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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

MANGABEIRA E OS ERROS QUE TIRARAM A PRESIDÊNCIA DE CIRO, POR LUIS NASSIF


As duas entrevistas de Roberto Mangabeira Unger – ao Valor (clique aqui) e à  Folha (clique aqui)– esclarecem de vez as razões objetivas que levaram ao racha das esquerdas e à eleição de Jair Bolsonaro.
Mangabeira confirma o relato de Fernando Haddad, de que foi oferecido a Ciro o papel posteriormente desempenhado pelo próprio Haddad, de ser o vice-presidente na chapa de Lula e assumir a candidatura quando Lula fosse impedido.
Teria sido a fórmula ideal. Ciro seria imediatamente catapultado para a liderança e com sua retórica eficiente teria condições de vencer Bolsonaro no 2º turno.
Ciro esbarrou mais uma vez em seu grande defeito político. É bom para as grandes estratégias e péssimo para as definições táticas, prisioneiro de um temperamento forte, com uma autossuficiência deletéria, não se enquadrando nos limites dos pactos partidários. Quando a estratégia é bem-sucedida, entra em alpha e considera que tem a força. E não consegue identificar os limites políticos para entrar na etapa seguinte.
Sua visão era a de que o período Lula estava definitivamente encerrado e caberia a ele, Ciro, inaugurar o novo tempo, sem depender do lulismo. Como Mangabeira deixa claro, Ciro confundiu posições táticas com estratégicas.
No plano estratégico, era mais que hora do lulismo ceder espaço a uma nova etapa, diluindo o protagonismo excessivo do PT, principal combustível do pacto político mídia-Judiciário, e trabalhando as novas classes que surgiam – e que Mangabeira corretamente identifica como o novo empreendedorismo.
Ora, esse movimento era claro para o próprio Lula. Quando tentou a aproximação com Eduardo Campos, sabia a dificuldade para o PT superar a matriz original e abrir espaço para o novo temp.
No plano tático, no entanto, abrir mão do cacife eleitoral de Lula foi um gesto de arrogância mortal. Não adiantou Haddad alertar Ciro, que estava minimizando não apenas a influência de Lula, mas 70 anos de tradição trabalhista no Brasil. Como pretendia montar uma frente deixando de lado o principal ator político das oposições nas últimas décadas?
Sua visão estratégica foi bem-sucedida. Desenvolveu o discurso mais eficiente de oposição à direita racional, de Geraldo Alckmin, e, depois, à direita insana de Jair Bolsonaro, um discurso denso, com propostas racionais e criativas, e uma retórica de guerra adequada para desmontar a agressividade vazia de Bolsonaro.
Na frente tática, esboroou-se.
Depois que perdeu as eleições, a ira posterior de Ciro contra o PT, foi apenas uma tentativa psicológica de enfrentar a ideia insuportável de que foi ele próprio que jogou fora a presidência por um gesto mal pensado.
Nenhum de seus argumentos se sustenta:
1.    A alegação de que não queria comprometer seu projeto de país com o do PT.
Como bem lembra Mangabeira, uma coisa é aliança tática, visando ganhar as eleições e impedir o mal maior. Outra coisa, o projeto de governo, que é atribuição exclusiva do presidente da República. Ele seria o líder inconteste do projeto.
2.    A alegação de que o PT não era aliado confiável.
Como assim? Alianças se formam em torno de propostas, conceitos e campos de interesse. Havia um amplo campo de interesses comuns para consolidar alianças com os partidos de esquerda, incluindo o PT, assim como um amplo arco de partidos de oposição, de centro-direita, para contrabalançar. Um político habilidoso deitaria e rolaria em um quadro desses. Seria um quadro confuso apenas para políticos com dificuldades para dialogar.
As acusações de que foi esfaqueado pelas costas, com o acordo do PT com o PSB não se sustentam.
Queria o quê? Que depois de esnobado por Ciro Gomes, o PT abrisse mão de alianças estratégicas, para não melindrar o adversário? E porque foi possível uma aliança, conduzida por Lula, que interferiu nas eleições de Pernambuco e Minas Gerais? E por que estados como a Bahia e o Maranhão que, em circunstâncias normais estariam com Ciro, mantiveram-se fiéis ao candidato do PT? Por conta do prestígio político de Lula, que Ciro minimizou.
Esses embates ajudaram a realçar  a posição desprendida de Haddad que, em todos os momentos, colocou os interesses do país acima de seus interesses pessoais: quando apoiou a indicação de Ciro; e, depois, quando encarou o desafio de conduzir uma campanha presidencial perigosa.
A nova etapa da política
Mangabeira tem uma virtude e uma fraqueza nas utopias que desenha para o país.
As virtudes são uma visão de futuro aprofundada, um desenho sintético do que seria uma civilização tropical moderna.
No governo Lula, ele exercitava o papel de espécie de grilo falante, identificando em cada Ministério propostas esquecidas, que se enquadravam nesse desenho, dando-lhe publicidade.
A fraqueza, fruto de seu distanciamento do dia-a-dia do país, é não acompanhar de perto o que ocorreu nesses anos todos. Foi assim quando assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Dilma, incumbindo-se da tal Pátria Educadora, sem noção algum dos avanços e das ideias modernizantes que sacudiam o setor.
Com seu estilo de dar plena liberdade às iniciativas dos seus Ministros, os dois governos Lula foram laboratórios riquíssimos de experiências que poderiam ter marcado a etapa seguinte de desenvolvimento.
Muitas das propostas levantadas, agora, por Mangabeira, já tinham sido iniciadas no governo Lula, inclusive as políticas de fortalecimento das pequenas e microempresas com o MEI (Microempreendedor Individual), os movimentos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e das fundações de amparo à pesquisa em torno das startups. As movimentações iniciais do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) na gestão Carlos Lessa, de fortalecimento de arranjos produtivos locais. E
Dentro dessa linha, o fortalecimento da Apex (Agência de Promoção das Inovações) definindo planejamentos sofisticados para o comércio exterior, e da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), como futuro fórum de discussão de políticas industriais, desenvolvendo diagnósticos e amarrando nas estratégias do BNDES e da Finep.
Toda essa dinâmica, em relação aos novos tempos da economia e das políticas sociais, foi interrompida pelo estilo excessivamente centralizador de Dilma Rousseff, pela nova lógica do BNDES e seus campeões nacionais, e pelo início da crise econômica.
Em 2014, o CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos) fez um levantamento precioso das propostas existentes nas universidades, centros de pesquisa e governo para os diversos temas de políticas públicas. Mas o tempo político de Dilma já havia se esgotado.
O grande desafio do PT será alargar os horizontes do partido, e se abrir para as novas ideias, já testadas com sucesso no governo Lula, e para as novas militâncias.
GGN

