessante aos movimentos sociais e ao pensamento crítico é peça central da estratégia política da nova república fundamentalista. Essa estratégia não prescindirá da manutenção da figura do inimigo interno. O maior fator de fortalecimento de Bolsonaro, quando começar a decepção, será a reação dos grupos depois de expropriados de seus direitos políticos e de organização, fornecendo o álibi para uma radicalização da barbárie.
Peça 3 – a preservação da economia
Em um dos primeiros Xadrez sobre o governo Bolsonaro, antecipei uma mudança nos discursos neoliberais dos militares – especialmente do militar que se pronunciava mais, o general Hamilton Mourão.
Antes de ser poder, limitava-se a repetir bordões da Globonews. Com a expectativa de poder, muda a lógica da analise. Sai dos bordões dos “bem-pensantes” – a mixórdia de slogans econômicos superficiais – para análise efetiva de cada caso. E, aí, impõe-se o ponto central do pensamento militar, que muda toda a lógica da analise de caso:  a segurança e o interesse nacional.
O pensamento militar fica muito mais à vontade tendo os diversos fatores políticos e econômicos sob controle, ao contrário do pensamento do mercado e, em particular, da escola de Chicago, que abomina qualquer forma de regulação.
Além disso, o pensamento de mercado não tem o menor prurido com processos de destruição de valores, ao contrário do pensamento militar que valoriza o chamado patrimônio público.
Na entrevista à Folha, Mourão demonstrou pragmatismo não apenas em relação às questões internacionais, mas ao  próprio Programa Nuclear Brasileiro. E deixou claro que cada passo será precedido de estudos e analises sob sua responsabilidade, colocando-se como um filtro contra eventuais arroubos de privatização selvagem de Paulo Guedes.
Peça 4 – o objetivo maior
Não se iludam com eventuais descompassos entre Mourão e Bolsonaro. Ambos estão tomados pelo mesmo destino manifesto, de guerra total aos inimigos, de resistência ampla ao contraditório, especialmente em temas morais e políticos.
Pela primeira vez na história, o país experimentará o que significa a verdadeira teocracia, a visão moral-religiosa se impondo sobre o pluralismo e as liberdades individuais.
Ao mesmo tempo, há o risco de uma explosão incontrolável da violência, com o conceito de guerra ao inimigo contaminando definitivamente a segurança pública, as Polícias Militares, especialmente depois do incentivo que recebeu dos futuros governador João Dória Jr, de São Paulo, Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, e Romeu Zema, de Minas Gerais.
O busílis da questão é que estratégias de guerra, como a que desponta, só comportam dois desfechos: ou a radicalização final; ou o esgarçamento, pelo cansaço da nação.
Ainda é cedo para saber qual prevalecerá. De qualquer modo, a extensão e profundidade do pensamento conservador no país impede visões mais otimistas.
GGN

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A HORA DOS COVARDES


O sr. Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, aceitou denúncia do Ministério Público e tornou os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff réus por “por suposta organização criminosa envolvendo integrantes da cúpula do Partido dos Trabalhadores”.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A ARTE DE NÃO LER, POR ÂNGELO ROMAN


"No que se refere a nossas leituras, a arte de não ler é sumamente importante".
Senso comum: "Quem lê escreve bem". "Quem lê sabe das coisas".
Contraponto (de Schopenhauer): "Quando lemos, outra pessoa pensa por nós: só repetimos seu processo mental. Trata-se de um caso semelhante ao do aluno que, ao aprender a escrever, traça com a pena as linhas que o professor fez com o lápis". 

