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quinta-feira, 30 de maio de 2019

XADREZ DOS PREPARATIVOS INICIAIS PARA 2022, POR LUIS NASSIF

Ao contrário dos contos de Cortazar, não será possível manter indefinidamente na sala o cadáver de um presidente pesadamente envolto com milícias.
Peça 1 – o governo Bolsonaro
Como tenho exposto aqui, as circunstâncias políticas atuais, de um presidente da República pesadamente envolvido com organizações criminosas, traz um grau de imprevisibilidade extrema. Ao contrário dos contos de Cortazar, não será possível manter indefinidamente na sala o cadáver de um presidente pesadamente envolto com milícias.
Além disso, o governo Bolsonaro se enredou em uma armadilha econômica ao conferir o poder absoluto da economia a um economista, Paulo Guedes, sem experiência nem conhecimento para tirar o país do atoleiro em que se meteu.
Os resultados do PIB do 1o trimestre, divulgados hoje,  são fruto direto da inoperância cia de Guedes, que não conseguiu sequer, aproveitar o bônus que sempre acompanha os primeiros meses de uma novo governo.
É incapaz de pensar qualquer ação coordenada, no super-ministério que recebeu para comandar. Escondeu-se atrás da bandeira única da reforma da Previdência, como se fosse questão de vida ou de morte. Não tem sequer uma estratégia adequada para escapar da armadilha da Lei do Teto.
A reforma da Previdência não vai acrescentar um centavo a mais na arrecadação. No máximo reduzirá os encargos futuros. Mas o governo continuará à míngua, contando apenas com a queima de estatais para se manter.Mesmo assim, há analistas que enxergam a possibilidade de Jair Bolsonaro ir até o fim de seu governo. E se ter eleições livres em 2022.
As apostas residem no papel que o Congresso tem assumido, de moderador dos abusos de Bolsonaro. As reformas sairão a conta-gotas com descontos variáveis.
Pelo sim, pelo não, as estratégias estão sendo montadas.
Peça 2 – os grupos políticos
Em princípio, há quatro grupos que entrarão no jogo em 2022
Grupo progressista- É o mais forte e o mais articulado. Junta PT, PDT, PSB, PSOL, PCdoB, governadores nordestinos, de Rui Costa e Flávio Dino a Renan Filho em Alagoas, entre outros. É a aliança que caminha melhor, sujeita a alguns tropeços na intemperança de Ciro Gomes. Mas há maturidade suficiente do grupo para minimizar seus arroubos em nome da unidade.
Os autênticos do PMDB e PSDB- o grupo de centro-esquerda que preservou as raízes históricas dos respectivos partidos e que hoje estão sendo expulso do PSDB por João Doria Jr e o PMDB pelo desmanche. Entram aí quadros históricos do PSDB, expoentes do velho PMDB, como o ex-senador Roberto Requiao e outros. Mas é um grupo desarticulado, sem uma liderança unificadora, depois que Marina Silva e Ciro Gomes aparentemente perderam o poder aglutinador. E João Dória Jr não os atrai.
Os liberais- entram aí os liberais clássicos, mais os anarquistas de mercado, como o Novo, MBL e outros. Não tem ainda muita expressão nem no Congresso nem nas ruas. E, por vezes, aceitam as estultices bolsonarianas em nome das bandeiras liberalizantes.
Lideranças- individualmente, só existem Lula e Bolsonaro, com perto de 20% dos votos e com poder de mobilização. As manifestações de domingo passado demonstraram que efetivamente Bolsonaro empoderou politicamente seus eleitores, abrindo campo para um segmento selvagem, que deixou de ser civilizado pelos partidos tradicionais e pelos movimentos sociais.
Peça 3 – juntando forças para 2022
Se Bolsonaro chegar inteiro até 2022, haverá a seguinte distribuição política.
O grupo mais liberal em tese teria dois cavalos para encilhar: Joao Dória Jr ou Luciano Huk. Dória definitivamente aposta na estratégia de bolsonarismo, apresentando-se como um bolsominion tão truculento quanto o original, mas que sabe comer com garfo e faca.
Será insuficiente. Não atrairá a direita civilizada, nem com a malta, que se identifica com o estilo coçando-o-saco-em-público de seu guru.
Daí a aposta maior em Luciano Huk. A avaliação de Fernando Henrique Cardoso é que, no quadro atual de redes sociais, a única alternativa é o personagem carismático, cinzelado no campo da mídia e das redes sociais. O clube dos bilionários trouxe paulo Hartung para ser o conselheiro de Huk e trabalha para prepará-lo para a arena de 2022.
Do lado progressista, o que se vislumbra é uma disputa entre o bolsonarismo e o lulismo. As alianças do 2o turno é que decidirão o jogo. Daí, a importância de buscar uma aproximação gradativa com o chamado centro democrático.
Mas há o fator Lula.
Peça 4 – o lulismo x antilulismo
Aí se entra na armadilha montada pela mídia contra o país: a estigmatização de Lula. Em qualquer democracia europeia, uma figura como Lula seria preservada por todos os lados, por se tratar de um ativo nacional, do político capaz de ser o coordenador ou o interlocutor dos grandes pactos nacionais.
Em uma democracia selvagem como a brasileira, esse ativo foi jogado fora, deixando o próprio Lula prisioneiro dessa armadilha. Ele ficou grande demais para participar do jogo, por falta de um interlocutor de sua dimensão política. E a correlação de forças atual o mantém como prisioneiro político. Mais que isso, o antilulismo como único elemento de agregação das forças do golpe.
Compreensivelmente, Lula luta para voltar ao jogo. Mas insiste em uma aposta perigosa, de atrasar sua própria sucessão.
E aí entra-se em um dilema moral, entre o direito de Lula de voltar ao jogo, o único político brasileiro com dimensão internacional, cuja prisão política é a mancha maior no atual estágio da democracia brasileira, e o realismo de, sem sair do jogo, recolher-se à posição de estrategista.
Daqui até 2022 essa aliança será cada vez mais relevante para redução de danos do país. 
GGN