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

NOVO IBOPE BOLSONARO TEM 32%, HADDAD CRESCE E VAI A 23%, VENCENDO NO SEGUNDO TURNO DE 43% A 41%


O Ibope liberou hoje mais uma pesquisa de intenção de voto para a eleição presidencial. De acordo com a pesquisa, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, tem 32% das intenções de voto, seguido por Fernando Haddad, do PT, com 23%. Ciro Gomes (PDT) tem 10%, Geraldo Alckmin (PSDB) tem 7% e Marina Silva (Rede) manteve os 4%.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

NOVA PESQUISA DATAFOLHA HADDAD ABRE SEIS PONTOS NO 2º TURNO E SERIA ELEITO SE A ELEIÇÃO FOSSE HOJE

Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (28) mostra que o candidato do PT a presidente, Fernando Haddad, cresceu seis pontos e foi de 16% para 22%. Jair Bolsonaro (PSL) estagnou em 28%. Ciro Gomes (PDT) oscilou de 13% para 11%, Geraldo Alckmin (PSDB) oscilou de 9% para 10% e Marina Silva (Rede) variou de 7% para 5%. 
Nas simulações de segundo turno, Haddad abre seis pontos de vantagem contra Bolsonaro e seria eleito presidente por 45% a 39%. 
Confira os números:
Jair Bolsonaro (PSL): 28%
Fernando Haddad (PT): 22%
Ciro Gomes (PDT): 11%
Geraldo Alckmin (PSDB): 10%
Marina Silva (Rede): 5%
João Amoêdo (Novo): 3%
Henrique Meirelles (MDB): 2%
Alvaro Dias (Podemos): 2%
Cabo Daciolo (Patriota): 1%
Vera Lúcia (PSTU): 1%
Guilherme Boulos (PSOL): 1%
João Goulart Filho (PPL): 0%
Eymael (DC): 0%
Branco/nulos: 10%
Não sabe/não respondeu: 5%
Simulações de segundo turno:
Haddad 45% x 39% Bolsonaro (branco/nulo: 13%; não sabe: 2%)
Haddad 39% x 39% Alckmin (branco/nulo: 19%; não sabe: 3%)
Ciro 42% x 36% Alckmin (branco/nulo: 19%; não sabe: 3%)
Alckmin 45% x 38% Bolsonaro (branco/nulo: 16%; não sabe: 2%)
Ciro 48% x 38% Bolsonaro (branco/nulo: 12%; não sabe: 2%)
Ciro 41% x 35% Haddad (branco/nulo: 19%; não sabe: 3%)
A pesquisa Datafolha ouviu 9 mil eleitores em 343 municípios entre os dias 26, 27 e 28 de setembro. A marge de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi contratada pela TV Globo e pela Folha de S. Paulo.
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domingo, 10 de junho de 2018