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

HADDAD ANUNCIA 2 FRENTES POR DIREITOS E COGITA PROCESSO CONTRA WHATSAPP NOS EUA

O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) anunciou em Brasília, nesta quarta (21), a formação de duas frentes suprapartidárias para atuar em defesa dos direitos civis e direitos sociais a partir de 2019, com apoio de congressistas eleitos para a próxima legislatura, que vai até 2022. Além disso, Haddad afirmou que viajará o mundo em busca de forças internacionais contra o autoritarismo, que "muitas vezes se vale do mau uso das tecnologias para solapar as bases da democracia".
"Pretendemos explorar a possibilidade de entrar com ação contra o WhatsApp nos Estados Unidos, para que lá eles prestem conta do que fizeram aqui na eleição. Eles estão se recusando a abrir os dados sobre a onda de fake news na eleição, então com a ação em solo americano, eles podem dizer a que se prestaram. É importante para que não se repita no mundo", disse Haddad. Vídeo AQUI.
"A Europa, tudo indica, que possa ser a próxima vítima desse processo. (...) O Brexit já foi a consequência desse processo do mau uso das redes sociais. Ninguém é contra rede social, mas como todo instrumento, tem de ser usado em benefício das pessoas, não em prejuízo da democracia."
Segundo Haddad, partidos de esquerda se reuniram e entenderam que os direitos civis e sociais são complementares e podem congregar a maiora dos parlamentares eleitos se defendidos em frentes separadas. 
"São duas trincheiras", uma mais restrita, a defesa de direitos sociais, que terá um recorte menor de alianças, com pautas como a defesa da livre organização dos movimentos sociais; e outra mais ampla, que flerta com os partidos de centro-direita mais liberais, com agendas como a defesa da "escola pública laica", em contraponto ao projeto de lei Escola Sem Partido.
Haddad defendeu que "não é apenas equivocada a criminalização dos movimentos sociais, como ela fere princípios constitucionais de livre organização e expressão."
Nesta semana, a Câmara discutiu alterar a lei de combate ao terrorismo sancionada no governo Dilma Rousseff, para qualificar atos de caráter político ou ideológico como ações terroristas, em caso de episódios de depredação de patrimônio público ou privado.
Bolsonaro, por sua vez, foi eleito afirmando que vai enquadrar movimentos sociais e de esquerda como criminosos.
Nesta quarta (21), o Painel da Folha de S. Paulo informou que Haddad foi convidado pelo grupo do senador Bernie Sanders para compor uma internacional progressista contra regime autoritários. Vídeo AQUI.
GGN

