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terça-feira, 18 de abril de 2017

A república do “dedo duro”

Cá estamos, pessoas comuns, sentados no alto de nosso isolamento, contemplando um triste e violento espetáculo. Lá embaixo, na planície, a república arde em chamas, diante de um público fascinado, perplexo, confuso. A Lava Jato cumpre, enfim, o seu destino, que é assumir o poder político no país.

A Lava Jato não combateu a corrupção no Brasil: ela a ampliou a níveis alucinantes. Basta ver os quadros que passaram a tomar o poder nas estatais e no governo. A gente só conhece os ladrões mais famosos da elite do governo, mas os escalões inferiores estão sendo inteiramente ocupados por pessoas indicadas por esses mesmos ladrões. 

                                  
Os delatores foram usados como combustível humano. Os representantes da Odebrecht, em particular, foram tratados com um cuidado muito especial, porque a Lava Jato cultivou, desde o início, a esperança de que a bala de prata contra Dilma, Lula e o PT viria do ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht.

Ao invés disso, o que vimos foi o espetáculo mais grotesco da história mundial do direito. Todo o modus operandi da Lava Jato, baseado desde o início no uso indiscriminado de delações premiadas, culmina com as delações da Odebrecht, transformadas em armas de destruição em massa para subsidiar mais um brutal ataque à política.

Tornamo-nos uma república de delatores. Em plena crise econômica, o Brasil não discute planos para voltar a crescer. A agenda única da mídia é a última fofoca relatada por um delator.

Uma delação é pior que uma verdade com provas.

Uma verdade com provas cabais permite que você assuma uma posição firme, a favor ou contra.
Uma delação, ela é a antiverdade por excelência, porque você não sabe se é uma verdade, uma meia-verdade, ou uma mentira.

Uma mesma delação pode vir cheia de verdades, mas com capciosas mentiras enfiados no meio. As verdades seriam usadas para legitimar a mentiras enxertadas.

Uma mesma delação pode ser quase inteiramente mentirosa ou absurda, mas conter uma verdade.

Ah, mas é preciso apontar provas para a delação, dirão alguns.

Desde quando, pergunto eu?

As delações estão aparecendo, há mais de dois anos, sem provas. E as provas, além disso, podem ser facilmente manipuladas, desde que a autoridade e a mídia estejam mancomunadas.

O que fazer, todavia, com uma delação que apenas afirma que fulano “sabia” ou “não sabia”, sem apresentar, igualmente, nenhum tipo de comprovação?

Na minha opinião, os progressistas e os liberais precisam tomar muito cuidado com um sistema de repressão que não tem controle social.

A Lava Jato representou uma revolta dos aparelhos de repressão do Estado contra o sistema político.

Essa revolta foi preparada também pelos erros dos governos Lula e Dilma, que se descuidaram daquilo que deve ser a prioridade número 1 de qualquer força política: a educação.

E, em especial, a educação enquanto educação política, que por sua vez apenas pode se materializar através dos meios de comunicação.

Ah, mas é muita roubalheira, eles – o aparelho de repressão – tinham que fazer isso, alegam alguns.

Cuidado com essas falácias. A Lava Jato não combateu a corrupção no Brasil: ela a ampliou a níveis alucinantes. Basta ver os quadros que passaram a tomar o poder nas estatais e no governo. A gente só conhece os ladrões mais famosos da elite do governo, mas os escalões inferiores estão sendo inteiramente ocupados por pessoas indicadas por esses mesmos ladrões.

O patrimônio público está sendo desmontado a toque de caixa.

Quem está ganhando com tudo isso?

Agora está mais fácil entender: os grandes bancos e grupos estrangeiros de energia e construção civil.

O Brookfield, um dos maiores fundos de investimento do mundo, está comprando a Odebrecht e a Petrobrás.

A cotação do petróleo foi reduzida no momento certo. Cai às vésperas da votação do impeachment, e em seguida volta a crescer.

Se os EUA fizeram um pacto com Arábia Saudita, conforme acreditam alguns analistas, para derrubar Rússia, Venezuela e Irã, a principal vítima, até o momento, parece ter sido o Brasil. O que, inclusive, nos faz pensar se analisamos corretamente. E se esse dumping dos preços do petróleo tivesse almejado o Brasil desde o início?

O modus operandi da Lava Jato, com todas as delações, é monstruoso. Se você prender todos os empresários, jornalistas, servidores, políticos de um país, e mantê-los encarcerados, sob ameaça de prisão perpétua, perseguição à família, fim do patrimônio acumulado ao longo de várias gerações, até que eles delatem tudo aquilo que fizeram ou viram de errado em suas vidas, qual será o resultado?

A delação, obviamente, não visa fazer com que o delator faça um discurso de tudo de bom que ele e sua empresa fizeram ao Brasil. O acordo implica em confessar todos os crimes cometidos, ou mesmo não-cometidos, desde que eu escape das masmorras de Curitiba.

As delações da Odebrecht confirmam um fenômeno: a Lava Jato há tempos percebeu que não se trata apenas de uma operação de cunho jurídico. Ela tem uma agenda, a qual, para ser implementada, precisa controlar a política.

Daí que a operação, ou pelo menos o espírito e os interesses que a governam, disseminaram-se por toda a república, dominando tudo.

Legislativo, MPF, PGR, Judiciário, Executivo, TSE, empresas, mídia, tudo está sob o tacão pesado da Lava Jato.

Ouse discordar! Em pouco tempo, aparecerá um delator envolvendo você numa história.

Até mesmo alguns ingênuos, como Luciana Genro, ex-candidata do PSOL à presidência da república, que vinha cumprindo o triste papel de fazer campanha em apoio à Lava Jato, viu-se, que ingratidão, delatada! O delator em questão visava os deputados da esquerda gaúcha, e sobrou para Genro.
A defesa de Luciana Genro foi pior que a encomenda. Ela divulgou uns “emails”, em que o empresário que lhe havia doado pede algum tipo de favor ou intermediação com seu pai – favor ou intermediação que ela não atendeu. Ou seja, para escapar de uma delação, ela ainda põe o nome do pai na história!

Do Cafezinho, por Miguel do Rosário