XADREZ DA ALIANÇA CIRO GOMES-LULA, por Luis Nassif

Nas próximas eleições há apenas duas balas na agulha para interromper o desmonte do país e o fantasma de Bolsonaro: um candidato indicado por Lula ou Ciro Gomes, mas ambos os grupos caminhando juntos no segundo turno.
Há toda uma engrenagem montada em torno do impeachment, pronta a detonar “inimigos”. É o arco constituído pelo mercado, mídia e sistema judiciário. Mesmo assim, o aprofundamento da crise e o risco Bolsonaro estão tornando dois candidatos gradativamente palatáveis ao epicentro do golpe, em São Paulo: Fernando Haddad e Ciro Gomes.
Não significa necessariamente que Haddad será o candidato de Lula. Há também os nomes de Jacques Wagner, Celso Amorim e Patrus Ananias. Mas são as duas hipóteses levantadas pelas últimas pesquisas.
A disputa tem três tempos.
O primeiro turno, para definir quem será o candidato da centro-esquerda.
O segundo turno, e as alianças que resistirem à disputa do 1º turno.
A estratégia depois de eleito, assegurando a governabilidade.
Peça 1 – a estratégia de Lula
Para as eleições, a estratégia aparente de Lula consiste em manter sua candidatura até o último momento. Perto do prazo fatal, ficando claro que o golpe não permitirá que se candidate, haverá a indicação do vice, que assumirá seu lugar na chapa como seu candidato.
A lógica é clara.
Primeiro, manter viva a chama do lulismo e conseguir o impacto da proibição de se candidatar, em um momento em que cada vez mais cai a ficha da opinião pública sobre a perseguição política de que é vítima. Com isso, aumenta seu cacife e do PT para negociar alianças.
Depois, porque se o vice for apresentado antes, será fuzilado pela estrutura Lava Jato-mídia-Judiciário.  Em cima da bucha, o PT terá o horário gratuito para defender-se dos ataques.
Para ser vitoriosa, no entanto, essa estratégia depende de algumas variáveis indefinidas ainda:
A capacidade de Lula de transferir votos.
O tiroteio que se abaterá sobre seu candidato.
É um jogo de apostas. Se a estratégia der errado e houver o segundo turno com dois candidatos de direita, serão destruídos os últimos pontos de resistência das esquerdas e da incipiente social-democracia brasileira.
Daí as últimas orientações de Lula – após encontro com Jacques Wagner – de mandar emissários conversarem com Ciro, para esvaziar as tensões acumuladas entre ele e o PT. A orientação de Lula foi a de tratar Ciro Gomes como parceiro do mesmo lado político.
Tem lógica.
Peça 2 – a estratégia Ciro Gomes
Ciro Gomes vai montando sua estratégia política dentro da seguinte lógica:
Estratégia da redução de dano: a esquerda não o vê como um dos seus, nem a direita do DEM e assemelhados. Mas, para a esquerda, é garantia de suspensão do desmonte montado por Temer e, para a direita do DEM, a possibilidade de compor um novo bloco de coalizão, papel desempenhado pelo DEM com FHC e MDB com Lula.
Identificação dos inimigos externos, de forma alinhada com a opinião pública de esquerda e centro: a quadrilha Michel Temer, o MDB e Bolsonaro.
Recuperação de propostas desenvolvimentistas e interrupção da destruição empreendida por Temer.
Apropriação do discurso anticorrupção, tentando uma vacina contra o antipetismo. Mas, com isso, criando resistência junto à militância do partido, que Lula tenta diluir.
Um discurso articulado. Ciro tem na ponta da língua o manual dos bons princípios da social-democracia, assim como Fernando Haddad. A diferença é que, até agora, Haddad tem evitado se expor.
Cada vez mais tenta se apresentar como o anti-Bolsonaro, usando a retórica virulenta do seu opositor. É uma briga de machos-alpha, claramente definida para arrostar Bolsonaro no seu único terreno: a truculência.