terça-feira, 20 de novembro de 2018

XADREZ DO REINADO DOS BRONTOSAUROS, POR LUIS NASSIF

Peça 1 – a falência das democracias representativas
Até alguns anos atrás, cabia à esquerda a defesa da democracia direta, em lugar da democracia representativa. Sua estrutura complexa, seus ritos, suas limitações, faziam com que os avanços sociais e a modernização política, na democracia direta, ocorressem em ritmo muito lento.
Com as redes sociais, esse descompasso se acentuou. As redes sociais passaram a refletir e a multiplicar, de forma imediata, expectativas e anseios da sociedade. E a democracia representativa continuou presa a modelos estáticos e, em todos os países, contaminada pelo financiamento de campanha e pelas formas de imbricação com o capital privado.
Lá por volta de 2008, 2009, o GGN divulgou os primeiros trabalhos mostrando a decadência e a crise próxima das democracias representativas. De um lado, as ONGs começaram a tomar o lugar dos parlamentares, na representação de setores. De outro, os blogs (antes da explosão das redes sociais) tomando o lugar da mídia convencional e acentuando o desarranjo nos sistemas de opinião pública.
Estava em xeque não apenas o sistema partidário, como os partidos políticos, o modelo sindical, os modelos convencionais de mídia. Hoje em dia, há uma destruição de tudo o que representa a velha ordem ou signifique poder: partidos políticos, Justiça, universo de celebridades, grupos de mídia, modelo sindical, em uma autêntica rebelião das massas e de advento do imbecil coletivo.
Peça 2 – os casos internacionais
Dois episódios recentes mostram essa tendência destrutiva.
Na França, a rebelião contra o reajuste dos combustíveis, paralisando o país em manifestações espontâneas que, por isso mesmo, não dispõem de lideranças para negociar. É uma onda que tende a se espalhar pelo país.
No Japão, a destruição do mito Carlos Ghosn, o mitológico libanês-brasileiro que revolucionou a indústria automobilística do país.
Ghosn conquistou feitos notáveis, como salvar a Nissan da falência, transformando-a na mais lucrativa grande indústria automobilística do mundo. Agora, estava trabalhando na recuperação da terceira grande montadora japonesa, a Mitsubishi Motors.
Conseguiu se impor em ambientes com culturas totalmente diversas, como a Michelin no Brasil e nos EUA, a Renault, na França. E, seu maior feito, recuperar a Nissan e a Mitsubishi em um país impenetrável para ocidentais de qualquer nível.
Tornou-se uma lenda no Japão. Mesmo assim, foi preso, acusado de sonegação e de se valer das mordomias da empresa.
Mesmo sendo graves, os pecados de Ghosn não eram capitais. Em vez de uma condenação pecuniária, procuradores japoneses optaram por destruir o personagem, com a mesma sanha punitivista com que procuradores brasileiros destruíram empresas, setores inteiros e milhões de empregos.
Quanto vale um Ghosn ativo e quanto vale um Ghosn preso? É uma conta fácil de fazer.  A onda punitivista não fecha a conta do custo e beneficio. O prazer da vingança custa caro. Um executivo é um ativo real, tem valor de mercado, custa décadas para formar.
Se no Japão e na França o espírito persecutório se impõe na opinião pública, o que não dizer de um país coalhado de instituições toscas, como o Brasil?
Peça 3 – a ditadura brasileira
As manifestações do novo Ministro das Relações Exteriores – um gnomo ameaçando devassar a gestão do gigante Celso Amorim -, as manifestações dos três príncipes-herdeiros de Jair Bolsonaro, o festival de mentiras que cercou a saída dos cubanos do Mais Médicos, o indiciamento de Fernando Haddad, são indícios veementes do caminho em direção à ditadura.
Se vai ser bem sucedido ou não, a história dirá. Mas, com esse risco no caminho, fica clara a estratégia do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Dias Toffoli, de propor um pacto dos três poderes.
Esta semana, ele recebeu Bolsonaro, Sérgio Moro, enfatizou a legalidade no impeachment de Dilma Rousseff e na prisão de Lula. A exemplo do episódio da ditadura – justificando o golpe de 64 como culpa dos radicais de esquerda e direita -, a ideia é flexibilizar os conceitos de democracia e de direito, para evitar chacinas maiores do estado de direito.
