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sábado, 22 de abril de 2017

A visão neocolonial e antipopular da Globo, a favor do agronegócio

Dia 21 de abril. Feriado nacional e data comemorativa em homenagem a um dos grandes símbolos nacionais, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Um dos líderes da Inconfidência Mineira, que questionou abertamente o estatuto colonial imposto pelo colonizador português.

Consagrada e justa homenagem a um herói da Pátria que, após ser enforcado no Rio de Janeiro, ainda teve o corpo esquartejado e exibido na principal praça da belíssima Ouro Preto. Era um dos personagens que portava condição social mais baixa entre os inconfidentes. O ódio de classe do poder contra os Libertadores da Nação perdura até os nossos dias.

É contra a sua memória e a do seu significado simbólico, ou seja, a libertação e a soberania nacional, que as Organizações Globo persistentemente atuam. Décadas a fio. É pela submissão do Brasil, exatamente ao que Tiradentes combatia, que a Globo age.

No mesmo dia reservado à memória do grande Tiradentes, a TV Globo a conspurcou veiculando o seu espúrio comercial "Agro é pop, agro é tech", renitentemente anunciado após o golpe de 2016.

Em tom laudatório, dizia o anúncio que a "cana de açúcar faz sucesso há 500 anos". Uma visão de Brasil e um ideal de país flagrantemente colonizado. Mais subserviente ao poder do capitalismo internacional e às suas estruturas internas associadas impossível.

Durante boa parte do período colonial brasileiro a cana de açúcar representava item principal da exploração econômica em benefício do colonizador. A monocultura que a todo e qualquer tipo de atividade econômica diferente procura(va) inibir.

Mesmo passando por longa e agonizante fase de decadência, como bem demonstram as clássicas obras de José Lins do Rêgo, nos anos 1930/40, o poder das oligarquias da cana era – e ainda é – incontrastável nas regiões de produção do artigo primário.

Não é gratuito que as Ligas Camponesas, um dos incipientes movimentos sociais organizados pela reforma agrária e contrário à intensa exploração dos trabalhadores rurais, nos anos 1950/60, tenham tido como ambiente de origem precisamente o universo canavieiro, dos estados de Pernambuco e Paraíba.

Em tempos mais recentes, a degradação e a hiperespoliação dos trabalhadores pelos fazendeiros da cana de açúcar são fatores que revelam a inexistência de qualquer identidade supostamente “tech” ou “pop” para a produção canavieira.

Segundo artigo acadêmico produzido por Maria Aparecida de Moraes Silva (publicado na coletânea “Riqueza e miséria do trabalho no Brasil III”, organizado por Ricardo Antunes e publicado pela editora Boitempo, 2014), o cenário é desolador.

Apenas no estado de São Paulo, entre os anos de 1999 e 2005, cerca de 9000 trabalhadores ficaram incapacitados por mais de 15 dias, devido ao trabalho nos canaviais. No mesmo intervalo de tempo, aproximadamente 400 trabalhadores sofreram danos que os levaram a uma incapacidade permanente.

Conforme as palavras da própria autora, doutora em Sociologia e professora da Unesp-Araraquara, “a realidade dos trabalhadores em muito se distancia daquela retratada pelos ideólogos desse setor produtivo – Estado, meios de comunicação (...). Nos canaviais paulistas, a superexploração causou 23 mortes [no período considerado], supostamente por exaustão, além de muitos casos de escravidão, denunciados por várias entidades”.

Ainda de acordo com Maria Aparecida, a atividade canavieira “é permanente” em função do uso de “trabalhos temporários ao longo do ano, algo que contribui para aumentar os lucros das empresas, pois diminui os gastos com direitos trabalhistas”.

A produção canavieira, ainda hoje, em tempos superficialmente distantes da era colonial, possui expressiva participação nas exportações brasileiras. Segundo dados disponibilizados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o açúcar está incluído entre os dez principais itens da balança comercial brasileira.

Acompanhando outros produtos primários de relevância na pauta de exportações, a cana de açúcar é retrato do caráter neocolonial, não apenas da subalternidade do país na divisão internacional do trabalho, como do poder político das oligarquias rurais latifundiárias.

O que a Globo defende com o seu pseudojornalismo e com os seus anúncios publicitários, que exaltam o agronegócio, é nos chumbar em uma asquerosa e aviltante condição colonial. De maneira associada, tende a preconizar o modelo de regime de trabalho canavieiro como exemplo de “modernização” das relações trabalhistas no país.

