Não
se pode adivinhar se Michel Temer perderá logo o cargo que abiscoitou pelo
golpe, o de Presidente da República.
Mas
pode-se assegurar que perdeu as condições de governar e apanhará em cada round,
a espera que o gongo vá lhe dando intervalos para respirar.
Mesmo
que Fernando Henrique Cardoso seja, desde há muito, um Tartufo, a dissimular
seus interesses e opiniões sob a aura de falsas virtudes, o fato de ele ter
manifestado a possibilidade de eleições gerais antecipadas tem muito
significado.
Claro
que lhe falta o vigor cívico para defende-las como bandeira, mas, ainda assim,
é um passo avante nesta estupidez pregada pela mídia, em seus editoriais, de
que uma eleição indireta poderia devolver ao país um mínimo de equilíbrio. Não
pode e até FHC sabe disso.
Mas
defendem-nas, porque acham que isso pode pavimentar a única coisa que desejam,
o retrocesso em direitos sociais, o que Janio de Freitas chamou hoje, em sua coluna na Folha, de “nostalgia escravocrata”. Não as
garantirá, porque como diz o velho mestre, com 70 anos de janela política:
“Quem
pensar a sério na relação entre essas “reformas” e a situação atual do país,
não pode fugir à obviedade simples e forte: Temer não tem condições de conduzir
reformas nem “reformas”. Sejam condições intelectuais, políticas, morais, e
quaisquer outras. É só um fantoche. À espera de que alguém conte os seus feitos
ou os silencie por dinheiro.
O Congresso, com mais de uma centena de deputados e senadores pendurados na Lava Jato, não tem condições de examinar, discutir, aprimorar e votar projeto algum que tenha implicações mais do que superficiais.”
O Congresso, com mais de uma centena de deputados e senadores pendurados na Lava Jato, não tem condições de examinar, discutir, aprimorar e votar projeto algum que tenha implicações mais do que superficiais.”
A
única obra de que Michel Temer é capaz é a de, a qualquer momento, nos levar a
um novo afundamento, maior do que este da abissal crise econômica em que o país
se debate. As festejadas “melhoras” no cenário da economia – eles são os
primeiros a saberem – não têm solidez, sobretudo diante de taxas de
investimento que se aproximam dos níveis da crise de 2008/2009.
Tudo
está apoiado, até agora, num “fingimos que não estamos vendo o que se passa” do
mercado que diz ainda confiar que, mesmo sem a reforma desejada, a demolidora,
algumas castanhas ainda podem tirar do fogo. É improvável que consigam
“reformas” mais do que simbólica quem embora cruéis com os atingidos, terão
efeito econômico zero.
“Pode
ser que, com a necrose progressiva de Michel Temer, donos de poder e dinheiro
mudem de ideia”, comenta o colunista de economia, também da Folha, Vinícius Torres Freire.
Pode
ser, mas a necrose, no centro do poder nacional, faz todo o país, sem reservas
de saúde já, ficar exposto as seus miasmas e pestilências.
É
preciso sepultar Temer e restaurar os sistemas de freios e contrapesos da política,
trocar golpes por eleições, denúncias por propostas, demolição por projetos.
O
contrário seria deixar que o país siga ardendo até que sejamos todos cremados.
GGN