A fala impositiva, autoritária até, em um momento em que parte relevante da opinião pública clama por um mínimo de disciplina institucional, só possível com a recuperação do protagonismo pelo Executivo.
Ao contrário do que muitos podem imaginar, Ciro não está disputando o espaço político com Lula, mas com Geraldo Alckmin. O espaço em questão consiste em juntar setores mais liberais, assustados com a hipótese Bolsonaro, os órfãos do velho PSDB; e, na hipótese de um segundo turno com Bolsonaro ou Alckmin, o apoio das esquerdas.
A provável frente que se desenha na cabeça de Ciro, caso sua candidatura decole, ficará mais ou menos assim:
Apoio dos governadores nordestinos, que temem a demora na definição do lulismo.
Possível adesão de parcelas relevantes do PSDB, órfãos de uma liderança forte, depois do esvaziamento da banda barra-pesada – Serra-Aécio-Marconi-Richa.
Aproximação com o clube dos bilionários e com os grandes grupos paulistas que sabem o desastre que seria Bolsonaro, e não tem confiança no fôlego e na competência de Alckmin.
Com o discurso anticorrupção, aproximação com o Partido do Judiciário, que será crucial em dois momentos: para garantir votos da parte punitiva do eleitorado; e como aliados na guerra mortal contra o MDB.
Montagem de um novo bloco de coalizão, com o DEM e outros partidos menores fornecendo a base de apoio, mas com uma incógnita sobre com quem dividirá a governabilidade: se com o PT ou um bloco mais alinhado com o PSDB.
Analistas respeitáveis sustentam que, a exemplo de outras eleições, na reta final do primeiro turno vencerão os candidatos que tiverem atrás de si mais estrutura partidária. Ou seja, haveria a reedição da disputa PSDB, com Alckmin, e PT, com o candidato indicado por Lula.
Mas será que os tempos atuais repetem as mesmas características de outras eleições? Têm-se o PT e o PSDB baleados junto a parcelas da opinião pública; novas formas de mobilização com as redes sociais, e um eleitorado consolidado de Bolsonaro. A rigor, há duas únicas forças se movimentando: o lulismo e o antilulismo.
Peça 3 – os fatores de instabilidade
Além disso, há um conjunto de fatores aleatórios no ar. Têm-se um quadro de caos, um cenário aberto para novas tentativas de instabilização.
Graças à Globo e ao Supremo Tribunal Federal (STF) o país experimenta a situação esdrúxula, de estar sendo governado por um presidente que será preso, assim que deixar o cargo, mas com plena liberdade até lá para continuar montando negócios.
Do lado do grupo de Temer, a contagem regressiva para a prisão induzirá a novas tentativas de endurecimento político. Até agora, duas delas foram tiro n’água graças à baixíssima credibilidade do grupo: a intervenção militar no Rio de Janeiro e a tentativa de militarização na greve dos caminhoneiros.
Mesmo assim, se tem no STF uma presidente inconfiável, como ficou claro no episódio de desengavetamento do julgamento do parlamentarismo. Logo depois, Carmen Lúcia o tirou novamente de pauta. Imaginou-se que tivesse recuado devido às críticas recebidas, mas foi apenas porque o propositor da ação, deputado Arlindo Chinaglia, a retirou.
Continua pendente no ar a possibilidade de um novo golpe jurídico-midiático, mesmo porque o STF está dominado pela politização, com os Ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Luiz Fux, Alexandre Morais, Rosa Weber e Carmen Lúcia atuando com despudor, e o antipetismo explícito condicionando a atuação dos garantistas Celso de Mello e Gilmar Mendes.
De qualquer modo, o fator Temer promoveu um desgaste também no coração do impeachment – a própria mídia.
Ao contrário de outros tempos, as tentativas de desenhar cenários esbarra em fatores de imprevisibilidade inéditos. Ninguém pode ter certeza de nada.
do GGN