Ou seja, na democracia mitigada aceitam-se abusos contra Lula, o endosso ao golpe do impeachment, a reinterpretação da história do país, para evitar possíveis Noites de São Bartolomeu que estão no radar dos conquistadores.
Vale conferir qual será a atitude do STF quando o estado de exceção se ampliar e ultrapassar os limites desse novo normal. Vai se encolher novamente, ou a linha de defsa irá funcionar?
Peça 4 – o novo normal
A grande questão é que, no quadro de selvageria atual, a velha mídia perdeu totalmente a condição de mediadora dos conflitos em que se envolve o poder público.
Antes uma extravagância qualquer era combatida com o uso da razão, argumentos razoáveis, e a divulgação de manifestações de intelectuais e celebridades – que ajudavam a definir os limites dos atos e manifestações de poder.
Agora, tudo isso foi por água abaixo. Qualquer argumento racional é derrubado com um zurro dessa nova elite troglodita.
Os novos influenciadores não são jornalistas, atores de novelas, cantores populares, mas Youtubers valendo-se de pantomimas e slogans simplórios como formas de comunicação. E apelando, sempre, para os dois instintos mais primitivos: o ódio contra o medo.
A maneira como esse novo normal se insere no dia-a-dia fica mais clara nas especulações sobre quem serão os novos ministros de Bolsonaro.
Falta um apanhado hilário (não fosse trágico) da maneira como se apresentam os candidatos. Só faltou se vestirem de dançarinas do cancan e rebolarem frente às câmeras das redes sociais. Mais curioso ainda é a maneira como suas extravagâncias são interpretadas pela mídia.
No Twitter, Xico Graziano, ex-assessor pessoal de Fernando Henrique Cardoso, radicaliza a cada dia suas mensagens, na esperança de encontrar um lugar na Arca de Bolsonaro. Chegou a deblaterar contra a influência esquerdista nas escolas. Imediatamente um jornal o apresentou como favorito para o Ministério do Meio Ambiente. Ou seja, basta um besteirol preconceituoso qualquer, para, na leitura torta dos repórteres, o sujeito se habilitar a um cargo relevante.
Aí, a impávida Maitê Proença entra em cena, para dizer que o povo não quer direitos não: quer comida. E ganha uma manchete como nova favorita ao Meio Ambiente. Toca o pobre Xico Graziano e empunhar a clava do preconceito, marretando sem dó a cabeça de algum MST, para recuperar o espeço perdido.
Até que um dos príncipes herdeiros entra em cena, e tuita uma mensagem para pararem com especulações bestas sobre futuros Ministros.
Esse quadro já estava desenhado anos atrás, quando ficou clara a maior eficiência das igrejas sobre partidos políticos e sindicatos. Grande parte delas se vale apenas da pauta moral e da autoajuda. Não há um conjunto de valores consolidados, como nos partidos políticos e sindicatos, com mudanças lentas de conduta, dependendo do aval de assembleias ou maiores parlamentares.
Peça 5 – a recuperação da racionalidade
Em um ponto qualquer do futuro, é possível que se defina um novo modelo capaz de domar a bestificação das ruas.
No momento, há sinais de que a pauta moral se espalhou por todos os poros do país, da classe média ao Judiciário, do Ministério Público às Polícias Militares.
Não há consenso sobre nada além do punitivismo contra os |inimigos|. Entrou-se em uma espiral que induzirá, a cada dia, a mais retórica, mais incontinência verbal, mais fanfarronice inútil – como a desse inacreditável futuro chanceler.
Em outros momentos, seria possível prever o esgotamento da barbárie e a volta do pêndulo. Hoje em dia, não. Apesar dos alertas do general Mourão, que atuará como espécie de preceptor de adultos imprevisíveis.
 racionalidade está conseguindo se impor em duas decisões solitárias.
A primeira, do indicado para a Controladoria Gral da União, Wagner de Campos Rosário, propondo isenção de punição a empresas que revelarem corrupção. E a obrigação de empresários denunciados de vender a empresa, punindo a pessoa física, mas preservando a empresa.
A segunda, a indicação de Ivan Monteiro para presidente do Banco do Brasil. Funcionário de carreira do banco, ele estava na diretoria financeira da Petrobras. Monteiro é considerado funcionário exemplar e técnico competente.
 GGN

