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quinta-feira, 24 de maio de 2018

XADREZ DA ESTRATÉGIA DA CANDIDATURA DE LULA, por Luis Nassif

O Xadrez abaixo foi montado pelo analista político Alberto Carlos Almeida a partir de deduções – não necessariamente com informações que colheu junto ao PT ou com decisões que o PT já tomou.
Apostas principais:
Fato 1 – Lula crescerá mais ainda com a prisão. E mais ainda com os preços da gasolina. Será enorme a transferência de voto para quem ele indicar.
Fato 2 – É correta a tática do PT de manter a candidatura Lula até o último momento. Primeiro, para evitar a desmobilização da militância. Depois, para impedir que qualquer candidatura própria entre na alça de mira do inimigo.
Fato 3 – Justamente para preservar o candidato, vai-se manter o suspense até o último minuto, daquela que será a eleição mais curta da história.
Fato 4 – o candidato menos exposto do PT seria Patrus Ananias, político sem mácula. Mas Almeida vê grande potencial em Jacques Wagner, com sua fala mansa e enorme prestígio no nordeste.
Fato 5 – Assim que o candidato do PT for anunciado, haverá uma investida da Lava Jato e da mídia, incluindo novas sessões de prisões de impacto, como ocorreu nas últimas eleições. Mas, à esta altura, o PT terá o horário gratuito para se defender.
Fato 6 – Daqui até as eleições, haverá a desidratação de Ciro Gomes, de Marina Silva e de Bolsonaro por falta de palanque, como ocorreu com todas as candidaturas isoladas nas eleições passadas. 
Fato 7 - A candidatura de Lula impedirá a adesão dos governadores nordestinos a Ciro. E quase todos eles já estão com a eleição garantida. Confirmada a estratégia de Lula, abre-se espaço para a presidente do PT Gleisi Hofmann consolidar a aliança com demais partidos de esquerda.
Fato 8 – Assim como em todas as eleições a partir de 1994, restarão o PT de um lado e Geraldo Alckmin de outro. São os dois únicos que têm palanques e alianças em todos os estados. Mas há que se tomar cuidado com o apoio de Michel Temer, o anti-Midas.
Fato 9 – Lula não é apenas, disparado, o maior estrategista da política. Consegue se antecipar a todos os adversários e prova maior é o comício que antecedeu a prisão. Além de ser o melhor estrategista, ele tem a segurança de saber que é o melhor.
GGN