segunda-feira, 14 de maio de 2018

SER OU NÃO SER – o preço da convicção, LULA LIVRE é a DESISTÊNCIA DO PLEITO, Por Eugênio Aragão

Certa feita uma amiga diplomata foi deslocada a serviço a Kinshasa, na época capital da República do Zaire, governado por Mobutu Sese Seko.
Na fila do passaporte, pôde observar uma cena digna de uma peça de teatro de Eugène Ionesco. Um senhor bem apessoado exibiu o passaporte ao funcionário da imigração. Este, após examiná-lo superficialmente, advertiu: “Senhor, lamento, mas está sem visto!” O dono do passaporte retrucou: “Como não? Claro que tenho visto! Olhe só…”
E tentou lhe tomar o documento para mostrar que tinha o tal visto de entrada. O funcionário, num gesto brusco, impediu o senhor de ver o passaporte. “Não! O senhor está sem visto!” E começava uma discussão sobre existir ou não existir o visto.
Quem assistia à cena logo via que tinha algo de errado, tamanha a convicção de cada um em defender seu ponto de vista, até que o funcionário deu a entender, com seus dedos em pinça numa página do passaporte, que ia rasgá-la.
Para prevenir o descalabro, outro imigrante, mais atrás na fila, certamente com maior experiência na cultura local, gritou: “coloque 100 dólares no passaporte!” Sem pestanejar, o dono do documento tirou o dinheiro da carteira e pediu ao funcionário para retornar-lhe o passaporte. Este, com um sorriso gentil, atendeu-lhe o pedido e o devolveu intacto.
O senhor enfatiotado encartou a nota no passaporte e voltou a exibi-lo ao funcionário que prontamente exclamou, olhando nos olhos do estrangeiro: “Oh… não reparei. Claro! O senhor tem visto!” E, embolsado o dinheiro e carimbado o passaporte, desejou-lhe: “Bem-vindo! Tenha uma boa estada no Zaire!”
Por que conto isto? Porque a situação do Presidente Lula na cadeia da Superintendência Regional da Polícia Federal em Curitiba é muito parecida com a do desavisado viajante no aeroporto de Kinshasa.
Todos sabem-no inocente, mas os representantes do Estado fingem que é culpado, como se à espera de algo. Sabem perfeitamente que não houve crime algum relacionado ao tal triplex do Guarujá, mas, à semelhança do funcionário congolês aguardando o encarte dos 100 dólares no passaporte, aguardam que Lula diga não ser candidato, para exclamarem: “Não reparamos! Claro! Não houve crime nenhum!” E prontamente lhe desejarão tudo de bom na liberdade reconquistada, como se não houvesse nada de mais. Business as usual.
A liberdade de Lula está precificada. O golpe tem sua lógica que se expressa na expectativa do ganho. Para atingir seus objetivos, golpistas – representantes da justiça de classe sem vontade de retornar à experiência da inclusão social em massa – insistem convictos que nada mais pode ser feito para livrar Lula do cativeiro.
Não vem ao caso se ele é culpado ou não. O que importa é que foi acusado e, depois de formal instrução, foi condenado, com a sentença confirmada e agravada na segunda instância por unanimidade. Isso por si basta para encostá-lo na parede e submetê-lo a uma verdadeira escolha de Sofia: ou deixa de ser candidato (danem-se as massas excluídas), ou fica preso com coonestação das escancaradas lambanças do primeiro e do segundo grau de jurisdição.
Tal qual o funcionário congolês, nossos juízes superiores e supremos sabem – está na cara – que Moro e os três sobrinhos do Pato Donald no TRF da 4ª Região (assim denominados por Luís Nassif) fizeram um processo que mais parece escárnio, caricatura de justiça, do que regular persecução penal. Não o negam nos cochichos entre si e alguns até o expressam com indignação, mesmo sem dar nome aos bois… Moro está hoje muito longe dos aplausos da unanimidade da direita política e judicial!