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

PORQUE A IMPRENSA PERDEU PARA AS FAKENEWS, LUÍS NASSIF

A mídia ganhou nos últimos anos um poder de manipulação que consequentemente matou sua capacidade de mediação.
O País tem assistido a uma disputa de narrativas que é uma das coisas mais nonsense de sua história. Veja o episódio da saída dos médicos cubanos.
Bolsonaro queria mudar pagamento ao governo cubano e impôr a revalidação do diploma, um conjunto de exigências que acabaria com o programa Mais Médicos. 
Hoje, com Cuba anunciando sua retirada da parceria, Bolsonaro diz a seus seguidores que libertou os médicos da escravidão e os devolveu a seus familiares. Mas como deputado, Bolsonaro tentou proibir, por exemplo, a vinda dessas mesmas famílias ao Brasil. 
É um caso que mostra que estamos lidando com um mentiroso clássico, que foi eleito presidente da República. 
De um lado teríamos o pessoal do Bolsonaro dizendo que os cubanos foram libertados e, de outro, aqueles que dizem que a saída dos cubanos, com todos os reflexos sobre 600 municípios que ficarão sem médico, é culpa das declarações do presidente eleito. 
Quem que faz a mediação da opinião pública? Deveria ser a mídia, os chamados jornais da grande mídia, aqueles que definem a opinião. Mas você não tem mais essa imprensa aqui. 
Desde o impeachment Collor há um jornalismo de guerra que consiste em sempre dar as versões que interessavam, que dão manchete mesmo em cima de avaliações erradas e sensacionalistas. O importante é ter volume de leitura. 
De 2005 para cá, quando Roberto Civita montou a cartelização da mídia e implementou defitivamente o jornalismo de guerra, qualquer história de mediação veio por água abaixo. 
No jornalismo de guerra, o que importa é ganhar a narrativa considerando alguns interesses, como o do mercado. 
Há inúmeros exemplos de narrativas erradas que ganham a opinião pública nos últimos anos. A história que Bolsonaro repete, de que há um número gigante de estatais e por isso tudo deve ser privatizado, é uma delas. Que a Petrobras foi quebrada pela corrupção, é outra narrativa manipulada. 
O que levou a uma redução de valor da Petrobras foi a queda do preço do barril de petróleo no ambiente internacional. Os ajustes contábeis decorrentes desse fato foram todos tratados pela imprensa meramente como valor da corrupção. 
Há décadas, diariamente, a mídia viciou o organismo da opinião pública em toda sorte de manipulação. E soma-se a isso a arrogância que acompanhou a imprensa desde o impeachment do Collor, como se ela fosse o poder maior. Tudo isso matou a capacidade de mediação da mídia. 
Então, agora, quando chega um novo governo com um chanceler que fala os absurdos que fala, com os filhos do presidente e outros membros do núcleo duro moldando discursos com base numa visão religiosa fundamentalista, sem conhecimento técnico e científico sobre vários assuntos, prevalecem as mentiras deslavadas, como essa do Mais Médicos, porque a mídia já não consegue fazer a mediação. 
A mídia ganhou nos últimos anos um poder de manipulação que consequentemente matou sua capacidade de mediação. 
A queda na qualidade jornalística comprometeu a  informação, que é fundamental dentro de um ambiente democrático e de mercado. Através da informação é que se forma a opinião, e através da opinião você forma os pactos jurídicos, políticos, constitucionais, e dali derivam as leis. 
O que aconteceu foi que o desmonte da credibilidade da informação se deu ainda no período de predomínio da mídia, e agora as redes sociais bagunçam mais ainda a guerra de narrativas. Não adianta mais a imprensa dizer que a culpa dos Mais Médicos é do Bolsonaro porque o pessoal vai acreditar no que ele diz nas redes. 
O grande problema, acima de tudo, são os filtros, a falta de canais de controle. Trump tem seus canais de controle dentro do próprio governo. É o que está impedindo que as maluquices dele tenham consequencias maiores. Lá, por trás de tudo, você tem uma mídia de opinião que faz a cabeça dos técnicos que seguram os abusos. Fazem a cabeça gerando debate na imprensa a partir de várias opiniões técnicas. Isso não tem no Brasil. O que a mídia criou dentro das corporações públicas, nesse período, foi uma militância antipetista que se sobrepôs ao debate técnico e aos mecanismos de controle.
Não importa mais se a consequência é que vamos deixar milhões sem médicos. O que importa é que vamos tirar esses comunistas daqui. Vence o discurso que não se submeteu à mediação. 
O padrão de mediação da mídia, em relação a qualquer governo, deveria ser o de elogiar o que tem de ser elogiado, e criticar o que tem de ser criticado, para que o leitor entenda o peso. Mas esse padrão não foi estabelecido. 
Hoje temos um País em que todas as barbaridades, no plano das discussões das ideias, ganham força. Tudo vira guerra de narrativas. 
Infelizmente a imprensa tenta agora de algum modo recuperar a credibilidade perdida, mas foram muitos anos de demonstração de poder, de usar a influência midiática para promover badernas e derrubar presidentes, e hoje o mercado de opinião está a mercê de qualquer cultivador de teorias de disco voador. 
Assista o comentário de Luis Nassif, na íntegra, abaixo:
GGN

