Quatro professores e doutores em Sociologia de universidades
do Paraná divulgaram, em 2017, um artigo sobre os antecedentes (familiar,
acadêmico e profissional) de membros estrelados da Lava Jato. Neste artigo
consta uma informação que parece ter sido esquecida pela velha mídia: o
procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos algozes de Lula em Curitiba,
esteve casado com uma funcionária do Banestado quando já atuava na investigação
sobre a evasão de 30 bilhões de dólares.
Boa parte do perfil de Santos Lima foi escrito a partir de
uma reportagem de Amaury Ribeiro Jr para a IstoÉ, em setembro de 2003.
Foi a IstoÉ o veículo de imprensa a revelar que Santos Lima,
que entrou no caso Banestado em 1997, era marido de Vera Márcia Ribas de Macedo
dos Santos Lima. Esta, por sua vez, trabalhou no Banco entre 1995 e 2001, em
dois cargos diferentes.
De 1995 a 1997, "quando ocorreu a maior parte das
remessas irregulares para o Exterior, Vera Márcia, ainda casada com Santos
Lima, trabalhava como escriturária no setor de abertura de contas da agência da
Ponte da Amizade, em Foz de Iguaçu. A investigação da Polícia Federal sobre a
evasão de divisas por intermédio do banco mostra que a maioria das contas de
laranjas, usadas para mandar o dinheiro para o Exterior, foi aberta exatamente
nessa agência."
Em 1997, Vera se mudou com o marido para Curitiba e passou a
trabalhar, ainda de acordo com IstoÉ, "em um setor ainda mais
estratégico da lavanderia: o Departamento de Operações Internacionais do
Banestado, onde eram fechadas transações fraudulentas de câmbio."
Segundo delatores (não premiados) da época, "os
funcionários desse setor recebiam comissão para recrutar doleiros e pessoas
interessadas em enviar recursos para o Exterior. Ainda de acordo com sua ficha
funcional, Vera Márcia trabalhou no local até 2001."
Em 2002, Santos Lima e Vera se divorciaram.
No meio das investigações da CPI no Congresso, Santos Lima
chegou a ser interrogado por parlamentares, ocasião em que omitiu que estivera
casado com a então funcionária do Banestado enquanto atuava no caso. IstoÉ
ouviu do então deputado do PT, Eduardo Valverde, que o procurador deveria ter
se declarado impedido de atuar naquela investigação.
IstoÉ ainda revelou, naquela mesma reportagem, que senadores
e deputados estavam "indignados" com Santos Lima por outro motivo: o
procurador teria se recusado a receber documentos que os membros da CPI, da
Polícia Federal e do Ministério Público foram buscar em Nova York. As mais de
"300 caixas de papéis sobre a movimentação de dezenas de contas
milionárias que receberam dinheiro sujo do esquema Banestado" teriam sido
menosprezadas sob o argumento de que "o MP brasileiro não era obrigado a
considerar provas ou conclusões" de CPIs.
DECLARAR SUSPEIÇÃO NÃO
ERA SEU FORTE
A apuração de Amaury Jr. não parou por aí. Escreveu o
jornalista, naquela edição de 2003, que outro episódio provava que declarar
suspeição não era o forte de Santos Lima. A reportagem relatou que, em 2000,
estourou no Paraná um escândalo envolvendo a venda irregular de ações de uma
empresa de telefonia pública de Londrina para a companhia Paranaense de
Energia. A transação usou um braço do Banestado e foi condenada pelo Tribunal
de Contas do Estado.
O TCE também apontou outra irregularidade na negociação: o
advogado contratado para dar respaldo legal à transação, por R$ 2 milhões, sem
licitação, foi Cleverson Merlin, que era casado com a então chefe do Ministério
Público Federal do Panará, Marcela Peixoto.
Marcela e Santos Lima nutriam laços de amizade desde 1990 e,
ainda assim, ele não se declarou suspeito para atuar no caso. Ao contrário
disso, avocou o processo que pertencia ao MP de Londrina para si.
PGR POR SANTOS
LIMA
Para finalizar, contou a IstoÉ que o escândalo envolvendo
Santos Lima mobilizou o então procurador-geral da República Cláudio
Fonteles.
Sobre o episódio da CPI, Fonteles disse que Santos Lima
"agiu de forma 'perfeita' para resguardar a validade das provas e tentou
minimizar o fato de que sua ex-mulher trabalhava no Banestado na época em que
investigava o caso", algo que o PGR taxou de "sem importância",
pois Vera seria uma mera "escriturária", sem nenhuma participação no
esquema.
Fonteles ainda destacou que Santos Lima era um procurador
importante para o caso Banestado, e prova disso era que tinha protocolado, em
agosto de 2003, denúncia contra várias pessoas suspeitas de atuar no esquema de
levagem de dinheiro.
"Santos Lima, no entanto, só começou a agir em março,
depois de ISTOÉ denunciar o abandono das investigações e quando já havia sido a
instaurada a CPI na Assembléia Legislativa", ressaltou o jornal.
Por conta da série de reportagens de IstoÉ - que envolve
também um processo contra o procurador por "uso ilegal do dinheiro das
diárias" - Santos Lima anunciou que iria processar a revista.
A reportagem completa pode ser acessada aqui.
DE UMA FAMÍLIA DE
"OLIGARCAS"
Segundo o artigo dos professores do Paraná, Santos Lima
graduou-se na Faculdade de Direito Curitiba. Entre 1978 e 1991 foi Escriturário
do Banco do Brasil. Entre 1991 e 1995, promotor de Justiça do MP-PR. Depois,
Procurador Regional da República. Foi membro da força-tarefa Banestado. Fez
Mestrado na Cornell Law School entre 2008 e 2009.
Santos Lima é filho do deputado estadual da ARENA Osvaldo dos
Santos Lima, que foi promotor, vice-prefeito em Apucarana e presidente da
Assembleia Legislativa do Paraná, em 1973, no auge da ditadura.
O avô foi Luiz dos Santos Lima, comerciante e juiz em São
Mateus do Sul, na época do coronelismo local. "A partir daí encontramos
esta família na Genealogia Paranaense situada nas oligarquias da Lapa entre
latifundiários escravistas, família aparentada ao Barão dos Campos Gerais e
outros membros da classe dominante tradicional desta região", afirmam os
autores do artigo.
Em 2015, o irmão Ovídio dos Santos Lima foi empossado como
procurador do Ministério Público do Paraná. No dia da posse, foi lembrado que o
pai de Lima e o irmão Luiz José também foram promotores de Justiça do
MP-PR.
No mesmo artigo, os professores do Paraná também abordam o
histórico familiar de Deltan Dallagnol, Sergio Moro e Rosangela Wolff Moro,
além de estender a pesquisa sobre o Ministério de Temer.
O artigo "Prosopografia familiar da operação Lava Jato e
do Ministério Temer" foi escrito por Ricardo Costa de Oliveira, José
Marciano Monteiro, Mônica Helena Harrich Silva Goulart e Ana Crhistina Vanali,
e publicado na Revista NEP-UFPR (Núcleo de Estudos Paranaenses da Universidade
Federal do Paraná). Leia a íntegra em anexo.
Arquivo
Do GGN