segunda-feira, 26 de março de 2018

Xadrez da imprevisibilidade total, por Luis Nassif


Peça 1 – os fatores que antecederam a crise

A mudança social na estrutura do Judiciário, Ministério Público e alta burocracia pública, mudando a vocação, de servidores públicos para membros de classes elevadas.
Do mesmo modo, a ascensão social de excluídos, que passam a se identificar com as classes de maior renda e a considerar que sua ascensão se deveu  à seu próprio mérito – o que também não deixa de ser verdade.
A degradação progressiva da política, sem que fosse enfrentada por nenhum dos partidos hegemônicos, PSDB e PT.
A estratificação desses partidos, impedindo a renovação e o acolhimento dos novos atores políticos que surgem com as redes sociais, movimentos sociais e com as organizações não-governamentais.
O protagonismo político por parte do Judiciário e do MPF, inicialmente com o surgimento dos juízes vingadores e, depois, com a AP 470, do mensalão. E, agora, com o atrevimento de Ministros como Luis Roberto Barroso, pretendendo transformar o Supremo em criador de leis.
O televisionamento das sessões do STF, acabando com o pudor de Ministros pelos holofotes e tornando os mais fracos alvos fáceis da lisonja ou da ameaça dos meios de comunicação, reduzindo a vocação contra hegemônica do Supremo.
A estratégia do combate à corrupção como instrumento da geopolítica norte-americana e a adesão do Brasil aos acordos da OCDE para crimes financeiros, sem uma avaliação consistente sobre o interesse nacional.
O protagonismo político da velha mídia, visível desde o impeachment do Fernando Collor e acentuando-se a partir do mensalão, e o discurso diuturno do ódio, praticado especialmente após 2005.
Em cima desse cadinho, a desorganização final do mercado de informações com as redes sociais e com a explosão dos fakenews (leia a propósito os artigos: O desafio de garantir a credibilidade das notícias sem manipulação, por Luis Nassif e Os fake news como estratégia de censura aos blogs oposicionistas, por Luis Nassif).
Peça 2 – os fatores atuais
Hoje em dia, quem disser que sabe o que vai acontecer, mente. Poucas vezes, na história do país, houve cenário tão imprevisível.
De concreto, os seguintes fatores estimuladores do caos:
Nesse quadro, há a possibilidade de vários tipos de detonadores – de eventos capazes de explodir o paiol. Ontem, no Twitter, por exemplo, o jornalista Ricardo Noblat estimulava o público a atacar Ministros do Supremo nos aeroportos; a senadora Ana Amélia incentivava ruralistas gaúchos a agredir a caravana de Lula.
Em suma, é o quadro ideal para o aparecimento de táticas oportunistas e irresponsáveis.
Some-se a indefinição eleitoral.
Embora, no caso Marielle, muitos vissem oportunismo da Globo, permitindo aos seus jornalistas o exercício da indignação visando tirar a bandeira da esquerda, tenho para mim que foi também uma postura de cautela, ante a iminência da eclosão de movimentos terroristas, em cima do ódio plantado na última década.
As denúncias contra o MBL e outras organizações de direita também caminham nesse sentido. Mas são movimentos difusos, medrosos. Falta à mídia inteligência estratégica e coragem editorial para investir contra o monstro que ela ajudou a nascer e a se multiplicar.
A maneira como a Globonews e o Estadão – hoje em dia, os arautos mais estridentes do estado de exceção – investiram contra os Ministros do Supremo, é sintomático da perda de referenciais desse pessoal.
Ainda não se deram conta – assim como a esquerda – que o adversário, hoje em dia, não é Lula, o PSDB ou o PT, mas a iminência do país ser transformado em um enorme México, com a violência saindo das periferias e tornando-se instrumento de luta política.
A informação de que o grande operador do PSDB em São Paulo, Paulo Preto, negociava com lideranças do PCC, não deve espantar. A cada dia que passa, mais se institucionaliza o poder do PCC, visto como mal menor, em contraposição aos pequenos grupos de traficantes.
Lula poderia ter sido o grande agente de conciliação nacional, o avalista de um pacto unindo centro-direita e centro-esquerda. Mas o país permitiu que se jogasse fora o ativo Lula.
Hoje em dia, não há um interlocutor de fôlego, para falar pela esquerda ou pela direita. Ambos, centro direita e centro-esquerda, estão igualmente fragmentados.
Peça 3 – o caos no mercado da informação
Some-se a isso tudo a emergência dos fake news, do uso de robôs e outras formas de tecnologia para manipular a opinião público. O quadro traçado por Charile Wazel, no Buzz Feed, é assustador.
Trata-se não apenas de simular novas realidades, manipulando imagens, voz e declarações, mas também do descrédito que recai sobre o mercado de notícias, com o ceticismo que recai sobre todas as notícias. E isso em um país, como o Brasil, onde há tempos a velha mídia deixou de lado qualquer veleidade de respeito aos fatos. O bordão “antes de espalhar a notícia, confira se saiu em algum órgão de mídia” será de baixa validade no país, devido ao histórico de manipulações da última década.
Hoje em dia, não há instituições sancionadoras das notícias, quando até Ministros da mais alta corte, manipulam informações em proveito de suas posições políticas – como foi o caso do Ministro Luís Roberto Barroso, valendo-se de estatísticas não confiáveis sobre decisões do STJ para reforçar seu argumento contra as apelações em terceira instância.
Há um sentimento crescente no ar, de pessoas vendo o carro caminhar em direção ao barranco Bolsonaro. A iminência do desastre poderá despertar algum sentimento de sobrevivência.
Em suma, há uma contagem regressiva para o desastre. Será um período de grandes turbulências, com uma pequena probabilidade de despertar a racionalidade dos agentes políticos. Mas muito pequena mesmo.
 GGN