domingo, 18 de novembro de 2018

ELEIÇÕES 2018: CARRASCO E VÍTIMA VOTANDO NO MESMO CANDIDATO NUM ABRAÇO DE AFOGADOS?, POR ALEXANDRE TAMBELLI

Estudaremos no futuro como foi possível a junção no voto de boa parte dos neopentecostais, pastores midiáticos e seus rebanhos de classes populares, e de boa parte da classe média e médio-alta tradicional com seu esoterismo e sua ligação com o Espiritismo e a busca pela liberdade irrestrita, que o fundamentalismo religioso repelirá.
Duas forças, a primeira: do Fundamentalismo Religioso, da Vida regida pela leitura ao pé da letra do Antigo Testamento com a segunda: da busca por uma liberdade absoluta, sem nenhuma vontade de acatar regras, de se sentir pertencente a uma sociedade, que é contra a ingerência do Estado e do individualismo extremo.
Um voto inconciliável dentro da razão. Por isto, acerta, creio eu, quem diz que a irracionalidade permeou a Eleição, claro, que dentro de um processo de construção dela, que vem, com maior força e sem muitos anteparos, desde 2012 com o Julgamento do "Mensalão", e o desespero da Direita liberal de retomada do Poder a qualquer custo, não possível via urna com o sucesso das administrações do PT. 
Associou-se no voto em 2018 o incluído da sociedade de castas dos tempos de FHC para trás e o incluído na Era petista.
O sujeito que ia na Paulista protestar contra o Governo do PT e o sujeito da ascensão social pelos anos petistas no Governo Federal juntos no voto.
O que tinha ódio do pobre, da sua ascensão e concorrência nas universidades e mercado de trabalho e o pobre que ascendeu socialmente, em parte significativa, se juntaram no voto. O que quer que o pobre continue pobre e o pobre que sentiu, pós-Golpe, um novo declínio social, se deram as mãos em um abraço de afogados.
O contra o Bolsa Família se juntou do que recebe ou tem parentes que recebem Bolsa Família. 
E assim caminharemos:
O classe média tradicional adentrando em uma realidade comandada por um fundamentalismo religioso e restrição das liberdades individuais e o neopentecostal caminhando para a degola plena nos seus direitos sociais.
Duas partes inconciliáveis. A da patroa e a da faxineira se deram as mãos e, agora, ficamos todos perdedores.
Como pode ser racional esse voto casado?
Como é que uma Luta de Classes se transformou na irracionalidade do voto? Do voto contra si mesmos. É um voto sem vencedores. Gente de todas as classes sociais irmanadas em uma mesma candidatura? Em um país, onde, a marca registrada do voto foi o voto profundamente marcado pela Luta de Classes nas eleições presidenciais deste Século?
Não é um processo racional o que a nossa sociedade vive, e, por isto, nasce uma união de opostos, que não são duas metades, acreditando que se faça um inteiro, são dois opostos que não se juntaram jamais e que juntos caem no chão num strike único, logo na primeira bola arremessada. 
GGN