Há exceções à silenciosa e conspirativa crítica. Há outros magistrados que, ao julgarem o habeas corpus impetrado pela defesa de Lula, disseram com todas as letras que prendê-lo agora seria gritante violação do princípio de presunção de inocência.
Deixaram claro que tornar definitivo o efeito punitivo de uma decisão de segundo grau, mesmo com pendência de recursos, seria fechar os olhos para “eventuais” ilegalidades praticadas contra o réu e ainda sujeitas à revisão jurisdicional. Gritaram. Espernearam. Acusaram a trapaça de se pautar o habeas corpus antes de se definir, em julgamento abstrato, a extensão da presunção de não-culpabilidade. Mas perderam por 6 a 5.
Depois, calaram. Constataram o golpe, reconheceram a “estratégia” e nada mais pretendem fazer. Sim, o funcionário da imigração congolesa barrou um estrangeiro com visto no passaporte com a alegação da falta do visto. E daí? No fundo, parece, todos esperam pelo encarte da nota de 100 dólares no passaporte. E se Lula não a encartar – fazer o quê? – não entrará no Zaire! A opção é dele. Se topar o jogo, tudo ficará bem!
Na semana passada o STF rejeitou com unanimidade em julgamento virtual uma reclamação contra a pressa do TRF4 em recolher Lula ao cárcere, em clara transgressão dos limites do permissível na chamada execução provisória da pena.
Dos cinco magistrados partícipes da sessão eletrônica, quatro haviam se posicionado, antes, pela concessão da ordem ao ex-presidente por entenderem que adiantar a pena violaria flagrantemente o art. 5°, inciso LVII da Constituição. Foram então muito fortes em seus argumentos, denotando certeza sobre o absurdo que se praticava contra o réu-paciente.
A certeza se converteu em resignação. A convicção ficou para a integridade corporativa. Mesmo conscientes do injusto que se praticava contra Lula, a parceria com os colegas da imigração congolesa lhes pareceu mais importante do que a defesa da constituição e da liberdade de um inocente.
Em nome de um tal princípio de colegialidade – a cordialidade entre os agentes imigratórios – jogaram para o alto suas certezas e preferiram a convicção de que Lula, enquanto for candidato, continuará presumidamente culpado. O preço está posto.
E estão errados? Afinal, parte da esquerda, que se diz pragmática, “pé no chão”, já parece estar jogando a toalha, ao achar que largar Lula à sua própria sorte e fazer conchavo com outros pretendentes à presidência, mesmo que longe de terem o compromisso do réu injustiçado com a democracia e os excluídos, é mais vantajoso para permitir que o espetáculo circense de nossa política continue…
“Não deixarão mesmo que ele se candidate…” E essa esquerda se resigna como os magistrados com suas certezas. O preço é, de fato, a candidatura de Lula, e há quem queira pagá-lo. O prêmio será poder entrar no Zaire de Mobutu Sese Seko – na selva.
Na perplexidade do momento, pergunto-me: Afinal, é isso mesmo que a esquerda resignada deseja? É possível ser de esquerda e querer entrar no Zaire de Mobutu? Ou, em termos menos polarizadores: é possível ser democrata e querer entrar no Zaire de Mobutu?
Podem democratas resignar-se? Podem democratas coonestar a condenação de Lula? Será que os democratas querem entrar cada vez mais na selva? Será que eles querem mesmo a lei da selva, cujo guardião hoje é o STF?
Se e quando souberem responder, senhores de “pés no chão”, avisem a este nefelibatas.
Do DCM