Evidentemente, um retrocesso que não apenas rasga as leis do trabalho, duramente conquistadas pelo Povo Brasileiro nos anos 1930, com Getúlio Vargas, como também nos leva(rá) ao distante século XVII. Perto da Globo o símbolo pátrio de Tiradentes revolta-se e precisa consistir em inspiração para a superação dos nossos sombrios e reacionários tempos.


GGN, Roberto Bitencourt

sábado, 8 de abril de 2017

Jair Bolsonaro também vende armas, além de espalhar ódio pelo país afora

Após a celeuma gerada pelo show de ódio e preconceito de Jair Bolsonaro durante evento no Clube Hebraica do Rio de Janeiro, muitos podem pensar que sabem tudo de ruim que há para ser dito sobre esse indivíduo. Todavia, fatos ocorridos nos últimos dias mostram que esse homem é um problema ainda maior do que parece.

Como todos sabem, Bolsonaro pretende armar a população brasileira até os dentes. Está atuando no Congresso para reduzir de 25 para 21 anos a idade mínima para o cidadão poder adquirir uma arma.

A venda de armas no Brasil ainda é permitida, após a derrota do desarmamento em 2005.

O referendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições, ocorrido no Brasil a 23 de outubro de 2005, porém, não permitiu que o artigo 35 do Estatuto do Desarmamento (Lei 10826 de 22 de dezembro de 2003) entrasse em vigor.

Apesar de a maioria decidir pelo “não”, sendo a favor da comercialização das armas e munições, a restrição continuou como estava desde o fim de 2003. É bom lembrar, porém, que, ainda assim, de acordo com a lei, o porte de arma continua ilegal, salvo algumas raras exceções.

O cidadão comum que deseja ter uma arma (a comercialização e a posse de arma estando permitidas) deverá mantê-la em seu domicílio, além de ter que registrá-la no momento da compra e passar por um processo burocrático que só aprovará o registro caso o cidadão não esteja no grupo considerado “de risco”.

Bolsonaro promete revogar qualquer dificuldade para o cidadão se armar, caso seja eleito presidente da República no ano que vem.

Tudo bem, é uma visão de mundo e se a sociedade brasileira cair na conversa desse homem, que arque com as consequências. Assim como o aumento da velocidade média dos veículos automotores em São Paulo, determinada pelo prefeito tucano João Doria, está fazendo explodir o número de mortes e mutilações em acidentes de trânsito, a distribuição indiscriminada de armas que Bolsonaro quer fazer acarretaria uma grande chacina nacional, uma tragédia histórica sem precedentes.

Mas cada povo colhe o que planta, como se sabe…
Porém, o discurso de Bolsonaro parece ter menos a ver com ideologia e mais com ambição monetária. Ele e seus filhos parecem ter montado um esquema de vender dificuldades a fabricantes de armas para depois vender facilidades.

Nos últimos anos, a família Bolsonaro desencadeou uma verdadeira guerra contra a empresa gaúcha de armas chamada Forjas Taurus. Sob ação do braço parlamentar da família bolsonariana, o Exército acabou proibindo a empresa de produzir.

Em seguida, parlamentares de extrema-direita como a família Bolsonaro e o Major Olímpio trataram de propor uma CPI contra a Taurus, afirmando que suas armas tinham defeitos, disparavam sozinhas etc.

Contudo, nos últimos dias parece que a guerra chegou ao fim. Após Bolsonaro vender a ideia de que será bom armar o Brasil, ele aparece como garoto-propaganda da mesma Taurus que ele e seus filhos acusavam.
Assista ao vídeo. Clique aqui

Isso se chama criar dificuldades para vender facilidades. É uma prática antiga usada por jornalistas, parlamentares, funcionários públicos, policiais etc. Funciona assim: essas pessoas atacam uma empresa ou pessoa física e os alvos acabam pagando a elas para não serem mais atacados.

Os filhos de Bolsonaro são meros teleguiados pelo pai. Fazem o que ele manda. Em agosto do ano passado, o filho Eduardo – aquele que o pai disse que terminaria “na Papuda” – pediu uma CPI contra a Taurus. Cerca de seis meses depois, o pai, Jair Bolsonaro, aparece como garoto propaganda da empresa.

Isso não é o pior sobre o Bolsonaro. Pior que oportunismo é difundir ódio. O oportunismo causa danos restritos, a difusão do ódio pode gerar tragédias imprevisíveis para uma nação. Mas vale refletir que Bolsonaro não é só um imbecil ou um demente. De louco ele não tem nada. Louco é quem acredita nele ou o subestima.

Do Blog da Cidadania