sábado, 17 de novembro de 2018

XADREZ DA REPÚBLICA FUNDAMENTALISTA DO BRASIL, POR LUIS NASSIF

Peça 1 – o fundamentalismo de Bolsonaro
Algumas decisões dos últimos dias mostram que o governo Bolsonaro caminha para a implantação de um fundamentalismo religioso no país, uma Teocracia, atropelando qualquer veleidade de racionalidade e de pragmatismo. A pequena esperança de que houvesse um grupo interno com alguma racionalidade – os chamados generais da infraestrutura – se dilue.
Ernesto Araújo, indicado por Olavo de Carvalho para o Ministério das Relações Exteriores, é membro da ultradireita mais pirada, para quem a salvação do mundo está no presidente norte-americano Donald Trump.
Nos EUA, Trump está em escala descendente, acossado por todos os lados. No círculo fechado do Partido Republicano, é dado como irrecuperável, inclusive para tentar a reeleição. Tinha 90% da mídia contra ele. Agora, tem 100%. E o Brasil vai atrelar seu vagão nesse trem.  
Com personagem de tal nível, o Brasil desaparecerá do mapa diplomático mundial.
O segundo, o fim do programa Mais Médicos, com Bolsonaro brandindo argumentos irracionais, sem a menor preocupação com a situação de saúde dos municípios beneficiados pelo programa.
Terceiro, a intenção de mudar a embaixada brasileira de Israel para Jerusalém. No início, não havia nenhuma explicação plausível para a medida. Só agora ficou claro que a motivação é de cunho estritamente religioso. Grupos influentes de evangélicos acreditam que, segundo a Bíblia, o caminho da salvação passa por Jerusalém. Pouco importa o fato de os países árabes serem grandes importadores de produtos brasileiros. Pelas últimas indicações, Bolsonaro fincará pé na proposta de fundo bíblico enquanto monta sua Arca de Noé.
Quarto, os ataques do futuro Ministro Paulo Guedes ao Mercosul e à Argentina, de longe o maior importador de carros brasileiros.
Como um governo fundamentalista enfrentará os problemas que se avizinham?
Peça 2 - a economia internacional
No plano internacional, há uma deterioração no ambiente externo.
No começo do ano, o mercado especulava se os juros norte-americanos chegariam em 3% ao ano. Agora, especula-se se irá parar em 3% ou seguir adiante.
Para entender o jogo:
Nas últimas décadas, a grande força deflacionária da economia norte-americana foram as manufaturas da Ásia - da mesma maneira que os alimentos da América Latina no início do século 20. Em ambos os casos, ocorreu uma inflação de ativos, não de bens e serviços.
Agora, identificam-se novas pressões de preços. A inflação continua sendo de ativos, devido ao fato da política monetária expansionista norte-americana - a chamada quantitative easing - não ter atacado o problema central, as bolhas de ativos.
A estratégia de Donald Trump era desvalorizar o dólar, para aumentar a competitividade da produção interna. Com a política de juros do FED, ocorrerá o contrário: uma nova valorização do dólar. Ao mesmo tempo, com a crise econômica rondando a Itália e a Alemanha, haverá maior probabilidade de o Banco Central Europeu continuar comprando US$ 40 bilhões de euros/mês. Com isso haverá um descolamento progressivo do dólar.
Na medida em que não conseguirá desvalorizar o dólar, a maneira de Trump melhorar a competitividade norte-americana será através da elevação de tarifas, acirrando a guerra comercial. Como não há formas de substituir internamente as importações da Ásia, o resultado será as empresas norte-americanas passarem a pagar mais caro pelos produtos importados, produzindo uma inflação de custos.
A reação do FED deverá ser de novos aumentos da taxa básica de juros, com a consequente nova valorização do dólar.
As consequências sobre o Brasil serão da seguinte ordem:
Maior desvalorização cambial em relação ao dólar. O mercado já trabalhar com a possibilidade de dólar a R$ 4,00 no próximo anos.
Aumento da taxa Selic. Mercado já trabalha com a hipótese de Selic a 8% no próximo ano.
E, aí, surgem nítidas as vulnerabilidades do governo Bolsonaro.
Peça 3 – o fator Paulo Guedes
O atual presidente do Banco Central, Ilan Goldjan, é um representante clássico do mercado internacional. Foi considerado o melhor presidente de Banco Central do planeta, pelo feito de segurar a inflação, pouco importa se à custa de 13 milhões de desempregados e do comprometimento do crescimento brasileiro. Mas, enfim, é o representante máximo das instituições internacionais de mercado.
Foram duas as razões para não ter aceitado o convite de permanecer no banco. 
O primeiro, o anúncio de que Guedes passaria a trabalhar com duas metas: a da inflação e a cambial. É decisão relevante, mas que não se anuncia de véspera, menos ainda sem consultar o presidente convidado a permanecer no BC..
O segundo, a afirmação de Guedes de que poderia vender US$ 100 bilhões das reservas cambiais acumuladas. Ora, se ele garantia plena autonomia para o BC, como se outorga o poder de decisão sobre as reservas?
Independentemente do mérito ou não das medidas, é evidente que desnudaram o bonapartismo de Guedes.
Em seu lugar, irá Roberto Campos Neto, que, pelo que me dizem, herdou do avô o ideologismo de sua fase jornalística, em vez do pragmatismo de seu período de homem público.
O problema maior é que não haverá nenhuma recuperação da economia se a política econômica ficar subordinada aos cânones do mercado. A recuperação dependerá de investimentos públicos no grau correto. Isso demanda convicção econômica e competência de gestão, algo que, por enquanto, parece longe dos predicados de Guedes.
Serão trës macacos em loja de louças: Bolsonaro, Guedes e o futuro articulador político Onix Lorenzoni, tido como igualmente desastrado e com pouca capacidade de articulação.
Peça 4 – razão versus religião
E aí se entra no busílis do problema. Passado período da graça, os meses iniciais que a opinião pública concede a todo governante que inicia, o que ocorrerá quando se manifestar a desilusão popular?
O pior sinal, até agora, sobre o futuro governo Bolsonaro, foi a desistência do general Oswaldo Ferreira de ficar no governo, depois que Bolsonaro recuou na ideia de entregar a ele a Casa Civil da Infraestrutura. Os chamados generais da infraestrutura pareciam o único ponto de racionalidade na equipe de transição, impedindo o mergulho no fundamentalismo religioso que aflorou com a escolha do futuro Ministro das Relações Exteriores.
Agora, pipocam informações sobre as alianças que estão sendo fechadas com a ultradireita internacional. E o colunista Merval Pereira, de O Globo, belo setorista da direita, informa que Eduardo Bolsonaro, o filho que indicou o chanceler, pretende assumir a liderança intelectual da direita na América Latina. Imagine-se o resultado!
A se medir pelos Twitters do general Heleno – que vai ocupar o Gabinete de Segurança Institucional – vai haver caça às bruxas em todas as instâncias. E com a contribuição decisiva do futuro Ministro da Justiça Sérgio Moro. Esse fato será acirrado pela desimportância total conferida pelo grupo de Bolsonaro às organizações internacionais, fato que reduzirá sua capacidade de impedir a instalação do estado policial.
Quando se manifestar a decepção com a economia, a grande arma que restará a Bolsonaro será a caça aos infiéis.
Faltam informações sobre o nível de aceitação das elucubrações olavianas (de Olavo de Carvalho) pelo Alto Comando das Forças Armadas.
GGN