domingo, 30 de abril de 2017

Lula segue absoluto para 2018 na nova pesquisa Datafolha, uma análise completa por Sergio Saraiva

Lula é hoje o maior risco e a única esperança para a retomada da normalidade democrática no Brasil. A resolução desse paradoxo está nas ruas.

A manchete da Folha de 30 de abril de 2017, sobre a pesquisa de intenção de voto para as eleições presidenciais de 2018 no Brasil traz dois erros. Um jornalístico e outro de análise estatística.

Bolsonaro sobe e disputa 2º lugar; Lula amplia a liderança
O erro jornalístico e patente, dá destaque ao secundário – o crescimento de Bolsonaro – em detrimento do principal: Lula não é afetado pelas delações da Odebrecht e, além disso, amplia sua vantagem em relação aos adversários. Alguns deles foram destroçados por tais delações, Lula passou incólume em relação a elas.

O erro de análise estatística é cometido também em relação a Bolsonaro. Pelo menos neste instante, seu crescimento nas pesquisas é um dado curioso, embora previsível, mas não altera o resultado previsto na para das eleições presidenciais de 2018. Por ora, ainda a principal adversária de Lula é Marina Silva.

Porém, independente da má vontade do secretário de redação que elaborou a matéria – tipo conhecido do antipetismo – a pesquisa Datafolha permite analisarmos as possibilidades atuais de vários candidatos para as próximas eleições presidenciais.
Bolsonaro – comecemos por ele.
Bolsonaro é o representante da extrema-direita e seu crescimento - 15% de intenção de voto no primeiro turno - deve ser acompanhado. Porém, não é relevante para o resultado final das eleições, neste instante.

Perde para Lula no segundo turno de 43% a 31%, respectivamente. Esse cenário deixa 26% do eleitorado sem candidato definido – ou seja, que não votariam em nenhum dos dois. Lula teria de conquistar 7 pontos percentuais nesse total para se eleger – menos de 3 em cada 10 indecisos. Bolsonaro teria de conquistar 19 pontos percentuais – mais de 7 em cada 10. Façam suas apostas, senhores - vermelho 13.

Marina Silva -  é ainda a principal adversária de Lula. Está em segundo lugar no primeiro turno com 14% - empatada com Bolsonaro – e vence Lula, na margem de erro, em um segundo turno por 41% a 38%, respectivamente.

Por que então a Folha não lhe deu destaque? Simples, Marina está em queda livre no seu recall de votos da eleição de 2014. Era de 52% na pesquisa de novembro de 2015 e está agora com 41% - perdeu 11 pontos percentuais. Lula está em crescimento contínuo – cresceu 7 pontos percentuais debaixo da tempestade e poderá ultrapassar Marina já na próxima pesquisa.  
Informação relevante, os votos de Marina aparentemente migram para Lula, já que a porcentagem de indecisos não aumenta com a queda de Marina – 23% em média e, inclusive, vem diminuindo a cada pesquisa.

João Doria – aparentemente sofre da mesma fraqueza de Alckmin, é um fenômeno puramente paulista. Está em forte e ininterrupta campanha midiática desde que se elegeu para a prefeitura de São Paulo, mas obteve apenas 9% dos votos. É aparentemente um produto que não pegou junto ao público geral, apesar da forte campanha midiática no lançamento. Provavelmente um produto para um nicho de mercado.

No segundo turno, perderia para Lula igualmente a Bolsonaro – 43% a 32%, respectivamente.

