Temer libera r$ 4 bi em emendas. Bolsonaro e Aécio lideram
repasses
Denunciado
por corrupção e rejeitado por mais de 90% dos brasileiros, Michel Temer decidiu
abrir os cofres federais e gastar bilhões em emendas parlamentares para agradar
parlamentares e se manter no cargo, que conquistou por meio de um golpe.
Curiosamente,
os políticos mais beneficiados com as liberações de recursos foram o senador
Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
Aécio, que
tem um pedido de prisão não julgado pelo STF, trabalha para manter o PSDB na
base de Temer. O agrado a Bolsonaro se deve ao fato de o político exercer forte
influência nas redes sociais – até agora, ele não deu um pio sobre os
escândalos de Temer.
Leia,
abaixo, a reportagem da Reuters sobre a compra de apoio parlamentar para barrar
a denúncia contra Temer:
Em meio ao
recrudescimento com a crise política a partir da delação de executivos da JBS
que o implicaram diretamente, o presidente Michel Temer ampliou fortemente a
liberação de recursos de emendas parlamentares em junho.
Enquanto nos
primeiros cinco meses do ano o governo havia liberado 959 milhões de reais em
emendas e restos a pagar para deputados e senadores, somente no mês de junho
esse valor foi de 4,2 bilhões de reais, elevando o acumulado no ano a cerca de
5,2 bilhões de reais, conforme levantamento feito pela Reuters no sistema de
gastos orçamentários do governo federal, o Siafi.
Esses
recursos desembolsados contemplam o pagamento de emendas ao Orçamento de 2017 e
de restos a pagar, que são recursos empenhados em anos anteriores, mas só
liberados agora.
A título de
comparação, no dia 9 de maio --poucos dias antes da divulgação da delação que
implicou Temer feita por executivos da JBS-- a liberação acumulada no ano era de
apenas 531,5 milhões de reais.
A liberação
de emendas é um dos mecanismos mais tradicionais que os governos lançam mão
para garantir a fidelidade da base aliada. Denunciado por corrupção passiva
pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Temer precisa garantir que o
apoio à autorização para o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar se recebe a
acusação criminal contra ele não chegue aos 342 votos necessários.
O Palácio do
Planalto quer ver rejeitada a autorização do STF para apreciar a denúncia oferecida
por Janot em no máximo duas semanas, para não correr o risco de que novos fatos
possam vir a desfavorecê-lo. Nesta terça-feira, por exemplo, Temer tem previsão
de audiências pessoais no Planalto com duas dúzias de deputados entre 8h e
21h30.
O presidente
disse em entrevista a uma rádio na segunda-feira estar "animadíssimo"
e ter certeza "quase absoluta" de que a Câmara vai recusar o aval
para o STF julgá-lo.
A base de
dados usada pela Reuters é do Siga Brasil, ferramenta desenvolvida pelo Senado que
dá acesso aos dados do Siafi.
Praticamente
três quartos da verba é destinada para obras e ações indicadas por
parlamentares para a área de saúde, que já recebeu 3,9 bilhões de reais nos
seis primeiros meses do ano. Esse direcionamento se explica porque, desde 2005,
o Congresso aprovou uma emenda constitucional que torna obrigatórios os
repasses para esse setor, não podendo, dessa forma, o Executivo contingenciar
os recursos para esse tipo de ação.
CAMPEÕES
A lista dos
parlamentares mais bem agraciados com recursos chama atenção pelo fato de que,
entre os deputados, o campeão de emendas é Jair Bolsonaro (PSC-RJ), com 18,5
milhões de reais no primeiro semestre do ano e, entre os senadores, Aécio Neves
(PSDB-MG), com 18,4 milhões de reais no período.
Bolsonaro é
o pré-candidato a presidente que mais cresceu em pesquisas de intenção de voto
em meio à crise que abate as principais lideranças brasileiras. Aécio,
ex-presidenciável em 2014 e hoje um dos principais defensores da permanência do
PSDB na base de Temer, estava afastado do mandato desde o dia 18 de maio até a
sexta-feira passada por ordem do STF.
O terceiro
lugar em pagamento de emendas com 17,7 milhões de reais é o senador Cristovam
Buarque (DF), do PPS, partido que chegou a pedir a renúncia do presidente e
ensaiar um abandono da base após as delações da JBS, mas posteriormente recuou
e permanece aliado ao governo com o objetivo de aprovar as reformas.
Do total de
recursos distribuídos até o momento, 4,4 bilhões de reais foram destinados a
deputados e apenas 789 milhões de reais para senadores.
A título de
ilustração, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que poderá
substituir Temer em caso de afastamento dele no comando do país se a denúncia
for recebida, foi o 26º da lista, com 14,1 milhões de reais pagos em emendas.
Já o
presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Rodrigo Pacheco
(PMDB-MG), que comanda o colegiado que vai dar parecer sobre se concorda ou não
em autorizar o STF a julgar a acusação contra o presidente, é apenas o 343º
lugar da lista, com 7,1 milhões de reais.
A assessoria
de imprensa de Bolsonaro informou que não se surpreende com o resultado de o
deputado ser o campeão em liberação de emendas. Disse que é fruto do trabalho e
que, após apresentação das emendas, não pressiona o governo pelo pagamento dos
recursos, deixando essa tarefa a cargo das instituições beneficiárias.
A Reuters
não conseguiu contato com a assessoria de Aécio.
Procuradas,
a Secretaria de Comunicação da Presidência da República e a Secretaria de
Governo ainda não se não pronunciaram sobre o assunto.
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