Há
tempos, o GGN vem denunciando a indústria da anticorrupção que se instalou no
país, permitindo grandes tacadas em nome da moral e dos bons costumes. Está
sendo assim com os contratos milionários entre Petrobras e Eletrobras com
grandes escritórios de advocacia americano, intermediados por Ellen Grace,
ex-Ministra do Supremo Tribunal Federal (STF).
Do
mesmo modo, a aposentadoria de figuras carimbadas da Lava Jato – como o
ex-Procurador Geral da República Rodrigo Janot e o procurador Carlos Fernando
dos Santos – e a abertura de escritórios de advocacia especializados em compliance mostra
a extrema. Aqui você tem um conjunto de artigos publicados sobre o tema.
A
notícia na Folha, de que Josmar Verillo bancou um livro de Cláudio Tognolli
contra a JBS, em uma disputa comercial com a Paper Excellence, é significativa
pelo que conta, e mais ainda pelo que sugere.
O
livro “Traidores da Pátria” é uma denúncia contra a JBS. E, segundo e-mails
levantados pela Folha, mostram a interferência direta e o patrocínio do
consultor Josemar Verillo. A intenção de Verillo foi utilizar o escândalo JBS
para beneficiar a Paper Excellence na disputa pelo controle da Eldorado.
A
rigor, não há novidade sobre Tognolli. A parte interessante é sobre Verillo. Em
1999 participou de uma ONG em Ribeirão Bonito, onde se fixou, depois de uma
carreira como executivo de grandes grupos. A ONG especializou-se em denunciar
corrupção em prefeituras de pequenas cidades.
Embora
não filiada à Transparência Internacional, a atuação da Ammarribo passou a ser
totalmente avalizada pela ONG. Tempos atrás, escrevi um artigo crítico à
atuação de Verillo, e recebi extensa correspondência da Transparência
Internacional, enaltecendo sua atuação e a rede de 230 organizações que
passaram a constituir a rede. Era um aval amplo da Transparência Internacional
a Verillo.
Esse
mesmo aval foi conferido à Lava Jato. A Transparência Internacional se tornou
uma das principais avalistas da operação. Apoiou as dez medidas, avalizou todas
as ações da Lava Jato, deu um apoio precioso por partir de uma organização cuja
reputação jamais foi questionada – e, a rigor, cuja atuação nunca mereceu uma
avaliação mais aprofundada. Pelo apoio, teve direito a participar da tal
fundação de R$ 2,5 bilhões, que seria administrada pela Lava Jato para levar a
bandeira do compliancea todo o país (aqui)
A Paper Excellence
Vamos
analisar quem é a Paper Excellence, que mereceu a assessoria de um campeão da
luta anticorrupção.
Pertence
ao grupo indonésio Asia Pulp & Paper, que por sua vez pertence ao
conglomerado Sinarmas, uma empresa chino-indonesia que pertence a uma dinastia
extraordinariamente rica, dos Widjajas. Fundada em 1962, cresceu durante
o regime do ditador indonésio General Suharto explorando óleo de palma, carvão
e serviços bancários. (aqui).
O
curioso é que a empresa, criada pelo patriarca Eka Tjipta Widjaja (que faleceu
este ano aos 91 anos), é tão controvertida quanto a JBS.
Eka
era a quarta pessoa mais rica da Indonésia. 15 anos atrás, seu império foi
responsável por um default de US$ 14 bilhões (aqui).
Safou-se com o contribuinte indonésio pagando metade da dívida, permitindo a
reestruturação da outra metade (aqui)
Já
se envolveu em vários problemas ambientais, foi acusada de extração irregular
de madeira no Camboja. Em 2003, a Human Rights Watch denunciou ataques da APP a
pessoas que receberam terras do governo. Os ataques foram conduzidas pela
polícia e por seguranças da própria empresa (aqui)
Em
dezembro de 2017, a AP publicou vasta reportagem sobre o grupo, mostrando
“extensas ligações” com fornecedores de madeira ligados a incêndios e
desmatamento, degradando o ambiente natural da Indonésia (aqui). O
grupo montou uma estrutura de 27 empresas de plantação, aparentemente
independentes entre si. A reportagem da AP cruzou dados biográficos dos
proprietários e constatou que seis eram funcionário do grupo e dois
ex-funcionários. Vários deles trabalhavam no mesmo departamento financeiro da
Sinarmas Florestal.
Em
2010, enfrentando acusações pesadas de destruição do meio ambiente, a APP
montou uma estratégia similar à da contratação de Josemar Verillo. Contratou a
firma de relações públicas Greeenspirit Strategies, dirigida por Patrick Moore,
ex-ativista do Greenpeace. Moore escreveu um relatório no qual atribuía os
desmatamentos aos moradores “invadindo ilegalmente as florestas em busca de
melhores meios de subsistência”. Explicou que as clareiras deixadas pela
empresa era para permitir que árvores novas pudessem receber o sol. A empresa
tinha contaminado vastas regiões com sua mineração de ouro, e derramamentos
devastadores de cianeto de sódio. Ele explicou que “o cianeto está disponível
no meio ambiente e em muitas espécies de planta”. (aqui)
É
possível que a Transparência Internacional não estivesse a par das estripulias
de seu parceiro. Mas é significativo a pouca transparência, e a falta de compliance,
nas instituições que fizeram da luta anticorrupção seu objetivo final.
Do
GGN