Em guerra
grande contra Michel Temer, o procurador-geral da República usa tardiamente
cartas para serem sacrificadas: Aécio Neves.
Foto: Lula Marques/ Fotos Públicas
"Quanto
valeria para a sociedade saber que a principal alternativa presidencial de
2014, enquanto criticava a corrupção dos adversários, recebia propina do
esquema que aparentava combater e ainda tramava na sorrelfa para inviabilizar
as investigações?", disse Rodrigo Janot, o procurador-geral da República
que detinha as primeiras acusações contra Aécio Neves (PSDB-MG) em mãos há dois
anos e apenas agora colocou na roda da Lava Jato.
A frase de
Janot foi publicada em artigo assinado propriamente por ele, no Uol, nesta
terça-feira (23). O sacrifício de acusar publicamente Aécio carrega um contexto
bem definido: o de faltar menos de um mês para a eleição dos procuradores da República
a quem comandará a PGR. E, apesar de alguns nomes que figuram como oposição à
sua conduta no Ministério Público Federal, o principal adversário é o
presidente Michel Temer, que coloca em risco o reinado de Janot na Lava Jato.
"[A
lista tríplice] tem sido respeitada nos últimos anos, mas não há nenhuma
previsão constitucional que me obrigue a seguí-la", disse Temer, em abril
deste ano, em tom intimidatório. A declaração foi aceita pelo procurador-geral
como uma tomada para a guerra.
Assim,
introduziu Janot em sua bandeira de campanha na forma de "artigo
crítico" que ele foi "procurado pelos irmãos Batista", que
trouxeram afortunadamente "indícios consistentes de crimes em andamento –
vou repetir: crimes graves em execução –, praticados em tese por um senador da
República e por um deputado federal".
Se a
"tese" foi frisada para tratar de Aécio Neves, não teve o mesmo
"cuidado" para falar de Temer: "Até onde o país estaria disposto
a ceder para investigar a razão pela qual o presidente da República recebe, às
onze da noite, fora da agenda oficial, em sua residência, pessoa investigada
por vários crimes, para com ela travar diálogo nada republicano?".
E alcança,
por fim, a resposta para tal dilema e artigo crítico em outra
"pergunta": "Que juízo faria a sociedade do MPF se os demais
fatos delituosos apresentados, como a conta-corrente no exterior que atendia a
dois ex-presidentes, fossem simplesmente ignorados? Foram as perguntas que
precisei responder na solidão do meu cargo".
Preocupado
com o "juízo" da "sociedade", Janot conduz a Lava Jato e as
miras das consequentes etapas que dela desdobraram, alimentando a ânsia desta
sociedade, que mira as responsabilizações nos petistas
"ex-presidentes".
Da mesma
forma como deixou claro no início da Operação no Supremo, antes mesmo da
primeira "lista de Janot" ser lançada em 2015, de que para que
obtivesse o sucesso, as investigações poderiam derrubar nomes e extorquir
imagens às custas de polêmicas não constitucionais, o procurador-geral mostra-se
disposto a derrubar, agora, nomes da tradição do PSDB com o único intuito de
salvar seu legado na Lava Jato.
Como um
resumo das respostas para as escolhas que tomou durante a seu comando na
Procuradoria-Geral da República, Janot disse que "a alternativa" de
não concordar com as polêmicas da Operação, como o instrumento de delação
premiada, "teria sido muito mais lesiva aos interesses do país".
Disse que,
para o caso recente, teve três fortes premissas, admitindo que a Lava Jato foi
fora da curva da Constituição: "a gravidade de fatos, corroborados por
provas consistentes que me foram apresentadas; a certeza de que o sistema de
justiça criminal jamais chegaria a todos esses fatos pelos caminhos
convencionais de investigação; a situação concreta de que, sem esse benefício,
a colaboração não seria ultimada e, portanto, todas as provas seriam
descartadas".
E para as
acusações dos irmãos Wesley e Joesley Batista, selou a guerra contra Temer:
"a colaboração é muito maior que os áudios questionados".
Na despedida
do que é uma quase mensagem de campanha eleitoral, na Procuradoria, ainda que
sem ter se recandidatado, finalizou: "estou serenamente convicto de que
tomei, nesse delicado caso, a decisão correta, motivado apenas pelo desejo de
bem cumprir o dever e de servir fielmente ao país".
Do GGN