Luciano Huck - Doria e Bolsonaro disputam públicos diferentes, mas no mesmo espectro político – o radical de direita. A Folha não liberou os dos brutos da pesquisa, mas não é difícil traçar o perfil dos seus eleitores através do que se constata nas suas campanhas nas redes sociais – homem branco, classe média, desrespeitoso e grosseirão – Bolsonaro emociona os mais jovens e os mais velhos - viúvas da ditadura; Doria é dos adultos e jovens adultos. Mas ambos com o mesmo perfil. Públicos muito restritos e específicos com baixo poder de crescimento.

Dória essencialmente paulista e Bolsonaro com alcance nacional. As chances de crescimento de Doria, portanto, são maiores que as de Bolsonaro – mas se é para apostar no outsider – o político não político – melhor apostar em Luciano Huck.
Muito mais palatável que o milico de pijama ou o dândi empedernido. Luciano Huck tem 3% dos votos, mas isso é enganoso já que não foi testado em um cenário em que não dividisse seus votos com outros candidatos - do PSDB, por exemplo.

Ciro Gomes -  Ciro não decola pois é o eterno Plano B das esquerdas. Só tem chances se Lula não concorrer – 12% de intenções de voto.
Não é pouco, nos cenários em que Lula não participa, isso o embola no segundo lugar com outros candidatos. Mas Marina vence com uma margem mais de 10 pontos percentuais, no mínimo. 
PSDB – não existe eleitoralmente, tornou-se um partido nanico com menos de 10% das intenções de voto não importa quem seja o candidato – Aécio (8%), Alckmin (6%) ou Doria (9%). Sugestivamente, o nome de José Serra sequer participou da pesquisa.

Sergio Moro – é o antípoda de Lula. Mas os dados da pesquisa não são bons para ele.

Sergio Moro e Lula travam, por iniciativa do primeiro ou com seu consentimento, pelo menos, uma batalha entre o santo guerreiro e o demônio da maldade. E o demônio da maldade empatou o jogo. Sergio Moro 42% e Lula 40%.

Mas uma disputa como essa é somente alegórica. Para que ocorresse no mundo real, Sergio Moro teria de se despir do poder da toga. Ocorre que Sergio Moro não seria tolo para tanto. Sem poder decretar prisões preventivas ou mandatos de conduções coercitivas e tendo de dar explicações sobre seus atos, que chance tem Moro? Apanharia até dos desafetos que possui dentro do próprio Judiciário.

Temer – literalmente não existe. Com dois pontos percentuais de inteção de voto, nos cenários em que seu nome foi pesquisado, conseguiu empatar com a própria margem de erro da pesquisa. E um candidato que não ganha nem da margem de erro não existe – zero.

Lula – não há o que analisar sobre Lula, além de que é o virtual presidente do Brasil eleito em 2018, isso se puder disputar e se, sem em função disso, houver eleições. 
Somente para termos uma ilustração, na pesquisa Datafolha não há cenários de segundo turno sem Lula, mas, nos do primeiro turno, quando Lula não está presente, o percentual de votos indefinidos (brancos, nulos, nenhum e não sabe) sobe 10 pontos percentuais – de em torno de 20%, com Lula, para algo como 30% do eleitorado, sem Lula. Ou seja, hoje, ninguém fica com os votos de Lula.

Essa é a manchete que a Folha não deu: Lula – somente preso não ganha em 2018.

Numa análise final: o cenário político nascido do golpe parlamentar de 2016 e seus desdobramentos tornaram Lula, hoje, o maior risco e a única esperança para a retomada da normalidade democrática no Brasil.

A resolução desse paradoxo está nas ruas.
PS: A Oficina de Concertos Gerais e Poesia não nega méritos a quem os tem, neste caso, a ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa, por sua análise da postura adotada pela imprensa mainstream na cobertura da Greve Geral de 28 de abril de 2017: "na sexta-feira, o bom jornalismo aderiu à greve geral. Não compareceu para trabalhar". Tampouco no domingo ao analisar os resultados da pesquisa para eleições de 2018.

 Do GGN