A decisão da ONU de mandar respeitar os direitos políticos de
Lula tem sido tratada pela parte podre da mídia brasileira com a velha sordidez
filiada ao cinismo e à manipulação.
O jogo sujo consiste em minimizar a avaliação do Comitê de Direitos Humanos
enquanto rebaixa a importância do assunto na arquitetura dos portais de
notícia.
A manifestação da ONU é cristalina e sem margem para
interpretação ou contestação: o país precisa garantir ao ex-presidente o
direito de concorrer às eleições. Ponto.
O Brasil ratificou a autoridade do comitê dentro do processo.
A Procuradoria da República, idem. Em outros casos, o estado brasileiro
reconheceu o órgão com o qual se comprometeu através de tratados.
Significa: o Brasil deu à ONU a palavra final na questão dos
direitos humanos e, assim, precisa se submeter às decisões. Ponto.
Mas aí entra a torpeza midiática.
Primeiro, a manipulação semântica e jurídica: a ONU “pediu”
(e não “ordenou”), a decisão não tem “poder vinculante”, é “fake news”. E a
bravata do Itamaraty, sequestrado pelo golpismo barato e irresponsável, tenta
desmerecer o comitê - caminho semelhante seguido pelo apagado ministro da
Justiça.
O antídoto à combinação de mau-caratismo com desinformação
vem da insuspeita Sarah Cleveland, vice-presidente do comitê da ONU, formado
por 18 especialistas eleitos pela Assembleia Geral: “Brasil tem a obrigação de
cumprir”. Ponto.
Soterrada pela razão, parte da mídia apela ao cinismo para
esconder a notícia. Sem destaque nos sites, redução a notas na TV, comentários
de âncoras antipetistas ou dos especialistas de plantão ao estilo “topo tudo
para aparecer”.
No dia seguinte, a desfaçatez orquestrada: espaços ridículos
nas edições impressas, ênfase na posição do governo e o off para pressionar a
Justiça a ignorar a força da liminar.
Não resistem a uma comparação: e se fosse a Venezuela?
“Maduro é ditador. Se descumprir, merece intervenção. Sanção neles.”
Repercussão com a direita brasileira, juiz, procurador, advogado, o escambau.
Não adianta a importância dada por NYTimes, The Guardian,
Reuters, France Press, BBC. O planeta.
A mídia brasileira tenta reduzir a manifestação favorável do
principal organismo mundial das nações a um preso brasileiro - o maior estadista
das Américas - a um truque eleitoral de mau gosto.
E ainda têm a petulância de falar em fake news e outros
engodos enquanto funcionários sabujos se dedicam a tentar distorcer a
informação.
O golpismo é, de fato, um monumento à degeneração humana e
jornalística.
GGN